14.12.08

A Meditação da Limpeza

- Vocês são de uma empresa, é?
A voz vinha de trás de mim, através do portão de grade da entrada principal.
- Não, frequentamos o Templo, somos da sangha e hoje fazemos uma limpeza simbólica anual, explicou a Cris, minha coordenadora de jardim - sim, fui escalada pra trabalhar no jardim na minha primeira limpeza voluntária do Templo.
Pensei comigo - como assim, limpeza simbólica?
Para mim, não tinha nada de simbólico ficar acocorada em cima dos meus tamancos - me sentindo totalmente inapropriada com a roupa que fui - catando ervas daninhas do imenso jardim que enfeita a frente do Nave.
Comecei assim, apressada, sabia que tinha só duas horas ali, a cabeça fazendo todas as outras atividades do fim de semana -
E ah! Quanto mato cresceu ao redor das plantinhas do jardim! Parece uma tarefa impossível, pensei angustiada.

Até que - vi uma Joaninha!
Andando lentamente pelo talo da folha que eu estava prestes a arrancar do solo, o vermelho reluzindo contra o verde - olhei intensamente para ela e ela pareceu olhar de volta para mim! Sorriu!
Talvez a última vez que eu tenha visto uma Joaninha eu tinha uns 10 anos!
Comecei então a fazer a minha tarefa com toda atenção possível - quem sabe não encontraria mais Joaninhas!?
Ralentei meus movimentos, e aos poucos, senti as pernas, os braços, o suor da testa cederem ao cheiro da terra, à textura do mato, meus ouvidos foram coando de leve a conversa dos companheiros; os pássaros pareciam cantar mais alto agora, mais que as buzinas dos carros!
Meu coração parecia pulsar no ritmo da terra escavada.
De tempos em tempos, pegava o montinho de ervas daninhas e levava até o grande saco de lixo. Num dado momento, me levantei dos joelhos e vi - o jardim já era visível, a limpeza do mato realmente surtia efeito!
E num fluxo de empolgação, continuei ali com meus companheiros por mais uma hora.
A sensação do cansaço e do calor não me impediram de ver como mais belo estava o jardim.
Sorri para os pássaros cantando no poste de luz.
Eles viam que ainda há muito mato para ser tirado dali,
Mas eu sabia que aquela limpeza tinha ido bem além das ervas daninhas do jardim do Templo. Junto com elas, foi pro lixo minha mente turbulenta e agitada.
Saí dali mais bela que quando entrei - mesmo suja de terra, suada do sol, cansada do trabalho braçal.
NAMO AMIDA BUTSU

Um comentário:

  1. http://proboscida.blogspot.com/2007/11/joaninhas-impossveis.html

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