15.10.06

Dois elefantes no fundo do mar

Passava das 3:30h e eu estava com sono.
Me despedi, paguei minha conta e voltei andando rápido para o carro.
Estacionei longe, estava sozinha, alerta geral.
Ando sempre no meio da rua, e não na calçada. É que a rua tem mais luz, os carros passam, se algo me acontecer, pelo menos mais gente vai testemunhar.
Enfim, coisas de mulher nas madrugadas.

Pertinho do meu carro, um Audi A4 preto diminui e um homem me faz uma pergunta.
Não ouvi, mas deduzi que ele queria minha vaga. Desacelerei o passo.
- Você saiu do Buccanero?
- Não. Ri - pensei - o figura não sabe nem a cara da mulher que ele tava dando em cima dentro do bar...Ô, fim de mundo.
- Ah, você não tava no Buccanero?
- Não, eu tava no Gate´s. - Ri de novo - agora pensando que ele tava me criticando - e daí se eu tava no Gate´s que é cafona e não no Buccanero que é moderninho? - segui pro meu carro.
- Annn, e agora você vai para algum lugar?
- Vou sim, pra casa dormir. E você? - com aquele tom irônico de dispensada geral que eu sou mestra.
- Não sei!
Caí na gargalhada. Ele tava ali, no meio da rua, dando em cima de mim? Ô, gente.

Entrei no carro, dei partida, ré, faróis, cinto de segurança.
O Audi parado um pouco à frente.
Foi o tempo de reconsiderar.

Sabe quando alguém se aproximou de mim, assim? Nunca.
Ele não tava com cara de bêbado. E nem era um monstro horrível.

Poderia ter sido mais simpática, mais aberta, mais - ... - cara, como eu penso!
Parelelos para entrar na L2 (mas eu poderia ter dado ré e voltado pela rua do Gate´s) - abaixei o vidro do passageiro.
- Vamos tomar um café?
Parou tudo.
Ele falou as palavras mágicas.
VAMOS
e
CAFÉ
- Não tem nada aberto a esse hora.
- Já foi no Mac Café? É bem aqui.
- Vamos.
- Você não vai fugir, né?
- Não sou de fugir de café.
Ele pagou. Saiu para ir ao banheiro e deixou no balcão a carteira, o celular, a chave do Audi.
Ele pediu um Capuccino.
Ele é jornalista, maratonista, tem uma filha de sete anos.
É a cara de um antigo amigo, só que mais feio. Tem um problema de dicção que me distraía. Perguntou de mim o suficiente para falar dele.
Me levou até o carro.
Me deu um beijo de leve, suave, na boca.
Ri.
Me beijou de novo.
Ri de novo.
- Por que tá rindo?
- Porque é engraçado isso.
Me deu um beijo mais intenso, mas aí eu já tinha estragado tudo.
Caí na gargalhada.
Ele sorriu.
- Se cuida.
- Você também.


2 comentários:

  1. Pena que no fundo do mar há poucos elefantes... Uau!

    ResponderExcluir
  2. ahahah
    é vida real, amiga!
    e melhor do q o menino da bicicleta verde!
    bjossss

    ResponderExcluir