24.10.10

O barco tailandês

Estamos de férias em família e na voadeira que percorre velozmente a beira mar, estamos Bruno, Enzo e eu. O menino do barco tira finas dos transeuntes da praia e me impressiona a capacidade da lanchinha se manter intacta com pouco atrito na água.
Na verdade, estamos voando baixinho!

A praia de cidade poderia ser Fortaleza, Maceió, Salvador, mas não é.
Em uma das pontas, há um antigo barco Tailandês.
Agora um ponto turístico, está meio ancorado, meio enterrado num estreito espaço de areia e rochas.
Não tem uma estrutura muito grande, parece até de brinquedo. Ou uma maquete agigantada.
É de um preto brilhante, com adornos na pintura em cores fortes: amarelo, verde, vermelho e frisos dourados. Há um desenho de dragão na proa, típicos desses que vemos em tudo que é tailandês.
Entramos por uma pequena escada e com o nosso peso, o barco se mexe lentamente. Levamos um susto, mas seguimos caminhando até a outra extremidade.

E eis que acontece: o barco se solta da areia, e pende para uma das pontas!
Lá dentro, tenho a nítida sensação de que a queda será enorme e os estragos mortais!
Sinto um medo profundo, um frio na barriga e a súbita perda da gravidade!
De onde estou na queda, sou capaz de ver o Bruno, mas o Enzo está totalmente fora do meu campo de visão.
O medo vira pânico. Não gritamos. Ouvimos o ranger da madeira e a rapidez com que o barco vira!
Estamos em queda livre de uma altura incalculável!

Com o coração batendo na boca, pronuncio uma única palavra:
NAMANDABU*
E a surpresa vem justamente do som: minha voz sai forte, alta, lúcida, firme, serena;
silencia todos os outros ruídos.
O barco suavemente para de se mexer. Como no retorno de um pêndulo de relógio, inicia a volta no sentido contrário ao da queda.
Só que agora lentamente, como que controlado por uma força muito maior, é posto de volta na areia. E estamos sãos e salvos.

*namo amida butsu na escola shin budista é a entoação do nome do buda Amida, a luz de compaixão e sabedoria que nos espera, nos guia e nos inspira pacientemente e com alegria até chegarmos ao nosso próprio estado búdico.*

ps - para meus companheiros de viagens: Enzo e Bruno


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