Da janela lateral, o cenário é uma jaqueira.
Ontem notei, como nesses quatro anos, a jaqueira cresceu.
Assim que cheguei aqui, havia um galho largo e grande com uma casa abandonada de João de Barro. Uma casinha marrom, caprichada, redondinha.
Não era mais usada quando comecei a usar a minha casinha. De joana de barro.
Hoje, olhei a jaqueira de novo - a brisa bate de leve nos galhos fortes, as folhas sussurram o verão longo e quente. Sim, há jacas verdes pelo tronco. Não tantas e não tão grandes. E elas não exalam mais um cheiro tão forte.
Procuro a casa de João de Barro e só posso concluir que o galho está bem mais alto, já chegando ao terceiro andar. Dali daquela casa, se vê praticamente todo meu apartamento.
Desse ponto de vista, o João de Barro, me viu cozinhar para os amigos, chorar na frente da TV, rir alto para a câmera do computador, dormir no sofá com um livro sobre o peito. Me viu meditando, transando, lavando louças. O galho da jaqueira é testemunha de quatro anos de chegada de móveis e saída de lixo. Ganhos e perdas no amor.
E agora, a jaqueira está mais alta e o galho da casa de João de Barro se enverga para me ver aqui dentro. Vivendo.
Hoje, olhei a jaqueira e não vi a casinha abandonada.
A árvore cresceu, a casinha sumiu por entre as folhagens.
Eu estava aqui, vivendo minha vida ao lado de outra coisa viva e não me percebi quando tudo mudou.
Não percebi o que acontecia bem na minha frente, na minha janela. Na janela lateral.
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