Sempre gostei de edição.
Acho que a arte de se fazer um filme está na capacidade de cada um enxergar no seu ofício, o todo em que aquilo se transformará. E na importância do seu papel como artesão daquela peça coletiva.
Sendo assim, não me sinto diretora da minha vida. Porque ela não é totalmente minha, porque ela é uma criação de todos que me rodeiam.
Apesar de viver minha própria história e, em muitas vezes, mudar o rumo deste ou daquele capítulo, não sou a diretora, a maestra, aquela que orquestra tudo. Eu não mando e desmando.
Sou sim, a editora da minha vida.
Monto as cenas que se alinhavam umas às outras de acordo com o que tenho nas mãos.
Editar, não é necessariamente, inventar algo belo naquilo que é horrível.
Muitas vezes, é preciso, ao contrário, enaltecer o terrível, mostrá-lo cru, para só assim, apresentar o belo.
Como num jogo de contraposições, trazer a sensação de que a tempestade é bela porque logo após virá a bonança!
É que o elemento surpresa brinca com essa ideia de que o controle que tanto almejamos nunca é lucro! Porque perder o controle, confiar no outro, pode trazer boas surpresas. Como ganhar o prêmio de melhor filme!
Monto a minha vida analisando o ritmo, a textura, a forma e o contorno dos eventos que me acontecem.
Se sombrios, merecem silêncios longos, planos demorados. Contemplação.
Se alegres, ganham mais cortes, a trilha sonora é mais alta, há uma certa anarquia na edição.
Agora, nesse exato momento, edito esse capítulo um tanto inquieta.
É claro para mim que é a cena final da sequência - A DIETA, A OPERAÇÃO, O EMPREGO -
E é nítido também o início da nova - OS JANTARES, A FESTA, NOVO SEMESTRE -
Saio da frente da tela.
Olho a jaqueira lá fora.
Aguardo o material bruto da minha vida chegar em minhas mãos.
Fade out.
Penso nas melhores imagens para as próximas cenas e sorrio:
Vai ter muita música alta. Vai ter luz de velas, gargalhadas. Vai ter amor em muitas formas.
E já tem muita gente trabalhando pra essa história ganhar um Oscar!
Exterior. Dia. Plano geral. Montanhas verdes, pastos vastos. Alguns animais ao longe pastam. A camera se aproxima num longo travelling aéreo. As montanhas descortinam uma casinha de madeira no meio de um vale. Pela chaminé, uma fumaça avisa que além de frio, existe gente dentro da casa... seu cenário é esse. hehe Bjus
ResponderExcluir