11.12.12

2013

Não, eu não quero nada novo.
Não, não quero mudar quem eu sou.

Para o ano que chega, quero mais do mesmo:
o mesmo afeto pelos meus queridos
o mesmo sol pintando a casa de claros e escuros
o mesmo vento seco em agosto
o mesmo vento úmido em dezembro

Não, eu não quero novas e mais aventuras
Eu quero mais das mesmas coisas incríveis
viagens, livros, filmes,
amigos, sobrinhos, amor,
os mesmos,
iguais
com os mesmos perfumes, roupas, adereços

Em 2013, eu não deveria querer nada,
nem de novo, nem de velho
mas, quero.

só que quero o que já tenho
e de um jeito torto
é exatamente o que preciso

sim, pode ser que eu precise menos
de mais coisas (e pessoas)

ou que eu precise mais
de mais coisas iguais

mas, sem dúvida
eu não preciso de nada, nada mesmo
que eu não saiba desde já
todas elas quais são

e posso dizer, assim, de cara
não, eu não preciso de nada, novo, não.



4.11.12

Favorita

Na minha casa tem muitos cantos
E todos são especialmente meus

Mas a janela da "outra" sala
Sempre sempre se supera!

É que ela é uma moldura
Que contorna e embeleza
A rua
A árvore
A Lua
E também minhas ideias

E por ela eu olho o mundo
Lá no fundo
O meu eu-nada

Na janela
tem a chuva
que entra na casa
tem o vento
que espalha marcas
tem o vazio
que cada estrela
pinta
por cima do céu
por cima do carro
na janela

A janela da minha casa
é a porta do meu coração
divide a vida
de dentro
de fora
de perto
de longe
real
ilusório
nuvem
e chão









3.11.12

A semente

Assim do nada, vem uma pergunta:
- Por que você não casa logo, tia Bijú?

Sim, se você tem um sobrinho de 5 anos, esteja sempre pronta para as perguntas mais surpreendentes.

- Eu vou me casar, Enzo. Mas pra casar, não dá pra ter pressa.
- Mas por que você fica demorando?
- É que o casamento Bijuzinho é igual à sementinha que você plantou no algodão.
- Aquela que eu coloquei num copinho?
- É. Você, colocou a sementinha no algodão, jogou água, colocou na janela perto do sol.
- É. E aí, nasceu uma folhinha!
- Nasceu, né? Mas não nasceu no mesmo dia! Você lembra que todo dia ia lá, olhava a sementinha...
- E não acontecia nada!
- É que a semente primeiro tem que ficar bem forte, com muita muita vontade de nascer, beber bastante água, tomar muito sol...
- E só depois que ela vai nascer?
- Isso, só depois...mas um dia, Bijúzinho, a semente nasce e aparece uma folhinha linda, verde e forte!
- Meu feijãozinho nasceu com duas folhinhas, tia Bijú!
- Que lindo, Enzo! É assim o casamento: como a sementinha no algodão, a gente planta o amor, rega, põe na luz e fica torcendo pra sair uma folhinha que se chama casamento!
- E demora, tia Bijú?
- Demora, Enzito, mas é bom que demore...porque nasce forte e lindo lindo!
(Claro, não confessei. Mas há amores que mal precisam ser plantados: diferente do casamento, o fruto do amor de tia, mal cai na terra, e a semente já vem brotando forte, plena, invencível)

19.10.12

Os homens precisam de outros homens

Lamento dizer, mas o que os homens precisam é de um outro homem.
Aquele amigo de verdade, sabe?
Eles podem jogar bola juntos, ou videogame. Ou assistir ao futebol tomando cerveja, tudo bem.
Mas os homens andam seriamente precisando ir além - precisam ser amigos uns dos outros.

A amizade masculina, tão diferente daquela entre duas mulheres, é sempre superficial, repleta de atividades. E quase invejo isso, não fosse o que me parece uma certa omissão. Os amigos homens dos homens se isentam de opinar, ouvir e, muitas vezes, dar aquele puxão de orelha, tão tão importante nas relações de amizade de verdade. Porque amigo mesmo, é aquela pessoa que te ama tanto que não consegue te ver entrando numa fria e ficar em silêncio.

Sinto que as mulheres só não se perderam mais nessas tantas revoluções do fim do século 21 porque conseguiram de alguma forma criar redes de gênero - mulheres que ajudam, escutam, brigam, amam outras mulheres.
Os homens ainda engatinham: perdidos nos variados papéis que ambos os gêneros precisam reinventar, parecem esquecer do principal: estão todos passando por situações muito semelhantes. E dividir, é como somar nesses casos.

Penso sempre nas comédicas românticas americanas, que usam estereótipos de gênero muito bem: o mocinho está atrás da mocinha; pisa na bola; a mocinha vai embora; entra em cena, o melhor amigo do mocinho - que o convence de correr atrás da mocinha, de não desistir, de fugir do orgulho e ir em frente; o mocinho ouve com atenção, se enche de coragem, reencontra a mocinha; a mocinha reconhece o esforço e dá a ele uma outra chance.

No mundo real, onde estãos os melhores amigos do personagem principal?

2.9.12

Quarenta, enfim!

Acabo de fazer 40 anos no último 29 de agosto.
Foi meu aniversário mais feliz de muitos!
Mais pelo alívio de finalmente acabar com a expectativa da chegada da nova década, que por um outro motivo qualquer.

Muitos beijos, abraços e desejos de felicidades por pessoas queridas que moram no meu coração há tempos. Outras, chegaram agora, e já ocupam um espacinho considerável!

Muita gente me fala que continuo com a mesma carinha de sempre, que não envelheço, tals.
Fico intrigada porque, apesar de pequena, sinto o envelhecimento em cada parte do corpo, da alma e da mente. Claro, me incomoda, mas não lamento.
E sinceramente, não acho nada ruim envelhecer: finalmente tenho cabelos brancos, finalmente, tenho menos energia física, o cansaço natural me faz dormir melhor, por menos horas. São muitas as alegrias do começo da velhice, garanto!

Mas, claro, tudo isso é graças a minha cabeça boa - terapeutizada, meditada, estudada, enfim - minha cabeça nunca pensou na velhice como algo terrível ou avassalador. Aliás, estive sempre um tanto ansiosa para ter no corpo a idade que tenho na mente. E ao que parece, 40 anos é essa medida exata!

Fiz quase tudo que quis.
Amei muito mais do que pensei.
Arrependimentos, muitos - e só me faz mais serena do quanto sou mesmo um ser humano normal.
Sonhos, diversos e muito melhores dos que tive aos 20, 30.
Defeitos, horríveis, incorrigíveis. Estes últimos, por fim, decidi parar de mudar. Tenho coisas péssimas sobre mim. Ponto final.

Talvez uma coisa que eu possa dizer com certeza, além da boa genética, que me mantém nova, viva é que eu nunca, jamais, me imaginei ser outra pessoa que não eu mesma.
Eu não me lembro de nunca querer ter sido um outro alguém, de estar na pele de uma outra pessoa, que eu julgasse melhor. Claro, me inspirei em inúmeras pessoas. Mas nunca quis trocar de lugar com ninguém.

No pior da minha vida, nunca pensei em desistir de ser quem sou. Acho que é isso que chamam de amor próprio. Essa honra de vestir minha pele e não abrir mão de jeito nenhum do ser humano que sou.
Porque só eu sei, lá no fundo, como é bom ser eu! Desse jeitinho mesmo. Mais uns quarenta anos, se tudo der certo!

5.6.12

Tropeço

No escuro e no barulho,
as sombras e suas pessoas: disformes.
E desço da pista
atenta aos degraus
Enquanto, de frente pra mim
pisa, escorrega, tropeça
Caindo em cima de mim!
Seguro com susto os braços do alguém
Sorrindo falamos - você está bem?
O barulho acaba e a luz aparece
Os olhos se olham
E o beijo acontece

28.5.12

Trabalho, medos e amigos

Na secretaria, duas mulheres atendendo.
- Acho melhor você fazer isso daqui que eu estou fazendo. Não sei fazer, vou fazer errado.
- Não. Eu vou deixar você fazer sozinha para você aprender - respondeu a colega, com um afago na voz.
- Mas é difícil e eu não vou aprender!
- Faça e eu fico aqui, se você errar, eu ajudo. Daí, o dia que eu não estiver mais aqui, você ficará segura de fazer sozinha.
Resignada, a outra moça fez o serviço, tirou dúvidas, terminou tudo.
Interessante como há gente que tem medo de errar.
Raro isso de ver um colega ajudar, com generosidade, paciência e afeto.
Fiquei feliz pelas duas - porque se encontraram nessa vida numa parceria tão perfeita. E pensei na minha nova jornada: não tenho alguém que me ajude nos erros. Mas, também não tenho tanto medo assim de errar...e de novo, pensei o quanto as parcerias são perfeitas, com todos os tantos defeitos.

13.5.12

48 horas sem celular, ou uma coisa de cada vez

Sexta à noite, percebi a ausência do meu aparelho celular na bolsa. Com pressa, imaginei tê-lo deixado dentro do carro. Na volta, olharei as ligações, falei alto.
Pessoas ansiosas a procurarem cadeiras, em uma competição velada por um espaço, aguardamos todos a chegada da palestrante.
E eis que sobe a escadaria, a Monja Coen. Faço uma reverência sorrindo e emocionada. Murmuro um boa noite e seja bem vinda.
Ela me olha através de mim com um sorriso desses que só quem já andou muito por essa trilha tem: o rosto dos santos, o rosto dos monges, o rosto humano na sua forma mais natural: a serenidade.
Nem sério, nem sorridente. O sorriso da Mona Lisa. O sorriso da alma.
O sino toca. Há silêncio. Estou lá fora, sem vê-la, e mal ouvindo suas palavras. Mas estar ali, só isso, já me acalanta. Tudo conectado nesse momento iluminado.

Mais tarde, caminho em silêncio até o carro, procuro com preguiça o aparelho. Está escuro, deixo isso pra lá. Vou dirigindo e pensando qual a real necessidade de se ter uma conexão imediata com quem não está presente, ao meu lado, aqui e agora. 
O que estou perdendo se me desconectar do que não está aqui?

Eu mesma criei o hábito e não sei mais viver sem ele:
o hábito de me certificar a todo instante, quem me ligou, que horas são, o que está anotado para fazer nas próximas horas.
A mania de nunca estar de fato fazendo uma coisa de cada vez; uma angústia de não estar vivendo 100% o que a vida oferece.
Respiro aliviada: uma coisa de cada vez é a única maneira de se viver tudo que a vida tem!
Penso seriamente em nunca mais ter um celular.
No dia seguinte, tento em vão bloquear minha linha até encontrar meu aparelho - que suspeito ter deixado no trabalho - mas nem isso me chateia tanto.
Ligo para mim mesma e o número toca sem resposta.
Desligo sorrindo.
Passei 48 horas vivendo aonde e com quem esteve comigo.
Um sábado quieto e um domingo em família.
Há tempos não me sentia tão presente e plena.
Desconectada, fiz uma coisa de cada vez.
Mas o melhor de tudo foi ter a sensação de não ter perdido nada.

ps.: Hoje é dia de N.S. de Fátima e dia das mães. Achei auspicioso tudo isso acontecer sob o manto protetor de tantas mulheres incríveis na minha vida!


24.3.12

sábado

eu sinto uma estranha falta de ser quem eu já fui com as coisas todas outras que já sou
eu sinto uma saudade burra de quem nunca veio e daqueles que já foram (e eu mal notei)
eu sinto uma alegria débil de simplesmente desobedecer
as regras
a etiqueta
o jeito de ver o mundo que o mundo me força a ter

13.3.12

Fim do fim

E não, não dá alívio. Nem uma leveza, nada, nada.
De malas prontas, meu coração está apertado:
vou deixar minha casa pra trás e tempos difíceis também.

Sei, deveria pular de alegria, celebrar. Mas não sinto.
Tem uma chapa de chumbo no centro do peito.
Hiatos de prazer que não pareço merecer...

A leveza, pra mim, é sempre dura, impermeável.
Olho pro lado, pra dentro, suspiro:
sou intensa, medrosa e cheia de arestas.
O sopro de dias livres me assusta,
o coração vazio me entristece
a boca sussura - quando?
Quando, nessa vida, vou finalmente aprender
a simplesmente aceitar e ser?

5.3.12

Ponte

Todo mundo já cruzou uma ponte na vida: a pé, de carro. No parquinho de areia.
Uma das minhas favoritas está no Parque da Chapada dos Veadeiros.
É feita de ripas de madeira e corda. Uma ponte daquelas moles, presas firmemente de um lado e do outro no solo. E só.
Olho o outro lado, que nem é tão distante assim, seguro firme nas cordas que servem de corrimão: ao dar meu primeiro passo, a ponte toda treme!
De susto, dou um passo pra trás.
Agora, a ponte está como uma minhoca.
Medo.
Nova tentativa.
Com dois passos à frente, o peso do meu corpo todo sobre as ripas criam um estranho equilíbrio, fica quase fácil dar o terceiro passo...
O ritmo das passadas faz ondas na superfície da ponte que agora balança pra valer!
Aperto as mãos nas cordas, mas eis que quanto mais me apego ao suporte, mais difícil fica de caminhar pra frente!
No limite de cair, percebo então que sou eu quem imponho o ritmo daquela ponte a balançar!
As ripas, as cordas, tudo obedece ao meu caminhar.
Para cada passo, uma onda até o lado oposto.
E fim.
Eu sou a dona dos meus passos.
E, se não escolho todos os caminhos por onde passarei, farei deles meus próprios:
com equilíbrio único, no meu ritmo, uma onda de cada vez.

Com muito amor para todos que atravessam comigo as inúmeras pontes da minha vida. Vocês sabem quem são.

16.2.12

Preencha a lacuna com a palavra adequada

questão 1.
preencha as lacunas com as palavras que completem os sentidos das orações:
a) eu adoro esse tipo de _________
b) na verdade, mesmo quando eu não sei qual ________ escrever, ainda assim, completo a oração.
c) é que eu odeio ver um espaço ________ assim, sem nada.
d) e assim fiz a vida toda: fui colando _______ nas bocas das pessoas que ficavam por demais em silêncio...
e) e inventando sentimentos nos ______ que batiam vazios nos peitos de quem cruzou meu caminho.
f) só que não é bem isso que faz sentido: completar o ______ do outro não o deixa inteiro, sabe?
g) além do mais, não sou ______ das palavras e dos sentimentos de ninguém!
h) só dos ____.
i) mas, todas as alternativas ficarão corretas
quando a sua palavra fizer você dono da sua oração: amém!

10.2.12

Surpresa!

O mal da pessoa ansiosa é que antecipa - com certo sucesso - muitos cenários que a vida poderia proporcionar. Precavida, esse tipo de pessoa é raramente pega de surpresa. E até quando algo fora dos cenários acontece, rapidamente dá um jeito de enquadrar em novíssimo cenário já pré-criado: deixando o coração bater igualzinho, igualzinho, todo santo dia da vida. É. Bem chato.
Fica pior ainda quando essa figura finalmente entende o que faz com tanto pensamento e racionalização - além do tédio da vida, é obrigada a conviver com as mesmices mentais!
E agora? Lobotomia? Drogas? Anarquismo?

Eu simplesmente não sei que horas, mas desisti de viver desse jeito.
Ou melhor, foi esse jeito que desistiu de mim.

Não vou mentir, até vislumbro, dois ou três cenários para cada um segundo do que me acontece na vida. Mas, coisas da vida simplesmente deixaram os cenários no chinelo!

Me vi, de repente, escolhendo entre dormir ou vislumbrar meu antigo jeito de antecipar tudo! Ha, ha, troco uma boa noite de sono por pouquíssima coisa hoje dia... Resultado?
O mágico aconteceu:

Me surpreendi!
Uma, duas, diversas vezes seguidas!
Um evento que eu SABIA que não seria nada demais, se torna a noite mais engraçada do ano. Uma pessoa que achei que nunca mais sairia da minha vida, desaparece, vira poeira cósmica.
E a noite de Natal.
E o trabalho que surgiu.
E a festa de Ano Novo...
pessoas, projetos, eventos: não há um dia sequer que eu tenha certeza absoluta do que vai acontecer!

É. Os cenários ansiosos fugiram de mim. Incrível!
Esse é o meu ano, sim. E eu não tenho a menor ideia de como ele será!