Por coincidência, li um post no blog do Samarone sobre a ausência de silêncio em diversos lugares - públicos ou não.
E hoje, a matéria do caderno Dois do Globo é sobre uma coletânea de artistas desde a década de 50 até a atualidade que expõem salas vazias em Paris. Um escândalo para os parisienses revoltados com a falta de vergonha da classe artítica porque onde já viu não por nada e ainda dizer que é arte um museu como o George Pompidou?
Interessante isso.
Porque o silêncio e o vazio incomodam pra valer. Parece que o lado de dentro da gente aumenta o som e a cor de tudo por dentro, se há vazio e silêncio lá fora. Que medo. Ouvir os pensamentos e enxergar os sentimentos em TECHNICOLOR.
Ver uma tela em branco, uma sala vazia. Um elevador sem música. Uma sala de espera sem TV.
Sem estímulos aqui fora, somos obrigados a encararmos os de dentro? Estes que não se calam nunca, mas a gente dá um MUTE no controle e finge que eles não estão aqui.
Tanto que vai meio apodrecendo e criando uma fina camada de mofo, visgo, teia. Vai deixando o sujeito cego e surdo. E começa a ver pra fora e pra dentro tudo meio distorcido, ecoando barulhos sem fim...
Eu acho, e isso é só uma desconfiança, que quanto maior o esforço para abrir os ouvidos e limpar os óculos e ver aqui de fora, maior é o filtro apodrecido que cresce silenciosamente dentro de nós.
Ver e ouvir o mundo e o outro deveriam ser um reflexo natural.
Mas passam pelo filtro visguento do medo que a gente tem de ouvir e ver o que há aqui dentro!
Daí, evitamos, vomitamos e interpretamos tudo lá fora. Parece mais fácil, mas uma hora, ao dobrar a esquina - puft! - o silêncio e o vazio se apresentam cara a cara. E o horror das mil cores e sons daqui de dentro se apresentam cruéis: pré-conceitos, fobias e desesperos. Sofrimentos gerados por nós mesmos e paridos para o mundo afora, culpa toda dessa louca ausência do silêncio e do vazio.
Estou assim - olhando o silêncio todos os dias. Ouvindo meu barulho de solidão e tristeza todas as manhãs de sol em Ipanema.
Calada por fora, acordo, leio, escrevo, ando até a praia. Por dentro, minha vida infinita se desdobra. Tanto que já há quase um silêncio e um tom preto e branco nas minhas idéias.
Estou esvaziando a mente? Ou enchendo o vazio externo de solidão?
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