29.9.07

Doente e sã

Minha mãe está doente. Tosse, dores nos ossos.
Passou a semana assim. Levei-a ao médico.
Fez inúemeros exames.
Mas, não há nada de errado com o corpo.

Como eu, minha mãe está doente do coração.
Um coração partido de sonhos, de tantas mágoas
Poucos desafios, pouco amor - ou não aquele que ela quer

Eu sei.
Eu sou muito parecida com a minha mãe
Romantizo a vida, elevo aqueles que amo às alturas da perfeição
Até o dia que tudo desaba na minha frente - como agora
E fico assim, surpresa e desiludida

Mas, algo está diferente entre nós.
Eu não sou mais tão como ela.
E já errei tantas vezes que decidi que desse jeito não dá
Claro, estou sofrendo uma dor terrível
Da rejeição
Da dúvida
Do silêncio profundo

Só que estou lúcida
Sólida
Chorando, mas sem me sentir a vítima da situação
Sofrendo, mas esperando com fé na mudança
Do mês
Da lua
De opiniões

A lucidez que tenho
Me ampara e não me deixa cair no espiral
E me dá a certeza de que só eu posso viver essa dor
E só posso fazê-la parar ou continuar
Há horas que penso ser pior tanta sanidade
Porque antes, eu não me sentia tão responsável
Enquanto que agora,
Para cada gesto,
Me pergunto se é isso mesmo que quero
E logo mudo de idéia
Vou quieta pro meu canto,
Sofrer em paz e sozinha por mais um tempo

Pois aprendi
Que não há nada a se fazer
Se é o outro que precisa fazer algo

E nada é tão útil
Quanto esperar
Quando é só isso mesmo que se deve fazer

28.9.07

Sexta - feira

mais um fim de semana chegando
não sei se fico aliviada ou se me deixo levar pela angústia das horas à toa
e da tristeza que se instalou de vez

18.9.07

Santa

Num calor de verão, pegamos a pista errada e ao invés de seguirmos para Porto, paramos em Fátima.
Não quis desviar - seria um sinal?
O lugar é a típica atração turística - centenas de barraquinhas vendendo bugingangas católicas, milhares de pessoas transitando - a maioria, mulheres velhas.
Me decepcionei. Na minha idéia, seria assim, um campo verde, com uma arvorezinha, e uma capelinha com a imagem de Nossa Senhora de Fátima. Haveria silêncio e um brisa agradável.
Não.
Era uma praça enorme. No chão, um caminho desenhado com o piso em preto, contrastando com o branco do resto do lugar. Nada de grama, de árvore...e a capelinha da minha imaginação era uma gigantesca construção - seria uma igreja?
Ainda assim, me emocionei.
Aquelas pessoas ajoelhadas, segurando velas, terços, muletas.
Gente chorando, se arrastando...pensei no sofrimento de cada um, na dor de cada um.
Era o fim da missa e de longe vi uns braços erguendo a imagem - era Fátima.
Aí, entrei num transe. Segui pela multidão em diração à santa. No formigueiro de gente, fui espremida entre o vidro e o povo. Através do fumê, vi Nossa Senhora entrar na igreja - muitos cantavam. Eu só olhava pra estátua.
Notei que não sabia onde estava nem quanto tempo havia passado. Voltei em direção às barraquinhas, comprei os devidos souvenirs - terços - e voltei andando lentamente em direção ao carro. Em silêncio, caminhava na frente do Ethan, que desprezava tudo aquilo.
Foi nesse momento que senti uma mão sobre a minha cabeça. Aquela mão de vô que apóia a palma inteira sobre o topo da cabeça, meio com força, meio como uma afirmação - estou aqui.
Olhei assustada para trás. Ninguém além do Ethan lá longe, distráido. Olhei para cima. Céu puro, sem nuvens, sem vento.
Passei a mão pela minha cabeça, olhei para os tercinhos que segurava nas mãos e sorri.
Dias depois, as Torres Gêmeas cairiam, minha mãe faria uma extração de tumor do cérebro e minha vida giraria 180 graus.
Eu ficaria em surto, e rezaria anos a fio naquele tercinho prateado.
Sempre aparece um sinal quando peço pra Fátima
Sempre chega uma paz quando rezo pra Ela
Sempre sempre apelo pra Nossa Senhora de Fátima
Que me faz esperar às vezes, mas não deixa de por a mão sobre minha cabeça - estou aqui.

13.9.07

Ventos Uivantes

Passei só pra dar um oi.
Tem um tufão varrendo minha vida...
Já volto, tá?
Fiquem atentos para novas postagens...
tive outro sonho esquisito, outro momento epifânico (essa palavra existe?), outra crise de ansiedade...
enquanto isso, a seguir cenas do próximo encontro...

10.9.07

Gorila

atores:
gorila adulto - que na vida real eu só vi no zoológico do bronx
http://bronxzoo.com/bz-exhibits_and_attractions/bz_congogorillaforest
manoel - que na vida real trabalha como assistente de porteiro no prédio dos meus pais
eu
outros humanos

cenário:
típica casa americana numa vizinhança classe média

ação:
um grupo de pessoas e eu estamos preocupados com um gorila que entrou numa casa vazia. (o incrível é como aquele mamífero gigante conseguiu passar pela porta da frente!). Nós vemos que ele está tranquilo lá dentro, olhando pela janela (que parece mínima perto da cara do gorila), mas ainda assim estamos todos em alvoroço - é que o Manoel está dentro da casa, tomando conta do gorila, e todos achamos que o gorila alguma hora vai se chatear com aquela prisão. E aí, adeus Manoel.
Saio à procura de pessoas da UnB, biólogos, veterinários, qualquer um que possa administrar uma dose de sonífero e tirar o gorila dali.
Mas quando peço ajuda, a ajuda já foi dada: chego no local da prisão e o animal já está sedado, dormindo, e Manoel passa bem.

Eu sei, parece um sonho bobo. Mas o take dos olhos do gorila pelas janelas da casa é bem intenso. Quem já olhou nos olhos de um gorila sabe do que falo. Parece que estamos olhando dentro na nossa própria alma, já esquecida, de tão antiga que é.
Outro detalhe: a casa, apesar de normal, tinha paredes, mas não tinha. Essas coisas de sonho mesmo. O gorila podia ser visto de corpo inteiro por quem estava de fora. Mesmo com paredes de concreto.

6.9.07

Facada

Eu dormia no sofá da sala porque sabia que algo aconteceria naquela madrugada.
Deitei e fingi dormir.
Chegou a madrugada e ruídos na sala de estudos.
Meu pai estava no computador.
Ouvi passos, conversas, e como se fosse um sonho dentro do sonho:
Minha mãe mata meu pai. Um facada na barriga. Um som fraco, duro.
Ela vem me acordar.
Mas eu já estava de olhos abertos, só fingi abri-los.
Já era dia, e na sala, ela chora e me conta - matei teu pai.
Eu caio no chão de dor. E choro lágrimas que não escorrem.
Eu tenho ódio da minha mãe, eu não entendo o porquê, eu não sei o que fazer.
Meu pai está ao lado dela, ouvindo tudo.
Eu quero contar ao Bruno, mas sozinha.
Desço o túnel que cruza os Eixos, e lá no meio, um homem morto e seus dois assassinos.
Sei que me matarão então conto minha história para distraí-los.
- Minha mãe matou meu pai, uma facada no estômago. Estou indo contar para o meu irmão.
Pronto, saio do buraco, despisto os assassinos, chego ao prédio e só então me dou conta que meus pais estavam comigo o tempo todo.

Acordo com as batidas do meu coração e a vontade de chorar.
Meu telefone tocou às 8h. Era meu pai.

Tantos Ses

Se eu tivesse falado logo:
- olha, esse encanto de pessoa que eu sou, é só uma parte de mim
na verdade:
sou louca, ansiosa, impaciente
irritada,
pressiono, discuto, insisto
bato o pé, argumento
choro, choro, choro

sou louca, instável, insegura, ciumenta
mimada, carente, melancólica, triste

sou louca, teimosa, briguenta
planejo, prometo, cumpro até o fim

sou louca, controladora, manipuladora
ninfomaníaca, bêbada, gulosa

sou louca, preguiçosa, dorminhoca
insuportável, insaciável, patética

idiota, romântica, palhaça
não me atraso
não minto
não faço mais terapia

E seu tivesse falado tudo isso -
talvez fosse mais engraçado, mais leve, mais longo
talvez fosse o que foi
talvez fosse nada demais
talvez uma desculpa pra ganhar um beijo
talvez virasse solidão
a de agora,
só que há um ano atrás...
Faz diferença agora
Porque a dor dói mais
Se acaba depois que começou...

Paciência

Definitivamente, eu não sei esperar
Por coisas a acontecer
Por pessoas
O amor chegar (ou voltar)

Eu tenho um ritmo próprio, como todo mundo
E a angústia que sofro se páro para não fazer nada
Enquanto os outros me alcançam - ou se distanciam
É mais dolorido que a solidão do caminho - que pelo menos sei que é só meu

A ansiedade que crio por não ter respostas
Por não saber qual será o próximo passo
Me enche os olhos de lágrimas
E os sonhos de pesadelos

Hoje vai demorar um ano pra passar
Enquanto crio um labirinto de caminhos
De " e se... "
De raiva contida
De tristeza alagando o travesseiro
De um dor tão conhecida
Do fim do caminho

E da espera do fim do sentimento

5.9.07

É possível?

Um amor sereno?
Uma paixão que quando acaba, recomeça?
Traçar um sonho em passos do passado?
Seguir vivendo, mesmo adivinhando o pior?

Voltar atrás, começar do zero, como se nada tivesse acontecido?
Ter o mesmo corpo, a força, que já senti?

Ser reação e não ação?
Não esperar, mas ser esperada?
Sentir surpresa com fato corriqueiro?

Ganhar uma flor?
Um beijo quente num abraço longo
Uma noite inteira sem pressa de acordar?
Promessas de amor pra sempre?

3.9.07

A culpa é da ansiedade

Ânsia.
Ansiedade.
A arte de antecipar todo e qualquer cenário em prol de prever o pior
Sim porque nada sairá como sonhei.
E se sair, faço uma briga para estragar tudo e - viu?? - o pior aconteceu.

Disfarço bem, eu sei.
O mundo lá fora mal sabe o quanto penso um bilhão de idéias terríveis
Adivinhando tudo e todos.
E quando fico quieta, me escondo
É que tudo que previ, explodiu
Só que aí, eu não quero mais.
Mas é tarde
Há brigas, lágrimas, solidão e fim.

Se eu tivesse ao menos um dispositivo de segurança
Um marca passo que apita num sinal que a ansiedade vai dominar meus atos
Uma descarga elétrica que pinça meus lábios, me faz calar a boca
Me dá um susto, alguém!
Ou um abraço apertado, um beijo
Um sorriso maroto dizendo
Pode parar, bobinha. Tudo vai dar certo.
Mande a ansiedade embora dessa cuca-maluca.
E vamos viver a vida, uma coisa de cada vez.