5.1.10

E quando tudo parecia igual, entendi o amor

Fim de tarde de vento morno.
Na cadeira, vestida de canga, revezo o olhar entre o mar e o livro.
Ele acena de lá.
Sorrio.

Entrou no mar como menino, tocando os dedos dos pés e olhando pros lados.
Leio um pedacinho, fecho os olhos pra cheirar o momento.
O vento mais intenso. Os póros em bolinhas. Uma onda quase bate nos meus pés.

Levanto os olhos. Agora, de costas pra mim, pula ondas seguidas e sei que está sorrindo.
Ele olha pra trás, eu aceno e volto às páginas.

O mar lambeu toda a areia até aqui.
Água morna em coração duro...
Olho para ele mais uma vez, meu pai.

Estranhamente, vejo um homem bem mais moço.
Cabelos escuros, pele alva, o sorriso largo e os braços abertos, gritando e rindo.
Vi meu pai dos meus seis, oito, dez anos.
Mais uma onda lava meus pés.
E o coração bateu forte - eu amo meu pai.

Lá de longe, no mar, entre ondas e mergulhos, meu pai - moço, forte, admirável.
Amei ter vivido com ele até aqui.
Amei entender quem ele se tornou.

Amei ser filha daquele homem.

Amei tão fundo que entendi tudo.
E sorri.

(João Pessoa, dez 2009)


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