19.5.08

Ouvinte


Uma antiga amiga uma vez me disse que fazer um homem falar dele próprio era garantia de conquistar sua atenção.
Em algumas situações, coloquei essa filosofia à prova -
em geral, as pessoas gostam de falar delas mesmas (e aqui estou eu, num lugar exclusivamente reservado para falar de mim!), não apenas os homens.

Muitas vezes, muitas mesmo, conheci homens em festas, bares, casa de amigos.
Na maioria desses primeiros encontros, aplico a teoria da minha amiga.
Pergunto e recebo uma avalanche de respostas. Outra pergunta, mais um enchurrada de histórias...
E não raro, fica por isso mesmo.
Aquela pessoa está ali, falando pra mim sobre seu trabalho, suas viagens, sua vida inteira, e sequer faz a pergunta mágica:
- E VOCÊ?
Não há chance: ele tem mais pressa em se fazer conhecer, transformar minha pessoa no espelho dele.

Confesso, isso não me aborrece mais. Aliás, acho até mais econômico porque na primeira conversa (ou deveria dizer monólogo?) já sei que aquele sujeito, no máximo, só quer me comer naquela noite. Nada contra a situação, diga-se de passagem, mas é bom saber tudo isso antes de criar mil outros cenários.

Essa percepção do outro em relação a mim não é de agora. Mas ultimamente, ela está bem latente. Observo o cara me observando e noto que aquele tempo prestando atenção em mim é a menor fração do tempo que ele vai dedicar na sequência, em falar dele pra mim! Daí, tenho duas reações - ou corto a figura no meio da frase e começo a falar de mim (ele não perguntou mas eu tô respondendo), ou vou para outro planeta, espero a próxima pausa e me retiro mais ou menos educadamente.

Claro, tenho sempre a terceira opção - o cala a boca e beija, pô! - mas não tem nada mais broxante que um cara que fala o tempo todo só de si.


Imagino que a conclusão é que sou uma boa ouvinte (e eu sou mesmo) - dia desses alguém vai querer saber porquê.

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