Morando na Asa Sul, chego na Praça dos Três Poderes em exatos sete minutos se for de Zebrinha.
Asa Sul é uma espécie de bairro do Plano Piloto, o famoso avião do desenho de Brasília.
A Praça dos 3 Poderes é como a cabine do piloto.
E Zebrinhas são os micro-ônibus que circulam somente no Plano. Sim, o Piloto.
Então, eu moro numa Superquadra da Asa Sul por onde passa a avenida L2. (o L vem de LESTE, e o 2, vem da sequência numérica: L1, L2, L3, L4... )
Superquadra é um jeito que o Niemeyer achou de renomear quarteirão. A gente não acha nada de super, é um quarteirão mesmo. Nós que moramos aqui só chamamos de quadra, tá bom demais.
Enfim, a minha quadra fica na beirinha da L2, onde passa o Zebrinha para o Congresso Nacional. Eu trabalho lá. Bem debaixo da bacia, a de cabeça pra cima - que é a Câmara dos Deputados. Esse formato é uma metáfora pra dizer que os deputados ouvem o povo. Não entendi. Mas foi assim que aprendi na escola. Ouvem quem? Da bacia? Ah sei...
Ouvindo ou não o povo da bacia, pago dois reais para pegar o Zebrinha que me deixa na porta do trabalho. Lindo: Economizo poluição no planeta e não me chateio para procurar uma vaga. Sim, num complexo de prédios como a Esplanada, o Niemeyer achou que todos nós iríamos a pé. Ou isso, ou nossos governadores continuam achando que a frota de ônibus da cidade já está de bom tamanho. Não, não está.
O Zebrinha da manhã me deixa no trabalho sem atraso. Já na volta, espero uma média de 15 minutos no ponto e chego em casa mais ou menos 20 minutos depois. Com sorte!
Ainda assim, isso é reclamar de barriga cheia.
A Helena, baiana de Porto Seguro, chegou em Brasília adolescente na década de 70 e foi trabalhar como empregada doméstica na casa da minha mãe. Desde essa época, mora no Setor P da Ceilândia.
Ceilândia é a maior cidade de Brasília. Quero dizer, do Distrito Federal, porque Brasília mesmo é só o tal avião. E nem é cidade, Ceilândia. É região administrativa; ou Cidade Satélite, caso o avião voasse no espaço sideral. O Niemeyer deve achar genial as tais Cidades Satélites. Vou convidá-lo para ir à casa da Helena num dia de semana, fim de expediente. De ônibus.
Do Setor P ao Plano são duas horas e meia em pé no ônibus entupido. A Helena está solteira, nunca teve filhos, é convertida da Igreja Evangélica e tem mais de 60 anos.
Para voltar para casa, ela passa pela mesma ladainha. Isso, piorando com o tempo. Ela tem 32 anos de serviço.
E o metrô não melhorou em nada esse trajeto. Até porque, quando chega na parada da Helena lá na Ceilândia, os carros do trem já estão lotados. Eu falei que o metrô anda a 50km por hora? Ah, tá...
Mas, graças aos nossos governadores, cada ano que passa há novas vias de acesso para a Ceilândia. O número de ônibus se mantém mais ou menos o mesmo. A Helena não acha que as vias de acesso melhoraram o trajeto casa-trabalho. Nem o Niemeyer. Mas ele já não acha nada faz tempo.
Já a Helena, tem certeza absoluta que a questão não é construir avenidas, mas melhorar o transporte público. Eu concordo.
Ela vem de ônibus, e eu vou de carro para chegar em casa mais cedo. De um modo ou de outro, somos mais de dois milhões de habitantes com o exato mesmo dilema: como deixar os carros em casa, chegar em tempo no compromisso, pagar o preço justo pelo transporte? Como manter a cidade verde, livre de poluição, circular em bicicletas, ter acesso a qualquer ponto do Distrito Federal num ônibus?
Isso não é mais problema do Niemeyer.
Nem dos nossos governadores. Aliás, que governadores?
Cheguei aqui no seu blog porque vi seu comentário no blog da Gamila. E me senti habitando Brasília com seus últimos três posts. Moro em um lugar tão, tão diferente... E senti que vou viver no DF alguns dias lendo você! Parabéns pela sensibilidade, aguardo os próximos contos do DF.
ResponderExcluirBeijo
Meu sonho é ter um transporte integrado aqui nessa cidade. Ciclovias, ônibus e metrô. Fabi, fale da nossa vida noturna aqui em BSB que é até boa...
ResponderExcluirRubi, quando vier a Brasília verá como somos hospitaleiros, é só entrar em contato.
governadores?
ResponderExcluirq governadores?
oh, céus!