O meu primeiro amor não foi meu primeiro namorado.
Ele estudava comigo na oitava série no Rosário, reprovado
Mais velho, mais bonito, mais inteligente que todos os outros caras
Eu, a cedeéfe da escola de freira me apaixonei perdidamente
Ele dirigia sem carteira, era o rebelde burguês, o palhaço da turma
Namoro daqueles de apresentar pros pais, de passar o domingo com a família
De beijar a tarde inteira depois da aula
mas só beijar, porque com quinze anos
Eu achava que ainda queria casar virgem, tal
Passamos do primeiro para o segundo grau juntos,
Fomos estudar no mesmo colégio, mas em turmas diferentes
Depois das aulas de dança, ele era a coisa mais importante na minha vida
Eu já até sonhava com o casamento,
mais pela lua de mel, é verdade
mas ficamos juntos oito meses inteiros!
Até que cheguei na sala de aula e peguei a agenda de uma colega
A intenção era escrever no dia do meu aniversário
Mas o dele vinha no mês antes
E ele tinha escrito palavras doces, meigas
De sentir o pulmão vazio de ar
De ver nada
Do sangue sumir das veias, fugir correndo
Ele apareceu na minha casa e terminou
Ele apareceu na escola de mãos dadas com ela
Ele desapareceu por completo
Meus pais deixaram eu faltar uma semana de aula
Na qual não saí da cama, não comi,
Só chorei, dormi e quis morrer mil vezes
Uma tia que morava em São Paulo me recebeu para um fim de semana
Eu tinha quinze anos, e ir às compras restabeleceu meu espírito
Especialmente sem os dez quilos que havia perdido em quinze dias
Brasília me recebeu bem
Roupas novas
Coração vazio
E da boa moça que era
Entendi que o mundo não era tão bom assim
Mas que a dança podia salvar minha vida
...
Ontem, entra pela porta, o irmão do primeiro homem que partiu meu coração.
Engraçada a vida:
Só agora que meu coração está inteiro, vinte anos depois
A vida me joga bem na frente do quase inimigo
Conclusão: estou velha. estou viva. e amo, por incrível que pareça - amo muito!
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