Passei quatro finais de semana como voluntária na festa do Templo Budista.
Minha tarefa foi, essencialmente, fazer uma rápida visita guiada com os interessados que subiam as escadarias até a nave do templo.
Das oito noites que fui guia, talvez tenha falado com umas 500 pessoas no total. Mais umas 50 com quem falei nas escadarias, na porta de entrada...
Destas 550 pessoas com quem tive contato direto, quatro delas ficaram comigo.
As duas primeiras pessoas, um casal que fez a visita guiada. Chegaram de mãos dadas, curiosos e em silêncio. Ao final da visita, me disseram que vão a um casamento budista em São Paulo (do irmão dele) e querem saber mais sobre a filosofia para participarem mais da festa. Conversamos sobre meditação, leituras e viagens. Sorridentes, saíram prometendo voltar. Hoje à noite, lá estavam novamente.
Desta vez, fizeram a meditação, e me contaram que virão para os encontros no curso de budismo também.
A outra pessoa, a tia Diva. Ela é mãe do Luis, um amigo de infância que ainda encontro vez ou outra pela cidade. Eu estava na porta do templo porque uma meditação ia começar. Quando ela me viu, os olhos dela se iluminaram, ela abriu um sorriso e eu um outro enorme. Ela não hesitou nenhum segundo em tirar os sapatos e entrar para a prática. Na saída, me disse que há dias vinha pensando no quanto está em falta com o silêncio interno, esse momento meditativo, tão difícil de descrever. Me agradeceu por eu estar ali, e isso me emocionou profundamente. Sou eu quem agradeço você, tia Diva.
E por último, uma adolescente, que de tão linda, me chamou a atenção. Subiu e desceu as escadarias umas cinco vezes, e me fez a mesma pergunta uma três. Na porta, mordendo os lábios, ela pensava se entraria ou não para ouvir o monge Sato falar. Eu não resisti
- Olha, eu acho que você deveria entrar. Você já subiu e desceu essa escada cinco vezes! Não pode ser só pela atividade física.
Me olhando surpresa, ela sorriu. E eu aproveitei para falar mais:
- Se você realmente não quisesse, você não estaria aqui. A gente sempre tem certeza do que a gente não quer. Entra, escuta. O máximo que vai acontecer é você sair achando que perdeu 30 minutos da sua vida.
Ainda sorrindo, ela tirou os All Stars de caveira e com as meias listradas de rosa e branco, entrou na nave.
E saiu com o belíssimo rosto sereno e em silêncio.
Aliás, todas as pessoas saem em silêncio. Aquele que vem da mente, não da boca.
Agora em casa, é difícil não me sentir orgulhosa e vaidosa pelo meu feito - fui o canal, o guia, o caminho por onde estas quatro pessoas passaram para viverem uma pequena experiência direta no budismo.
E estes sentimentos de alegria são estranhamente voláteis - porque eu sei que apesar de pertencerem a mim, também vão acabar.
Mas só a oportunidade de ter vivido estas oito noites intensas, transformam essa alegria passageira em profunda gratidão.
A mesma gratidão que ensinei hoje à menina Ana, que ao fazer a reverência do incensamento, repetiu comigo:
Obrigada Buda Amida por estarmos hoje aqui nessa festa.
Namandabu
Que bom! Isso é a experiência direta. A parte mais difícil é não se apegar ao sentimentos. Existe um conto budista que fala de um rei que tinha escrito em um anel " isso passará". Ele foi lutar em uma batalha e perdeu a maioria de seus homens. Triste, tirou o anel e leu "isso passará". A batalha seguinte foi vencida, quando ele chegou ao reino, todos faziam festa, ele estava muito feliz, então tirou o anel e leu "isso passará".
ResponderExcluirBeijos!