Pessoas ansiosas a procurarem cadeiras, em uma competição velada por um espaço, aguardamos todos a chegada da palestrante.
E eis que sobe a escadaria, a Monja Coen. Faço uma reverência sorrindo e emocionada. Murmuro um boa noite e seja bem vinda.
Ela me olha através de mim com um sorriso desses que só quem já andou muito por essa trilha tem: o rosto dos santos, o rosto dos monges, o rosto humano na sua forma mais natural: a serenidade.
Nem sério, nem sorridente. O sorriso da Mona Lisa. O sorriso da alma.
O sino toca. Há silêncio. Estou lá fora, sem vê-la, e mal ouvindo suas palavras. Mas estar ali, só isso, já me acalanta. Tudo conectado nesse momento iluminado.
Mais tarde, caminho em silêncio até o carro, procuro com preguiça o aparelho. Está escuro, deixo isso pra lá. Vou dirigindo e pensando qual a real necessidade de se ter uma conexão imediata com quem não está presente, ao meu lado, aqui e agora.
O que estou perdendo se me desconectar do que não está aqui?
Eu mesma criei o hábito e não sei mais viver sem ele:
o hábito de me certificar a todo instante, quem me ligou, que horas são, o que está anotado para fazer nas próximas horas.
A mania de nunca estar de fato fazendo uma coisa de cada vez; uma angústia de não estar vivendo 100% o que a vida oferece.
Respiro aliviada: uma coisa de cada vez é a única maneira de se viver tudo que a vida tem!
Penso seriamente em nunca mais ter um celular.
No dia seguinte, tento em vão bloquear minha linha até encontrar meu aparelho - que suspeito ter deixado no trabalho - mas nem isso me chateia tanto.
Ligo para mim mesma e o número toca sem resposta.
Desligo sorrindo.
Passei 48 horas vivendo aonde e com quem esteve comigo.
Um sábado quieto e um domingo em família.
Há tempos não me sentia tão presente e plena.
Desconectada, fiz uma coisa de cada vez.
Mas o melhor de tudo foi ter a sensação de não ter perdido nada.
ps.: Hoje é dia de N.S. de Fátima e dia das mães. Achei auspicioso tudo isso acontecer sob o manto protetor de tantas mulheres incríveis na minha vida!
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