6.6.09

O Lanterninha do Cinema

Comecei a ir ao cinema cedo.

Meu primeiro filme foi "A Bela Adormecida" de Walt Disney no cine Karim Criança do Conjunto Nacional de Brasília.

O cinema era fantástico - primeiro porque só passava filmes infantis.
E também porque tinha uma cortina de veludo roxo na entrada, digna de castelos mal-assombrados.

Fomos todos com a tia Gláucia - em dois Fuscas táxis . Meu irmão, o mais novo da turma, mentiu a idade para entrar: o filme era proibido para menores de 6 anos. Ele tinha 4. E eu, seis cravados.

Logo depois do corredor de cortina roxa, tinha o balcão de doces e pipocas - pedi um caramelo de leite Nestlé (daquelas quadradinhas boas de arrancar dentes moles) - sabor chocolate. E tenho uma sensação de o balcão ser assim, da altura da gente, as crianças que frequentavam o local...

Naquela tarde, tudo foi especial. O som, o cheiro, as cadeiras, a penumbra dos corredores da sala de exibição.
O filme foi lindo também.
Mas meu irmão teve medo da bruxa, começou a chorar. Levei-o lá fora até o corredor de cortina roxa. Minha tia chegou e sentou-se com ele nos banquinhos.
E eu, voltei sozinha para sala de cinema. Me assustei com a súbita escuridão. Era bem na hora de uma cena de medo na tela: o dragão desafiava o príncipe a chegar até o castelo! Quem ganharia a terrível batalha?
Recuei um pouco, abri bem os olhos. Mas a luz demorava a entrar pela pupila.

E eis que surge o Lanterninha. Um moço lindo lindo, de uniforme preto com um chapéuzinho na cabeça. Eu não soube que era comigo até ele se abaixar e pegar na minha mão - eu tenho uma lanterna aqui comigo, posso levar você para o seu lugar.
Eu sorri suavemente, olhando nos olhos castanhos por cima da lanterna que ele fazia piscar. Ofereci minha mão como sim e, muito atenta, fui seguindo a luz dele, da lanterna: corredor, degrau, degrau, degrau. Achei! É aqui!
Ele deixou minha mão se soltar e balançou a luz da lanterna rapidinho, um, dois, um, dois, como que dando tchau.
Sorri grande.
Tirei os caramelos de chocolate do bolso da calça e devorei todos torcendo para o príncipe ganhar na luta contra o dragão.
Quando o filme acabou e a Bela Adormecida tinha tido um final feliz, a luz da sala se acendeu. Procurei o Lanterninha por todo lugar. Mas, com luz acesa, Lanterninhas perdem sua utilidade...

Na multidão de crianças, ele sumiu do cinema. Só ficou na minha memória escura de cinemas infantis e cheiro de caramelos na boca.

Então é assim: quando você está com medo do filme e do escuro, aparece um Lanterninha pra te apontar o caminho e te levar de volta pro seu lugar...

Um beijo Lanterninha, você bem sabe quem você é...

3 comentários: