26.2.10

Para você

finalmente uma chuva fina começa a cair
e dirijo devagar de volta pra casa, as ruas já esvaziadas do trânsito.
espirro.
sorrio.
e do nada, me dá um saudade louca de você.
acho que você gosta de chuva, como eu.
acho que se eu espirrasse do seu lado, você diria saúde com um sorriso nos lábios.
acho que se eu penso em você, é porque você precisa que seja assim.

ou será possível?
tanto tempo de silêncio que eu nem me lembro mais porquê você brigou comigo com tanta força.
o que me lembro - e guardo - são os inúmeros carinhos em palavras, as afinidades, as distâncias ficando cada vez maiores...

sei lá. me deu uma saudadona de você.
talvez por estar melhor da gripe
talvez por estar menos calor
talvez por simplesmente estar mais eu hoje e isso tem tudo a ver com você.

ou será impossível?
depois de tantas conversas não mais, nunca mais, um sinal seu...o que tenho - e mantenho - são as letras conexas, promessas convexas, uma amizade ficando cada vez maior, até...

posso?
será que devo?
o que espero?
o que mereço?

o que devoro
o que imploro
o que devolvo

o que pergunto:
o que é,
que é isso
o que preciso:
SABER

25.2.10

Ano Quatro

Hoje completa quatro anos do dia da assinatura da escritura do meu apartamento.
Estava aérea, em surto, totalmente fora de mim de alegria.
Entrei no apartamento vazio dias depois, troquei as chaves, fechei as janelas e comecei uma longa reforma.
Do dia da assinatura até o dia que me mudei, passaram-se oito meses.
Será interessante traçar um paralelo de como foi aquela época e como está sendo meu agora.
As mudanças, as decepções e supresas e as inúmeras alegrias.

É motivo de festa, eu sei. Mas, como há quatro anos, ainda não é a hora. Em breve, assim que a casa estiver em ordem...

24.2.10

invejosa
ressentida
magoada
emburrada
azeda
gripada
ciumenta
com ódio mortal

...

pronto.
entenderam por que não escrevo?
não tem espaço!
tô lotada de sentimentos horríveis, péssimos.
verde catarro.

....

e não estou com a menor vontade de ficar bem.
nem boazinha
nem feliz
nem sorridente.
estou péssima do jeito que estou.
e foda-se.

14.2.10

Na janela lateral...

Do meu apartamento, das janelas centrais vejo um silencioso estacionamento.
Da janela lateral, o cenário é uma jaqueira.
Ontem notei, como nesses quatro anos, a jaqueira cresceu.
Assim que cheguei aqui, havia um galho largo e grande com uma casa abandonada de João de Barro. Uma casinha marrom, caprichada, redondinha.

Não era mais usada quando comecei a usar a minha casinha. De joana de barro.

Hoje, olhei a jaqueira de novo - a brisa bate de leve nos galhos fortes, as folhas sussurram o verão longo e quente. Sim, há jacas verdes pelo tronco. Não tantas e não tão grandes. E elas não exalam mais um cheiro tão forte.

Procuro a casa de João de Barro e só posso concluir que o galho está bem mais alto, já chegando ao terceiro andar. Dali daquela casa, se vê praticamente todo meu apartamento.

Desse ponto de vista, o João de Barro, me viu cozinhar para os amigos, chorar na frente da TV, rir alto para a câmera do computador, dormir no sofá com um livro sobre o peito. Me viu meditando, transando, lavando louças. O galho da jaqueira é testemunha de quatro anos de chegada de móveis e saída de lixo. Ganhos e perdas no amor.

E agora, a jaqueira está mais alta e o galho da casa de João de Barro se enverga para me ver aqui dentro. Vivendo.

Hoje, olhei a jaqueira e não vi a casinha abandonada.
A árvore cresceu, a casinha sumiu por entre as folhagens.
Eu estava aqui, vivendo minha vida ao lado de outra coisa viva e não me percebi quando tudo mudou.
Não percebi o que acontecia bem na minha frente, na minha janela. Na janela lateral.

12.2.10

Não há retrocesso. Nunca.

http://lelecos.blogspot.com/2010/02/prisao-de-arruda.html

O Bruno é essa pessoa. A confiança que ele tem nas coisas, me dá confiança pra ter confiança.
Mais ou menos a mesma sensação que tenho quando mantro para o Buda.
E quando olho nos olhos do Enzo.

Obrigada, Bruno. Como diz o monge Sato: não há retrocesso na Caminhada. Nunca.

Carnaval

Estou contando os segundos para o feriado de Carnaval.

Já estou com alguns planos mas o principal é dormir.

Isso me faz uma falta danada.

Ter noites curtas me afeta muito.

Fico séria, introspecta, sisuda até.



Pretendo escrever aqui um pouco mais, também.



E tô fazendo figa pra fazer sol em Brasília.

Ah! Claro, e pro Arruda ir pra cadeia de uma vez por todas.

10.2.10

Caixa

Fui ao mercado com Enzo. A compra seria rápida, ele queria dar uma volta de "bike", o dia estava muito bonito.
Fomos andando devagar, conversando os dois, ele na bicicleta, eu a pé, ao lado dele.
No mercado, a coisa ficou complicada:
Enzo, bicicleta, cestinha, sacola reciclável, e claro, compras.
Fui passando rápido pelos corredores. No sessão de verduras, ele me ajudou a escolher as cebolas que estavam num cesta bem na altura dele em cima da bicicleta.
- Pega umas bem bonitas, Biju - recomendei
- Peguei, tia Biju.
- Pronto agora vamos embora, já compramos tudo que precisamos.
- Não tia Biju! Agora a gente tem que PAGAR!

4.2.10

In sinc

VIRGO [August 23–September 22] I don't mean to alarm you, but I think you may be in a hypnotic trance right now. It's possible that the thrumming hum of your routine has shut down some of your normal alertness, lowering your awareness of situations that you need to tune in to. When I count to three, you will hereby snap out of your daze and become fully awake. 1 . . . 2 . . . 3. Now, look around you and get yourself more closely in touch with your immediate environment. Make an effort to vividly see and hear and smell everything that's going on. This will have the effect of mobilizing your subconscious mind. Then, for a period of at least five days, you'll have a kind of X-ray vision.

3.2.10

Mulher, Loba, Velha do Mundo

Estou agora encarnando a Velha do Mundo que vive em mim.
Ela canta uma canção silenciosa e melódica, cata ossos de animais do mundo inteiro,
Acende uma fogueira alta no deserto seco.

Enquanto canta, os ossos lentamente ganham as carnes ao redor:
carnes de uma loba grande, marrom, macia.
Quanto mais forma e matéria, mais alto o som da canção.

A loba nasce dos ossos e do som.
Em forma animal, se estica, se alonga
A Velha olha nos olhos do bicho
O bicho-loba uiva
Salta o fogo
Corre nas dunas

A Velha de longe enxerga com a Lua
A loba virou mulher nua
Lá, no horizonte

2.2.10

Escola

E chegou o dia do Enzo ir pra escola.
A iniciação social dele começa hoje.

Escola pra mim sempre foi um lugar muito legal, mesmo.

Mas no fundo, sempre tive medo.
De não gostarem de mim.
De não dar conta das tantas tarefas .
e não ser tão boa aluna como todos esperavam.
De não cumprir as tantas expectativas que eu sempre soube que existiam.


Pensei nesse medo e nessa expectativa olhando para o Enzo.
E no quanto eu o amo e temo por ele.
- Será que vão amá-lo?
- Será que vão enxergá-lo por quem ele é? Esse menino incrível, engraçado, inteligente, bem humorado?
- Será, será, será?

De tanto pensar, concluí - sou eu quem deposito inúmeras expectativas no Enzo.

Quero tanto que ele seja ele mesmo e que seja feliz que coloco nele a responsabilidade de ME FAZER FELIZ, de satisfazer todas as minhas vontades por ele!

Erro!

As minhas expectativas me trarão a frustração de ver o Enzo chateado, emburrado e injustiçado em muitas situações da vida escolar dele.

E enquanto fico frustrada, provavelmente estarei cega às reais necessidades dele, em como eu poderia ajudá-lo a realmente superar essas coisas da vida. Porque elas são isso mesmo - coisas da vida. Da minha vida, da vida do Enzo.


Deixo desde já minhas expectativas e sonhos para ele mesmo inventá-las por conta própria. Farei das minhas, nuvens esvoaçantes que sopram no céu azul.


Vai, meu querido Biju-Enzo - a vida na escola é um pequeno jardim do mundo: experimente, plante e veja brotar as tantas sementes que já vieram com você quando nasceu!