Em mais um mergulho na piscina, ganho novo fôlego com esse insight.
Com as minhas idas à natação, religiosamente, sem ironia, nadar virou um tipo de meditação. O processo é semelhante àquele de sentar em silêncio e contemplar o agora: eu nado os primeiros 15 minutos com a cabeça cheia de pessoas, coisas, eventos. Acho que depois de um tanto, o cansaço físico toma conta da mente. E finalmente, quase no final, nada disso importa e o movimento, a água, a respiração, tudo entra num único fluxo.
E ali mesmo, nadando e engolindo água, inventei a teoria dos 75%.
Nunca fui péssima aluna. Mas nunca fiz questão de ser a melhor. Então, sempre fui a aluna 75%.
Como bailarina, também estava sempre um pouco acima da média - mas longe de ser a primeira bailarina.
Nas aulas - tediosas - de piano, eu desisti: acho que na música, eu mal cheguei ao meu desempenho 75%...
No curso de inglês - que eu amava a cada ano mais - raramente passava dos 80% nas notas. É que eu sabia que dava pra passar, tava bom demais.
E nos concursos públicos, estar na média 75% me garantiu meu emprego atual. Mas, pelos meus cálculos, o emprego dos meus sonhos está, no mínimo, no patamar do desempenho 85%.
E ontem, tive essa súbita iluminação: sabendo da teoria dos 75%, se eu alcançar esse fluxo meditativo antes, ficará mais fácil chegar a um desempenho mais alto!
Fiz o teste: quando antes o professor me dava 400 metros de missão, eu nadava 300 no máximo. Aí, batia uma preguiça, um cansaço. Faltava só um tiquinho, mas eu deixava esse tiquinho pra lá. Ontem, decidi que era esse tiquinho que me daria o fluxo contínuo. 300 metros são o aquecimento. São os 100 metros restantes que dão exatemente o que preciso. Só que pra chegar lá, preciso inevitalmente fazer os 300 iniciais.
Descobri que racionalizando os 75% de cada tarefa dada, eu não preciso de estímulo para fazer tudo. Eu só preciso dessa força extra faltando 25% da tarefa!
Foi um truque infantil, mas funcionou lindamente. Ao contrário do que fiz a vida toda - de querer acabar logo todo projeto que me proponho - comecei ontem o caminho inverso: para toda missão aquática, pensei que eram os últimos minutos da natação que contavam para o que realmente preciso: chegar ao fluxo.
Assim foi feito: nadei 45 minutos redondos. Poucas paradas, sem roubar nenhum metrinho, mas também sem justificar que - ah, já tá bom esse tanto que nadei - não.
O bom é sentir o fluxo. E o fluxo só chega no final. Pelo menos até agora, é no final. Me aguardem.
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