Ouvi dizer que há um tipo de técnica na engenharia que se usa disso: na iminência de uma possível avalanche ou desabamento em certo local, uma equipe antecipa o evento. Calculam, projetam e finalmente, provocam uma avalanche que aconteceria acidentalmente. Isto evita o transtorno como elemento surpresa e possibilita um certo controle num fenômeno natural.
Tem horas que acho que já já cai uma avalanche na minha cabeça.
Em outros momentos, sinto o coração prestes a explodir, antecipando um desabamento incontrolável de emoções.
Até aqui, tudo sob controle. Sinceramente, neste exato momento, duvido muito que algum acidente acabe com a minha lucidez e presença de espírito.
Mas, admito que a imagem de antecipar uma avalanche é bem tentadora. Provocar o transbordamento de um rio de sentimentos tem um lado positivo: a sensação de um mínimo de controle, já que transbordou no momento que escolhi e posso me previnir de eventuais danos colaterais.
Vou escolher ouvir todas as músicas, ler todas as cartas, ver dois ou três filmes e passar horas aos prantos, num misto de tristeza, raiva, e também resignação e alívio - afinal, escolher viver tudo isso na hora certa demonstra uma maturidade que eu não tinha experimentado até aqui - essa coisa adulta de se saber sofrendo, sofrer, e ainda assim, estar no presente.
Sem subterfúgios, sem depressão e sem euforia. Só a dor. E ponto.
Estar no olho do furacão, ou a da avalanche, para seguir com a metáfora. Estar, mas não SER.
O que me resta é contemplar o que sinto e penso confiando sempre que os estragos causados serão menores do que os ganhos.
E de que uma hora, tudo vira outra coisa. Porque tudo acaba. E tudo começa.
Avalanche que vira estrada. Estrada que vira caminho. Caminho que vira luz.
para Irma.
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