29.4.10
Gerações
28.4.10
Xópin Cênter
24.4.10
Fé e religião
23.4.10
Bonança
Fiz meu exame de ressonância magnética com dopler da tireóide.
E ... tchan!!!!!!!! Achei que não fosse possível, mas o encolhimento desse glândula que tanto me preocupou no ano passado...sumiu!
A minha tireóide cresceu!
Como? Ah, a gente teve uma conversa de garotas...
No ano passado, o mesmo exame acusou uma redução de 8 para 5 cm cúbicos. A produção de hormônio estava normal, mas uma glândula diminuir é motivo de preocupação, já que não é legal uma mulher adulta ter glândula de menina.
Bem, daí que ontem, depois de ouvir o barulhinho interno dela (vocês já fizeram esse exame? É sensacional ouvir o pulsar do seu corpo...o sangue, a pressão...)
veio o resultado:
de 5 cm cúbicos, minha tireóide mede agora distintos 6,9 cm cúbicos!
Hehe, um número sugestivo...
De presente para ela, parei numa lojinha de presentes - pensei em comprar bobages para a cozinha ou umas velinhas cheirosas...ei que vejo um Buda!
O Buda Amida!
O Buda que procuro desde que fiz a iniciação!
Um Buda em pé, com as mãos espalmadas para fora, olhos semi-cerrados, e o sorriso da Mona-Lisa (seria ela iluminada também?) - uma estátua do Buda exatamente como eu queria!
No Budismo, quando fazemos um altar em casa, a casa se torna a morada do Buda.
Meu corpo é o altar da mente tranquila.
E minha casa, a casa Daquele que está Desperto.
Gashô.
22.4.10
Rebordosa
Nem fiz grandes farras. Fugi da muvuca da Esplanada.
É que para mim, as duas últimas semanas foram tão intensas!
Não nas rotinas, no cotidiano...
Intensidades lá no fundo, no meu coração, na minha alma mesmo.
Tenho a sensação que transitei por placas tectônicas em movimento.
E agora, finalmente, elas cessaram.
Na estabilidade, percebi coisas fora de lugar.
Que na verdade, estão no lugar certo agora, e não antes.
Interessante.
Seria o aniversário de Brasília?
A chegada da Primavera?
Ciclos se fecharam.
Pessoas se foram. Outras voltaram.
Eu me reencontro de volta ao meu corpo depois de um estranhamento desconfortável.
Hoje é como se fosse Primeiro de janeiro.
Aquele dia que a gente acorda já no fim do dia pensando que tem o ano inteiro pela frente!
Acordei de um Reveillon.
Uma passagem de etapa, de fase.
Estou desperta.
No corpo e na mente.
Viva.
A veras.
20.4.10
Feliz Aniversário, Brasília
18.4.10
Domingo à tardinha
17.4.10
Sem encontro no encontro
14.4.10
Aqui é meu local de trabalho
13.4.10
O Guri
Acordei. Acordei do que seria a morte, mais uma vez algo deu errado. Não quero me rasgar o peito com uma lâmina cega de cólera, nem ter meu crânio estilhaçado por uma bala, não quero sangue. Além disso, esses dois modos são arriscados demais, posso sobreviver com sequelas e cicatrizes. Seja como for, seja limpo, dê o mínimo de trabalho aos outros.
Merda! Mijei na cama, to velho pra isso, ou ainda muito novo. Minha camisa serve como pano de chão, acho que dá para absorver o pouco de urina que tem. Não enxergo nada nessa escuridão, a cortina não revela se é dia ou se é noite. Sinto que dormi alguns dias, sinto um estranho gosto de vinho e cigarro na boca.
Já sei. O vinho fazia parte do meu rito de passagem, de uma vida para um nada. Era um cabernet sauvignon com comprimidos de dormonid, valium e lexotan. Maldita ressaca, essa mistura quando não mata te faz mal. Misturemos sempre com moderação, com a moderação necessária para nos matar.
Preciso dormir mais um pouco, mas nesse mijo úmido não dá, talvez o sofá de dois lugares em frente à TV, um sofá não pode ser pior que a sobrevida. Se um livro de auto-ajuda fala em 12 passos, eu preciso de um pouco mais, acho que até a sala são uns vinte cinco. Nesses vinte cinco, sigo cambaleando e batendo entre as paredes do corredor, esquerda, direita, esquerda, direita, passo a passo, até cair sublimemente como uma pluma cai do céu ou como um corpo que cai do oitavo andar.
Durmo mais oito horas seguidas, levanto e pego a minha água com gás, bem gelada com uma fatia de limão, sinto a garganta rasgar com o choque da água fria e do gás concentrado. Meu corpo flutua e pesa mais de uma tonelada ao mesmo tempo, é a gravidade brincando com o meu ser. São meus neurotransmissores e minhas bainhas de mielina que brincam comigo como teatro de sombras . É a vida, ou o resto que resta dela. Ligo o estéreo e seleciono a minha seleção de jazz, a ocasião pede luz de velas longe de mim e um jazz suave, quase sombrio, pode ser também um folk rock de um cantor suicida. Durmo mais algumas horas, sonho pouco, sonhos estranhos, alguns com sexo, outros com monstros e candidatos à presidência.
Não sei quanto tempo se passou desde o meu rito, passando pelo meu fracasso, até o momento atual. Fracasso... O insucesso é o fracasso dos otimistas, talvez um dia seja insucesso mijar na cama.
Preciso de um café, um bom café, não daqueles de padaria feitos às pressas com kilos de açúcar, quero um bom grão, um café bem tirado da máquina, para tomar sem açúcar, sentindo a pureza, pensando em poucas coisas puras que ainda há nesse mundo, talvez nem esse café seja puro. Mas prefiro não pensar muito nisso.
No caminho da cafeteria vejo um guri com uma cara chorosa, sozinho em frente ao banco, não sei quantos anos tem o pequeno piá, talvez oito ou dez, é impossível diferenciar crianças quando elas começam a ler aos 6 anos até começar a fumar maconha aos 16. Nesse período todos são iguais, alguns mais iguais que os outros.
- E aí guri, tá perdido? Pergunto com um certo tom de preocupação, não tão preocupado por ele estar perdido, talvez mais preocupado pela responsabilidade de ter que cuidar dele até ele encontrar o pai.
Com uma voz chorosa e presa, como quem sofresse em silêncio uma dor inexplicável, sem tamanho, ele responde:
- ´Tô esperando o meu pai, ele foi pegar dinheiro pra fazer a compra do mês. Já deve ‘tá saindo.
- É perigoso um garoto da sua idade ficar sozinho aqui.
- Ele disse que seria rápido. Porque o senhor está triste?
-Por que me chama de senhor?
- Meu pai me disse pra chamar gente mais velha que a gente de senhor.
-Entendo. Estou triste. Minhas paredes estão caindo e eu estou tropeçando nos meus passos, as pontes pelas quais passei caíram.
- Como assim, senhor?
-Esquece. Esse moletom foi você que escolheu?
-Mais ou menos. Meu pai queria que eu pegasse esse.
O garoto tímido, alto pra idade dele e bem articulado, apesar de poucas palavras, usava um moletom flanelado com uma estampa chamativa, era laranja e azul, uma combinação bem infantil para um garoto com postura de homem, pelo olhar desse guri dava pra ver que pela vida já havia passado maus bocados. O guri de cabeça baixa fazia um vai e vem com a perna.
-Seu pai percebeu que você escolheu essa roupa pra agradá-lo.
-Não sei, senhor. Eu uso pouco essa roupa, não gosto de usar perto dos meus amigos, uso só quando saio com meu pai. Queria um com desenho preto e vermelho. Meu pai tá me chamando. Tchau!
Alguns meses se passaram, minha esperança na vida ainda era fraca. A vida não passa de uma sucessão de acontecimentos repetitivos com pequenas variações imperceptíveis. As cores são dadas pelo eterno conflito do bem e do mal, esquerda e direita, copo meio cheio e copo meio vazio, estampas laranja e azul, e preta e vermelha. A vida tem sentindo na contradição, na antítese e no paradoxo.
Estava decidido Juntei receitas de diversos médicos, e brindes de alguns traficantes. Dessa vez o meu ritual seria com Jack Daniels, o melhor Bourbon, teria Valium, Dormonid e Lexotam. Começaria pelo Lexotan por ser mais fraco, curtiria a onda, a dormência dos olhos. Depois passaria para o Valium, minha boca ficaria mole, as palavras sem sentido e tudo teria um tom cômico. Depois abriria o Jack, sem gelo, como deve ser um Bourbon, e acabaria com o Dormonid. Sentiria meus dedos adormecerem, meus pés, meus braços e minhas pernas...uma gradação de dormência e esperança em não mais palpitar o coração.
Quando saí da farmácia vi o guri. Era um piá, um pequeno guri, mas estava tão alto, tão crescido. Sem barba e com pensamentos e devaneios e usava um moletom. Dessa vez preto e vermelho, discreto, ideal pra sua idade, ou suposta idade pela altura que tinha. Parecia feliz caminhando com passos fortes e largos. Às vezes penso se era um guri ou um homem. Ele passou por mim, me derrubou no chão, minha sacola de compras da mão direita voou longe, minha garrafa caiu no chão mas não quebrou. O Rapaz pediu desculpas, foi bastante educado perguntou se eu estava bem, mas não me reconheceu. Quando levantei, procurei meu kit suicídio e vi que estava no meio da rua, sendo atropelado várias vezes por carros e dentro de uma poça d’água. Merda!
Pelo menos o pequeno herói de moletom com estampa preta e vermelha me deixou com a garrafa de Jack e mais um dia de vida, talvez ache uma linda mulher pra tomar comigo. Talvez chegue em casa e escreva um bilhete na geladeira “ carpe diem”, quem sabe eu não escreva em algum outro dia “carpe vitae”.
de b.varjão
beijo, querido!
11.4.10
Sofia, minha afilhada!
6.4.10
Noite em Brasília: os gatos nunca são pardos
5.4.10
Fé ou simplesmente o fatídico inferno astral
4.4.10
Feriado de Brasiliense: Chapada
1.4.10
Trânsito
Asa Sul é uma espécie de bairro do Plano Piloto, o famoso avião do desenho de Brasília.
A Praça dos 3 Poderes é como a cabine do piloto.
E Zebrinhas são os micro-ônibus que circulam somente no Plano. Sim, o Piloto.
Então, eu moro numa Superquadra da Asa Sul por onde passa a avenida L2. (o L vem de LESTE, e o 2, vem da sequência numérica: L1, L2, L3, L4... )
Superquadra é um jeito que o Niemeyer achou de renomear quarteirão. A gente não acha nada de super, é um quarteirão mesmo. Nós que moramos aqui só chamamos de quadra, tá bom demais.
Enfim, a minha quadra fica na beirinha da L2, onde passa o Zebrinha para o Congresso Nacional. Eu trabalho lá. Bem debaixo da bacia, a de cabeça pra cima - que é a Câmara dos Deputados. Esse formato é uma metáfora pra dizer que os deputados ouvem o povo. Não entendi. Mas foi assim que aprendi na escola. Ouvem quem? Da bacia? Ah sei...
Ouvindo ou não o povo da bacia, pago dois reais para pegar o Zebrinha que me deixa na porta do trabalho. Lindo: Economizo poluição no planeta e não me chateio para procurar uma vaga. Sim, num complexo de prédios como a Esplanada, o Niemeyer achou que todos nós iríamos a pé. Ou isso, ou nossos governadores continuam achando que a frota de ônibus da cidade já está de bom tamanho. Não, não está.
O Zebrinha da manhã me deixa no trabalho sem atraso. Já na volta, espero uma média de 15 minutos no ponto e chego em casa mais ou menos 20 minutos depois. Com sorte!
Ainda assim, isso é reclamar de barriga cheia.
A Helena, baiana de Porto Seguro, chegou em Brasília adolescente na década de 70 e foi trabalhar como empregada doméstica na casa da minha mãe. Desde essa época, mora no Setor P da Ceilândia.
Ceilândia é a maior cidade de Brasília. Quero dizer, do Distrito Federal, porque Brasília mesmo é só o tal avião. E nem é cidade, Ceilândia. É região administrativa; ou Cidade Satélite, caso o avião voasse no espaço sideral. O Niemeyer deve achar genial as tais Cidades Satélites. Vou convidá-lo para ir à casa da Helena num dia de semana, fim de expediente. De ônibus.
Do Setor P ao Plano são duas horas e meia em pé no ônibus entupido. A Helena está solteira, nunca teve filhos, é convertida da Igreja Evangélica e tem mais de 60 anos.
Para voltar para casa, ela passa pela mesma ladainha. Isso, piorando com o tempo. Ela tem 32 anos de serviço.
E o metrô não melhorou em nada esse trajeto. Até porque, quando chega na parada da Helena lá na Ceilândia, os carros do trem já estão lotados. Eu falei que o metrô anda a 50km por hora? Ah, tá...
Mas, graças aos nossos governadores, cada ano que passa há novas vias de acesso para a Ceilândia. O número de ônibus se mantém mais ou menos o mesmo. A Helena não acha que as vias de acesso melhoraram o trajeto casa-trabalho. Nem o Niemeyer. Mas ele já não acha nada faz tempo.
Já a Helena, tem certeza absoluta que a questão não é construir avenidas, mas melhorar o transporte público. Eu concordo.
Ela vem de ônibus, e eu vou de carro para chegar em casa mais cedo. De um modo ou de outro, somos mais de dois milhões de habitantes com o exato mesmo dilema: como deixar os carros em casa, chegar em tempo no compromisso, pagar o preço justo pelo transporte? Como manter a cidade verde, livre de poluição, circular em bicicletas, ter acesso a qualquer ponto do Distrito Federal num ônibus?
Isso não é mais problema do Niemeyer.
Nem dos nossos governadores. Aliás, que governadores?