Estou montando um DVD para o aniversário de 80 anos da minha avó materna, Ignez.
São nove filhos, contando minha mãe, que é a mais velha.
Sou a neta mulher mais velha. A mais nova tem dois anos.
Tenho em média umas 500 fotos escaneadas.
Todos esses personagens são ligados a mim pelo sangue.
São fotos lindas, as antigas.
São hilárias aquelas dos anos 80.
O que aconteceu com todos nós?
Será que nessas fotos existe o momento decisivo na vida de algum destes personagens?
Fotos de nascimentos, batizados, casamentos, festas surpresas, férias.
Mas, no exato momento da foto - será que houve aquela luz, aquele click junto com o flash?
Tem uma foto minha sentada num murinho de costas pro mar. Foi o ano que não passei no vestibular. Ali, naquela foto, eu estou serena - mas me lembro da angústia por dentro: culpa de estar de férias e não ter ainda uma matrícula na UnB.
Outras fotos, me lembro nitidamente do dia, mas não me recordo do momento exato da fotografia ali.
E assim vou passando pela vida da minha avó querida - os irmãos que já morreram nas fotos mais desbotadas (que ajeito o melhor que posso com a ajuda do Photoshop) - os filhos rechochudos virando pais, avós, profissionais; virando outras pessoas que não estão mais nas fotos - e já estiveram algum dia?
As fotos me dão um senso de pertencer a algo muito maior que eu - esse estranho laço, o sangue - que considero muito menor que o do afeto - me envolve o peito e é inevitável o sentimento de amor.
É uma ternura calma, e fica difícil não perdoar, esquecer as desavenças quando olho o antigo inimigo em trajes de gala numa gargalhada que ecoa pela foto! Ou o filho que já foi, o dinheiro que acabou:
É impossível não amar o outro quando tenho nas mãos as provas da vida tão complexa catpurada em luz e sombra.
Todas essas pessoas que viveram e morreram são minha família. Umas eu amo de paixão, outras, mal conheci. Umas estão ali nas fotos, outras estão por aí, no mundo.
E imagino se minha avó, como eu, se pergunta:
O que aconteceu com todos nós?
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