Na cadeira, vestida de canga, revezo o olhar entre o mar e o livro.
Ele acena de lá.
Sorrio.
Entrou no mar como menino, tocando os dedos dos pés e olhando pros lados.
Leio um pedacinho, fecho os olhos pra cheirar o momento.
O vento mais intenso. Os póros em bolinhas. Uma onda quase bate nos meus pés.
Levanto os olhos. Agora, de costas pra mim, pula ondas seguidas e sei que está sorrindo.
Ele olha pra trás, eu aceno e volto às páginas.
O mar lambeu toda a areia até aqui.
Água morna em coração duro...
Olho para ele mais uma vez, meu pai.
Estranhamente, vejo um homem bem mais moço.
Cabelos escuros, pele alva, o sorriso largo e os braços abertos, gritando e rindo.
Vi meu pai dos meus seis, oito, dez anos.
Mais uma onda lava meus pés.
E o coração bateu forte - eu amo meu pai.
Lá de longe, no mar, entre ondas e mergulhos, meu pai - moço, forte, admirável.
Amei ter vivido com ele até aqui.
Amei entender quem ele se tornou.
Amei ser filha daquele homem.
Amei tão fundo que entendi tudo.
E sorri.
(João Pessoa, dez 2009)
Linda homenagem, que seu pai merece em cada letra!!! Beijocas!
ResponderExcluir