25.9.13

finalmente um chuva fina começa a cair

e dirijo devagar de volta pra casa, as ruas já esvaziadas do trânsito.
espirro.
sorrio.
e do nada, me dá um saudade louca de você.
acho que você gosta de chuva, como eu.

acho que se eu penso em você, é porque você precisa que seja assim.

ou será possível?
tanto tempo de silêncio 
que eu nem me lembro mais porquê você brigou comigo com tanta força.
o que me lembro - e guardo - são as palavras, as afinidades, as distâncias ficando cada vez menores...

sei lá. me deu uma saudadona de você.
talvez por estar melhor da gripe
talvez por estar menos calor
talvez por simplesmente estar mais eu hoje 
e isso tem tudo a ver com você.

ou será impossível?
depois de tantas conversas não mais, nunca mais, um sinal seu...
o que tenho - e mantenho - são as letras conexas, promessas convexas, uma amizade ficando maior, até...

ainda posso?
será que devo?
o que espero?
o que mereço?

o que devoro
o que imploro
o que devolvo
o que pergunto
o que preciso:
chover

23.9.13

Ninguém

Coisas e pessoas são
A luz que sempre esteve ali
Agora aqui
Palavras em lugares certos
Sentidos feitos de ideias soltas

É isso:
penso
(é só isso)

Misto conforto e dúvida
sem queijo, por favor

Fato
Ato
É o que é
Até ser outra coisa
(mas ninguém vai dizer quando)

Espelho do outro
Me vejo e revejo
Na luz refratária 
Eu não me reconheço
(mas ninguém vai negar)

E não é nada disso
É isso
penso 
É só isso
(mas ninguém vai notar)

Volto pra casa com asco
Com nojo
Com choro
E café
(mas ninguém vai saber - de mim)

15.9.13

silêncio em setembro

Devia ter cigarras berrando por todo lado.
Ouvi uma solitária hoje no por do sol.
Começou alto, calou-se rápido.

lavei as verduras e pus todas na geladeira
(penso se você gosta de saladas frias em dias de calor)
sorrio pro vazio

Achei que sua ausência era por raiva
asco
ou só a mais pura chateação
Escrevi muitas cartas
Mas para onde mandar?

Passei a duvidar
Nem relia mais as antigas
(mas guardei todas com cuidado)
Mas não deixei virar amargo
E só plantei afeto

Para cada pensamento 
Um beijo e abraço
E sonho de sorte

Era sempre só um afago
Toda intenção que saiu de mim
E com surpresa aceito o presente
De ter você de volta assim!

Sim, seria uma alegria
ver de volta seu nome aqui
cruzo os dedos numa figa
e espero te ver com olhos
e te ouvir com ouvidos
e  te abraçar com a pele
com o peito batendo duro
derretendo todo medo
todo gelo
todo tudo
pra sentir você sorrir!

14.9.13

você pode ver o céu agora?


tá mesclado de
cinza-e-água
 
céu ruído
batido
tambor
 
barulho
de raio-luz
faísca que trepida o chão
 
pode agora?
vê o céu
assim:
inclina a cabeça pra trás
o peito quase encontra
com a nuvem!
 
chove, agora...
a água beija com graça
a boca
o nariz
escorre no pulmão
 
cheio de ar
transforma água
na lágrima
solta
mesclada
de chuva
 
caída
no chão

12.9.13

eu sei, eu sei


mas é em vão:
me explicar.

pois se tenho palavra certa pra tudo
é porque me afogo no que sou:
rabisco

e quando conto as histórias
nem elas são verdadeiras
porque invento uma fada 
e é dela 
as mil falas 
despejadas

e dos zil dizeres
conselhos
enfim 
o todo que já declamei 
(eu sei)
chegaram nos seus ouvidos
poros
lentes de ler coração

só que não é isso:
não é letra
palavra
frase
oração

é só meu um medo
tranquilo 
pacato
que busca mil jeitos
de calar meu afeto
e dá forças pro inquieto

fala
palavra
escrita
dita
é ruína
ruído

barulho surdo
que atrapalha
engana
engasga
(o)
um muito calor
um tudo sublime
que só aparece
no calar do 
seu-olho-no-meu-olho
gritando assim
(que lá no fundo)
eu sinto ouvir: 
{aqui eu estou aqui}

10.9.13

delírios de um breve fim do mundo


deitada em lençóis quentes
é sua
a voz que ressoa
 
suor escorre
de leve
e sai
o vestido azul
 
os dedos (meus) que pesam
lembram dos seus (me esperam?)
 
pelas dobras
das coxas
dos seios
do tempo parado
 
respiro
sonhando
de olhos abertos
no branco
no nada
e em tudo que separa
 
sorrio
no escuro
e nada
(a)parece
invisível
 
infinito
segredo:
você ser
somente
dentro, fora, longe, perto
de mim
semente

9.9.13

o dia


saí correndo pra casa
tomei banho bem calma
 
tirei cada um dos cabides
me enchi de suor e loucura

ouvi música alta
andei nua de saltos
liguei o secador bem alto
passei o batom açucarado
 
troquei de roupa de novo
 
e de novo e de novo 
guardei tudo no armário
fechei a porta do quarto

olhei o display azul
acendi o incenso laranja
fechei a gaveta branca

e minutos depois eu cheguei
onde, no peito, já estava
 
você desse jeito
e eu desse outro
no fim tudo o mesmo
 
nos olhos, alento
na boca, silêncio
 
no fundo
tudo o mesmo

é que no peito, já
há tempos
estava
você
 
todo instante junto, separado,
de espera e despedida,
de encontro e falas
de mãos e alegrias
inspiração, afeto, aqui agora 
dedico a você

7.9.13

de repente


e tudo ficou fácil:
os dias duros
as noites secas
 
estranhamente sutil
viver de pequenas certezas
que vêm do fundo do eu
transformam o sério em sorriso
viram do avesso os porquês
 
é tudo sim
rindo
e andando

e tudo dá coragem de bicho!
para olhar e seguir em frente
dá uma paz de monge
para colher os frutos com a calma que traz cada estação - de chuva e de sol

eu simplesmente sinto tudo assim
fácil, sublime, sutil
forte, certeiro, do fundo do coração
 

5.9.13

vamos, rápido! deixemos o tempo ser nosso aliado!


porque melhor aliado,
em uma história insólita
não há!

pois o tempo como amigo
nos dá também a calma
como a melhor das aias

que as horas que passam 
soprem os bons ventos
e a brisa que vem daí
entre leve no seu coração

tomara que os minutos daqui
cheguem aí com beijos meus 

e que todo segundo longe assim
sejam frames de um longa metragem
de você e de mim!

4.9.13

Janelas abertas


então,
só agora choveu
passou o dia quente e sem sol
de um sufocar tão insistente 
que cigarras berravam até estourar!

em vão
horas lentas
minutos lerdos
segundos sem fim

nem o escuro
o belo da lua
o quase vento
deixaram o ar mais leve (para entrar nos meus pulmões)

meu peito
estômago
olhos e boca
tudo letárgico
do calor
do suor
da falta que você me faz

e aí, choveu
- pouco
mas molhou
e calou os bichos
instigou os ventos
e das nuvens saíram
estrelas pequenas, distantes de mim
- longe
mas molhou
e nasceu uma lágrima
que brilhou meu rosto
pingou no vestido
desenhou no colo
um longo suspiro
doce 
- desses
difíceis 
de viver sem
- desses fáceis
de querer mais