28.11.09

A cigana, a cesta, a chefe

- Moça, pode comprar uma cesta básica pra mim?
Viro de frente, a jovem falava para minhas costas. Vestia uma camiseta cumprida até os joelhos cor de rosa. Os cabelos castanhos claros mal amarrados num rabo de cavalo. Tinha olhos de mel, a pele morena de sol. Cigana.
- Posso. Me espera no caixa que eu já estou terminando aqui.
Olhei a minha sacola de pano vazia. Só passei no mercado pra comprar umas frutas. Tinha parado na ala das Havaianas, um par por 29,70. Estava escolhendo a cor, quando a cigana falou comigo. Desisti das Havaianas. A cesta básica custa 39,50. Muito mais vantagem.

Segui para os hortifruti e de lá, direto pro caixa. Uma fila enorme. Lá vem a jovem cigana com um carrinho LOTADO de compras!
- Eu vou pagar sua cesta básica, e não sua compra do mês, tá? - Falei com o meu melhor sorriso. Ela afirmou que sim, e ficou ao meu lado na fila, com o carrinho cheio de Danoninho, biscoito recheado, refrigerantes.

- Essa mulher tá aqui todo dia, pede pra todo cliente comprar cesta básica, vai ali na esquina e vende tudo! - Uma mulher com o uniforme do mercado vem falando lá de trás (as pessoas têm esse hábito de falar com você sem olhar nos olhos? Vem falando com as minhas costas)
Agora, já ao meu lado - Se a senhora quer ajudar por que não dá o dinheiro pra uma instituição de caridade? Elas não ficam com nada disso, todo dia estão aqui! - e já foi tirando o carrinho da mão da cigana.

Olha aqui minha senhora, todas as pessoas são LIVRES. Fazem o que quiserem com presentes e compras. Eu comprei, é meu, eu faço o que eu quiser. A senhora não tem permissão para julgar minha atitude e muito menos de dizer como eu devo ou não ajudar alguém. E se a senhora acha tudo isso e está com tanta raiva assim do que esse moça faz com o que ela ganha dos clientes, a senhora pode fazer algo melhor - pense numa solução e pare de fazer parte do PROBLEMA.
(Pensei)

Olhei com meu sorriso Mona Lisa para a chefe do mercado:
- Eu vou pagar a cesta básica pra ela. Foi isso que eu combinei com ela.

A mulher na minha frente me olha com uma reprovação de diretora de escola.
A mocinha do caixa dá um sorriso de que já viu isso cem vezes hoje.
O homem da fila ao lado me dá o melhor sorriso do dia.
Sorrio de volta, pergunto as horas, bonito o relógio dele. O dono também.
Falamos de compras, comidas, receitas, calor, férias, ele pede meu número, me dá carona até em casa e combinamos um café para amanhã. (Desejei)

Em casa, abri a mochila com 5 frutas e um pacote de absorvente. Pensei se a cigana já tinha conseguido vender tudo na esquina. Tomara.







Nenhum comentário:

Postar um comentário