Tem um aranha grávida morando na quina da parede do hall do banheiro.
Tudo começou quando a vi fazendo teia entre as portas do meu quarto e do banheiro. Local privilegiado: arejado, mas não muito claro. Bonito,ouve-se a tv e o som. Sente-se o cheiro de xampu e de comida, não ao mesmo tempo, de preferência, ainda mais quando se está grávida porque diz que o enjôo de cheiros é terrível. Eu aposto que vou ser uma grávida enjoada com cheiros porque já sou assim mesmo sem neném na barriga!
Toda vez que saio do banho pela manhã, olho para a aranha e a cumprimento cordialmente.
Ela, nada.
Sinceramente, acho meio frio da parte da aranha. Sou sua única vizinha. E nem sou sua predadora, já que parei de comer carne faz umas semanas...e sendo budista, só mato o que como. Ou pelo menos tento. Fora o povo que mato de raiva, mas aí eu preciso ser avisada. Afinal, sou budista mas não leio mentes. Se tá com raiva de mim, tem que falar antes de morrer. A culpa não será minha no caso. Nada a ver com budismo. Ou aranhas grávidas.
Aonde eu estava mesmo?
Então os dias e as noites passam para todos nós, inclusive para a aranha e eu.
Noto a aranha ficando mais preta. Não, não mais preta, mais encorpada, ao contrário da minha própria imagem no espelho, que se esvai a olhos vivos; a aranha ganha corpo quase que diariamente! Sem dúvida, ela não tem a gastrite que tenho. E nem as insônias.
Vida de aranha é assim: fica lá, na teia, olhando minha vida passar. Como as câmeras de vigilância, só que bem mais íntima. Até porque, aranhas têm 4 pares de olhos... ou estas são as abelhas? Ah, e depois vou contar das abelhas e do litro de gasolina.
Bem, voltando à aranha prenha, antes de mudarem o canal!
Estranhamente, não há bichinhos presos na teia que já ocupa boa parte do canto da parede. Só uma vez vi um insetinho tipo mosquitinho se esperneando por lá. Devo ter sido o manjar dos deuses das aranhas.
No dia seguinte, o mosquitinho sumira. E a aranha, mais gordinha.
Deve ser horrível ser aranha. Imagina, você come um insetinho só e já puft - vira uma gordita!
Se bem que eu, se comer um brigadeirinho numa festa infantil ... bloft! - engordo cem quilos.
Tá, cem é muito, mas eu sinto o brigadeiro se multiplicar na minha corrente sanguínea e espalhar o açúcar nos lugares mais incovenientes: bunda, barriga, coxas.
Saco. Eu tava falando da aranha e já pulei de assunto mais uma vez...paciência, meu cérebro funciona assim! Especialmente nos dias sem dormir e comendo papinha sem sal de arroz e batatinha. Tipo hoje. Ufa. De volta à aranha.
Eis que hoje pela manhã, olho para o canto como habitualmente tenho feito. A aranha estava OBESA! Com uma cara péssima mesmo, gente. Tipo com prisão de ventre, enfezada total. Foi daí que concluí - a bicha tá grávida, meu!
Sorri - tia de arainhas, demais!
Esperei ansiosa a dona Antônia chegar - hoje é dia de faxina, adoro. Chego à noite, só a capa do Batman e abro a porta pro cheiro sensacional do amaciante deixado nas roupas do varal. A casa caladinha, limpinha, morrendo de saudades de mim. Acendo um incenso, abro as janelas e vou sentindo devagar, o cheiro das roupas molhadas perder lugar pro incenso de amêndoa ou cravo. Fico assim nas quartas à noite. No silêncio limpinho da minha casa comigo dentro. E a dona aranha!
E daí que a dona Antônia chegou quase oito e eu já tinha feito o café pra nós duas. Mas a ansiedade era pra dar as intruções do dia:
- Tá vendo aquele cantinho ali? Não é pra passar a vassoura ali. Deixa sujo, não faz mal. Tem teia de aranha, eu sei. Deixa. Tem uma aranha morando comigo. Ela tá gordinha e eu tenho quase certeza que o parto é hoje. Ela tá péssima, até virou o rosto pra parede, tadinha. Se puder, cante umas músicas e tal. Ela fica sozinha, deve ser um pouco isso. Digo porque sou assim. Se me sinto péssima, falo que quero ficar sozinha, mas é pura mentira. Gosto de dengo. Ela também. Eu acho. Ainda mais se estiver para ter filhos, pense bem: uma baita responsabilidade, nesse prédio em reforma, em época de chuvas e cigarras, aonde arrumar comida pra tanta gente, melhor, arainhas? É muito complicado ser mãe aranha. Melhor respeitar. Pelo menos se fosse comigo, ia gostar se aranhas não me aborecessem na minha gravidez. Né?
Cá estou. Pensando na aranha. Será que a dona Antônia deixou ela parir em paz? Para onde vão os filhos das aranhas do mundo?
Do trabalho, vou meditar. É possível que as aranhas passem nos meus pensamentos meditativos.
Chegarei em casa tarde e sem dúvida, vou correr para ver a quina do hall.
Espero ter a sorte de ser tia de arainhas hoje!
Eu tinha uma moral da história pra finalizar. Mas deixo o texto assim mesmo. Em aberto. A seguir cenas. Vejam no próximo episódio. Como a vida da aranha. E a minha também.
Quando eu estava na sétima série, caminhando pelo pátio da escola, quase atravessei uma parede transparente de teias, berçário de mil arainhas. Parecia um ser único e vivo, num movimento etéreo de alma, pairando entre duas árvores. Parei no segundo exato em que ia tocar nelas. Nunca mais esqueci.
ResponderExcluirQue papo de aranha!
ResponderExcluireu tava no colegio e dentro da sala eu vi uma aranha prenha e o seu macho eu fiquei observando ela ate minha colega dizer que se a gente apertar a barriga dela ela tem os filhotes, minha colega foi la e apertou a barriga da pobre e saiu um monte de arainhas bem minusculas
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