Fui batizada antes de completar um ano.
Aos dez, fiz minha primeira comunhão num colégio Católico.
Nesse dia, tive um desentendimento com o padre. Estava de mini-saia e ele achou ruim eu chegar na casa de Deus vestida daquela maneira. E eu achei péssimo ele falar mal da minha melhor mini-saia pra ir visitar a casa de Deus. Enfim.
Confissões feitas e comunhão recebida, nunca voltei à igreja para ser Crismada. E com o andar dessa carruagem, acho bem provável nunca subir ao altar na cerimônia do Casamento.
Anos depois, em 2008, me converti ao Budismo depois de frequentar o Templo por um ano.
É pouco tempo, eu sei.
E uma decisão muito séria. Pelo menos para mim, é.
Acho difícil explicar o que me aconteceu, mas é mais ou menos quando a gente chega em casa de uma longa viagem: o passeio foi incrível, mas voltar para a nossa casa, nossa cama e lençóis é a melhor sensação de todas!
É claro que não dá pra saber se daqui a trinta anos, serei umbandista, espírita ou me converter a outra religião - e até voltar para o Catolicismo.
Mas acho estranhíssimo a postura de se mudar de religião a cada um, dois anos porque brigou com alguém da igreja ou da comunidade; porque discorda do jeito que as coisas funcionam na administração do centro ou do templo...
A única explicação que tenho é: ter uma religião é a parte mais fácil da fé.
O difícil é praticá-la na sua comunidade, com as pessoas mais distintas possíveis de você;
o complicado mesmo é aplicar aquilo que é lindo nos livros, sutras, bíblias e alcorões, no cotidiano dos templos, igrejas, centros...
No Templo Budista, tenho muitos colegas.
Fiz um, dois amigos. E ainda assim, pessoas que sequer conhecem minha casa!
A maioria dos budistas que conheço tem muito pouco em comum comigo - são pessoas mais velhas, com mais poder aquisitivo, casados e com filhos grandes.
Nas atividades do Templo, como voluntária, tenho que lidar com gente de todo tipo, budistas ou não, que desafiam minha capacidade de ser bem educada - que dizer de ser budista!
Confesso que em muitas situações, me irritei, praguejei e até falei mal das pessoas.
E em outras, simplesmente desisti de estar presente, exausta da demanda que o ser humano impõe quando quer ser chato de galochas - como diria Emília, a mais inteligente das bonecas de trapo.
Nunca entrei em um embate, deixei esse estilo na adolescência e aprendi que uma boa briga se ganha de outras formas. Também porque, com o Budismo, entendi que o silêncio é meu melhor amigo nas horas em que tudo que quero fazer é soltar os cachorros e cuspir marimbondos.
O peso da minha mudez já moveu opiniões. Inclusive as minhas próprias.
Mas, mesmo sem grandes amigos no Templo, mesmo sem muita paciência para conhecer pessoas tão diferentes, mesmo com pouca habilidade para lidar com gente rude, estranha, até agora, eu não desisti da minha fé.
Eu confio sinceramente que aonde estou e no quê acredito não estão ligados intrinsicamente ao fato de o Templo ser ou não meu lugar de amizades e afetos...
E tenho certeza absoluta que é exatamente este o meu caminho budista:
Cheio de gente diferente; gente mesquinha, vaidosa, covarde, metida; gente como eu - com defeitos - que busca a luz do Buda no próximo - quando talvez devêssemos estar emanando a luz do Buda PARA O PRÓXIMO.
Nesse caminho, não há retrocesso, disse o monge Sato.
Eu não desvirei católica para virar budista.
E não sei como será meu caminho de fé para os próximos 30 anos.
Mas sou uma pessoa melhor do que eu era antes porque tenho uma fé aplicada a uma religião.
E esse compromisso - do que eu quero da religião que escolhi e das coisas que acredito - me dão forças para eu seguir aprendendo e conhecendo pessoas de todos os jeitos e maneiras.
para o meu amigo-budista, Bruno.
Que delícia, Fabi.
ResponderExcluirAndo praguejando demais, mas já comecei a notar que o silêncio nos momentos de maior raiva são premiados. A gente não fala besteira nem se arrepende depois, né?
Eu ainda estou na minha busca pela paz. Espero encontrá-la algum dia. A bondade me parece ser o caminho...
Beijos!
To realmente emocionado...
ResponderExcluirB.