Não há melhor escapismo que uma sala de cinema.
Num dia nublado em Brasília, entre inúmeros títulos, fiz a escolha perfeita: a Mostra Tarantino no CCBB exibia Onde começa o inferno. Li a programação rapidamente, não tinha a menor ideia do que se tratava o filme.
As luzes se apagam e a primeira cena é um plano aberto, uma fila de caubóis descendo um despenhadeiro, uma música no estilo mexicano. Sorri no escuro.
Rio Bravo é um dos meus favoritos dentro dos favoritos! E nunca soube o título em português, já que vi este faroeste em 1988, na sala de estar da minha então casa, em Ohio, Estados Unidos.
Meu intercâmbio para aquele país foi no meio do segundo grau e dei sorte: depois de ser recusada por uma primeira família, um casal sem filhos, dois cães e um gato, me acolheram e me mostraram o melhor do centro-oeste americano: em especial, a predileção pelos filmes do velho oeste. Na época, eles tinham tantos filmes quantos livros enfileirados na estante - fitas VHS que ocupavam duas paredes. Quase todos americanos. Quase todos Westerns. Em um ano, é possível que eu tenha assistido a praticamente toda aquela videoteca.
De volta à sala de cinema ontem à noite, me dei conta do quanto cada pedacinho da minha vida me fez a pessoa que sou: meu amor pelos filmes, sem saber, foi profundamente influenciado por um ano triste, infeliz, solitário, no interior de Ohio.
Sou feita de remendos, cada um alinhavado de um jeito difícil de ver pelo lado certo da costura. Do avesso, cada fio vai a lugares inimagináveis. O cinema e Ohio, na minha vida, só se conectaram ontem, no escuro de uma noite de verão chuvosa.
Incrível como um ano pode fazer tanta coisa pelas nossas vidas... e as lembranças... algumas histórias e sensações ficam latentes ou adormecidas por anos, mas quando ressurgem!
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