Era um cômodo bem grande, mais ou menos dividido
é que não tinha paredes, mas os móveis faziam as vezes
um quarto bem grande, um banheiro enorme, uma sala com sofá
Essa casa não era a minha,
e minhas malas deixavam evidente minha estada temporária
estou entrando - ou saindo - do banheiro, enrolada em toalha branca, o cabelo molhado, cheiro de sabonete e creme, de água quente evaporando
tem um menino deitado na minha cama
Sim, uma cama enorme de casal - com lençóis brancos, edredon, travesseiros desalinhados
uma cabeceira alta, branca, desenhada em metal
definitivamente, a minha cama de dormir - tem um menino deitado
Ele não está dormindo, somente deitado
veste shorts azul marinho, sem camisa vejo as costelas por trás das carnes
é moreno claro, mas de cabelo muito muito preto.
Abre os olhos em sonolência - também são escuros, os olhos, as sombrancelhas, os cílios são
- Você não pode dormir aqui - digo sussurrando, chegando perto do menino
- Mas eu quero ficar com você - retruca com olhos lânguidos de criança apaixonada
- Você não pode dormir comigo - agora, toco no braço magro, puxo de encontro ao meu corpo
- Deixa eu ficar com você - pede com voz de homem e curva o corpo de criança
Em silêncio, mas hesitante, pego o menino no colo - e noto que quase já é alto! - e o coloco no chão coberto de mantas, colchas e almofadas
Ele se deita resignado, também em silêncio, me olha profundo na alma
Sinto medo da paixão que despertei
E uma tristeza, uma dó, uma saudade de mim
- Ele é um menino, ele é um menino - acordo pensando enquanto me deito na cama do sonho.
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