17.9.16

Tudo ao mesmo tempo agora

Abro essa página para escrever sobre um sem número de coisas desordenadas. Tenho sentido essa dificuldade imensa de organizar a ideias no papel há tempos já. Talvez por isso parei de escrever aqui, e aí, num ciclo vicioso, a falta do escrever me desorganizou ainda mais. Outro ponto, eu não faço uma boa leitura há um bom tempo também. Sempre fragmentada em capítulos, textos soltos, dois parágrafos no máximo. Vida líquida - minha capacidade de silenciar minha rotina e me dedicar a duas coisas que gosto muito: ler e escrever.
Agora nas férias, me propus a ler textos acadêmicos, e também trouxe na mala o Amor Líquido, do Bauman. É aquela história - leitura difícil não deveria ser companhia pras férias; mas se não for nas férias, que horas vou ler um livro tão difícil?
Eu li, e doeu. Muitas tristes verdades confirmadas e revistas. Nunca ficou tão claro para mim o quanto me sinto deslocada, despertencida, ignorada no mundo.
Viajar sozinha é sempre uma exceção, mas Fortaleza foi gritante - vai ganhar o título de Tradição Família e Propriedade da capital mineira porque af, que triste: o machismo, a homofobia, o chovinismo, o patriarcalismo.
Se viajar sozinha já é um ponto fora da curva, ser mulher, solteira e quarentona, éter e classe média então. Em cada cenário, reafirmo minha abdução de outro planeta para a Terra. Quero o impossível na vida a dois, no trabalho, nos espaços comuns: as cidades. E recebo de volta comentários machistas de homens com alianças procurando as putas da praia; um golpe de Estado que hierarquiza relações que mal existem profissionalmente; me calo diante de afirmações da classe alta do quanto é importante o filho sair com um segurança particular dirigindo um carro importado blindado.
É, eu sou toda errada.
Não tenho mais convicções para compartilhar porque essa palavra foi abolida dos vocabulários dos grupos de whats up - inclusive o grupo da família, que era antes uma chuva de bons dias e boas noites, agora é só insulto e provocações políticas que ninguém lê de verdade mas se sente mal.
E nem contemporizar os ânimos eu quero mais. Não mais.
Estamos todos carentes.
E é uma carência sem fim, um poço seco e sem fundo, porque não importa a atenção, ela vem sempre tarde demais, pouca demais, de quem não importa demais.
É hora do meu embarque.
Volto pra casa mais insegura, com mais medo e mais tristezas que quando cheguei. O Brasil é grande, as pessoas estão somente sub-existindo, e vamos mudar de assunto porque o próximo programa de tv vai começar, chegou mensagem no whats up e uma foto pra subir no instagram. Depois a gente vê essa coisa de viver.

16.9.16

Hiato

Em menos de 24 horas estarei de volta em casa depois de 10 dias de sol e mar.
Há mais de dois anos, abandonei o espaço de escrever.
Hiatos na minha vida são muito comuns. Acho saudável sair das fases, mudar de rumos, inventar outras invenções. Escrever, nunca foi substituível para mim. Simplesmente, desisti de achar importante falar do que penso e sinto. 
Aliás, essa sensação de desimportância tem imperado na minha vida: em várias gradações e passando por muitas áreas, as coisa têm tido pouca importância. Um misto de desesperança com preguiça. 
Na praia, vejo crianças surfando claramente sem nenhum compromisso com o profissionalismo ou a prática de uma atividade física - estão ali, no mar, nas ondas, e de lá sairão famintos e cansados fim.
A cena de um mar salpicado de amadores divertidos me comove e peço a Iemenjá que olhe sobre todos nós - desses ingênuos moleques ratos de areia a seres como eu, que sentem tanto e fazem tão pouco. 
É hora de voltar. Resumir hiatos, chegar em casa. Sigo desistindo de dar importância a muitas coisas mas escrever ressurgiu assim, como os meninos surfistas depois de um caldo monumental do mar. Axé Iemanjá!