Comecei a ir ao cinema cedo.
Meu primeiro filme foi "A Bela Adormecida" de Walt Disney no cine Karim Criança do Conjunto Nacional de Brasília.
O cinema era fantástico - primeiro porque só passava filmes infantis.
E também porque tinha uma cortina de veludo roxo na entrada, digna de castelos mal-assombrados.
Fomos todos com a tia Gláucia - em dois Fuscas táxis . Meu irmão, o mais novo da turma, mentiu a idade para entrar: o filme era proibido para menores de 6 anos. Ele tinha 4. E eu, seis cravados.
Logo depois do corredor de cortina roxa, tinha o balcão de doces e pipocas - pedi um caramelo de leite Nestlé (daquelas quadradinhas boas de arrancar dentes moles) - sabor chocolate. E tenho uma sensação de o balcão ser assim, da altura da gente, as crianças que frequentavam o local...
Naquela tarde, tudo foi especial. O som, o cheiro, as cadeiras, a penumbra dos corredores da sala de exibição.
O filme foi lindo também.
Mas meu irmão teve medo da bruxa, começou a chorar. Levei-o lá fora até o corredor de cortina roxa. Minha tia chegou e sentou-se com ele nos banquinhos.
E eu, voltei sozinha para sala de cinema. Me assustei com a súbita escuridão. Era bem na hora de uma cena de medo na tela: o dragão desafiava o príncipe a chegar até o castelo! Quem ganharia a terrível batalha?
Recuei um pouco, abri bem os olhos. Mas a luz demorava a entrar pela pupila.
E eis que surge o Lanterninha. Um moço lindo lindo, de uniforme preto com um chapéuzinho na cabeça. Eu não soube que era comigo até ele se abaixar e pegar na minha mão - eu tenho uma lanterna aqui comigo, posso levar você para o seu lugar.
Eu sorri suavemente, olhando nos olhos castanhos por cima da lanterna que ele fazia piscar. Ofereci minha mão como sim e, muito atenta, fui seguindo a luz dele, da lanterna: corredor, degrau, degrau, degrau. Achei! É aqui!
Ele deixou minha mão se soltar e balançou a luz da lanterna rapidinho, um, dois, um, dois, como que dando tchau.
Sorri grande.
Tirei os caramelos de chocolate do bolso da calça e devorei todos torcendo para o príncipe ganhar na luta contra o dragão.
Quando o filme acabou e a Bela Adormecida tinha tido um final feliz, a luz da sala se acendeu. Procurei o Lanterninha por todo lugar. Mas, com luz acesa, Lanterninhas perdem sua utilidade...
Na multidão de crianças, ele sumiu do cinema. Só ficou na minha memória escura de cinemas infantis e cheiro de caramelos na boca.
Então é assim: quando você está com medo do filme e do escuro, aparece um Lanterninha pra te apontar o caminho e te levar de volta pro seu lugar...
Um beijo Lanterninha, você bem sabe quem você é...
Nossa, Fabi, que linda rememoração da infância!
ResponderExcluirsim, bom timing!!
ResponderExcluirQue história linda. Bom lembrar esses momentos, né?
ResponderExcluirBJOs!