12.1.17

O movimento que mora em mim

Dançar é uma daquelas coisas que já nasceram comigo. Sempre fez parte da minha vida celebrar com música, dança, festa. Na adolescência, iniciei meu processo de aprendizado formal e dos 13 aos 18, fiz aulas de ballet, jazz, dança afro. Além de me dar um preparo físico invejável, a dança também me levou a viajar para o Festival Internacional de Dança de Joinville (SC) aos 15 anos e me rendeu inúmeras apresentações em Brasília.
Desse curto período da minha vida, tirei inúmeras lições e experiências. Mas, desisti de dançar para estudar, viajar e seguir com outros projetos, já que o tempo dedicado era muito e eu teria que priorizar outras searas da vida, já com 18 anos.
Não fosse a pressão familiar, eu teria feito faculdade de dança na Bahia, à época, a única universidade que oferecia uma graduação em dança. O fato é que anos se passaram e eu nunca mais voltei às aulas.
Por um curto período, me aventurei pela dança do ventre, mas a logística da vida, novamente, me impediu de seguir com a diversão.
E aí, chegou 2017, e pelo facebook, vi um curso de verão aberto para iniciantes no horário perfeito. Há duas semanas, retomei as aulas e me pergunto porque passei tanto tempo me privando dessa alegria.
A nova rotina já me alertou para o modo como eu desprezo as coisas que são realmente importantes para mim, e agora sigo mais atenta às demais coisas que ignoro mas que no fundo, são o essencial.

11.1.17

Ansiedade, a vilã secreta

A conversão ao budismo foi uma decisão causada por um episódio intenso de ansiedade.
Havia sofrido um rompimento com um namorado de um ano. Ele era tudo pra mim, com quem eu queria me casar e ter filhos. Um belo dia, depois de um jantar, sem nenhuma palavra, ele me entregou a cópia das chaves que ele tinha da minha casa, e nunca mais falou comigo. Nunca mais. Não atendia meus telefonemas, ou quando muito, era monossilábico.
Após seis meses de insistência, decidi que era o suficiente: a rejeição dele tinha que ser um sinal claro para mim de que ele não queria mais ser meu namorado.
A conclusão e o rompimento eu tive que inventar já que ele nunca me comunicou o porquê da decisão dele.
A tristeza desse processo fermentou minha ansiedade: o que já era latente teve a oportunidade de aparecer com toda força, me dominar, controlar minha vida, meus pensamentos, minhas emoções.
Nesse período de limbo, enquanto eu tentava alternar táticas para 'resolver' a relação, entre ligações insistentes e silêncios por dias a fio, construí uma ansiedade que virou uma muleta para a caminhada que eu via pela frente: para mim, era uma questão de tempo para retomar o namoro. E com isso em mente, todos os meus pensamentos e ações eram voltados para esse fim. E a cada atitude mal sucedida, e que não me levava para esse resultado, mais ansiosa eu ficava.
A ansiedade que eu vivia me impedia de dormir bem, e por isso, eu estava em um constante estado de mal humor. Esse mal humor, a irritação e a agitação trocavam de lugar com um desânimo, uma preguiça de tudo e de todos.
Até claro, a gota d´água - algum dia, por algum motivo, depois de muitos comentários das amigas, dos familiares, algo em mim decidiu que esse método não estava funcionando e que então, eu deveria experimentar algo novo.
E fui meditar a convite de uma amiga.
Entendi com um insight incrível que aquilo que eu perseguia, o retorno da relação, nunca ia acontecer, e que por isso, não havia motivo para estar constantemente ansiosa. Senti um misto de alívio e decepção. Mas a prática me tirava da tristeza, me lembrava da desimportância da ansiedade e o principal - que eu não tenho praticamente nenhum controle sobre a minha vida, sobre a vida dos outros.
Nove anos passados, me encontro em uma situação semelhante emocionalmente: a ansiedade segue como vilã disfarçada de boa moça e me pega de surpresa por vezes dias a fio. Consigo identificar uma agitação no pensamento e nas ações, às vezes em minutos, às vezes demoro quase uma semana! Em geral, associo a situações não resolvidas, ou mal resolvidas, nas quais eu não tenho controle do resultado e antecipo uma resolução negativa. Também consigo observar a ansiedade ampliada nos períodos do meu ciclo menstrual em que as oscilações hormonais são mais gritantes.
Daí, respiro, medito, corto a cafeína, e deliberadamente vou fazer algo que me faça BEM - escrever aqui, por exemplo.
Essa mudança comportamental me traz uma perspectiva para olhar para a situação de uma maneira menos obsessiva, e reforça esse meu entendimento de que a ansiedade não me serve para nada, porque eu não controlo nada, logo, o melhor a fazer é seguir vivendo. Neste exato momento, tudo isso acaba de funcionar!

15.12.16

Resoluções e atitudes

Esse fim de ano, para mim, já terminou. 2017 começou entre quinta passada e hoje, em alguma suspiro meu.

Essa foi uma semana de silêncios intensos e algumas revelações. Das mais importantes, decidi meditar todos os dias.

Em uma semana, meditei cinco dias, com alguns intervalos para as confraternizações.
Criei uma pequena rotina em que tenho conseguido parar por 25 minutos quando chego em casa do trabalho.

A meditação tem uma função estranha para mim: ela me liberta da soneca das cinco da tarde - horário em que eu tenho um sono quase incontrolável - e também me dá insights, perspectivas e esperança. Esse misto de funções me é uma desculpa perfeito para praticar.

Aliás, quero corrigir: eu não faço meditação, eu tenho sempre a intenção de meditar - porque de fato, a mente em silêncio só existe contada em frames! Mas a intenção - sentar-me diante do Buda, acender a vela, o incenso, e seguir visualizando as imagens do Sutra da Terra Pura, isso sim, me estimula e traz esperança.

No processo da meditação, passo a maior parte dos 25 minutos, eu diria uns 20, fazendo uma força enorme para não fazer força nenhuma, parar de pensar, parar de sentir, parar de chorar (o caso de hoje). E a minha mente, em algum momento, desfalece e finalmente se entrega a esse processo - e se cala. É mais ou menos como aprender a boiar sobre as águas de uma piscina, ou no mar: não é bem a força que você faz que te ajuda. É talvez a força que você não faz!

A intenção no budismo é uma premissa muito recomendada. Toda ação tem que ter uma intenção, um valor atribuído - de preferência, a boa intenção, para gerar o bom carma. Meditar tem que ter intenção. Mas intenção não é sinônimo de técnica, força ou repetição. Porque se fosse, eu já era Buda.

O processo é como tudo na vida: em ondas, em fases, uma coisa assim, bem orgânica, como eu e você.
Hoje, voltei feliz para casa porque a meditação me esperava. Mas quando comecei a meditar, chorei muito, me distraí com as lágrimas, com o catarro que saía do nariz, e com o fato de que eu estava perdendo meu tempo precioso de meditar com a tristeza que sinto das tantas coisas que me rodeiam.

Acho que são esses momentos de insight que são tão preciosos e que levo para a vida afora: me perceber sofrendo enquanto é hora de dirimir o sofrimento! Isso
me pareceu uma perda de tempo! E de fato, o sofrimento se esvaiu quando eu concluí a perda de tempo que ele é! E, olha: minha mente ficou em silêncio por exatos 3 frames! Uma luz dourada desceu sobre a minha cabeça,  chegando até a minha garganta. Senti meu corpo muito presente e ouvi os ruídos lá fora, a música, e a quietude do meu coração. Essa breve experiência me emocionou profundamente e de novo, saí do estado meditativo para me envaidecer da minha própria conquista. Foi um misto de gratidão com orgulho e ó - acabou a mente quieta! Não importa, sei que é assim o meu caminho do silêncio porque eu o tenho trilhado há dez anos.

Mais dez anos passarão, talvez eu jamais consiga mais de 5 frames de silêncio em toda minha vida. Mas por agora, 2017 começa (já) com sentimentos, pensamentos e emoções como nuvens num céu de brisa leve: dissipando, a cada intenção de meditar, tudo de ruim que eu faço para mim e para o mundo; silenciando, mesmo que em conta gotas, todo carma ruim que trago comigo e cessando toda ação que vem de um lugar nefasto do meu ser.

Gashô e feliz ano novo.

13.12.16

#NãoEstáTudoBem

Daqui da janela da minha sala no trabalho, vejo parte da Esplanada dos Ministérios, em Brasília. Ouço bombas, sirenes e helicópteros em um dia em que a História afirmará ser o retrocesso mais lamentável do Brasil: o Projeto de Emenda Constitucional 55, a PEC 55, foi aprovada pelo Senado hoje. Coincidência ou não, mesma data da aprovação do Ato Institucional nº 5.

O medo é a melhor arma para a coação e a desestabilização do ser humano. Com medo, não fazemos nada, ficamos paralisados.
A polícia usa disso em larga escala, mas hoje está tão desproporcional que é risível! Não há gente suficiente para o número de policiais! Há dois helicópteros sobrevoando a área da Esplanada!

Minha fé está abalada, confesso. As instituições estão falidas, de dentro pra fora, poucos com coragem para falar. Eu, como muitos, me calo mas também me ressinto. Não sei o que fazer, mas sei que não fazer é errado...

A letargia que me assola é fruto do meu berço de ouro - bem nascida, bem criada - e da minha preguiça burguesa de pensar o mundo fora do meu cercadinho.

Estou em um dilema: sofro pela omissão a tal ponto que preciso me manifestar?  Ou sofreria mais se embarcasse na luta pelo que defendo de mais viceral: a liberdade de ser quem sou, cada um de jeito, protegidos pelo manto de um lei justa, isonômica, que iguala os desiguais perante as normas, para se ter um país mais equânime, um mundo aonde todo Homem e toda Mulher merecem o que já nascemos tendo: dignidade, valor intrínseco, verdade.

Não, não está tudo bem. Dentro de mim, fora de mim, no mundo todo. As coisas ainda vão piorar, e em algum momento, serei forçada a sair da inércia que me encontro agora, aqui, atrás da tela do computador, sofrendo protegida pelo muro das diferenças sociais, pela conta bancária, pela cor da minha pele branca.

Vergonha de mim e vergonha do Brasil.

11.12.16

2016: o ano de muitos fins

2016 termina com uma lista infinita de decepções.
Nem falar do golpe de Estado do Brasil, do novo presidente americano, da morte de grandes nomes, como Suassuna.
Bem, agora que já mencionei, minhas grandes decepções moires foram de foro íntimo: pessoas que me surpreenderam porque se mostraram ser outras pessoas comigo ou com o contexto.
Foi um ano de tapas na cara, um após o outro. De coração partido, surpresas, traições e trapaças.
Todo mês, sofri de um doença: ouvido, garganta, estômago, coluna, ombros, bexiga, e tudo de novo. 
A cada mês me descobri mais forte e convicta e também mais ímpar, estranha e diferente do que é normal, tradicional, comum.
No decorrer do ano, percebi que me perco rápido de mim mesma e demoro muito para me realinhar. Tanto que dezembro chegou e me dei conta que preciso urgente sacudir a poeira e dar a volta por cima de mim mesma, daquela que eu fui esse ano inteiro: cega com as minhas demandas, surda com as coisas do meu coração. 
Acordei com o peito apertado, mas fui pro sol. E prometi um monte de coisas pra mim:
voltar a escrever, voltar a meditar, voltar a fazer uma coisa de cada vez. Voltar.
Voltar pra mim.
Porque eu sei quem sou, com defeitos e lentidões. E é para dentro de mim que vou voltar, toda hora, toda instante, até sarar de tudo que foi o ano, a vida até aqui. E com todas as cicatrizes à mostra, sigo para mais um ano: mais inteira, mesmo que lenta e errante.


17.9.16

Tudo ao mesmo tempo agora

Abro essa página para escrever sobre um sem número de coisas desordenadas. Tenho sentido essa dificuldade imensa de organizar a ideias no papel há tempos já. Talvez por isso parei de escrever aqui, e aí, num ciclo vicioso, a falta do escrever me desorganizou ainda mais. Outro ponto, eu não faço uma boa leitura há um bom tempo também. Sempre fragmentada em capítulos, textos soltos, dois parágrafos no máximo. Vida líquida - minha capacidade de silenciar minha rotina e me dedicar a duas coisas que gosto muito: ler e escrever.
Agora nas férias, me propus a ler textos acadêmicos, e também trouxe na mala o Amor Líquido, do Bauman. É aquela história - leitura difícil não deveria ser companhia pras férias; mas se não for nas férias, que horas vou ler um livro tão difícil?
Eu li, e doeu. Muitas tristes verdades confirmadas e revistas. Nunca ficou tão claro para mim o quanto me sinto deslocada, despertencida, ignorada no mundo.
Viajar sozinha é sempre uma exceção, mas Fortaleza foi gritante - vai ganhar o título de Tradição Família e Propriedade da capital mineira porque af, que triste: o machismo, a homofobia, o chovinismo, o patriarcalismo.
Se viajar sozinha já é um ponto fora da curva, ser mulher, solteira e quarentona, éter e classe média então. Em cada cenário, reafirmo minha abdução de outro planeta para a Terra. Quero o impossível na vida a dois, no trabalho, nos espaços comuns: as cidades. E recebo de volta comentários machistas de homens com alianças procurando as putas da praia; um golpe de Estado que hierarquiza relações que mal existem profissionalmente; me calo diante de afirmações da classe alta do quanto é importante o filho sair com um segurança particular dirigindo um carro importado blindado.
É, eu sou toda errada.
Não tenho mais convicções para compartilhar porque essa palavra foi abolida dos vocabulários dos grupos de whats up - inclusive o grupo da família, que era antes uma chuva de bons dias e boas noites, agora é só insulto e provocações políticas que ninguém lê de verdade mas se sente mal.
E nem contemporizar os ânimos eu quero mais. Não mais.
Estamos todos carentes.
E é uma carência sem fim, um poço seco e sem fundo, porque não importa a atenção, ela vem sempre tarde demais, pouca demais, de quem não importa demais.
É hora do meu embarque.
Volto pra casa mais insegura, com mais medo e mais tristezas que quando cheguei. O Brasil é grande, as pessoas estão somente sub-existindo, e vamos mudar de assunto porque o próximo programa de tv vai começar, chegou mensagem no whats up e uma foto pra subir no instagram. Depois a gente vê essa coisa de viver.

16.9.16

Hiato

Em menos de 24 horas estarei de volta em casa depois de 10 dias de sol e mar.
Há mais de dois anos, abandonei o espaço de escrever.
Hiatos na minha vida são muito comuns. Acho saudável sair das fases, mudar de rumos, inventar outras invenções. Escrever, nunca foi substituível para mim. Simplesmente, desisti de achar importante falar do que penso e sinto. 
Aliás, essa sensação de desimportância tem imperado na minha vida: em várias gradações e passando por muitas áreas, as coisa têm tido pouca importância. Um misto de desesperança com preguiça. 
Na praia, vejo crianças surfando claramente sem nenhum compromisso com o profissionalismo ou a prática de uma atividade física - estão ali, no mar, nas ondas, e de lá sairão famintos e cansados fim.
A cena de um mar salpicado de amadores divertidos me comove e peço a Iemenjá que olhe sobre todos nós - desses ingênuos moleques ratos de areia a seres como eu, que sentem tanto e fazem tão pouco. 
É hora de voltar. Resumir hiatos, chegar em casa. Sigo desistindo de dar importância a muitas coisas mas escrever ressurgiu assim, como os meninos surfistas depois de um caldo monumental do mar. Axé Iemanjá!

14.12.14

Hoje é dessas noites que todo o cansaço não me faz dormir em paz. Imagino que o afago de um abraço, um beijo mais afetuoso sejam antídotos para o medo que o acordar me inspira. Mas, por hoje, vou fechar os olhos com força entre as lágrimas - que nem sei mais se são pela doente ou por mim mesma - e torcer para o sono vencer a tristeza mais rápido que de costume.

É que me deu um medo imenso de morrer assim, só. Envelhecer, adoecer, morrer, sozinha, sozinha.
E no caminho disso, que eu ainda espero ser longo, seguir vivendo todas as despedidas também sozinha. Sem um abraço na entrada de casa. Sem uma conversa no escuro dos travesseiros. Nada. Só isso mesmo, anos e anos de lágrimas no escuro.

Uma noite como essa, é difícil pra caramba apagar as luzes, fazer silêncio, fechar os olhos e dormir, só.
Nos piores cenários que pintei, nunca pensei na minha vida adulta com uma solidão tão brutal.
São tantos anos que já sei: hoje, eu mesma acendo a vela, faço o chá, arrumo a cama. Eu mesma levanto no meio da noite, do pesadelo, e pego um copo de água.

Agora, não é diferente: mais uma noite que eu preferia ter um par... mas, é isso: deixa eu me levar para vestir um pijama quente, entrar debaixo dos lençóis macios e me encolher na cama grande sussurrando, como todas as noites antes que, quem sabe, um dia desses, o vento muda, a sorte gira e a vida me faça par, parceira. Quem sabem na próxima despedida que a vida trouxer, eu tenha um abraço calado em casa para mim, só para mim.




9.12.14

Uma de tantas

Eu devia ter uns seis anos ou menos. Mas era assim: na hora de ir embora, insistia pra ficar. Eu acho que era tudo meio ensaiado, mas gostava de convencer e pedir, e pedir. Dava sempre certo no final: beijos e abraços e já corria pro chuveiro. Banho quente, xampu cheiroso e neutrox amarelo, aquele aroma de prateleira de farmácia. Vestia emprestado um pijama descombinando, tomava sopa fervendo de macarrão com feijão.
As cadeiras da mesa de jantar tinham um cheiro de madeira encerada, mistura de lustrador de móvel com amaciante de roupas. Eu me sentava e o nariz praticamente alcançava o tampo da mesa forrada de toalha de mesa bem passada, com o risco da dobradura que o ferro quente faz.
Vovó penteava meu cabelo fino, longo e embaraçado com paciência e cuidado, mas com pressa sempre.
Boa noite, dorme com os anjos, amém. Beliche. Cama de baixo, frestas de luz no teto, subia o lençol macio até a testa, e de olhos abertos aspirava com força o cheiro do sono chegando, chegando, chegando.
Acordava quase de noite ainda, pão prensado no tostex de ferro, com manteiga e sal, embrulhado no papel do saco de pão marrom da padaria. O leite com chocolate em pó no copo alto, com a colher grande dentro, pra mexer o fundo e diluir o mundo de açúcar.
Não tinha nada de especial, mas tudo era muito particular: antigo, limpo, usado, muito usado. Tudo.
Eu adorava tudo.
O jeito das coisas, a posição dos objetos, os aromas agradavelmente bagunçados.
E os olhos azuis da vovó, concentrados por trás dos óculos, desatentos a mim, fazendo tudo acontecer para eu me sentir especial. Nunca deu errado.
Lá ia eu, andando atrás, passos curtos e rápidos, alcançar o ônibus escolar. Minhas tias eram 3, 4 anos mais velhas só, estudávamos as três na mesma escola.
Depois de passar o domingo na casa da vovó, meus pais me deixavam dormir lá e acordar segunda-feira direto para a escola.
Talvez isso tenha acontecido três vezes, talvez trinta. Ou, talvez, tenha sido só um feixe de luz no teto, por baixo do lençol azulado até aqui em cima, cobrindo a testa.

25.9.13

finalmente um chuva fina começa a cair

e dirijo devagar de volta pra casa, as ruas já esvaziadas do trânsito.
espirro.
sorrio.
e do nada, me dá um saudade louca de você.
acho que você gosta de chuva, como eu.

acho que se eu penso em você, é porque você precisa que seja assim.

ou será possível?
tanto tempo de silêncio 
que eu nem me lembro mais porquê você brigou comigo com tanta força.
o que me lembro - e guardo - são as palavras, as afinidades, as distâncias ficando cada vez menores...

sei lá. me deu uma saudadona de você.
talvez por estar melhor da gripe
talvez por estar menos calor
talvez por simplesmente estar mais eu hoje 
e isso tem tudo a ver com você.

ou será impossível?
depois de tantas conversas não mais, nunca mais, um sinal seu...
o que tenho - e mantenho - são as letras conexas, promessas convexas, uma amizade ficando maior, até...

ainda posso?
será que devo?
o que espero?
o que mereço?

o que devoro
o que imploro
o que devolvo
o que pergunto
o que preciso:
chover