A seca se anuncia.
Saí do chuveiro e peguei o frasco novo de hidratante de Bergamota e Flor de Laranjeira (do Boticário).
Não consegui!
O cheiro suave e cítrico me lembrou coisas boas, mas idas.
A memória que dispara sem querer sempre me surpreende.
Especialmente quando o olfato é o tiro inicial.
Sou muito particular para aromas (não somos todos?).
Mais ainda para os de perfumes e cremes.
Nada doce, de morango, de rosa, de fruta, me agrada...os cítricos, amadeirados e secos geralmente são mais bem vindos ao meu nariz.
Enjôo fácil, demoro a escolher, acho tudo igual e guardo os cheiros com uma facilidade assustadora.
Para lembrar deles, dos cheiros no meu corpo, é só fechar os olhos:
Me lembro do perfume que usava nas festinhas da adolescência - uma lavanda suave que eu insistia em jogar dentro das gavetas...
um hidratante de vidro pesado e marrom com aromas doces de camomila, me traz o uniforme da escola, as sapatilhas de balé, os livros de inglês.
Tem também o perfume que trouxe da Europa e usei por dez anos seguidos, nunca enjoei da fragância, o Paloma Picasso de vidro preto...
Xampu da Payot
Neutrox nos dias de piscina
Coppertone FPS 15 no nariz - aquele que vinha num tubinho marrom chocolate
Baton da Avon
Pasta de dente Sensodyne - que era cor de rosa e tinha gosto de sal
Esmalte de todas cores, com aquele cheiro tão particular
Sundown para as férias de verão
...
Esses cheiros se amontoam em mim, na minha memória, no meu corpo.
Cheiros de lembranças, não dá pra carregar na pele, bem debaixo do nariz
Prefiro criar lembranças novas, a cada nova fase. Marcar cada memória vivida com um perfume único.
Não tem jeito: vou ter que doar meu hidratante novo, com cheiro bom de ano passado.
Vou buscar um novo aroma, para a seca que já veio pra ficar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário