29.12.07

Fim de 2007

Eu nao vou fazer analise, medir, me despedir
Para mim, 2007 ja vai tarde. Um ano dificil, mas cheio de grandes presentes - o Enzo sendo o principal.

Acabo de decidir que vou passar o Reveillon fora da cidade. Ficar offline vai ser bom.

Retorno em breve.
Ate 2008.

Desejo coragem, amor e coragem para amar.

28.12.07

Flores

Eu continuo impressionada com a capacidade dos adultos de se manterem infantis por toda a vida.
Fico surpresa com a falta de coragem, com a covardia de se assumir.
As coisas mínimas se tornam impossíveis e de repente, dizer a verdade, falar do que vem do coração se torna a mais dolorosa tarefa!
Daí, mentiras, sumiços, atos imaturos.
Enfim.

Tiro a lição de não me deixar levar pela vida alheia.
E procuro cuidar da minha como um jardim que um dia me dará flores - que não mentem seu perfume, não disfarçam sua natureza. São assim, só flores.

27.12.07

Assassinatos e estudos

Depois de uma tarde intensa com as crianças, cai no sono sem nenhuma das dificuldades dos dias anteriores. E cedo!
Sonhei então, dois sonhos bem divididos:
parte 1 - eu entrava num hospital, um local imenso e cheio de corredores. estava acompanhada com um homem e uma mulher que já conheço na vida real, mas me fogem da lembrança agora, talvez para protegê-los. sim, porque nesse sonho, tínhamos revólveres calibre 38, e atirávamos para matar. eu matei inúmeras pessoas. entrava e saia de salas, escadarias, e atirava uma, duas vezes, até a pessoa cair no chão. muitos homens, a maioria era acompanhante dos doentes, dessa forma, eu não matava ninguém deitado em macas, ou em mesas cirúrgicas. e era divertido. ao mesmo tempo que eu ria, sentia a tensão de ser pega pela polícia. atirei em um homem duas vezes, e ele não morreu. olhou nos meus olhos, pegou a arma e sem soltar a minha mão, atirou embaixo do queixo. a língua dele caiu pelo buraco da bala. saiu muito sangue. eu escondi o revólver no bolso da frente do jeans e sai andando normalmente. a polícia me perguntou o que eu tinha no bolso - uma arma - eu respondi. mas no minuto que o policial virou o rosto, joguei a arma no lixo, passei pelo detector de metais e sai do hospital para um outro sonho.
parte 2 - aqui, eu estou me preparando para o início das aulas. estou nos estados unidos, o sonho é em inglês, mas o meu irmão está comigo. vamos até a casa dos meus pais americanos (que não é a mesma da vida real) e lá vemos os horários das aulas. chove e eu estou atrasada. ainda assim, entro numa loja e fico horas escolhendo a cor ideal para um guarda-chuva. ando por nova york sem saber a que horas e aonde devo estar para o próximo período de aulas. sem guarda-chuva, meus cadernos ficam molhados, meus cabelos e meu casaco. faz frio, tenho pressa, mas estou imensamente feliz. quando como na infância, faltassem poucos dias para a volta às aulas.

25.12.07

Presentear é coisa de mulherzinha?

Na minha casa, presentear é coisa pra mulher.
Tudo bem que cresci entre inúmeras tias e uma super mãe, mas ainda assim, não entendo a cultura que existe na minha família - que dar presente é coisa de mulher.

Se pensarmos bem, presentear só passou a ser possibilidade para a mulher quando ela entrou no mercado de trabalho, no máximo há um século atrás. É pouco para se ter transformado em obrigação, incumbência nas vésperas de Natal, aniversários, bodas...

O homem até então era o provedor; o marido que trazia o dinheiro, as compras, e claro - os presentes para a jovem dona de casa. Aliás, moço bom era aquele que presenteava a namorada porque além de mostrar o interesse amoroso, demonstrava o tamanho da carteira, que era um bom jeito de dizer que trataria a moça tão bem quanto ela era tratada na casa do pai. E se a intenção era séria, quero dizer, se o moço queria ir aos finalmente e se casar com a moça, os presentes passavam de flores a bombons, a pequenas jóias até a sonhada aliança de noivado. Se havia machismo na idéia de dar presentes em troca da atenção feminina, ele caiu por terra quando as mulheres começaram a corresponder não só com carinhos no escuro, mas também com presentes vindos dos primeiros empregos como telefonistas, datilógrafas, operárias...elas, nunca esqueceram essa demonstração de afeto, já eles...

Nada contra a modernidade das relações, mas ganhar presentes dos homens sempre foi um jeito de entender o apreço deles por nós. Me perguntou se o apreço diminuiu ou a preguiça se abateu de vez no sexo oposto. No final do século XX, as demonstrações de afeto passaram cada vez menos pelos presentes e lembrancinhas e cada vez mais pelos móteis. Entendam, sou super a favor de móteis, sexo antes do casamento, outros tipos de presentes que não os tradicionais de Natal...mas, me intriga o desinteresse do homem moderno pela tradicional demontração de sentimento: o presente de aniversário, de Natal, enfim.

Agora, as mulheres solteiras, casadas, mães, filhas - elas que se preocupam em perpetuar o agrado em forma de presentes enquanto os homens reclamam dos shoppings lotados, da falta de idéias (!!), da falta de tempo, de dinheiro, de saco mesmo. (logo eles que nasceram com um...)

Eu acho isso uma pena. Claro que sou bem treinada, gosto de presentear os homens da minha vida. Penso com carinho, sou criativa, gasto bem meu suado dinheirinho. E não esqueço uma ocasião sequer. O problema é que, admito aqui, eu adoro ganhar presentes, principalmente dos homens. Eu adoro pensar que aquela pessoa passou cinco minutos numa loja e escolheu dentre tantas coisas, uma que se parecesse comigo aos olhos dela. E é triste ver que, a cada ano que passa, ganho menos presentes dados por homens...

Meu pai não deu presente pra minha mãe, mas ela se lembrou de pedir pra mim, e eu comprei pra ele. Meu irmão não deu presente pra minha mãe, mas pediu pra dividir o valor do presente que eu escolhi pra ela, comigo.
Eu ganhei cinco presentes - Um vestido dos pais meus pais (que minha mãe escolheu) e um calendário 2008 com todas as fotos do Enzo (que foi idéia da minha cunhada e com certeza produzido por ela) e os outros três, ganhei de três amigas mulheres. Nenhum presente veio de algum amigo, primo, conhecido, que seja homem.

Notem, eu não tenho namorado atualmente. Por isso, a reclamação é genérica. Aliás, nem chega a ser reclamação...é mais uma observação dolorosa...
Sei lá, devia ser bom ganhar um presentinho de cada homem significativo na sua vida no século XIX.

Me pergunto sempre, se a humanidade esquece as coisas boas do passado só para continuar reclamando do futuro...

Oscar

Nesse Natal, concorri ao Oscar de melhor atriz

23.12.07

Intervalo

Prometo que volto depois do Natal, tipo dia 26 no mais tardar.

Até lá, muitos sonhos, muito álcool, muita vontade do ano novo chegar.

21.12.07

Lista para Papai Noel

querido Papai Noel, como fui muito boazinha esse ano, gostaria de ganhar os seguintes presentes (ou pelo menos começar a ganhá-los nesse Natal...)

uma caixa de ferramentas
uma pessoa que leve meu som pro conserto, pague e instale pra mim
outra pessoa que contrate um marceneiro para fazer a mesa do computador,
a cristaleira
a adega
e as prateleiras para livros e plantas
um sofá
um tapete persa
uma coluna nova
uma nova chance
ser a madrinha do Enzo
a saúde da minha mãe de volta
a vontade de trabalhar de volta
casar
ter filhos (ou pelo menos, uma filha, segunda a taróloga)
um kit de pincéis de maquiagem
uma massagem com aquele cheiro de flor de laranjeira
dias na praia - muitos
dias em casa - muitos
noites felizes - a de Natal não conta
taças de cristal
brindes
barriga tanquinho
mente confiante e tranquila
manter a fé por mais de 24 horas naquilo que realmente quero
o que realmente quero
e surpresas, várias delas, espalhadas por todo ano - grandes, pequenas, mas todas todas sensacionais

muito obrigada, um beijo e feliz Natal

20.12.07

Zunido

Tem uma cigarra morando na minha cabeça.
Ela entrou pelo ouvido direito, na noite de segunda feira.
Fiquei meio surda entre muitas latinhas de cerveja, ela aproveitou-se da distração
entrou rapidamente na minha cuca
e agora zune, zune, zune....
aquele gritar contínuo, ininterrupto de quando está prestes a explodir

Limpei de leve com cotonetes, o ouvido direito
Passei ferro quente na toalha felpuda, deitei em cima
Joguei vinagre lá dentro

A cigarra zunindo na minha cabeça
Parece calar durante o dia
Entre tantos outros canteres, zunidos, ruídos

É à noite, com o corpo cansado e o sono chegando
quando deito do lado direito, ou do lado esquerdo
que ela chia, canta, zune, alto, sem parar sem parar sem parar
até, exausta de pedir para ela calar
durmo surda dos outros barulhos
ouvindo só a cigarra que chora
na minha cabeça, do lado direito

19.12.07

Cinema infantil

Põe as cadeirinhas no carro, põe a Mariana na cadeirinha, põe o Pedrinho no meio, põe a Clarinha na outra cadeirinha. Põe a mochilinha com roupas, fraldas e chupetas no banco da frente. Tira a Clarinha da cadeirinha e sobe pra trocar o cocô. Abre o chiclete pro Pedrinho, tira o chiclete mascado do vestido da Mariana, abre a caixinha de balinhas pro Pedrinho, põe a Clarinha de novo na cadeirinha. Dirige devagar, cantando músicas de Natal.

Estaciona, põe a mochila no capô do carro, tira a Mariana da cadeirinha, tira a Clarinha da cadeirinha, o Pedrinho não precisa de ajuda. Dá a mão pra Mariana e pra Clarinha, o Pedrinho dá a mão pra Clarinha, olha com cuidado pra atravessar a rua. Vamos pra fila do cinema, o filme tá na sala sem ar condicionado, tá ventando com jeito de chuva, o filme não tá lotado, compro duas meias e as meninas não pagam porque são menores de 4 anos. Vamos pra fila das balinhas. Uma de uva, uma de morango, uma de menta. O Pedro não gostou da menta, volta pra fila pra comprar outra de uva. A Mariana tá com o dente roxo de uva e não consegue desgrudar a bala e chora. A Clarinha comeu a bala com papel. Entramos na sala. Está mais quente do que eu imaginava. São quase vinte minutos de trailler. A Clarinha pergunta 100 vezes - cadê a abelhinha? - a Mariana pergunta 200 vezes - pode engolir a balinha? - O Pedro em silêncio se concentra no escuro. O filme começa, a Clarinha dorme, a Mariana chora, o Pedro em silêncio assiste as abelhinhas animadas. Pego a Clarinha no colo, ligo pra mãe da Mariana, morro de calor na poltrona. Finalmente as abelhas vencem os humanos e podemos sair do forno. Lá fora tá fresquinho o Pedro quer dar um volta no Pier. Anda sem dar as mãos, se perde de mim e chora. Pego o Pedro no colo, solto a mão das meninas, a Mariana chora. Ponho o Pedro no chão, dou a mão pra Mariana, entramos na fila do sorvete. Cada um com seu potinho, sentam no meio-fio do meu lado, cospem os chicletes grandes demais na minha mão. Jogam os potinhos vazios no lixo, andam por aí, começa a chuviscar. Todos de mãos dadas, vamos atravessar a rua pro carro, a Mariana solta minha mão, dispara a correr, a Clarinha tropeça e cai, o Pedro cruza a rua sozinho. Tudo se resolve.

Põe a Mariana na cadeirinha, põe o Pedro no meio, põe a Clarinha na outra cadeirinha. Põe a mochila no banco da frente, abre os vidros pra entrar ar. Dirige com cuidado cantando música de Natal.
Estaciona na frente, tira um por um, tira as cadeirinhas, pega a mochila, sobe as escadas segurando as mãozinhas, todo mundo no elevador, todo mundo dentro de casa.

E entre tudo, e tudo no meio, e no meio de todos, as gargalhadas, as conversas, os afagos, os beijos e abraços com cheiro de morango, uva, menta e amor.

Isso sim é Natal.

ps - as janelas do carro ficaram abertas. O dilúvio da noite entrou carro adentro.

18.12.07

Homens

Marquei com dois amigos lá em casa ontem.
A idéia era assistir Borralho e tomar umas.
Sim, essa era a idéia, mas não foi bem assim.
Os dois beberam 6 ices e 2 garrafas de vinho - eu, 6 latinhas de Skoll.
E aí, claro, a conversa migrou de cinema, arte, religião, para
Amor

E eis que me surpreendo com a fragilidade masculina
Sim, amigas! Há homens existencialistas, incertos como nós!
Em tudo, somos idênticos:
nas imaturidades, egoísmos, nas tristezas e receios
E no amor
Somos mesmo seres da mesma espécie, não há ninguém de marte ou vênus

Carentes, inseguros,
Totalmente entregues e apaixonados
Os homens são como as mulheres quando o amor é maior que tudo
Quando tudo que importa é tudo dar certo

Porque como nós, não sabem - e quem sabe? - gerir o sentimento no turbilhão da vida
Olhar no outro sem expectativa de ser amado igual, exato
Não sabem, não entendem, não aprendem - como as mulheres - que mesmo com tanta experiência nas outras histórias, cada uma é única e, se isso é bom e novo, é também como arrancar a casquinha da velha ferida

Como nós, pensam demais, questionam demais, se iludem demais. De um jeito diferente, mas que vai pro mesmo caminho, os homens buscam o mesmo - a relação de amor serena e apaixonante com aquela pessoa que está no mesmo passo, no mesmo sentimento, no mesmo amor.

Sim, meninos! Entendi tudo!
Que bobagem a minha fugir do amor!
Olhando aqueles homens, me perguntei a quem interessa tanta explicação, tanto entendimento?
Se o que importa mesmo é viver o amor - dolorido e confuso, inexplicavelmente frágil
e incrivelmente sensacional - quando presente, intenso, real

A cama girando, a cabeça pensando, dormi sem sonhar...

17.12.07

amigos K-boa

eu detesto amigo oculto. não entendo a idéia de ser sorteado um nome pra você escolher um presente dentro de um valor e no dia combinado ficar falando bem da pessoa pros outros.
gosto mesmo é de comprar um presente quando tô pensando muito em algúem.
ou quando, na rua, passo por um objeto que tá escrito o nome da pessoa - não me interessa a data.
gosto de dar presente no aniversário da pessoa, não no de jesus.
falo bem das pessoas, claro. mas em geral, prefiro demonstrar meu afeto olhando no olho da figura, com um beijo, um abraço, uma boa conversa...não preciso de festinha pra falar bem de quem quero bem...e dispenso a platéia.

não sou de muitos amigos. sou intensa demais, não consigo administrar muitas relações íntimas. amigo pra mim é intimidade. não sei me dividir em tantas partes com tanta gente. amigo, não escolho, eles pulam aos meus olhos e ficam lá. às vezes pra sempre, às vezes por uma curta temporada da vida. mas, sempre essenciais. para mim, eles não podem ser ocultos. gosto das coisas, das pessoas, dos sentimentos às claras. alvejados com K-boa.

15.12.07

Recadinhos para o meu signo

"By accepting the idea that you are the effect of a subtle buffeting between hereditary and societal forces, you reduce yourself to a result.

The more your life is accounted for by what already occurred in your chromosomes, by what your parents did or didn't do, and by your early years now long past, the more your biography is the story of a victim."

What I'm trying to tell you, Virgo, is that it's a fine time to rebel against your genetic heritage, your upbringing, and your conditioning. Imagine a life for yourself in which you don't believe that those factors control what you're capable of.

14.12.07

Ajuda

Ontem uma amiga pediu ajuda para uma coisa prática da vida.

Ela decidiu morar fora, queria umas dicas, umas opiniões, uma forcinha nas pesquisas.


Ficamos horas na internet. Achamos muitas coisas legais.

Contei várias histórias que vivi lá fora.

De repente, me dei conta que quem me ajudava era ela.

Sentada ali, ouvindo atenta meus casos, os olhos brilhando de expectativa, ansiedade.


É bom olhar pra trás. Ser referência para alguém.

Principalmente, é bom ver o passado como parte de quem eu sou hoje.

Tive um súbito orgulho de ser como sou e de fazer o que fiz

- de voltar para o Brasil, de pedir demissão em São Paulo, de não seguir com um noivado que não era para ser casamento, de morar com meus pais, de ter um carro popular...

Toda pequena e grande decisão que tomei, me colocaram aqui na frente desse computador


O que deixou de acontecer teve um peso grande em quem sou. Mas o que aconteceu porque eu quis, teve mais peso ainda.


Tenho mais fé

Menos angústias, expectativas


Eu sou mais coração



Fim de ano

Não sei se é pra todo mundo, mas tem um quê de tristeza nas comemorações de fim de ano.
Eu fico assim, com um aperto no peito.
Olho na chuva, as famílias acampadas em casas de papelão
O shopping center lotado de consumidores de afeto
Luzinhas nas janelas
Presentes, festas, pessoas festejam
Tudo um pouco melancólico

Tem um tanto de despedida em todo reencontro?

No final do ano
É um tempo de ver que o tempo passou rápido
Mas que tem muita coisa pra vir

Sim, um risquinho de esperança
De espera
Mas também, uma vontade de silêncio


Será o primeiro Natal do Enzo
Talvez o último do meu avô
Será mais um na minha vida
A minha vida
Que passou pelos meus olhos descuidados

Mais um ano
E mais um
E mais um

13.12.07

Previsões

Estou me achando ridícula porque paguei uma estranha para falar de mim olhando umas cartas.
Com excessão de um detalhe, nada que ela disse me surpreendeu.
Sim, a fase é conturbada e 2007 foi um ano difícil.
Claro, minhas energias estão fracas e preciso recuperar minha força.
Eu sei, 2008 será um ano movimentado.
Viagens? Exterior em agosto
Estudos? Volta à vida acadêmica em dois anos.
Filhos? Han han, uma garota. Mas vai demorar - ah, tá, pensei que fosse fazer um tipo ... hoje!
Caminhos abertos para o ano que vem para tudo.
Pois é... e menos 120 reais na carteira!

Bateu uma tristeza, uma deprê.
No Templo, até chorei na meditação (só no começo, porque depois de um tempinho meditando, é impossível chorar!)
Por que sou tão infantil com as coisas?
Estou cansada de saber que a vida tem esses momentos difíceis
de espera, de tensão, de ficar quieta e esperar o mundo girar...
não adianta correr contra o tempo, não adianta antecipar nada.
Mas, mesmo assim, tenho essa vontade de que tudo seja um sonho bobo
Acordar e tudo estar como quero que esteja...

Fiquei mal com essa história.
Talvez porque me senti uma burra
Talvez porque eu já saiba de tudo, mas fico fingindo que tá tudo bem...
Talvez porque nada está bem
E há pouco que eu possa fazer
Que não esperar esperar esperar

(e é essa parte que eu acho tão difícil, tão insuportável, tão dolorida...)

ps - e meu ano será o de 2009 - e dá-lhe espera!

12.12.07

New York Times

Essa foi a primeira matéria publicada pelo Alexei com a minha ajuda como tradutora de entrevistas. Espero que não tenha sido a última.

E me deu o gás que eu precisava para me perguntar - que diabos estou fazendo da minha vida?

Nunca pensei em trabalhar em impresso, nunca pensei em ser uma jornlalista de verdade.
Mas estar ao lado de alguém tão comprometido, tão envolvido e apaixonado pelo trabalho, mais uma vez, me calou na minha mediocridade de emprego de meio período com dinheiro suficiente para pagar as prestações.

Estou cansada de me conformar com uma situação que eu mesma me coloquei.
E está passando da hora de reavaliar minha vida profissional. E eu não estou falando de concurso público, estou falando de fazer o que quero.

11.12.07

Tarô

Não resisti. Marquei uma vidente pra amanhã à tarde.
Não é possível que a maré de azar se perpetue, mas em caso afirmativo, melhor saber com antecedência.

Fui a uma astróloga em dezembro de 2002. Achei a fita cassete outro dia nas minhas coisas. Nossa, ela errou tudo - viu que eu me casaria o ano passado, que minha profissão me levaria a muitas viagens (há quatro anos não tiro a bunda da ilha), ai ai...
Mas o bom dessas pessoas é que elas sempre falam o que a gente já sabe, mas tem medo ou vergonha de admitir.

Como, ultimamente tudo que vier é lucro, manda ver! A brincadeira vai custar 120 reais.
A seguir cenas...
Agora, deixa eu cuidar da minha coluna que a bichinha não tá feliz não...

8.12.07

Celebrações


Hannukah é o feriado judaico dessa época do ano.

Eles comemoram por oito noites a vitória de um pequeno exército judeu contra um grande exército sírio na segunda retomada do Templo Judeu em Jerusalém (200 dC).

Diz-se que o templo cercado tinha uma lamparina a óleo de oliva que deveira ser trocado a cada noite, para a luz nunca se apagar. Com a guerra, era impossível chegar até a lamparina para trocar o óleo. Ainda assim, a luz ficou acesa pelos oitos dias de lutas quando finalmente os judeus retomaram o Templo e inseriram novo óleo.

Assim, atribuem a um milagre a Luz que se manteve; e os judeus de hoje acendem oito velas em um candelabro especial chamado Menorah para lembrar o milagre do óleo daquele Templo e a vitória sobre o sírios.


O feriado é móvel (como o nosso Carnaval) e esse ano, Hannukah começou dia 5 de dezembro.


Cada vela possui um significado


Primeira - Luz

Segunda - Conhecimento (ou sabedoria)

Terceira - Justiça

Quarta - Piedade

Quinta - Santidade

Sexta - Amor

Sétima - Paciência

Oitava - Coragem


Os judeus acendem a vela ao entardecer e pensam no significado dela em suas orações daquela noite.

Hoje é o dia da vela da Piedade - e é importante não confundir com pena... para mim, piedade é o profundo exercício da compaixão - que é a mais profunda forma de amor.

Hoje é a noite de pensar em tudo e todos que precisam da sua Piedade. Do seu "tá desculpado", do seu "tudo bem, deixa pra lá"... do mais nobre dos sentimentos, tão essencial para sermos humanos - a aceitação de que o outro erra, de que o outro precisa da nossa compreensão.
Mas que a Piedade nasça de um sentimento de amor, de carinho, de entendimento do próximo. E não do outro lado, o da mágoa, do sentimento de superioridade, de vingança. Porque a Piedade não é consequência do desprezo. Ela é causa direta de sermos humanos e capazes de ver, nos olhos do outro, o espelho da nossa própria alma.
A piedade é o outro lado da moeda da compaixão - que sempre esperamos nos olhos dos que nos olham de verdade.


(dedico esse post a todos que já me causaram mal e jamais me pediram desculpas, àqueles que sabem o que fizeram de ruim e seguiram seus caminhos sem me olhar nos olhos. Não que eu tenha a pureza da Piedade, mas já posso dizer que sim, estão desculpados.
Aqui eu também peço desculpas àqueles a quem causei algum mal e não vi a urgência de pedir perdão. Se não for tarde, me desculpem. Talvez só o agora seja um bom momento para a prática da compaixão...)

6.12.07

Work work work

It´s fun to be around someone who loves his job
It´s fun to watch someone so into it he forgets the real world
It´s fun to realize how much I´ve got to learn
It´s fun to speak in English and in Portuguese
It´s fun to make good money
It´s fun to get out of the same old work routine
It´s fun to realize how much I love what I do
How much I love meeting different people
How much I love who I´ve become
It´s a relief, after all this tough year
To have had such a fun time!

5.12.07

Palavras de consolo

nossa - jura - não sabia - que pena - que nada - que chato - que burro - que perda de tempo - que bom - bom pra você - bom... - melhor assim - melhor que infeliz - melhor que mais tarde - melhora logo - logo passa - tudo passa - passa, sim - fiquei passada - fica tranquila - não fica triste - não fica assim - não fica sozinha - não durma demais - não chora - não se isole - não coma muito - não faça nada que você não queira - não tem nada não - acontece - é assim mesmo - você merece coisa melhor - ele não te merece - você é muito ansiosa - ele é muito calado - você é muito preocupada - ele é muito inseguro - a culpa não é de ninguém - cada um tinha que fazer a sua parte - parte pra outra - bola pra frente - a fila anda - o que é seu tá guardado - não era pra ser - reza - pensa - medita - faça promessa - tenha paciência - entrega pra Deus - Deus te poupou do pior - isso é um sinal - ele tinha outra - você tinha outro - bom saber - solteira de novo - bem vinda ao clube - e hoje vai fazer o que - se mata de trabalhar - se mata de beber - se esconde no cinema - vai viajar - vai ao shopping - vai ao spa - vai malhar - vai tomar sol - vai ler - vai cortar o cabelo - vai pra festa - vai beijar na boca - vai embora da cidade - vai ficar solteira - fica bem - fica serena - fica na sua - fica com todo mundo - o mundo dá voltas - o mundo todo já sabe - todo homem é igual - homem é tudo criança - era tudo que poderia fazer - todo fim é ruim - o fim é o começo de tudo - o fim veio pra ficar - o tempo dirá - tempo, tempo, tempo...
(depois de três meses ouvindo tantas palavras de consolo: obrigada! estou bemm melhor agora!)

3.12.07

International thoughts

It is funny since I put up histats, I've realize how great a tool a blog can be!
On my statistics, this blog is seen everywhere - probably by mistake, of course -

Anyhow, it is lovely to be somewhat international ...
it gives me back the new yorker feeling I've felt once living in the big apple some six, seve years ago.
The idea that I could mix with all nationalities and actually belong somewhere was such an overwhelming feeling that it ketp me there for six years - not that I didn't miss Brazil and my family - but the power I've gained from reinventing myself stayed with me to a point where now I can admit - I can re-create myself no matter where: it is not a question of where I live, but a matter of what I want to be. True, it took a while for all this to settle in my head (and soul) - still, living abroad and in New York City was one of the best thing I could give myself. And, coming back was the second one for I've regreted the way I left, but not the whys.
I am now back in Brasilia for four years and half. Time flies, yes. But I don´t see myself moving abroad anymore...well, unless an excpetional opportunity of love and fame crosses my path. Though I´d love to travel more and more to weird places in the world and hopefully I will be able to soon.
Anyway, moral of the story is - the travel bug bit me long time ago, its poison runs in my veins, but so far, I haven´t died of it. Better still, I´ve been ablte to stay still in my hometown, have a calm, nice life and dream about great great trips around the world in this lifetime.

(thanks to all out of Brazil readers - or accidental readers, I should say...hopefully you guys can read at least this one post, huh?)

1.12.07

Festa

Não tem jeito.
Desde as primeiras festinhas na sala da minha casa
até hoje, Holiday é a melhor música!
Antes, pra esquentar as turbinas,
Hoje, pra rir de mim mesma, esquecer as coisas sérias
E balançar o esqueleto antes da noite começar!

Let love shiiiiiinne
And we will fiiiiind
A way to come together
Can make things better

(aliás, esse clipe é hilário! Reparem no homem de pijamas e touca atrás da Madonna,
a iluminação primorosa do set, o suor no suvaco no mocinho...muiiito bom, muito bom!)

30.11.07

Festival

Ôba, vou me enterrar aqui esse fim de semana - faça chuva, faça sol

Pequeno milagre diário

Todos os dias, peço um pequeno milagre que me leve até o fim do ano, carregada.
Depois de pedir, isso há uns dias atrás, à noite eu olho pro dia que passou
e sempre encontro, sempre um, às vezes mais...

E hoje, logo depois do café, encontro o que o Gustavo escreveu...
Já tenho meu pequeno milagre de hoje, obrigada, Gustavo!

29.11.07

O diagnóstico, finalmente

Tem poucas coisas piores que ver alguém que você ama, sentindo dor
O meu coração aperta de angústia e raiva
quando minha mãe entra pela casa na cadeira de rodas
as lágrimas escorrendo
nunca vi minha mãe chorar assim - nem na morte do pai dela.

Dá aquela vontade de esmurrar as paredes
de chorar junto
de gritar palavrões infinitos

Agora, com 20 quilos a menos, voltou do último exame
uma ressonância da glândula da tireóide

Pelo que entendi, basicamente a glândula se auto-destruiu
Está em frangalhos, produzindo um nada de hormônios
e forçada pela medicação (syntroid) a funcionar melhor

É uma sensação de alívio - pelo menos agora sabemos o que é
E também de impotência - a tendência é a glândula morrer
e o corpo precisar até o fim, dos hormônios artificiais

Com o choro entalado
mas a voz de brava
conversei com a minha mãe sobre o que ela quer pra ela
com o primeiro neto aqui, comigo de volta depois de tantos anos
e ela de cama, definhando
se ela realmente quer isso pra ela,
como ela quer viver os próximos anos da vida
e o que fará para alcançar as decisões que tomar
ela me respondeu num sussurro
- ainda tem muita coisa boa pra acontecer na vida, minha filha

Eu juro. Eu duvido. E meus olhos encheram de água.
Saí do quarto pra chorar escondida.

É fácil dar a receita pra vida alheia
Difícil é decidir que tudo ficará bem
e realmente acreditar que sim, há muita coisa boa daqui pra frente.

Epífane

As minhas sessões de meditação iam de mal a pior.
Agitada, distraída, dispersa em pensamentos que não viram nuvens, ficam lá, paradinhos no meu céu azul...
E ontem, intrigada com a minha dificuldade que aumenta (ao contrário da maioria, que diminui)
bem no finalzinho da meditação, perguntei pra minha mente -
tá com medo de que?
E ela me respondeu
- não é medo, é raiva! De tudo. Estou escondida aqui, atrás da raiva.
- Então, outra pergunta
- E o que acontecerá se você não tiver raiva?
- Eu vou sumir, desaparecer, evaporar desse mundo - ninguém mais vai me enxergar
E eu respondi
- Mas, se está escondida, vai aparecer caso deixe a raiva de lado...não?
- Pior ainda! Aparecer! Com toda essa luz! Com tanta intensidade! Com toda essa essa essa
Bléin, bléin - o sininho do fim
Horas depois, cheguei em casa encimesmada.
Minha mente está entre a cruz e a caldeirinha!
- Se tem raiva, some; se não tem, vira pura luz
Parece simples decidir, mas finalmente entendi o impasse:
a meditação tem me feito olhar nos fundos dos meus olhos e admitir
só não estou feliz porque não quero estar
só não deixei a tristeza de lado porque fiquei escondida atrás dela, da raiva
aí, de olhos fechados no quarto, sorri (pra mim)
agora sim, agora sim - disse em voz alta mentalmente
não, não, não
em mim, não cabe raiva ou tristeza
essas são distrações das quais eu não preciso mais
porque eu, de verdade, não quero me esconder
e se for luz demais, intenso demais, tanto melhor -
já está mesmo passando da hora de eu aparecer como sou
clic - dormi sem sonhos
acordei sorrindo

28.11.07

Boas notícias sempre vêm de mãos dadas

Um colar de continhas coloridas
as boas novas começam a chegar, uma a uma, em fila, todas alinhadas e multicor

Da noite pro dia, literalmente
as coisas ficaram mais engraçadas
mais leves
mas amenas

De um jeito ou de outro
os amigos se aproximam
o dinheiro aumenta
a cabeça vai se iluminando com idéias, idéias, idéias

São as continhas de mãos dadas
boas novas
bem vindas
tão esperadas

(obrigada pelos chopps, Manuquinha!)

27.11.07

Céu verde, chuva amarela

Quando eu tinha uns 5, 6 anos, meus pais me deram um guarda-chuva.
Era um guarda-chuva para meninas de 5 anos, pequeno, de plástico.
O cabo era de plástico branco, os aros de metal - que beliscam as pontas dos dedos na hora de abrir - terminavam em bolinhas plásticas para não furar olhinhos no jardim de infância.

O meu guarda-chuva era de plástico amarelo. Amarelo ovo.
Só que o plástico era transparente de maneira que se você estivesse embaixo dele,
veria nuvens amarelas e um céu verde!
E claro, a chuva caindo, caindo, em gotinhas amarelas e translúcidas refletidas no sol!

Eu torcia pra chover, e se não chovesse, saía por aí com meu guarda-chuva amarelo,
olhando os olhos azuis se tornarem verdes, os carros, as placas, a vida mudar de cor.

Ontem, na hora de dormir, me lembrei do meu guarda-chuva amarelo.
O meu filtro para a vida dourada,
estou com ele aberto desde então.

26.11.07

Um diagnóstico, alguém?

Espasmos de dor pelo corpo inteiro,
especialmente na região do tórax e abdomen
Boca seca
Enjôo, náusea, falta de apetite
Rápida perda de peso - 14 quilos em um mês
Sem febre
Sem convulsão
Intestino parado
Estômago em cãimbras
Tremor pelo corpo, especialmente pernas e braços
Dificuldade de locomoção - uso de cadeira de rodas
Tosse seca
Fraqueza,
tontura
cansaço

Nenhum remédio para dor
Suspensa a medicação para convulsão
e também para tireóide

...

e então? alguém pode diagnosticar o que a minha mãe tem?

25.11.07

Mix de mundos

Sonhei que estava em Nova York
nas visitas que sonho tanto em fazer para minha também terra natal
Estava na Broadway, levando amigos pra conhecer
No sonho eu lamentava não ter feito isso mais vezes na vida real
O entardecer na Broadway, quando tudo se acende e o dia apaga

Sonhei que estava em Brasília
e as luzes do Conjunto Nacional eram as mesmas da Broadway
enquanto eu explicava para os amigos
que eu faço isso muitas vezes na vida real

Sonhei finalmente que estava numa ilha de edição
de moviola, de película, do cheiro da química de revelação
e seguia uma estagiária por entre subsolos
ela descia num mini elevador para debaixo da terra
e voltava com um chocolate para o chefe maior

No andar de cima, subo e encontro a Clau,
que deitada num sofá
mexe num espelho alto do outro lado da sala
o espelho desequilibra, cai pelo vão da escada
som do estilhaço no chão de concreto batido
pela janela
um cidade grande, cinza e esfumaçada
e um por do sol desses de cinema e de sonhos

Inquilinas

Estava eu, sentada no sofá de vestidinho preto, assistindo o William e a Fátima
eis que surge dos livros de Gramática, uma lagartixa.
Dessas branquinhas com olhos muito pretos, ela sapatea na diagonal e vai para trás da TV.
Senti um pequeno susto, uma leve alegria e um ímpeto de tomar uma decisão
O que fazer com uma lagartixa que vive na minha casa?
- Vou jogá-la pela janela
E se ela pular em cima de mim?
- Espere, lagartixas não pulam...
Ela vai se assustar, pode morrer, como vou tirar um bicho morto da minha casa?
- Num pedaço de papel higiênico, sei lá
Tá, mas antes, feche a porta do quarto. Não tem nada agradável em acordar com algo frio andando pelas bochechas.
Fecho a porta.
Na volta, ela está no meio da sala. Peraí, na SALA, não dá. Eu não a convidei pra cerveja nem nada! Folgada...agora, está decidido - vou jogá-la pela janela. Pego o maior envelope que tenho - das ressonâncias antigas, que é de papelão duro - e me aproximo. A lagartixa vê 360 graus, corre para debaixo da mesa. Tenho a idéia de mostrar o caminho da porta. Ela entende...mas de ponta cabeça, segue até o batente de cima, e fica lá, olhando tudo invertido, rindo de mim. Deixo a aventura de lado, até que não é nada mau ter uma companheira no dia a dia.
- Ela poderia comer as formigas que aperecem do além na pia da cozinha!
Ah, não sabia que lagartixas comem formigas...
- Bem, então que tal comer aquela arainha na quina da parede?
Aranha também? Nossa, eclético o menu da lagartixa
- Tudo bem, pelo menos tem uma arainha e uma lagartixa que dividem meu mundo claustro comigo...
Volto para a novela, mas como não quero gostar dessa novela, me forço a terminar de me arrumar para a festa. Hora do makeup, babe... na hora que o pessoal chegar, peço ao namorado de alguém para fazer as funções de caçador de lagartixas.
- Isso mesmo, uma mulher que mora sozinha tem desculpa pra tudo com a afirmação - sabe como é, moro sozinha, morrrro de medo de bichos, não tenho forças pra colocar o garrafão de água no filtro...
Me distraio na maquiagem. A japinha chega, tomamos umas, a lagartixa rindo da gente de cabeça pra baixo, ao lado da arainha, as duas viraram amigas.
Hora de ir, apago as luzes e agora a casa fica acesa só com a lua cheia. Eu fui pra festinha chata, mas na minha casa, a festança foi de matar.
Na volta, a aranha dormia sozinha, a lagartixa não estava mais lá.

24.11.07

Sexta, sábado, domingo

Os fins de semana são curtos demais
pro tamanho das ressacas
pro número de filmes alugados
pra pouca comida na geladeira
pros três livros inacabados
pra vontade de não sair da cama
pra vontade de sonhar
pra vontade de voar

23.11.07

Ressonância

Marquei o exame pra às 18h, mas cheguei lá às 17h porque queria fazer os tais exames de sangue que a ginecologista pediu.
Mas antes, claro, entrei na clínica errada.
- tem certeza que marcou pra hoje?
- sim - respondo meio aérea (meio???)
- não vejo seu nome aqui para este horário
- inclusive, liguei hoje de manhã pra confirmar
- na clínica vilas boas?
- não! na clínica vila rica
- ah! não é aqui não...
Fala sério! Pra que duas clínicas com nome de Vila há menos de 500 metros uma da outra fazendo os mesmos serviços? Ando os tais 500 metros e pego a senha 466 - o guichê chamava a 461. Saí dali e entrei na sala ao lado. Poderia fazer os exames de sangue enquanto espero a ressonância. Pego a senha 27 - eu adoro esse número. Era meu número da chamada na quinta série do Rosário - a professora de francês nos chamava pelo número (como no MacDonald´s!) e como eu consigo me lembrar disso e do primeiro número de telefone da minha avó...
Tem um senhor número 26 sendo atendido. Ele marca o exame de uma terceira pessoa. Espero uns cinco minutos que parecem mil. O ar condicionado está desligado, está abafado. Chega minha vez.
- queria coletar sangue pra esses exames aqui
- hmmm, xô...são quatro horas de jejum
- han, han, estou de jejum
- é convênio?
- han, han, aqui minha carteirinha
- hmm, então, o laboratório só funciona até às 16h pra coleta.
- (putamerda, por que não foi a primeira coisa que o cara falou? perdi 3 minutos da minha vida nesse guichê de merda e fora os outros 5 minutos esperando o número 27!...) ah, tá. obrigada.
- de nada

Volto pra clínica vilas boas, quero dizer, vila rica - tá na senha 463. tá quente, confuso, barulhento. eu não entendo porque as pessoas insistem em ligar a tevê de plasma com o volume alto em Malhação pra gritar uns com os outros...
Uma mulher fura a fila na cara dura.
A maioria da sala de espera é de mulheres. para exames e como acompanhantes. os homens não acompanham as mulheres quando elas adoecem. as mulheres acompanham as mulheres, as mulheres acompanham os homens. os homens não.
Minha vez. Faço a ficha, assino aqui, asino ali, respondo dois questionários - fez cirurgia, tem filho, é casada? - essas perguntas que elevam a auto-estima de quem está triste com tudo e ainda com a saúde frágil. - sim, não, não. Posso aguardar lá dentro.
Um corredor branco com luz demais. Um quadro amarelo abstrato feio de doer, mas que consigo enxergar um coração alado. Bate uma solidão funda. Tenho pena de mim sentada sozinha numa sala de espera para um ressonância magnética da coluna cervical. Fico com vontade de chorar e deitar no sofazinho. Estou há 20 minutos esperando, olho o celular pra ver a hora...mas na verdade é pra me certificar que não perdi nenhuma ligação. Não, não, ninguém me ligou mesmo. Olho os pauzinhos da antena...sim, tá ok, com sinal cem por cento. Mais vontade de chorar.
Chamam meu nome - Fabiana Maria - oi tudo bem, entra ali, tira a roupa, veste esse pijama, me espera aqui.
Ah, legal. Já estou me sentindo a rainha da cocada preta e agora com esse pijama beige 5 números maior, ô, bem melhor.
Entro na cama de ressonância. E por incrível que pareça, acho minha paz. Aquele ruído na cabeça, o tremor, os diversos barulhinhos, a ordem - não engole, não mexe a cabeça - de repente, tudo faz sentido.
Penso em todas as coisas ruins, os sentimentos, todos. Exorciso com aquele baruho ensurdecedor tudo de mal em mim - que queimem naquela cama radioativa! Amém!
- Pronto, aqui seu protocolo. Obrigada, boa tarde.
Ponho toda a roupa de volta, saio em silêncio e em paz.
Dentro no carro, aquela vontade de chorar. Parei na frente do cemitério, as flores estão lindas pra vender. Eu merecia um buquê de flores das mais cheirosas - mas não vou me dar esse luxo...até porque, nem tenho dinheiro na carteira. Os olhos agora, cheio de novas lágrimas.
Ah, que bom, vou pra casa poder chorar...ameaça chuva, melhor ainda...
Fiz yoga, tomei banho, comi sucrilhos, vi tevê, deitei pra dormir.
Deu três da manhã e me lembrei que não tirei o brinco da orelha esquerda pra fazer a ressonância.

22.11.07

Menino

Era um cômodo bem grande, mais ou menos dividido
é que não tinha paredes, mas os móveis faziam as vezes
um quarto bem grande, um banheiro enorme, uma sala com sofá
Essa casa não era a minha,
e minhas malas deixavam evidente minha estada temporária
estou entrando - ou saindo - do banheiro, enrolada em toalha branca, o cabelo molhado, cheiro de sabonete e creme, de água quente evaporando

tem um menino deitado na minha cama

Sim, uma cama enorme de casal - com lençóis brancos, edredon, travesseiros desalinhados
uma cabeceira alta, branca, desenhada em metal

definitivamente, a minha cama de dormir - tem um menino deitado
Ele não está dormindo, somente deitado
veste shorts azul marinho, sem camisa vejo as costelas por trás das carnes
é moreno claro, mas de cabelo muito muito preto.
Abre os olhos em sonolência - também são escuros, os olhos, as sombrancelhas, os cílios são

- Você não pode dormir aqui - digo sussurrando, chegando perto do menino
- Mas eu quero ficar com você - retruca com olhos lânguidos de criança apaixonada
- Você não pode dormir comigo - agora, toco no braço magro, puxo de encontro ao meu corpo
- Deixa eu ficar com você - pede com voz de homem e curva o corpo de criança

Em silêncio, mas hesitante, pego o menino no colo - e noto que quase já é alto! - e o coloco no chão coberto de mantas, colchas e almofadas
Ele se deita resignado, também em silêncio, me olha profundo na alma
Sinto medo da paixão que despertei
E uma tristeza, uma dó, uma saudade de mim

- Ele é um menino, ele é um menino - acordo pensando enquanto me deito na cama do sonho.

Bruno faz 33

Quando éramos crianças, o Bruno e eu fomos melhores amigos
Brincávamos juntos e brigávamos muitos também.
Eu admirava no Bruno a força física naquele corpinho mirrado,
e a esperteza dos olhos por trás dos óculos imensos.
Ele também era amigo de todos e não me lembro de vê-lo mau-humorado jamais
Gostava de brincar de tudo, mas principalmente das coisas velozes:
Corrida, jogar bete, bicicleta, polícia e ladrão
Ele era muito bom em matemática, aprendeu a ler as horas muito antes que eu
mas ainda assim, não se interessava pelos estudos formais na escola.
Era inquieto, cabeça quente, conversador e rodeado de amigos (e amigas) por todos os lados
E à noite, quase ao dormir, via uma nota de melancolia, um quê de tristeza
Colocava Elvis nas alturas e repetia a mesma música tantas vezes fossem necessárias
Não era permitido entrar no quarto
Nem secar as lágrimas que talvez caíssem
(foi aí que aprendi a chorar sozinha e no escuro?)

O Bruno de hoje é igualzinho por dentro,
mas as camadas da idade aperfeiçoaram as qualidades
minimizaram os defeitos
De garoto mirrado ele não tem mais nada
A inquietação e desinteresse pelos estudos fez dele um advogado com idéias próprias
conservador em alguns pontos, quase anarquista em outros
e ainda muito conversador
Das brincadeiras sobraram as piadas, as gargalhadas infinitas
E a cabeça quente hoje se preocupa mais em solucionar que bater boca
Praticamente um filósofo de botequim, se não fosse pelo péssimo hábito de não beber

Sim, continua cheio de amigos (e amigas)
Ouve música alta - agora, no carro
Se chora, talvez no colo da Rafaela (a amiga que virou namorada que virou amiga que virou namorada que virou esposa)

O Bruno nunca foi religioso
mas é talvez uma das pessoas que mais tem fé na vida e no amor
Nunca rezou
mas sempre acreditou que os pensamentos nos levam às ações
Nunca pediu milagres
mas está aqui, nesse mundinho de Deus, aos 33 anos - quem diria!
Um homem que nasceu pronto
Um menino que acordava assobiando
Um pai
Um marido
Um filho
Um irmão
Mais que tudo, meu querido, você é um enorme presente
Um grande amigo, parceiro de estradas solitárias
Nesta e em tantas outras vidas que já tivemos irmãos
Obrigada, Bruneto, pela vida que você divide comigo!
Feliz Aniversário, Edmundo!
Da sua irmã, Rabiquita

21.11.07

Yoga e eu

Eu fiz umas duas aulas lá na academia mais baratinha que tinha achado na cidade
Achei legal o lugar, tal... mas, tudo leeeento demais!
Tudo bem que é yoga e que a idéia é desacelerar, meditar
Só que um hora de aula virava 35 minutos de aquecimento, dez de "descanso" e o restinho da tal malhação -
Tá, eu ainda estou me recuperando da hérnia de disco, ando fraquinha dos músculos, mas nem tanto!
Eu procurei yoga pra ficar fortinha e no ano que vem, voltar a dançar - se ficasse no ritmo da aula, seriam uns cinco anos até eu achar minha força muscular!
Foi com esse pensamento de insatisfação (eu sei, ando inquieta) que mexi nas minhas coisas entulhadas na casa da minha mãe
Pasmem - achei uma VHS de yoga que comprei numa liquidação da Radio Shack da Broadway por volta do ano 2000! - foi essa fita e uma câmera Polaroid, que doei pro Bruno e o putinho já perdeu...
Não sei como a fita de yoga ainda está viva e chegou até aqui...dei play - a aula é excelente.
No dia seguinte, dei um google no nome da moça da fita - não é que ela é moderninha? - tem DVD agora! Custa 30 reais e tem três aulas - a academia custa 70 e tem meia aula. Comprei.
A fita chegou ontem pelo correio - aliás, que delícia receber coisas pelo Correio!! - gente, não tem coisa mais legal que chegar em casa e ter encomendas chegadas pela ECT!
Eu assisti a fita toda antes de malhar - nossa, a mocinha continua a mesminha da silva - ela dá a aula junto com uma outra mocinha (eu acho que elas são namoradas; sabe com é, Califórnia, yoga, mulheres de malha numa matinha) e as aulas são dadas à beira de um rio, numa florestinha, enfim. Pode ser o fundo de quintal da casa da moça, for all I know, mas é zen. O mais importatne é isso, é zen.
Me convenci que fiz bom negócio. Ontem, fiz yoga de calcinha, dentro de casa, com a luz apagada e tomei aquela chuveirada sinistra no final em absoluto silêncio! Não tem academia que ofereça isso!
Adorei. Dormi como uma pedra (e nunca entendi essa metáfora, já que pedras não dormem...ou dormem?) e planejo novo encontro com as mocinhas da yoga hoje antes da meditação. Pois é, eu agora medito no Templo Budista. Essa notícia fica pro próximo post, tá?

19.11.07

Pérolas da balada

Quem gosta de homem é viado
Mulher gosta de casamento

(um comentário no aniversário da Taty)

Já é fim de ano?

Estou insatisfeitíssima.
Com tudo.

Estou inquieta, por dentro e por fora
Já comecei a ver o ano pelo lado do fim
E com isso vêm todos os outros pensamentos
As coisas que passaram
As que nem chegaram a ser
As dúvidas que se mantém
O silêncio que aumenta
Mas não traz um pingo de paz

Sonho com férias
Mas não haverá dinheiro, já sei

Fico então torcendo por dias a fio de pijamas
Deitada nas novas almofadas
Com pilhas de livros e filmes
E o celular do lado
Caso alguém queira ser sociável

É
A instatifação gera antecipação
Que gera ansiedade
que não gera nada
e fica tudo do jeito que está
até algo ficar diferente

Eu preciso de um pequeno milagre
todos os dias
até o Natal

16.11.07

Último compromisso festivo do ano

Estou com as solas dos pés doendo
Completamente sem voz
No corpo, a marca das barbatanas do vestido longo
E aquele cansaço de ressaca

Foi uma ótima festa
Música boa
Gente animada e amiga
Champanhe e comidinhas

Talvez, meu Reveillon já tenha começado.
O Ano Novo chegou hoje.
É hora de comemorar o que ainda há de vir.

14.11.07

Cor

Uma hora dessas cai uma lata de tinta pink na minha cabeça.
Tudo vai mudar de cor assim, de supetão.

Eu

Egocêntrica
Frágil
Egoísta
Insegura
Vaidosa
Burra
Romântica
Cética
Fiel
Cega
Leal
Estúpida
Risonha
Sóbria
Viva
Morta

13.11.07

3 meses


Foto tirada dia 2 de novembro, feriado de Finados, na casa da minha mãe.

Reparem na mão que abraça a outra. Nos olhos fixos no estranho, a câmera.
Na concentração do momento.
E no segundo seguinte, sorri espalhafatoso. Dá gritinhos com as mãos para o ar.

O Enzo é um eterno mutante como todos nós, como toda a vida.
Imagino se ele me olha com olhos constantes, ou se muda de opinião cada vez que me vê
Ou melhor, se muda de opinião e de olhos, de olhar e ver a cada instante
E se a supresa é sempre melhor a cada encontro nosso

Imagino porque pra mim, é um pouco isso
Ter o Enzo na minha vida é uma constante surpresa
Eu nunca sei se ele vai sorrir ou chorar comigo
Eu nunca sei se ele vai ficar no meu colo
E mesmo assim, com as mutações inerentes desse biju-ser que aprende
Eu sempre terei a certeza do amor que tenho por ele
(e ele já terá por mim? eu já sou algo que ele sabe o que é? meu cheiro, meu colo, meu riso?)

Das mudanças de estações
Das trocas de fraldas
O que é permanente, Enzinho
É o amor

O meu por você
o da flor pelo pássaro
da chuva pela terra
da vida por viver

Vou ficar com saudades

O Sofá roxo na vitrine

Quando saí da médica ontem, dei um pulinho no shopping. O Liberty é um lugar que guardo com carinho na lembrança porque foi lá que vi "Pulp Fiction" do Tarantino. No época, eu tava de namorado novo e encontrei com o antigo na porta do cinema. Foi aquela sensação que toda toda mulher já teve ou tem vontade de ter - eu tava super apaixonada pelo novo namorado, o velho namorado já tava com outra (melhor, nunca deixou de ter outra...) - mas, deu aquela olhada surpresa do tipo - como assim? você não morreu por mim? - e eu, iluminada - Opa, tô viva e bem...
Mas, de volta ao Liberty Small - sim, porque aquilo não é Mall, subi ansiosa a escada rolante para os cinemas. Uma decepção. Tudo às moscas. Um mesmo filme em todas as salas, um infantil. Aliás, o shopping inteiro entregue.
Desci as escadas, olhei uma sandália linda na Arezzo que custa 300 reais. Tinha uma outra mais barata, mas menos linda. A linda dá certinho com o vestido de princesa. Aquele que eu mandei fazer pro casamento do Sérgio e que vou usar na quinta, no casório da Malu com o Caline. Eu ficaria linda com aquela sandália nos pés. São 300 reais, mas eles dividem. A cor, a altura, tudo perfeito. Linda linda.
Dei a volta e entrei na loja de decoração. Na vitrine, meu sofá. Art deco anos 50, baixo, estofado de chenile roxo batata. 1800 reais. Eu entrei, perguntei preço, forma de pagamento, se tem de outra cor, as medidas.
Só não tive coragem de sentar. Se eu sentar no sofá da vitrine, saio da loja 1800 reais mais pobre, sem sandália e com sofá. Se ele for tudo que promete de lindeza no conforto, fico sem viagem de férias e sem sandália. Rapidamente me lembro que já fechei negócio com o computador. 2000 reais. Falta 1000 pra pagar. Penso em perguntar pra moça simpática que se estica inteira com a trena na mão, se eu poderia levar o sofá agora e começar a pagar em fevereiro. Mas me lembro que fevereiro começam as prestações do seguro do carro, do iptu, do ipva, do seguro obrigatório. Segundo minha última planilha de Excel na cor laranja, preciso de 1800 reais extras para saldar essas obrigações anuais já existentes em 2008. O preço do sofá, do meu sofá. Pego o cartãozinho, escrevo no verso tudinho pra não esquecer. Dou mais uma volta na loja e me imagino comprando a mesa de pernas palito, a poltrona com estofado diferente, aquela estante cristaleira que usaria de biblioteca. Tudo daria bem mais que 1800 reais e ainda falta somar a sandália! E talvez esse dinheiro não seja suficiente pra eu viajar um mês de férias em abril. Muito menos pro exterior. Istambul, então...continua no sonho.
E o sofá também. Saí da loja dizendo que ia buscar a minha mãe pra dar opinião.
É. Assim que a minha mãe melhorar, apresento ela pro meu sofá roxo. E nem passo na frente da vitrine com a sandália de princesa.

12.11.07

Dança

Eu dancei como há tempos não fazia.
Me senti com quinze anos, o cabelo grudado na testa,
O suor escorrendo pelo pescoço.
Eu dancei todos os ritmos, todas as músicas, com toda a força.
O calor era insuportável,
Tinha gente saindo pelo ladrão,
O gelo do copo virava água só de segurar o plástico na mão
A música tava super alta
As pessoas eram super lindas
E foi inevitável - rir, dançar, dançar, dançar
Em quatro horas de festa, tomei uma garrafinha de água - wiskey aguado, vodca por engano
Mas nada me embriagou mais
Que dançar, dançar, dançar

Vi caras conhecidas
Cantei músicas envelhecidas
Senti as pernas
Os joelhos
Os pés - com bolhas
Cheguei em casa como há tempos não chegava
Calada da rouquidão, surda do som
Um banho morno
Lençóis gelados
Um sonho, dois sonhos
Domingo já é - que bom, dançar... que bom!

Achados e Perdidos

Sonhei que deixava pra trás a cadeirinha de carro do Enzo
Dava um trabalhão voltar pra buscar, e acordei antes de conseguir
Sonhei que tocava violino na rua, e quando chegava na casa da minha avó (que no sonho não era a mesma da vida real)
me lembrava da bolsa que deixei na calçada, ao lado do violino
E corria sem sair do lugar, até acordar
Sonhei no fim de semana que esquecia um outro objeto, que agora me foge a memória
E acordei hoje com essa sensação
De estar esquecendo algo
De estar perdendo algo que só me lembro tempos depois
De estar distraída?
Achada ou perdida?

Inventário

(inspirada no grande Samarone Lima)

Tenho um medo enorme de morrer
E daqueles que eu amo também
Tenho medo de baratas e cigarras
E tudo e todos que são alados - incluindo aviões, anjos e capetas
Tenho medo de nunca engravidar
Da comida ficar ruim
Da gasolina acabar
Do dinheiro não dar
Tenho medo de gente calada demais
Tenho medo de sentir dor
De ficar cega
De ficar louca
Tenho medo de ter raiva
Tenho medo de ter medo
Tenho medo de ter
E nunca mais de novo
De viajar de menos
De dormir demais
De ser esquisita
De ser esquecida
E de nunca ser ouvida

8.11.07

Vizinho

Ontem, chamei a polícia.
Meu vizinho louco passou dos limites.
Ele arrombou o vidro da portaria e num barulho ensurdecedor, arrebentou a porta da própria casa - lá de dentro, gritou que pagava 500 paus e fazia o que queria ali.

Não que eu seja ingênua de pensar que usar maconha causa isso.
Mas ele estava alterado, eu moro sozinha e senti muito medo. Ele é muito muito maior que eu.

O cara é o tal que toca heavy metal a tarde inteira e a manhã do sábado - religiosamente - enquanto a mãe não está em casa.
Ele é louco, não trabalha, não estuda, fuma maconha na janela, embaixo do bloco, é gordo e tem o cabelo oxigenado.
Eu não tenho medo dele, por assim dizer, por ele ser louco.
Mas estou desconfiada que ele está em surto, escalando em casa atitude, culminando na de ontem à noite.
A polícia não veio.
Quando falei com a síndica, ela me confessou que tem medo dele fazer algo com os filhos dela. Ela é mãe solteira, mora lá o mesmo tempo que eu, um ano.

Eu não quero ser refém na minha própria casa. Tenho medo, mas há limites para a loucura.
Tem que haver um modo de me defender e de repreender esse homem. Como, ainda não sei.
Estou pensando em ir à Delegacia da Mulher.

6.11.07

Madrugada

Eu acordei às 4 horas para levar minha mãe ao aeroporto.
Era isso ou pedir para a Helena dormir aqui.
A Helena mora no Setor P da Ceilândia. Não tive coragem de anunciar que, no fim de um dia de trabalho, ela não voltaria para casa porque minha mãe não pode dormir sozinha.
A minha mãe sofreu uma cirurgia de retirada de um tumor no cérebro em 2001. Além das prováveis convulsões, ela está desintoxicando de cortizona que ela tomou por estar sentindo dores terríveis no corpo inteiro. Não me pergunte detalhes: quanto mais eu pergunto, mas novidades e sintomas eu ouço. Os exames não acusam nada. Ela diz que acusam sim.
Então.
Digo a Helena para ir embora e não voltar essa semana porque meu pai também está viajando.
Ele e meu avô foram de carro até Assis Chateubriand, no interior do Paraná, quase em Foz do Iguaçu. Meu avô foi deixar uma lápide no túmulo da mãe dele. Ela está enterrada lá há mais de vinte anos. Não entendi porque do súbito desejo da lápide. E não perguntei.
Eu não sei quando eles voltam, mas a casa ficará vazia e não há necessidade da Helena vir da Ceilândia para limpar os banheiros que ninguém vai usar. Ela vai ficar de férias essa semana e ponto final. Não vai cair minha cara de acordar de madrugada uma vez na vida e outra na morte, apesar de que eu gostaria muito de acordar para morte à noite, de preferência de um sono profundo e não de uma doença ou acidente. Enfim.
Às 4h15 saimos de casa. Minha mãe e eu rumo ao aeroporto. Eu estava disperta, sem sono nenhum. Minha mãe seguiu calada ao meu lado.
Reparo na chuvinha fina que cai - se fosse São Paulo, seria garoa - e no fato de que ainda está bem noite mesmo.
Não há uma alma viva na rua. Não sei se há almas mortas, mas elas devem estar escondidas, então.
Jogo esse jogo de procurar um ser, qualquer que seja - pode ser um carro, pode ser um pedestre...não, ninguém em lugar algum. Só luzinhas dos postes, eu, minha mãe. E a chuva fina.
Pego o Eixinho Sul - e lembro que minha mãe gosta de chamar a rua de Eixo Auxiliar - ela diz isso para os motoristas de taxi, e eles ficam confusos. Só aí, ela esclarece - o eixinho de cima, por favor.
Na parada da 10/11 - ali onde ficava o Cine Karim e que depois virou um igreja - agora, será uma academia de ginástica. Não sei se era melhor a igreja. Faz diferença cultuar uma estátua pregada na cruz ou o próprio corpo? Com certeza sinto saudades do incrível e gigantesco Cine Karim. Bem ali, na parada de ônibus, vejo um homem. De relance, claro, estou no carro em movimento. O homem está parado, bem encostado na parede do ponto e de roupa clara. Sinto um leve calafrio - de surpresa ou de medo? - e penso na merda que deve ser você ter que estar de pé às 4h20 da madrugada nessa chuvinha que engana trouxa para ir trabalhar. Mas, estando ali tão cedo, pode também estar voltado do trabalho noturno, uma canseira no corpo úmido. Ou acabou de ver seu amor, sua querida, e recosta o suor na parede úmida feliz feliz...Me dá uma raiva súbita dos pontos de ônibus desenhados por pessoas que nunca pegam ônibus.
A chuva engrossa um pouco já na saída do Eixo Auxiliar Sul - estamo na descida do zoológico, onde o asfalto tem um cheiro de floresta. É. O mato do zoológico quase invade a rua, e perfuma tudo tudo. Com a chuva, parece que estamos a horas da cidade. Mas ainda nem chegamos ao Balão do aeroporto.
Minha mãe faz o primeiro comentário - que nesse local em poucos minutos, o trânsito será um inferno. Concordo com a cabeça. Chegamos.
Ali no aeroporto, muitas almas vivas - outras com caras de mortas - nos despedimos e ela me pede para ligar quando chegar em casa. Fico surpresa. Dou um beijo na bochecha gelada e entro no carro.
Eu dirijo agora sozinha, pelo Eixo Auxiliar Norte - o eixinho de baixo - e penso que vou escrever aqui, que vou chegar em casa, que vou tomar um banho e tentar dormir ainda um pouco, que estou sem fome, sem sede, sem sono. Que minha mãe é uma mulher incrível. Que tenho saudades da minha infância. Que há tempos ninguém pedia pra eu ligar quando chegasse a salvo em casa. Coisa de mãe. Passo por outro ser, deitado no banco de um ponto. Talvez seja uma alma viva, talvez morta.
Jogo o jogo de torcer para que todos durmam nessa madrugada chuvosa e calada. Menos eu.

5.11.07

carta aos divinos e aos santos

queridos santos,

eu tô meio chateada com vocês e não é por pouca coisa, não

acho uma sacanagem nascer assim, desse jeito - que afinal é imagem de Deus
e passar a vida como num teste de habilidades - parece orientação vocacional!

para citar um exemplo,
eu tenho essa incrível habilidade de me apaixonar
e uma outra, de ter fé que as coisas sempre serão melhores

daí, os senhores celestiais ficam constantemente
mandando pessoas divinas pra minha vida
e iluminando meu caminho com as melhores perspectivas
para, depois - tirar tudo, e até de uma vez?

já não basta uma hérnia de disco na coluna?
não é suficiente decidir ser servidora pública - e ainda ser forçada a parar de estudar por motivos de saúde? - e por consequência, não passar na prova?
não sendo o bastante, tinha que ficar sozinha? - exatamente no momento perfeito para amar alguém?
e ainda, o mesmo trabalho, ou nenhum afazer, por meses a fio?

tenham a santa paciência!
quando as provas vão acabar?

eu não gosto de competição, teste, exame
eu não gosto de pensar na minha vida
como a de um ratinho de laboratório correndo naquela rodinha
enquanto vocês tomam nota do meu desempenho -
bom, para saúde
regular para dor de cotovelo
péssimo para dinheiro e profissão

eu não sou um teste divino!

e não me venham com essa de
- ah, você sofre agora, mas não imagina do que nós te poupamos...
eu não quero ser poupada
e também não quero sofrer

por falta de dinheiro
por falta de compreensão

eu não nasci com a capacidade de conquistar algo,perdê-lo,
e "superar" isso!

eu não gosto de superar as coisas - eu detesto atletismo, olimpíada, teste de revista feminina
eu não sou o resultado final de nada!

prezados santos,
o que eu quero é: ter o que já conquistei
e não querer o que não vou ter
- é muita danação pedir por isso?

eu quero é viver sem o medo de perder
para mera satisfação divina
ou para o teste da minha fé e até onde ela vai.

eu quero ter e manter - sem reconquistar, sem refazer
tudo e todos
que amo e quero pra mim!

amém

4.11.07

Humor

Eu gosto de fazer as pessoas rirem.
Quanto mais você ri de mim, mais inspirada eu fico.

Eu faço as pessoas rirem com comentários,
geralmente desconexos, surreias, ou bobos mesmo.

Às vezes minhas piadas não são entendidas,
porque são sutis demais, sarcásticas demais
ou simplesmente, sem graça e ponto.

As pessoas riem porque exagero ao contar uma história
ou falo um palavrão onde não cabia um

Elas riem porque pensam que estou levando muito a sério
e solto uma bobagem daquelas, de arregalar os olhos.

Eu me divirto vendo as pessoas rirem de mim
não é sexy, não é charmoso, mas eu gosto mesmo assim.

Não que eu saiba contar uma piada
nisso, sou péssima
no que sou boa mesmo, é de distorcer
transgredir, mudar o rumo da prosa
sempre pro lado menos esperado
mais esquisito ou mais engraçado

Acho que rir, desarma as pessoas
E se todo mundo achasse a vida mais engraçada
Seríamos todos mais leves um pouco

Mas aí, eu perderia minha função social

31.10.07

Clima de vida

Essa seca, esse calor,
tudo é tão insuportável que convida
Ao tão desejado ócio criativo, como prega minha amiga Cris.

As noites com livros, filmes, ventiladores soprando madrugada adentro.

Não que eu tenha tido boas idéias, mas praticar o ócio é isso mesmo:
As idéias demoram a chegar, lentas como esse tempo que não passa...

Mas, trabalho feliz, faço minha meditação (ou tento com força, pelo menos)
E deito pra dormir - o que não significa que durmo.
Aliás, eu não tenho dormido nada ponto.

Eu tenho a nítida sensação que a minha vida vai mudar
Quando o clima mudar também

Flores Vermelhas

Entre o circo e a vida
Entre a vida e o trabalho
O trabalho e a casa
O livro e mais outro

O Templo
A yoga
O silêncio
A cigarra

Entre o dentro e o fora
Tem um flamboyant que aflora

24.10.07

Vinte reais descartáveis

Decidi meio de última hora experimentar a tal aula de yoga, pertinho da minha casa.
Como já estava na rua, passei na Riachuelo pra comprar uma calça dessas de malhar, a mais baratinha possível. Escolhi umas três - uma barata, uma média uma cara - uma de 20, uma de 25, uma de 35 reais. Peguei umas camisetinhas na arara de promoções - 9 reais cada.

Fila gigante no vestiário. Sede. Calor abafado. Uma mulherada feia de doer. E ninguém com a menor pressa.

Experimento tudo. Acho tudo muito mais ou menos, mas pô uma camiseta por 9 reais? Vou levar! A outra por 15 reais? É, a malha é melhorzinha, vou levar. A calça, bem, não gostei de nenhuma, mas entrei na loja justamente pra comprar uma calça e ir pra yoga! Vou levar a mais baratinha mesmo...

Fila gigante pra pagar. Uma moça no caixa, três outros fechados. Todo mundo abrindo a bolsa, pegando a carteira, olhando o planeta girar sem a menor pressa.

Gastei quase 50 reais. Muito dinheiro. Ainda mais pra quem nunca nunca nunca faz isso de entrar numa loja assim...levei três peças e não amei nenhuma. Mas agora, tinha o que precisava pra ir à tal aula experimental de yoga.

Cheguei faltando cinco minutos pra começar. Troquei de roupa, pus a calça Riachuelo, sentei no chão. O professor atrasou quase vinte minutos. A aula então das 6h30 começou às 7h. OK.
Estica e puxa, respira e expira. Fecha e abre o olhos. Meditação deitada? Ix, dormi!
Namastê.

Em casa, com calor e fome, fui pro banho. Tirei a roupa. A calça da Riachuelo estava inteira rasgada! Isso mesmo, na costura da bunda, que você vê a calcinha da moça!

Me deu uma vontade de dar uma de Michael Moore e ir lá na casa do dono da Riachuelo com a calça rasgada e suada e perguntar pra ele se ele pagaria 20 reais por um produto descartável.

Ainda bem que a meditação e a yoga estão fazendo efeito. Ainda bem que eu ando tão zen que até eu estou me surpreendendo...vou costurar a calça e usar em casa, pra dormir, pra fazer faxina...e nunca mais piso na Riachuelo.

Hoje tem yoga. Vou chegar 6h15 e já trouxe a calça de casa. Não tem comprinhas surpresas na minha vida tão cedo.

23.10.07

Vidro

Maria Clara, 2 anos, Pedro, 4 anos, e eu, (tá, 35 anos) assistindo um desenho animado.
Clara:
- Agora vem o gato mau, ele vai pegar o Topo Gigio
Eu:
- Ai, eu morro de medo do gato mau! Vou fechar os olhos! Me digam quando acabar essa cena!
Pedro:
- Não, Fabiana! Pode ficar de olho aberto! Essa televisão tem um vidro bem bem forte, o gato não passa de jeito nenhum!

Ah, tá...vou ficar de olhos abertos, então...

21.10.07

Incômoda

(este post foi publicado primeiro em: perfumesevenenos.blogspot.com)

Quando dirijo, torço para não ter ninguém na faixa de pedestres
É que detesto ser aquela que pára o trânsito
Quando sou pedestre, rezo pra chegar na faixa e não ter carro nenhum
É que fico péssima de parar 2, 3 carros pra eu atravessar

Me apresso no caixa do mercado
É que fico constrangida de fazer a outra pessoa esperar eu pegar a carteira, o cartão, arrumar os saquinhos...vou fazendo tudo de uma vez, pra não atrapalhar o próximo

Chego mais cedo sempre
Não consigo pensar em alguém me esperando chegar por 2, 3 minutos sequer

Tenho uma dificuldade enorme de pedir favores, ajuda, um help qualquer
Fico vermelha só de pensar na situação de ter alguém esperando por mim

E não ligo nem para os melhores amigos sequer pra pegar um cinema
Temendo um momento errado ou ser indesejada por um motivo qualquer

Subo as escadas do prédio com os tamancos na mão
Detesto pensar que fui eu que acordei a vizinha insone

Minha porta não range, minha chave, eu dou uma volta só
Pra ser rápida, silenciosa, invisível

Estaciono meu carro apertado nas vagas
Pra sobrar lugar pro próximo que ainda virá

Espero os outros se servirem
E minto que estou sem fome
Se vejo pouca comida
E muita gente

Num grupo de pessoas
Tombo sempre pro lado com menos adeptos
Na esperança de criar com eles, um elo qualquer

Me anulo
Me antecipo
Me isolo
Porque acho que incomodo

E à noite no escuro, sozinha no quarto
Me pergunto se alguém
Faz isso por mim também

Aposentadoria

Na mesa do almoço, conversa de adulto:
- E a mãe do Fulano, Fabi, já está aposentada?
- Não, coitada, ainda trabalha até hoje!
E a Júlia, 7 anos, com dedo indicador apontado:
- Ah, eu vou pedir minha aposentadoria antecipada!

(sim, ela usou a palavra antecipada com veemência)

Pequenas sutilezas de uma manhã de sol

Ele estende a canga pra ela deitar
Ela deixa ele na sombra do guarda-sol
O menino divide o castelo de brincar
O pai escuta em silêncio as histórias do mar

Velhos, feios, loucos, de mãos dadas na calçada
Cão e dono se entreolham no farol

Um afago na menina do chiclete
Um violão toca insistente
e desafinado o suficiente
Faz ela rir, rir, rir

O irmão que acha o gêmeo perdido na areia cheia
Ó o mate, a canga, ó o milho
que trocam de mãos com suaves sorrisos

E eu aqui. Nas sutilezas dos pequenos amores diários da praia de Ipanema.

Gatas de praia

- lindo
- nossa, eu fiquei louca
- já tinha visto ele onde?
- passo lá na frente todo dia, fico paquerando ele.
...
- é, mas hoje em dia não vale ser de marca, não. melhor comprar óculos aqui na praia mesmo.
- já é.

Preguiça

Eu hoje acordei com preguiça de sofrer
Andei pelo vento na areia fofa
Chorei com gratidão
pelo samba
pelo riso vazio
pelo Dois Irmãos
Saudades de agora
Já sinto falta de mim quando sei que mais tarde
Sou outro alguém

Eu hoje acordei sem vontades
Nem de ir, nem de ficar
E nem de achar um lugar

(escrito em 14/10)

Tempo

A nuvem anda na areia

(escrito em 13/10)

O mar de Ipanema

O que é do mar que extasia?

Anáguas de ondas
do ruído igual mas diferente
Insistente, constante

Carneirinhos lá longe é sinal de mau tempo
Ressaca na praia

Pixains afundam na espuma
Risadas, gritinhos, dispersos

O que é do mar que tanto encanta?

Do vôo, do som, do vento
Da que branqueia a crista da onda verde
que mexe a areia
que vira o menino

(escrito em 12/10)

29.9.07

Doente e sã

Minha mãe está doente. Tosse, dores nos ossos.
Passou a semana assim. Levei-a ao médico.
Fez inúemeros exames.
Mas, não há nada de errado com o corpo.

Como eu, minha mãe está doente do coração.
Um coração partido de sonhos, de tantas mágoas
Poucos desafios, pouco amor - ou não aquele que ela quer

Eu sei.
Eu sou muito parecida com a minha mãe
Romantizo a vida, elevo aqueles que amo às alturas da perfeição
Até o dia que tudo desaba na minha frente - como agora
E fico assim, surpresa e desiludida

Mas, algo está diferente entre nós.
Eu não sou mais tão como ela.
E já errei tantas vezes que decidi que desse jeito não dá
Claro, estou sofrendo uma dor terrível
Da rejeição
Da dúvida
Do silêncio profundo

Só que estou lúcida
Sólida
Chorando, mas sem me sentir a vítima da situação
Sofrendo, mas esperando com fé na mudança
Do mês
Da lua
De opiniões

A lucidez que tenho
Me ampara e não me deixa cair no espiral
E me dá a certeza de que só eu posso viver essa dor
E só posso fazê-la parar ou continuar
Há horas que penso ser pior tanta sanidade
Porque antes, eu não me sentia tão responsável
Enquanto que agora,
Para cada gesto,
Me pergunto se é isso mesmo que quero
E logo mudo de idéia
Vou quieta pro meu canto,
Sofrer em paz e sozinha por mais um tempo

Pois aprendi
Que não há nada a se fazer
Se é o outro que precisa fazer algo

E nada é tão útil
Quanto esperar
Quando é só isso mesmo que se deve fazer

28.9.07

Sexta - feira

mais um fim de semana chegando
não sei se fico aliviada ou se me deixo levar pela angústia das horas à toa
e da tristeza que se instalou de vez

18.9.07

Santa

Num calor de verão, pegamos a pista errada e ao invés de seguirmos para Porto, paramos em Fátima.
Não quis desviar - seria um sinal?
O lugar é a típica atração turística - centenas de barraquinhas vendendo bugingangas católicas, milhares de pessoas transitando - a maioria, mulheres velhas.
Me decepcionei. Na minha idéia, seria assim, um campo verde, com uma arvorezinha, e uma capelinha com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Haveria silêncio e um brisa agradável.
Não.
Era uma praça enorme. No chão, um caminho desenhado com o piso em preto, contrastando com o branco do resto do lugar. Nada de grama, de árvore...e a capelinha da minha imaginação era uma gigantesca construção - seria uma igreja?
Ainda assim, me emocionei.
Aquelas pessoas ajoelhadas, segurando velas, terços, muletas.
Gente chorando, se arrastando...pensei no sofrimento de cada um, na dor de cada um.
Era o fim da missa e de longe vi uns braços erguendo a imagem - era Fátima.
Aí, entrei num transe. Segui pela multidão em diração à santa. No formigueiro de gente, fui espremida entre o vidro e o povo. Através do fumê, vi Nossa Senhora entrar na igreja - muitos cantavam. Eu só olhava pra estátua.
Notei que não sabia onde estava nem quanto tempo havia passado. Voltei em direção às barraquinhas, comprei os devidos souvenirs - terços - e voltei andando lentamente em direção ao carro. Em silêncio, caminhava na frente do Ethan, que desprezava tudo aquilo.
Foi nesse momento que senti uma mão sobre a minha cabeça. Aquela mão de vô que apóia a palma inteira sobre o topo da cabeça, meio com força, meio como uma afirmação - estou aqui.
Olhei assustada para trás. Ninguém além do Ethan lá longe, distráido. Olhei para cima. Céu puro, sem nuvens, sem vento.
Passei a mão pela minha cabeça, olhei para os tercinhos que segurava nas mãos e sorri.
Dias depois, as Torres Gêmeas cairiam, minha mãe faria uma extração de tumor do cérebro e minha vida giraria 180 graus.
Eu ficaria em surto, e rezaria anos a fio naquele tercinho prateado.
Sempre aparece um sinal quando peço pra Fátima
Sempre chega uma paz quando rezo pra Ela
Sempre sempre apelo pra Nossa Senhora de Fátima
Que me faz esperar às vezes, mas não deixa de por a mão sobre minha cabeça - estou aqui.

13.9.07

Ventos Uivantes

Passei só pra dar um oi.
Tem um tufão varrendo minha vida...
Já volto, tá?
Fiquem atentos para novas postagens...
tive outro sonho esquisito, outro momento epifânico (essa palavra existe?), outra crise de ansiedade...
enquanto isso, a seguir cenas do próximo encontro...

10.9.07

Gorila

atores:
gorila adulto - que na vida real eu só vi no zoológico do bronx
http://bronxzoo.com/bz-exhibits_and_attractions/bz_congogorillaforest
manoel - que na vida real trabalha como assistente de porteiro no prédio dos meus pais
eu
outros humanos

cenário:
típica casa americana numa vizinhança classe média

ação:
um grupo de pessoas e eu estamos preocupados com um gorila que entrou numa casa vazia. (o incrível é como aquele mamífero gigante conseguiu passar pela porta da frente!). Nós vemos que ele está tranquilo lá dentro, olhando pela janela (que parece mínima perto da cara do gorila), mas ainda assim estamos todos em alvoroço - é que o Manoel está dentro da casa, tomando conta do gorila, e todos achamos que o gorila alguma hora vai se chatear com aquela prisão. E aí, adeus Manoel.
Saio à procura de pessoas da UnB, biólogos, veterinários, qualquer um que possa administrar uma dose de sonífero e tirar o gorila dali.
Mas quando peço ajuda, a ajuda já foi dada: chego no local da prisão e o animal já está sedado, dormindo, e Manoel passa bem.

Eu sei, parece um sonho bobo. Mas o take dos olhos do gorila pelas janelas da casa é bem intenso. Quem já olhou nos olhos de um gorila sabe do que falo. Parece que estamos olhando dentro na nossa própria alma, já esquecida, de tão antiga que é.
Outro detalhe: a casa, apesar de normal, tinha paredes, mas não tinha. Essas coisas de sonho mesmo. O gorila podia ser visto de corpo inteiro por quem estava de fora. Mesmo com paredes de concreto.

6.9.07

Facada

Eu dormia no sofá da sala porque sabia que algo aconteceria naquela madrugada.
Deitei e fingi dormir.
Chegou a madrugada e ruídos na sala de estudos.
Meu pai estava no computador.
Ouvi passos, conversas, e como se fosse um sonho dentro do sonho:
Minha mãe mata meu pai. Um facada na barriga. Um som fraco, duro.
Ela vem me acordar.
Mas eu já estava de olhos abertos, só fingi abri-los.
Já era dia, e na sala, ela chora e me conta - matei teu pai.
Eu caio no chão de dor. E choro lágrimas que não escorrem.
Eu tenho ódio da minha mãe, eu não entendo o porquê, eu não sei o que fazer.
Meu pai está ao lado dela, ouvindo tudo.
Eu quero contar ao Bruno, mas sozinha.
Desço o túnel que cruza os Eixos, e lá no meio, um homem morto e seus dois assassinos.
Sei que me matarão então conto minha história para distraí-los.
- Minha mãe matou meu pai, uma facada no estômago. Estou indo contar para o meu irmão.
Pronto, saio do buraco, despisto os assassinos, chego ao prédio e só então me dou conta que meus pais estavam comigo o tempo todo.

Acordo com as batidas do meu coração e a vontade de chorar.
Meu telefone tocou às 8h. Era meu pai.

Tantos Ses

Se eu tivesse falado logo:
- olha, esse encanto de pessoa que eu sou, é só uma parte de mim
na verdade:
sou louca, ansiosa, impaciente
irritada,
pressiono, discuto, insisto
bato o pé, argumento
choro, choro, choro

sou louca, instável, insegura, ciumenta
mimada, carente, melancólica, triste

sou louca, teimosa, briguenta
planejo, prometo, cumpro até o fim

sou louca, controladora, manipuladora
ninfomaníaca, bêbada, gulosa

sou louca, preguiçosa, dorminhoca
insuportável, insaciável, patética

idiota, romântica, palhaça
não me atraso
não minto
não faço mais terapia

E seu tivesse falado tudo isso -
talvez fosse mais engraçado, mais leve, mais longo
talvez fosse o que foi
talvez fosse nada demais
talvez uma desculpa pra ganhar um beijo
talvez virasse solidão
a de agora,
só que há um ano atrás...
Faz diferença agora
Porque a dor dói mais
Se acaba depois que começou...

Paciência

Definitivamente, eu não sei esperar
Por coisas a acontecer
Por pessoas
O amor chegar (ou voltar)

Eu tenho um ritmo próprio, como todo mundo
E a angústia que sofro se páro para não fazer nada
Enquanto os outros me alcançam - ou se distanciam
É mais dolorido que a solidão do caminho - que pelo menos sei que é só meu

A ansiedade que crio por não ter respostas
Por não saber qual será o próximo passo
Me enche os olhos de lágrimas
E os sonhos de pesadelos

Hoje vai demorar um ano pra passar
Enquanto crio um labirinto de caminhos
De " e se... "
De raiva contida
De tristeza alagando o travesseiro
De um dor tão conhecida
Do fim do caminho

E da espera do fim do sentimento

5.9.07

É possível?

Um amor sereno?
Uma paixão que quando acaba, recomeça?
Traçar um sonho em passos do passado?
Seguir vivendo, mesmo adivinhando o pior?

Voltar atrás, começar do zero, como se nada tivesse acontecido?
Ter o mesmo corpo, a força, que já senti?

Ser reação e não ação?
Não esperar, mas ser esperada?
Sentir surpresa com fato corriqueiro?

Ganhar uma flor?
Um beijo quente num abraço longo
Uma noite inteira sem pressa de acordar?
Promessas de amor pra sempre?

3.9.07

A culpa é da ansiedade

Ânsia.
Ansiedade.
A arte de antecipar todo e qualquer cenário em prol de prever o pior
Sim porque nada sairá como sonhei.
E se sair, faço uma briga para estragar tudo e - viu?? - o pior aconteceu.

Disfarço bem, eu sei.
O mundo lá fora mal sabe o quanto penso um bilhão de idéias terríveis
Adivinhando tudo e todos.
E quando fico quieta, me escondo
É que tudo que previ, explodiu
Só que aí, eu não quero mais.
Mas é tarde
Há brigas, lágrimas, solidão e fim.

Se eu tivesse ao menos um dispositivo de segurança
Um marca passo que apita num sinal que a ansiedade vai dominar meus atos
Uma descarga elétrica que pinça meus lábios, me faz calar a boca
Me dá um susto, alguém!
Ou um abraço apertado, um beijo
Um sorriso maroto dizendo
Pode parar, bobinha. Tudo vai dar certo.
Mande a ansiedade embora dessa cuca-maluca.
E vamos viver a vida, uma coisa de cada vez.

31.8.07

Tumor

- O cérebro explodiu - ela contou - na mesa de cirurgia, ele teve uma trombose cerebral. Tinha um saco de lixo preso embaixo da cabeça dele, e um tanto assim de sangue no fundo.
Ele chegou para a internação e assim que entrou, a esposa atendeu o celular. Era da empresa, ele tinha sido demitido há dois dias, meteu a mão na cara do sujeito e saiu da sala. Ia viajar pra Brasília, assuntos particulares. Veio pra morrer e talvez já soubesse. Por isso o tapa na cara do chefe.
O filho marcou o casamento para o ano passado. Mas o irmão da noiva morreu num ataque de abelhas africanas. Edema de glote, nem chegou ao hospital. Deixou uma menina de três meses na barriga da recém-esposa-mãe. Ninguém acreditou que a gravidez vingaria depois do trauma. Mas Maria Luiza nasceu até de olhos azuis.
Desmarcado o casamento, souberam tempos depois do câncer no pai do noivo. Incompetência, rebeldia, medo, deixaram passar. O câncer fez metástase. Marcaram o casamento para outubro, mais cedo o pai se chatearia - estão pensando que eu vou morrer? Pra quê tanta pressa? -
e veio fazer outros exames, para só então saber do tumor. Era no cérebro. A cirurgia era inevitável (e talvez desprezível).
E veio toda a família. E rezaram durante a cirurgia. E o médico até chorou.
O corpo foi de volta pra cidade natal de avião. Só custa setenta centavos o quilo levar a morte de novo pra casa.

Corpo

Breu
preto no branco
tinta de lula
reflete na luz
um corpo mexendo
o chão estrelando

música
passo
de dança
pára meu peito
enche de água
o olho
e a lente de contato

mãos no escuro
pele e cabelos
e cheiro de bala
de veludo de cadeira
de Teatro Nacional

ainda não há experiência igual
a olhar o outro na luz
e se ver naquele corpo
mesmo ali, sentada no escuro
Breu

29.8.07

Eu tenho trinta e cinco!

coisas que sonhei e aconteceram aos trinta e quatro
1. Chegar de mãos dadas no Festival de Cinema de Brasília
2. Meu nome na tela do Cine Brasília
3. O extrato da Caixa com meu nome no envelope
4. Passar o Reveillon na cama, com champagne e risadas
5. Levar meu pai ao médico
6. Meus pais cuidarem da minha saúde como se eu tivesse quatro e não 34
7. Me cuidar com zelo, amor, e compaixão (mas sem pena!)
8. Amar quem me ama de volta
9. Me sentir adulta, velha, ranzinza e achar engraçado
10. Errar 2 de 20 questões de português
11. Parar de chorar quando é manha
12. Parar de comer quando é gula
13. Parar tudo
14. Aprender a ficar callllmmmmaaaa
15. Aprender a cozinhar nas minhas panelas
16. Me apaixonar de novo pelos mesmos velhos amigos
17. Ter fé e ver acontecer

28.8.07

Tá bom, tá bom, é a última foto!


Dicas de uma amiga de longe

My new approach is to not worry and just assume that I’ll know what to do when I get there. I noticed this when I was riding my bicycle with Amy a few weeks ago — how when you’re coming up to something tricky, like a curb or a branch to go around, you can’t really plan, you can’t really know what to do until you get right on top of it. And those decisions are so precise, they really depend on the conditions of the moment. So even though you can see it coming, it doesn’t help to worry about it. You just have to know that you’ll make them when you get there.

É isso aí, Lydia. Thanks so much, girl!

27.8.07

Fim de semana

Sexta à noite, acabei dormindo tarde só que mal assisti CSI. Fiquei lendo, sonecando no sofá, pensando na vida ...
Dormi sozinha, o Fábio prefere dormir na casa dele esses dias que trabalha cedo demais, sem dia de folga, sem hora pra voltar pra casa -
(às vezes acho que vivemos o pior dos dois mundos - dos solteiros: as contas individuais de água, luz, condomínio, gás do carro, mercado, dormir separados em casas separadas, se ver no fim do fim de semana...; dos casados: priorizar atividades outras que não ficar só curtindo o namoro, a pequena pressão das visitas de família, resolver questões mundanas do dia a dia ...)
No entanto, fui dormir sem chorar, sem fazer drama... só pensando o que quero mesmo pra mim. E se estou perto de alcançar o que quero. Do namoro, da vida, de mim mesma.

Sábado de manhã, dei uma mini-geral na casa - arrumar gavetas e armários é meditativo pra mim! Fiz uma sacola de coisas a doar - para lembrar do quanto tenho e do pouco que preciso.
Almocei com o Fábio uma saladona com frango bem ruinzinha...
mas o que importa é a companhia!
Ele notou meu corte de cabelo!!! Disse que gostou (mas também comeu meus cogumelos na semana passada e passou mal pra só depois dizer que não aguenta mais comer cogumelos...difícil, esse homem...). Estudei à tarde. Vi Contra Todos acelerando. Vi a novela. Fui à festa da Cris sozinha - o Fábio ligou às 22h30 pra dizer que achava que não ia conseguir levantar. Fui sozinha, mas não chorei, não fiz drama - dirigi pensando no que quero, no que tenho, no quão longe eu estou de alcançar o que quero. A festa foi bem legal. Dançar sempre cura. Amigos que riem das minhas bobagens ajudam. Voltar pra casa sozinha de madrugada também foi bom. Sentia saudades disso e nem sabia.

Acordei com o Fábio no celular domingo de manhã. Ressacão. Almocei com ele. Pediu um prato com carne vermelha porque esqueceu que eu não como mais carne. Daí, comi. E bebi cerveja sem querer muito.
Mas o que vale é a companhia, sempre boa!
Dormi uma hora inteira antes do vizinho começar a sessão heavy metal das tardes de domingo. O barrigão pesado da carne. Estudei umas duas horas. Fui ver o Enzo de noitinha e ele acordou na hora que eu já tava indo embora. Peguei ele no colo uns minutos e tudo ficou bem para sempre.
Jantei sozinha porque o Fábio tava sem fome e parado no trânsito. Aluguei um filme, ele chegou. Um filme bobo, deu sono...
mas o que vale é a companhia, tão bom esse sofá com ele em cima!

Dormimos juntos depois de uma semana dormindo separados. Quando isso acontece, demoro mais pra cair no sono. E tava muito calor!
Mas o que vale é a companhia! Tão bom sonhar com ele ao lado dele!

24.8.07

Explicações sobre o cartão magnético que substiuirá o cobrador do ônibus

No banheiro da Câmara, copeiras e faxineiras explicam o sistema do cartão magnético que já existe em quase todas as capitais do Brasil:
Mulher da Franjinha curta demais - é tipo um cartão que você põe seu dinheiro lá. Essas coisas tão sempre quebrando
Mulher de tez indiana - Não, menina, a máquininha vai somando somando, até uma hora que alguém tem que tirar o dinheiro de lá. É igual uma calculadora...Cê não põe, põe número e uma hora zera? É igual.
Mulher alta - Eu quero ver gente perdendo cartão na rua, no ônibus
Mulher de Franjinha - E o que vai ter de roubo?
Mulher de tez indiana - Se roubarem, você vai lá e cancela seu cartão. Pronto, ninguém mais pode usar
Mulher de Franja - Ah, mas antes a gente trocava os vale e botava gasolina
Mulher alta - E agora vai ser a mesma coisa, é só encher o cartão e trocar
Mulher de tez indiana - Vai ser melhor, mais rápido
Mulher de Franja - Eu quero ver os cobrador pra onde vão
Mulher alta - Ah, mas os sindicato deles já negociaram não sei se foi com a Câmara ou Senado que eles não vai ficar sem emprego
Mulher de tez indiana - E vão fazer o que dentro dos ônibus?

Rituais natalinos

O dia oficial é 29
Mas desde segunda, começaram os rituais que me preparam para o meu nascimento
Ou meu aniversário, como queiram
Para mim, é como Reveillon
Hora de ver tudo que foi bom
Fazer resoluções para o ano bom que chega
Prometer coisas positivas, boas, de paz
E então:
1 - comprar um vestido novo
2 - se der, um sapatinho novo também
3 - fazer as unhas
4 - depilar
5 - cortar o cabelo
6 - faxina na casa: papéis, roupas, sapatos, tudo que não é de muito uso - lixo
Aí, na véspera:
7 - pedir pra Helena fazer meu bolo de chocolate com recheio de chocolate e cobertura de chocolate com fio de ovos
8 - pedir pra minha mãe fazer um almocinho daqueles...esse ano, vou inovar: ao invés de camarão na moranga, pernil de porco com couve, tutú, farofa, arroz
Aí, no dia:
9 - torcer pro telefone tocar muitão
10 - torcer pra caixa de email ficar lotadona
11 - aceitar com toda humildade, todos os beijos, abraços, carinhos, afagos
12 - passar o dia achando que definitivamente é injusto trabalhar no dia do seu próprio aniversário
13 - dormir feliz feliz, pensando como é boa essa vida boa!

23.8.07

Um céu cinza de chuva cheirosa

Com uma amiga de infância passando uns dias comigo,
fiz questão de mostrar lugares inóspitos,
daqueles que turistas nunca frequentam.
Pegamos o metrô Uptown para o Bronx
porque queria mostrar a ela a arquitetura chinesa,
e principalmente o restaurante que adorava.
Seguimos pelas ruas no entardecer, onde já estive em sonho antes,
e no prédio do restaurante, me dou conta - está bem mais alto, maior.
Subimos as escadas - e eu nunca soube que havia um segundo andar -
e do salão de jantar de cima, vemos toda cidade através de janelas enormes que vão do teto ao chão.
O desenho dos prédios antigos esculpidos com dragões e monstros chineses
As ruas sem asfalto, com tratores e máquinas destruindo antigas vias, casas, tudo sem som.
E é enquanto olhamos a vista que o tempo muda:
O por do sol fica agora nublado de nuvens sóbrias, gordas, sérias
O cinza do céu mesclado com a chuva escondida no degradê daquelas aglomeradas nuvens pesadas
O raio branco, ardido, o barulho do trovão - que vem de lado, do ouvido esquerdo para o direito.
E vem primeiro o cheiro da terra - não daquelas do norte, mas do cerrado, o cheiro da minha terra.
O vento perfumado do pó fino vermelho que era seco, sente agora os primeiros pingos:
Chove
Forte
Ventado
E abro os olhos no escuro
Com o cheiro ainda tão vivo, surpresa, sorrindo
Espero ansiosa a terra molhada que há de chegar
De hoje a 29, há de chegar...

Feliz Aniversário, Biju!


Querido sobrinho Enzo,
antes de mais nada, parabéns pelo seu dia de aniversário!
Este último mês que passou, foi muito legal ser sua tia
porque você dormiu no meu colo três vezes e eu fiquei feliz de ver você tranquilo nos meus braços
e assistir você dormir, mamar, fazer xixi enquanto seu pai troca sua fralda,
tudo que tem você é muito bom!
Eu acho que é isso que quer dizer amor - quando você fica feliz só de assistir a outra pessoa SER.
...
Enzo, tia é uma coisa que nunca vão tirar de mim!
Tia é título que não expira, não vence
Vou ser sua tia mesmo quando você viajar de férias, fizer intercâmbio, passar a lua de mel na China...
E só de pensar nisso, ah! Que alívio! Que sossego!
A constância do vínculo do sangue parece agora um bálsamo de amor.
Um amor que vai mudar com os meses da sua vida, com as rugas do meu rosto...
Como um porto itinerante com o farol sempre aceso - um guia-mutante para o resto da minha vida é esse amor de tia que terei por toda a vida pelo meu sobrinho - você!
...
Parabéns, Enzo-bijuzinho.
Que todos os meses da sua vida sejam tão repletos de surpresas, novidades e amor como este primeiro mês!

20.8.07

Pronto, pronto...passou, meu bem, já passou...

Na sexta à tarde, saí da acupuntura e fui lanchar com Bio e Clau.
Mas o assunto - o meu relacionamento - me deixou tristíssima.
Em casa, liguei pro Fábio - era melhor ficar sozinha, tava chata demais, triste demais, péssima compainha e não queria briga - e ele: "tá. tudo bem, então. te ligo depois." (esses depois de homem, nunca dá pra saber se vai ser no ano que vem, né?)

Caí no choro. Rezei pra Nossa Senhora de Fátima. Pedi luz, proteção, direção, e um sinal.
Chorei bastante. Com pena do meu braço doendo, das minhas costas doendo; da minha sala com as almofadas furadas no chão, da minha falta de foco nos estudos, da minha insegurança com esse namoro - com pena de já ter quase 35 anos e estar ali, com dor, sozinha, numa sexta à tarde e meu namorado me ouve dizer que eu quero ficar sozinha e não entende que eu quero colo, chamego, um beijo, uma comidinha quentinha na cama...

Pedi um sinal pra Nossa Senhora de Fátima.
E o telefone tocou.
Era uma voz familiar, mas em espanhol. Meu computador saiu do sistema pena de mim para que porra é essa de trote?
Mas era o sinal de Fátima.
Era meu amigo Get.
Ele me ligou porque queria me ver.
Nem hesitei.

Agora, só faltava desfalar tudo pro Fábio e combinar com ele. Fábio não ia querer ir. Tava cansado. Ia ter que insistir. Tava sem saco. Minha coluna ainda muito cansada, doída...mas vou.

A discussão com o Fábio me fez entender:
eu passo o tempo todo sem querer falar o que quero falar e querendo que ele saiba quem sou.
eu quero que ele saiba quem sou sem eu falar o que eu realmente tô sentindo e querendo.
eu esqueço de ser eu mesma com medo de deixá-lo decepcionado e aí ele fica decepcionado porque fico o tempo todo querendo ser outra coisa que não sou.
eu antecipo o que ainda não existe, até existir.

Vi o Get mandado por Fátima. E tudo voltou a ser como era antes.
Eu sei quem sou.
Eu sei o que quero.
Eu sei dizer como e porque.

Fui dormir sorrindo, com a sensação que tinha quando criança, da minha mãe ao lado da cama, afagando meus cabelos e esperando o mal estar passar: pronto, pronto, meu bem...já já vai passar, já já...