19.3.11

Triângulo

Se há uma geometria do Prazer, o triângulo seria o desenho perfeito:

no ápice, claro, o orgasmo: uma centelha mínima que explode e transforma.
A sensação única de intensidade, entrega e exaustão.
Fácil de ser atingindo para uns, desejado por todos, o clímax físico de qualquer ser humano tem um segredo cruel: ele pode ser alcançado em completa solidão.
E é aí que fica um tanto frustrante.
Sem entrar nas diferenças entre um orgasmo compartilhado e aquele solitário, o fato é: saber que se pode ter um orgasmo sozinho, já é suficiente para um tantinho de chateação.
Fica vazio, sim. Pode até não ser importante na hora, no dia, no mês.... Mas que fica, fica.
O ato em si é único. Só que reproduzível tantas vezes quantas se precisar dar um basta na fissura que corrói o corpo. E saber disso leva uma pequena angústia para fora do físico e para dentro da alma. Que cala.

Daí no meio do triângulo, as hastes laterais, moram todos os prazeres outros: sexuais, gustativos, emocionais.
Os que nos adornam as vaidades, os egos, mas também a alma.
Os que nos fazem bem sem olhar a quem.
E é justamente isso que coça: a indiferença de para onde foi e por onde chega os tantos prazeres carnais, físicos, mentais. Porque tanto faz se o jantar é divino para mim ou para você. Se ele é tão incrível, independe de mim, do meu ser. Não precisa de mim nem de ninguém para seguir seduzindo...
Tudo que nos agrada o ego, o corpo, e o espírito são voláteis porque não precisam necessariamente de um de nós, mas sim de qualquer um de nós. Ser mais um na multidão desagrada a maioria. Ser único é o ideal de cada um.

E eis que então chegamos à base do triângulo, ao alicerce de tudo: as satisfações todas.
Aquelas pequenas e grandes, que nos moldam, nos alimentam e nos instigam a sermos mais e melhor.
Ao contrário dos prazeres que culminam ao orgasmo, cada satisfação é parte singular de nós: se não fosse nosso ato, nosso ser, não haveria a satisfação de estar vivo, almejar desejos, atingir orgasmos.
Mas, curiosamente, as satisfações vêm sempre acompanhadas - de um outro ser, uma pessoa em particular, querida por nós.
Nossas satisfações só recebem esse nome porque são compartilhadas com quem escolhemos ao nosso lado.
São nessas escolhas que depositamos toda a estrutura dos nossos prazeres, felicidades.
Em fases, é fácil simplesmente seguir sozinho, rumo ao ápice físico das sensações; há outros momentos que queremos sim um parceiro na construção dessa geometria.

O importante é ter lucidez nas escolhas. Não perder o foco do desenho todo, no que se constrói a cada instante. Porque quanto maior a base nas satisfações, mais firme, intenso e certo será a ponta na nossa figura.




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