Põe as cadeirinhas no carro, põe a Mariana na cadeirinha, põe o Pedrinho no meio, põe a Clarinha na outra cadeirinha. Põe a mochilinha com roupas, fraldas e chupetas no banco da frente. Tira a Clarinha da cadeirinha e sobe pra trocar o cocô. Abre o chiclete pro Pedrinho, tira o chiclete mascado do vestido da Mariana, abre a caixinha de balinhas pro Pedrinho, põe a Clarinha de novo na cadeirinha. Dirige devagar, cantando músicas de Natal.
Estaciona, põe a mochila no capô do carro, tira a Mariana da cadeirinha, tira a Clarinha da cadeirinha, o Pedrinho não precisa de ajuda. Dá a mão pra Mariana e pra Clarinha, o Pedrinho dá a mão pra Clarinha, olha com cuidado pra atravessar a rua. Vamos pra fila do cinema, o filme tá na sala sem ar condicionado, tá ventando com jeito de chuva, o filme não tá lotado, compro duas meias e as meninas não pagam porque são menores de 4 anos. Vamos pra fila das balinhas. Uma de uva, uma de morango, uma de menta. O Pedro não gostou da menta, volta pra fila pra comprar outra de uva. A Mariana tá com o dente roxo de uva e não consegue desgrudar a bala e chora. A Clarinha comeu a bala com papel. Entramos na sala. Está mais quente do que eu imaginava. São quase vinte minutos de trailler. A Clarinha pergunta 100 vezes - cadê a abelhinha? - a Mariana pergunta 200 vezes - pode engolir a balinha? - O Pedro em silêncio se concentra no escuro. O filme começa, a Clarinha dorme, a Mariana chora, o Pedro em silêncio assiste as abelhinhas animadas. Pego a Clarinha no colo, ligo pra mãe da Mariana, morro de calor na poltrona. Finalmente as abelhas vencem os humanos e podemos sair do forno. Lá fora tá fresquinho o Pedro quer dar um volta no Pier. Anda sem dar as mãos, se perde de mim e chora. Pego o Pedro no colo, solto a mão das meninas, a Mariana chora. Ponho o Pedro no chão, dou a mão pra Mariana, entramos na fila do sorvete. Cada um com seu potinho, sentam no meio-fio do meu lado, cospem os chicletes grandes demais na minha mão. Jogam os potinhos vazios no lixo, andam por aí, começa a chuviscar. Todos de mãos dadas, vamos atravessar a rua pro carro, a Mariana solta minha mão, dispara a correr, a Clarinha tropeça e cai, o Pedro cruza a rua sozinho. Tudo se resolve.
Põe a Mariana na cadeirinha, põe o Pedro no meio, põe a Clarinha na outra cadeirinha. Põe a mochila no banco da frente, abre os vidros pra entrar ar. Dirige com cuidado cantando música de Natal.
Estaciona na frente, tira um por um, tira as cadeirinhas, pega a mochila, sobe as escadas segurando as mãozinhas, todo mundo no elevador, todo mundo dentro de casa.
E entre tudo, e tudo no meio, e no meio de todos, as gargalhadas, as conversas, os afagos, os beijos e abraços com cheiro de morango, uva, menta e amor.
Isso sim é Natal.
ps - as janelas do carro ficaram abertas. O dilúvio da noite entrou carro adentro.
Que maravilha, super-heroína! Adorei!
ResponderExcluir