12.7.07

Anjo da Guarda

Pense numa Brigite Bardot velhinha. Agora, borre os olhos com kajal preto e ponha um baton com tonalidade rosada na boca. Era essa figura que lia cartas numa mesa estilo escrivaninha dos anos 20.
A senhora também tem uma assistente, mais moça, de óculos, loira, e ansiosa.
As cartas na mesa são na verdade, pequenas agendas de anotação com desenhos em nanquim e aquarela de figuras etéreas: anjos, fadas, orelhas pontudas, roupas esvoaçantes.
Elas estão espalhadas de modo uniforme, uma ao lado da outra. Até a penúltima que se lê AGOSTO e a última, ANOTAÇÕES.
A velhinha olha para mim - "O seu aniverário é em agosto?"
Afirmo com a cabeça.
"Estranho, muito estranho..." - inverte as posições dos dois últimos "caderninhos" - agora, AGOSTO está em último lugar.
"Ah! É o seu anjo da guarda!"
E a assistente - "Também estou ouvindo! Ele está querendo falar algo!"
Fico admirada: - "Falar o que?"
- "Ele está fazendo um sinal" - e a assistente faz com a duas mãos o movimento de ´venha, venha´
- "Ele quer se mostrar presente" - diz a velhinha.
- "Mas quem vai querer um anjo velho e banguela?" - a assistente traduz a preocupação do meu anjo.
Nesse mesmo instante, enxergo meu anjo mentalmente. É aquele típico senhor de barbas brancas e túnica branca. Barbudo e boca murcha, um dente saindo pela lateral do lábio superior, pele queimada do sol. Um misto de criatura e mendigo.
- "Eu! Eu quero! Diz pra ele que eu quero, sim!" - numa súbita alegria e alívio!

Ah, meu anjo da guarda! Que bom saber que você é assim, velhinho, banguela, vivido...!
Acordei cansada, com dor, mas serena. Muito serena.

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