27.7.09
Escuridão
24.7.09
Brilho, Contraste, Nitidez
23.7.09
Promessas
22.7.09
Desejinhos
20.7.09
Saideira
19.7.09
Foco
16.7.09
O Espírito e o Sufixo
(Bruno Varjão)
Nasci forte como um tauro deve ser, gaudério da cepa boa. Minha querida mãe sofreu as dores do parto do piá que queria ver o mundo. Isso tudo deu-se em 1890, em uma colônia no interior do Rio Grande Sul.
Por mim, falaria apenas Rio Grande, mas me acusam de ser separatista, por que existe um Rio Grande no nordeste e chamam Rio Grande do Norte. Lá não sopra o vento minuano. Por que não Rio Grande Nordeste?! Parece mais bonito, nem lembro o nome da capital, mas somos mais tauras que aqueles do litoral de cima.
Hoje sou velho, vi vidas e mortes, aliás a vida é a morte vivida. Meu pai morreu antes do parto, ficou preso no galpão que pegava fogo. Quando a fumaça saiu das nossas terras e misturou-se ao pôr-do-sol , já era tarde.
Minha mãe tocou a lida campeira sozinha, até eu ter idade suficiente para ajudar a prenda de meu pai e a santa que me colocou aqui. Rédeas curtas, era assim que ela cuidava dos empregados, de mim, das colheitas e do pão.
Fazia preces ao negrinho do pastoreio para que cuidasse de minha santa mãe, da querência e de mim. Fui crescendo e o trabalho aumentando, minha santa mãe envelhecendo rápido e meus deveres campeiros aumentando.
Aos dezesseis anos senti a primeira dor da vida. Minha querida mãe foi levada pela aquela doença. Em seu último suspiro, no canto do cisne, me disse:
- Filho, que tu seja agora um homem de orgulho e lealdade.
Em 1906, meu coração foi fechado pelo luto. Já era um adulto, cuidando do campo e do gado. Larguei a escola e aprendi com a vida o pouco que sei.
Criei em meu pasto a minha identidade, me chamavam de patrão, me obedeciam; e assim segui por dez anos sem parar, enchi a guaiaca e arrendei novas terras.
Com 26 anos, esse velho já era senhor da região, rico de dinheiro e solidão. Foi então que fui buscar novos negócios na capital. Porto Alegre era grande, muito grande para meus olhos. Conheci um comprador que me chamou para trovar durante a janta em sua casa.
Naquela casa, conheci a bondade. Catarina. Irmã caçula do comprador de gado. Logo, pedi fidelidade, nos casamos. Dei algumas cabeças de presente ao irmão que me deu a minha prenda. Cabelos dourados e olhos cor de céu em dias sem nuvem.
Poucos anos depois ela me deu a primeira felicidade, um guri. Guri que logo herdará parte do que tenho, pois a outra parte vai para a pequena prenda que ,hoje, já não é pequena.
Catarina não resistiu ao parto e me deixou só. Tinha minhas crias pra cuidar e a vida para lamentar. Quando a prole cresceu, mandei para a capital, para que fossem doutores. Mais uma vez ficamos eu e o pampa.
Os anos passaram. Meus filhos cresceram e me deram netos.
Aprendi a ser filho quando fui pai, e aprendi a ser pai quando fui avô. Não tenho a mesma força para a lida campeira, mas ainda tenho voz para mandar.
Hoje, meus netos têm a mesma idade de quando me tornei senhor. Minhas mãos tremem quando seguro o mate. Estou morrendo, sou velho.
Via a Catarina sorrir para mim em meus sonhos. Bela como sempre foi.
Vejo a Catarina sorrir agora, me desperta alívio, será o espírito dela?
Peço a São Pedro que sim.
Óculos
15.7.09
Francisco
14.7.09
Crônica lúcida
Tenho tido contato bastante freqüente com amigos e colegas heterossexuais do sexo masculino. Era um desejo antigo. Não me sinto sempre bem ao lado de homossexuais. Tampouco acho psicologicamente saudável, para mim, conviver o tempo todo com mulheres (heterossexuais ou não). Tenho vários amigos e conhecidos que possuem a mesma orientação sexual que eu, mas gosto de pensar que somos amigos independentemente disso. Não gosto da ideia de construir uma amizade apenas sobre bases sexuais. O critério me parece insuficiente e, claro, discriminatório – para não dizer que se trata de preconceito invertido.
Pois bem, realizei o desejo de ter mais contato com amigos heterossexuais do sexo masculino e, assim, diversificar meu círculo. Hoje, convivo com homo e heterossexuais, principalmente com esses últimos. O que descubro? Afinidades: somos todos muito mais parecidos do que supomos antes de nos conhecermos melhor. O que mais? Somos um bando de preconceituosos. Não podemos realmente dizer algo sobre uma pessoa sem que antes a tenhamos conhecido. Finalmente: muitos, muitos, muitos homens podem ser parceiros quase perfeitos, amigos confiáveis, companhias divertidas, mas... Quando se trata de mulher, quase todos eles podem ser canalhas, patifes, cafajestes (sim, tudo aquilo que as mulheres dizem deles). As exceções parecem confirmar a regra. Lamentável.
Noto que as mulheres também fazem das suas. Muitas são ardilosas. Outras tantas chegam a ser venenosas. Mas não vejo tanta calhordice entre elas por aí. A maioria deseja ardentemente ter um parceiro. O problema é desejar literalmente ter, isto é, possuir, prender. Enquanto eles buscam diversidade, a maioria delas busca singularidade. Elas querem o diferente, o que se destaca, o melhor. Está bem. Já existem milhões de mulheres no mundo que vivem como os homens: buscam diversidade, sentem-se livres, e algumas chegam a ser calhordas com eles também. Dão o troco. Vingam-se de séculos de opressão ou algo que lembre isso. O fato é que, pelo que observo, a maioria ainda sonha com casamento. Muitas realizam esse sonho. Afinal, os homens também querem uma parceira fixa. A diferença é que eles parecem não ter nenhuma pressa...
Minha convivência com os homens heterossexuais também tem me mostrado o quanto eles podem ser desprendidos. Ligam menos para picuinhas. Irritam-se mais facilmente talvez, mas a irritação também passa mais depressa. O rancor é menos demorado. O que não justifica um soco, uma porrada, justifica menos ainda, portanto, uma dor-de-cabeça. Geralmente, os homens falam menos que as mulheres. Não ao telefone, quando empatam ou as superam, sobretudo se for ao celular. O fetiche com a tecnologia parece mais forte neles também. E o futebol... Esse, às vezes, pode ser mais importante que mulher, principalmente se a companhia forem os amigos e as cervejas geladas. Para mim, esse é um clichê que vem se confirmando a cada dia.
Enfim, a companhia masculina pode ser realmente muito agradável. Todavia, torna-se cansativa, ao menos para mim, quando a “caça” às mulheres vira obsessão. Os bichos selvagens entram em cena. Mulher, mulher, mulher... Os amigos, de repente, perdem o sentido. Ficam invisíveis uns para os outros. Só se comunicam para avaliar as fêmeas, que aparecem para eles como potenciais vaginas onde vão penetrar, gozar para depois esquecer. Nessas horas, todas as mulheres são putas. Nenhuma tem sentimento, história, sonhos. Só vagina, peito, bunda.
OK. Há homens intelectuais. Podem ser interessantes quando não são pernósticos, o que é raro. E, via de regra, eles tampouco sabem se divertir. Fazem do lazer mais uma oportunidade para reflexão. Não tenho paciência para tanto. Restam os quase-padres, aqueles que, por amor e temor a Deus, jamais falam mal de quem quer que seja. Evitam criticar, zombar, condenar. Podem ser doces, mas também cansam. Ficam açucarados, pusilânimes. Quando não me inibem com sua pureza em contraste com minha baixeza. O que fazer?
Para isso, é importante não pertencer a uma tribo só. Quando uma fica demasiado pesada, passa-se para outra e assim por diante. Perfeito, não? Só que...
Na hora de namorar... Dá para ter tudo em uma pessoa só? Provavelmente não. Vixe!!! Danou-se!
Até a próxima.
Obrigado, por aceitar o convite e postar aqui essa impressão. Beijo
12.7.09
10.7.09
Proletária
E claro que pra gente, só sobrou isso mesmo: o trabalho é igual, o salário é igual. A empresa provisória fará um contrato provisório, sem FGTS, férias, tals. O período de férias que deveria começar a contar a partir desta rescisão, só vai começar a contar a partir do início do novo contrato, ou seja daqui a três meses. Isso significa que minhas próximas férias serão a partir de outubro de 2010!
Confuso, que nada! Irritante...imagina!...Isso é... mesquinho! Mesquinho da minha parte me apegar nestes pequenos detalhes, afinal - urru! - serei recontratada! - e mais! Tenho um emprego!
Afinal de contas, os incomodados que se retirem...
9.7.09
Vaidade
http://www.fernandomorais.com.br/imprensa.php?id_noticia=420
(Pensei por uns...dois segundos)
; )
8.7.09
Surpresa de madrugada
"Curtir o céu estrelado do meu quarto e a cama flutuando..."
7.7.09
segunda à noite
sigo ao sul
com vento forte
debaixo de um poste
a moça, o moço
o beijo doce
na asa norte
6.7.09
Metalinguagem
Dos 7 mil e poucos hits, garanto que uns 5 mil foram sem querer
(tenho estatísticas para provar!)
Diria que, em média, umas 5 pessoas realmente leem meus posts diariamente.
E já me questionei diversas vezes sobre parar ou não de escrever aqui.
Mas, até me decidir, tenho que responder a algumas questões que pessoas da vida real (que nem sempre são minhas leitoras virtuais)me perguntam com frequência.
- Você é vaidosa, egocêntrica, exibicionista. Pra que tudo isso?
RESPOSTA
A intenção inicial era ter um espaço para escrever diariamente, nunca pensei num lugar pra me exibir. Mas, sim, sou exibida, colorida e como casca de ferida. Quem quiser pode virar os olhos pro outro lado e fingir que nunca me viu. Sem problemas.
- Você se expõe muito, é perigoso, as pessoas ficam sabendo muitas coisas de você.
RESPOSTA
Sim, a internet expõe as pessoas...assim como a vida real.
Ainda não sofri nenhuma consequência negativa. Pelo contrário, só colhi bons frutos escrevendo aqui! Prefiro pensar que aqui é uma outra mesa de bar, outra reunião nas almofadas da minha casa...
- A interação é desigual, as pessoas ficam sabendo muito de você, e você não sabe nada do outro...
RESPOSTA -
Pura verdade. E isso realmente pode não ser muito legal. Aliás, na vida real isso também ocorre, ou não? Já me decepcionei tantas vezes ao me dar conta que amigos não me conhecem o quanto eu os conheço...
Agora, fazer o que? Eu SOU assim. Essa pessoa que se joga nas coisas. Me atiro, pulo, mergulho. Às vezes, os machucados são maiores que a adrenalina da queda! Esse blog é consequência do jeito que lido com as coisas. Escrevo, depois me arrependo, invento, depois quero desinventar...Mas, estou aprendendo, acho que a idade ajuda nisso. Tanto que vez ou outra penso em parar de escrever aqui.
Mas...AQUI!
Parar de escrever, não dá. Não páro tão cedo. Mesmo que só eu mesma leia tudo, mesmo que fique velhinha, ceguinha e sem condições de digitar...!
Então, é isso.
Não precisa voltar, mas quem cair aqui, vai ter que me engolir, melhor, me ler.
Desse jeito mesmo que sou - confusa, medrosa, metida, cheia de opiniões e achismos sobre a minha vida e a alheia...
Beijo-me-liga. Fui!
5.7.09
Detox
Reflexo de uma tireóide que está encolhendo.
O meu corpo acha que minha própria glândula é um agente estranho.
Meu corpo ataca parte do meu corpo.
E tudo dentro saiu de sincronia:
Entrei numa dieta há três semanas - desintoxicação total
(admito, não obedeci tudo todo dia..)
Os primeiros quatro dias passaram devagar e sofrendo bastante:
sem açúcar, sem glúten, nem laticínios.
Mas o pior: sem o café depois do almoço!
E a cerveja do fim de semana!
Ah!
Sou um tubo de ensaio de mim mesma.
Enquanto passo um filtro no que entra pela boca,
Penso também no que posso fazer num sentido mais metafórico:
Acho que engulo muito sapo. Da vida, das pessoas, das situações
Não me imponho como uma pessoa inteira, com defeitos, manias e gulodices (que estou obrigada a abrir mão este mês!)
Uso a capa da Mulher Maravilha, tenho soluções e boas palavras para qualquer situação ruim (dos outros, claro)
Não é bem um lamento. É uma simples constatação:
quando nego boa parte de quem sou, é natural que parte do meu corpo seja estranho dentro de si próprio...
sem reconhecer minhas sombras e medos, fica difícil enxergar tudo isso como parte de quem sou.
E olha, vou contar: tenho medo mesmo. De um monte de coisas (e de baratas e cigarras).
Mas andei disfarçando tão bem (o medo), que TODAS as pessoas se surpreendem quando balanço a cabeça com um não
- obrigada, não estou comendo chocolate
- não, não estou tomando cerveja esse mês.
- estou pré diabética
E tenho ouvido os comentários mais inusitados:
- mas você tem certeza?
(não, eu adivinhei e resolvi sair falando isso pra chocar as pessoas...)
- nossa, você? mas nem parece!
(não parece? ué, até onde sei, esses diagnósticos não vêm com tatuagem na testa - DIABÉTICA..., vou ligar agora e recalmar que não ganhei uma!)
Agora, se ouço isso, é resultado do que as pessoas acham de mim.
E se elas acham algo de mim,
é porque eu pareço assim aos olhos delas.
Dá medo.
De sentir que na verdade, ninguém me conhece MESMO.
Comecei esse post para falar dos alimentos e da nova rotina.
Saiu esse emaranhado de ideias e decidi não editar, não censurar, não digerir nadinha.
Vai como está.
Estou me desintoxicando.
É hora também de falar o que penso de mim sem a capa da Mulher Maravilha.
Com sorte, filtrando o que como e vomitando o que penso,
meu corpo faça as pazes consigo mesmo,
abrace de novo minha tireóide,
e seguirei INTEIRA por muitos longos anos ainda...
3.7.09
A Sofia tá chegando
Hoje tem Mundo Livre!
Mundo Livre S/A
Eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água
Eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água
Eu não vou sair daqui sem ver você sair, não vou gostosa...
Ela entrou de bikini branco
Deixou a blusinha na areia
Jogou um sorriso pra trás
Me deixou com a cabeça cheia...De idéia
Lá em casa tão chiando, onde é que o mané se meteu?
Disse que voltava logo
Será que o burro se perdeu?
O almoço ta esfriando, sei que já perdi a hora
Mas hoje eu não saio daqui antes de ela ir embora
Mas nem fudendo...
Eu não vou sair daqui...
Eu não vou sair daqui...
Ela entrou de bikini branco
Deixou a blusinha na areia
Jogou um sorriso pra trás
Me deixou com a cabeça cheia...
Não saio não...
De bikini branco...
Eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água
Eu não vou sair daqui sem ver ela sair da água
Não saio não...
Não saio não...
Não saio não...
Eu não vou sair daqui
Eu não vou sair daqui
2.7.09
Flor
Porque não tenho mesmo talento para cuidar de plantas.
Nos últimos 3 anos morando na minha casa, matei duas plantas,
sendo que uma delas era um cacto!
Ganhei duas orquideas de aniversário, uma morreu.
A outra, está lá torta das pernas, ou das raízes,
com um pulgão infestando todas as folhas, tadinha!
Eu cuido...mas não sei cuidar, esqueço, dá preguiça.
Ela tá vida, mas deve ser triste que só.
A minha primeira planta é uma violeta roxa que comprei no mercado mesmo.
Está comigo desde o primeiro ano, 2006.
Chegou muito florida e pequena.
E até que cresceu, mas nunca mais floriu.
Mudo de lugar, converso com ela, já até troquei-a de vaso.
Silêncio de flor.
Mas, eis que ontem, fui acender meu incenso de cravos (será que faz bem pra planta?)e coloquei o espetinho bem perto da violetinha.
Fui obrigada a me ajoelhar mais perto da mesinha de centro,
e meus olhos chegaram muito perto das folhas.
Oh! Eis que enxergo lá no meinho!
Duas! Duas florzinhas curvadas, meninas ainda!
Estão como brotos, fetos, dobradas dentro de si!
Mas lá estão elas, minhas violetinhas queridas!
Minha casa tem sorrisos por todos os lados essa manhã!
Há flores, há flores! São roxas e pequeninas!
Beijo-as ao sair para o trabalho,
abro bem as cortinas para verem o belo dia de sol
Há flores na minha vida em todo lugar!
Minhas violetas nasceram finalmente de mim, do meu lar, doce lar!
1.7.09
Algemas
A Polícia me algema e me prende no banco da frente de um carro preto.
Em silêncio e com medo, dirigimos pela cidade que nunca vi.
Meus pensamentos são confusos, sei que errei e vou pagar por isso.
São dois anos sem liberdade!
Na porta do prédio, o policial me mostra a direção que devo seguir sozinha.
Caminho por corredores não muito estreitos e procuro a porta da delegacia.
Mas, sem querer, noto que meu pulso escorrega, como de uma pulseira, das algemas!
Olho para os lados, nenhuma autoridade da lei.
Penso em fugir, sair correndo, sem algemas, tudo é mais fácil.
Na porta da delegacia, pergunto pelo delegado, que não está. O substituto me avisa para esperar lá fora, ele me mostrará minha cela. Retruco que não fiz meu telefonema.
Ele me indica um orelhão. Está quebrado. Sigo andando pelas ruas, orelhões em todos os lugares, penso em fugir mais uma vez.
Com medo, me arrependo de ter chegado até ali, sem nem sequer avisar alguém!
Penso no meu irmão.
Penso em como falar com ele. Qual telefone? Será que ele estará em casa? E se o celular não atender?
Eu só tenho uma chance.
Minhas algemas estão soltas, como pulseiras no pulso esquerdo.
Estou longe da prisão, mas sei que devo voltar a ela...
São dois anos sem liberdade.~
É muito tempo para o que fiz.
Acordo.
O que foi mesmo que eu fiz?