30.6.09

Cheiros da memória

A seca se anuncia.
Saí do chuveiro e peguei o frasco novo de hidratante de Bergamota e Flor de Laranjeira (do Boticário).
Não consegui!
O cheiro suave e cítrico me lembrou coisas boas, mas idas.

A memória que dispara sem querer sempre me surpreende.
Especialmente quando o olfato é o tiro inicial.
Sou muito particular para aromas (não somos todos?).
Mais ainda para os de perfumes e cremes.
Nada doce, de morango, de rosa, de fruta, me agrada...os cítricos, amadeirados e secos geralmente são mais bem vindos ao meu nariz.

Enjôo fácil, demoro a escolher, acho tudo igual e guardo os cheiros com uma facilidade assustadora.

Para lembrar deles, dos cheiros no meu corpo, é só fechar os olhos:

Me lembro do perfume que usava nas festinhas da adolescência - uma lavanda suave que eu insistia em jogar dentro das gavetas...
um hidratante de vidro pesado e marrom com aromas doces de camomila, me traz o uniforme da escola, as sapatilhas de balé, os livros de inglês.
Tem também o perfume que trouxe da Europa e usei por dez anos seguidos, nunca enjoei da fragância, o Paloma Picasso de vidro preto...

Xampu da Payot
Neutrox nos dias de piscina
Coppertone FPS 15 no nariz - aquele que vinha num tubinho marrom chocolate
Baton da Avon
Pasta de dente Sensodyne - que era cor de rosa e tinha gosto de sal
Esmalte de todas cores, com aquele cheiro tão particular
Sundown para as férias de verão
...

Esses cheiros se amontoam em mim, na minha memória, no meu corpo.
Cheiros de lembranças, não dá pra carregar na pele, bem debaixo do nariz

Prefiro criar lembranças novas, a cada nova fase. Marcar cada memória vivida com um perfume único.

Não tem jeito: vou ter que doar meu hidratante novo, com cheiro bom de ano passado.
Vou buscar um novo aroma, para a seca que já veio pra ficar.

29.6.09

Perguntinhas difíceis...

VIRGO [August 23–September 22]
There's a better than even chance that you're about to embark on a Summer of Love. To improve your odds even more, meditate on the following questions:
1) What qualities do you look for in a lover that you would benefit from developing more fully in yourself?
Paciência, calma, menos impulsivivdade, menos ansiedade, rir da própria desgraça, tantas, tantas outras...
2) What do you think are your two biggest delusions about the way love works?
O amor resolve tudo
Quem ama, perdoa
3) Is there anything you can do to make yourself more lovable?
Tem, sim...mas alguém podia me ajudar com essa pergunta...
4) Is there anything you can do to be more loving?
Paciência, calma, serenidade...menos agonia, menos egoísmo...a lista é grande...
5) Are you willing to deal with the fact that any intimate relationship worth pursuing will inevitably evoke the most negative aspects of both partners—and require both partners to heal their oldest wounds?
Sim, sim, sim! Vamos abrir a geladeira e jogar os restos fora para caber coisas novas e apetitosas!

28.6.09

Despedidas

Eu não sei muito bem dizer as coisas importantes.
A minha intensidade atrapalha a capacidade de me expressar
Me atropelo nas minhas próprias pernas, ou melhor palavras.

Uma grande amiga se prepara para mudar de cidade, de país.
Para ela, o novo é um grande desafio.
Para mim, é uma alegria vê-la seguir o desejo da felicidade
Mas é também uma dor imensurável.
Porque vai ficar um buraco e nada será como antes.
Pior: nunca será o agora.

Há um misto de dor e prazer:
Na profundidade do sentimento, peco pelo excesso
do silêncio tão denso que nem chorar consigo:
Um abismo entre palavras e gestos.
Lamento ser ignorante, hermética, egoísta
Pensar só em mim,
E na falta que ela fará aqui.
...

Silencio tudo.
É que se falo, é sempre muito.

Tão difícil me despedir de quem não quero deixar de amar!
E como dizer que amo, se não consigo falar?
Daí eu fico muda,
sem calar o sofrer do peito!
Deculpa, querida amiga, pelos meus maus jeitos...
Eu sou assim, cheia de defeitos!
Mas amo você de um tanto
que entorta toda intenção
de dizer meu sentimento!

E apesar de eu não fazer qualquer sentido
(Não será por isso que você gosta de mim?)
Saiba que nos meus sonhos do futuro
Brasília-Washington será um pulo!

26.6.09

Michael e o fio de cabelo

Ganhei um fio de cabelo branco
Vi um cintilar no espelho do carro
E cheguei bem perto para ter certeza
- Ei! - Gritei - tenho um cabelo branco! Urru!
E o telefone tocou:

Michael Jackson morreu.
Ele devia ter cabelos brancos muitos.
Ele não devia sorrir pro espelho quando enxergava um cabelo branco nas têmporas.

É...eu acho que o Michael era bem diferente de mim, mesmo sendo do mesmo signo de virgem.

Ontem, o rei do pop morreu e me deixou aqui com um cabelo branco.
É uma coisa estranha um astro morrer assim, no exato dia do seu primeiro cabelo branco.
Ele esteve comigo no meu primeiro beijo.
E também no primeiro porre.
Marcou com seus passos de dança umas tantas épocas da minha vida sem cabelo branco...
Agora, eu já tenho um cabelo branco. E ele será assunto de muita conversa fiada, de chá das cinco, de botequim. E da mesa de jantar com meus filhos encarando o meu LP Thriller: - mãe, como usa isso?


Keep On With The Force Don't Stop
Don't Stop 'Til You Get Enough

namas pra você, Michael.

25.6.09

Snif

Mais que isso
Ana Carolina / Chico César

Eu não vou gostar de você porque sua cara é bonita
O amor é mais que isso
O amor talvez seja uma música que eu gostei e botei numa fita
Eu não vou gostar de você porque você acredita
O amor é mais que isso
O amor talvez seja uma coisa que até nem sei se precisa ser dita

Deixa de tolice, veja que eu estou aqui agora
inteiro, intenso, eterno, pronto pro momento e você cobra
Deixa de bobagem, é claro, certo e belo como eu quero
O corpo, a alma, a calma, o sonho, o gozo, a dor e agora pára

Será que é tão difícil aceitar o amor como é
E deixar que ele vá e nos leve pra todo lugar
Como aqui

Será melhor deixar essa nuvem passar
E você vai saber de onde vim, aonde vou
E que eu estou aqui

...

24.6.09

Sonetos de Camões

11.
Quem diz que Amor é falso ou enganoso,
ligeiro, ingrato, vão, desconhecido,
sem falta lhe terá bem merecido
que lhe seja cruel e rigoroso.

Amor é brando, é doce e é piedoso.
Quem o contrário diz não seja crido;
seja por cego e apaixonado tido,
e aos homens, e inda aos deuses, odidoso.

Se males faz Amor, em mi se vêm;
em mi mostrando todo o seu rigor,
ao mundo quis mostrar quanto podia.

Mas todas suas iras são de amor;
todos estes seus males são um bem,
que eu por todo outro bem não trocaria.

....

22.
Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minh´alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semidéia
que, como um acidente em seu sujeito,
assi com a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia;
o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples, busca a forma.

....

24.
Aquela triste e leda madrugada,
cheia toda de mágoa e de piedade,
enquanto houver no mundo saudade
quero que seja sempre celebrada.

Ela só, quando amena e marchetada
saía, dando ao mundo claridade,
viu apartar-se de uma outra vontade,
que nunca podrá ver-se apartada.

Ela só viu as lágrimas em fio
que, de uns e de outros olhos derivadas,
se acrescentaram em grande e largo rio.

Ela viu as palavras magoadas
que puderam tornar o fogo frio,
e dar descanso às almas condendas.


Estou apaixonada por poesia, finalmente!

23.6.09

16 de Março de 2009



Parti de Brasília e encontrei o Vi no aeroporto de São Paulo. Estamos animados e eufóricos. Falamos ao mesmo tempo, entrecortamos assuntos sérios com risadas leves.
Despachamos as malas - sendo que as dele irão direto para Istambul, enquanto eu serei obrigada a pegar a minha mochila em Londres.
Jantamos Mac Donald's no saguão e já entramos para o check in.
De São Paulo a Londres, jantei, vi um filminho bobo e dormi.
Sinto sede no avião. É sempre assim. Mas um misto de medo, ansiedade e cansaço vencem. Durmo as longas horas até a aterrisagem.
Em Londres, o mais demorado é passar pela segurança. Filas enormes e silenciosas. Eu só faço o que mandam e respondam o que perguntam. Passamos pela fila do passaporte e pela segurança do próximo check in. Tudo fluido e sem maiores.
Mas, estou em Londres, difícil não pensar que a três meses, embarcava daqui para Brasília com o coração cheio!
Enfim, dentro de um outro avião, rumo a Istambul.
Mais sede, mais sono e medo. E mais uma vez, o sono ganha de todos.

Exaustos, aterrisamos em Istambul - Turquia.
Me vem uma alegria diferente de todas - há anos não vou a um lugar inédito, que nunca pisei antes.
O aeroporto está lotado, é bem sinalizado e tem vozes de todos os lugares: ouço francês e alemão com certeza, mas as outras tantas línguas orientais estão ali também - talvez árabe, hebraico, turco, grego...impossível dizer!

Encontramos nosso motorista de taxi e rapidamente chegamos a cidade em si - ruínas de muros Otomanos pontuam aqui e ali a estrada que chega a Antiga Constantinopla.
Me emociono profundamente, e não sei explicar exatamente porquê.

O Hotel fica bem atrás da Mesquita Azul, e como é noite, ela está particularmente bela: uma luz amarelada ilumina tudo. O clima está ameno, há um vento suave e frio.
No quarto, despejamos as mochilas, tomamos um banho rápido e seguimos para o nosso primeiro jantar, logo na esquina.
A melhor sopa de lentilhas que já experimentei vem seguida de uma espécie de manjar do coco muito suave, com uma bola de sorvete. Chá de hortelã para tudo. Tudo é bom. Tudo é perfeito.
Estou imensamente feliz.

22.6.09

Buzina

Sei que chorar não adianta...mas eu tenho MEDO. De tudo.

e aí, as lágrimas escorrem meio sem querer...eu juro, é sempre sem querer...

Fecho os olhos com força e em silêncio desejo que tudo acabe. Logo.
Sorte a minha: hoje é dia de escrever!

21.6.09

Ainda precisamos do Ballet Clássico?

Um tanto perturbada com um espetáculo de academia de Ballet, voltei pra casa me perguntando:
A mulher do século 21 ainda precisa do ballet clássico?

Eu não fui bailarina. Dancei por anos, mas sempre na dança contemporânea.
E sem entrar no mérito técnico de cada modalidade, quero estressar o seguinte:
Eu não fui bailarina porque aos 15 anos, a professora me chamou de gordinha
- e que você não tem o corpo nem o jeito pra dançar ballet. Melhor desistir.
Além de revoltada até hoje com essa frase latejando na cabeça, quero também falar alto o que pensei então:
Eu sou a brasileira mais comum de que se tem notícia
Baixinha
Cheinha (gordinha, não!)
Perna grossa
Peito
Bunda
Nada demais, mas ainda bem! nada de menos, também!

E como assim, eu não tenho corpo pro ballet?
Sorry, dear - é o Ballet que não tem formas pra mim!

Inventado na gélida e branca Rússia e disseminado pela cultura chic da França
Por que diabos continuamos a repercutir esse sistema de formas e valores a décadas inventados pra moças que não tem nada a ver com a gente?
E sério, pra que?

As mulheres já são bombardeadas com imagens românticas, com mesuras de educação e postura
E se você é menina e quer continuar assim, tem que:
Tem que vestir tchu tchu rosa
Prender esse cabelo desgrenhado num coque de vovó
Cobrir as pernas roliças e bronzeadas com uma meia branca
Andar empinada
Ser magra
Branca
Ai, quem sabe, como em toda história de Ballet -
O príncipe vem te buscar
A prima ballerina sempre tem par
A roupa mais bonita vai ser sua
E você será feliz para sempre!

Não há paralelo na vida dos meninos - que são estimulados a jogar bola, ter um time, serem amigos
As meninas aprendem cedo no ballet que:
se não forem melhor que as outras, estarão sempre no fundo do palco (portanto, não seja amiga das suas colegas)
se você explicar e ajudar a amiga, leva bronca da professora (porque ficar calada na aula de ballet é sinal de educação e respeito)
se você não se destacar, vai passar a vida dançando de pano de fundo pra solista (então é melhor ser a solista e isso não interessa se significa passar fome, ser a odiada da turma, passar dias e noites na academia)

Não sei qual é a solução.
Mas definitivamente, as meninas do século 21 não precisam do ballet clássico!
Com suas regras e linhas militares
Suas normas e éticas do séculos passados

Mamães, sabotem a ordem!
Tirem suas filhas do ballet
Que façam samba, flamenco, dança do ventre, sapateado!
Que dancem sem forma, sem jeito, sem solos!
Que dancem em rodas risonhas
Sempre
Com suas curvas brasileiras,
E cabeleiras ao vento
Com suas peles coloridas pelo mundo todo
De mão dadas, com amigas, companheiras
Mulheres inteiras!

Ps - pesquisando sobre NORMA LILIA, olhem só o que achei

18.6.09

Janela da alma

Hoje, eu juro, viram minha alma!

Fizeram lágrimas cair,
Meus olhos tão abertos
Um luz vermelha
Um sopro
Um arranhão

Viram minha alma!

A janela escancarada
Sem cortinas, nem nada
Olharam bem lá dentro
Espelhos, lentes num flash

Sem luz
Um escuro total
No silêncio ardido
Arranhado
Um gota de gosto ruim

Leram minha alma por inteiro!

Na pupila agigantada
Entrando toda luz
Branca, fosca,
Faíscas rubis

Ah, a dor da alma!

Começa pela testa
Cílios
Lágrimas borradas
Rímel corrido
Pingo no chão

Hoje, tenho certeza,
Eles leram a minha alma!

Pelo olho escuro no aparelho
Pelo medo escondido do lábio sério
Pelo nó do estômago vazio

Anotaram, revisaram, escolheram
A minha alma é boa!

Pode fechar as janelas
É hora de sonhar com o depois
Com a vida em cor
Nitidez e Brilho
E contraste e ...
Som!

Já notaram que se ouve melhor quando se enxerga bem?
Eu sei!

As janelas da minha alma perderão contornos
A luz vai rasgar as córneas
(As vidraças da janela)

Vou ficar descortinada
Alma aberta
Vista vívida
Vinte Vinte
Viva viva!

16.6.09

Insone

Começo uma longa história
De romance com as palavras, com o suor e o empenho

Hoje, é o primeiro dia de inspiração
Criar para ser lida, relida
Aprender a virar outro alguém

Amanhã, espero acordar inteira
Cheia de ideias e desejos
Medo e anseio

Agora, vou ficar nua
Vestida só de palavras
Verdades e dúvidas

(e quase sem querer, um beijo pro Pedro)

14.6.09

Narguilé e Espumantes

Num surto de inteligência emocional, convidei amigos para passar rápido o Dia dos Namorados.
Inauguramos o narguilé com diversos tabacos
Bebemos variados espumantes e bons vinhos

Mas, o principal - rimos.
Rimos muito
De tudo e de todos
Rimos de nós mesmos
Dos outros
Rimos dos assuntos estúpidos que se emendaram até muito tarde na madrugada
Rimos de chorar
Rimos alto, em uníssono, até doer a barriga!

Acordei muito tarde,
Com a cabeça doendo muito
Um sorriso muito grande no rosto. (e uns arranhões aqui e ali...)
A casa deliciosamente bagunçada
Pilhas de louças
Cheiro de café e tabaco de baunilha

E um dia todo de preguiça pela frente





Ter amigos no dia dos namorados é tudo...

12.6.09

12

Pronto.
Chegou.
Feliz Dia dos Namorados.

Já dá pra passar pra outro assunto, por favor?
Obrigada.

11.6.09

O vestido de todas as cores

Numa casa muito ampla, de madeira escura e poucos móveis,
se vê da varanda larga, o imenso mar esverdeado.
É que choveu, e a água turva balança os barquinhos ancorados no pé do morro.

Olho lá embaixo e vejo meu irmão correndo em direção ao mar
Rindo e acenando, ele alcança o pesqueiro e pula rápido pra dentro da embarcação
Sorrio de volta e olho pro horizonte.
Vem vindo mais chuva, é o vento que anuncia,
estriando a água verde e soprando a brisa fria pra dentro da casa.

Sem sapatos, abaixo o olhar e vejo o vestido:
De seda pura, leve, solto no corpo, a barra batendo de leve nos meus joelhos...ele tem todas as cores, mais ou menos misturadas, mais ou menos distintas!

Atravesso a sala da casa até a outra varanda.
Meu pai joga água no chão, nas janelas, em todo lugar
Distraída, fico ali, olhando a cena até que a mangueira é mirada para mim!
Rindo e correndo, fujo da água que molha o vestido todo, fazendo-o colar no meu corpo
e derretendo as cores todas, lavando a seda até voltar a ser branca, translúcida e fria.

Num misto de transtorno e alegria, tiro o vestido molhado
Saio nua na varanda pro mar.
Sem roupa, sem cor, só o vento e o mar.
Seco as lágrimas dos olhos com um novo sorriso:
Vem vindo mais chuva.
É meu corpo que anuncia.

10.6.09

Usina

O Governo abriu uma gincana e o prêmio era um camarote na avenida.
Mariana, Bombom, Marcia, Cris, eu formamos uma equipe para disputar essa chance.
Já em São Paulo, chegamos numa Usina de Água - o engenheiro nos explicou que precisaríamos subir e conhecer o processo todo lá de dentro mesmo.
Olhando de baixo, o volume de água que se via saindo por tubos, ventiladores e esguichos era imenso.

Um tanto desengonçadas, subindo e descendo escadas de metal estreitas e trêmulas, chegamos lá em cima, dentro da usina, onde havia muitos trabalhadores, homens na maioria e vestidos de branco.
Conversamos com um, com outro, eu parei no balcão da lanchonete e pedi uma soda limonada, mas quando olhei pro pé da escada, lá estava uma latinha com canudinho e tudo! Peguei aquela mesmo, suguei o canudo: estava quente e sem gás. Devolvi para o atendente e ele me afirmou que todas as bebidas estavam assim.
Desci uma escadaria estreita, branca e metalizada e lá embaixo, sujei toda minha calça branca com a lama muito vermelha do chão.

Acordei com uma vontade louca de fazer xixi.

9.6.09

Feminista solteira ataca

Eu sei que é totalmente desproporcional
Sei que nem vale a pena,
Que eu falei mas entrou por aqui e saiu por ali

Mas, recebi um destes emails spam para uma festa de solteiros no dia dos namorados.
O lugar, nunca fui. Mas tenho lá meus preconceitos, como toda boa moça burguesa.
E então, já fui lendo com nariz torcido.

Até chegar ao final do cyber-flyer:
Mulher grátis até meia noite com drink de boas vindas
Homem 25 reais até uma da manhã.
Nome na lista - email tals.

Mandei um email
tipo, amigo, nós estamos no século 21, as mulheres trabalham, ganham dinheiro e juro que não se importam em pagar pra ir a uma festa legal. Aliás, nós achamos bem melhor do que não pagar e chegar lá só pra ver mulheres que entraram grátis.
Não sei se vocês organizam festas a muito tempo, mas isso, tipo é ranço da década de 80, quando a população homem/mulher era bem igual. Não é mais, tá? Há mais mulheres (e solteiras, nem se fala) que homens.
Esse chamariz machista, sei lá, tô achando que não vai dar mulher nenhuma nessa festa.
Eu por exemplo, não vou. E vou recomendar pra muitas outras não irem também (coisa que não será muito difícil de convencer)
Olha, eu sou forte na balada (pelo menos tenho tentado) - fica tranquilo, pode cobrar 20 reais de todo mundo: os amarelos, os homossexuais, as gordas, todo mundo paga igual - e garanto uma festa bem mais incrível. Experimenta.

Outra - quando a festa for de solteiros, não precisa colocar no flyer uma ilustração de um homem com três mulheres agachadas nos pés dele. Porque, na boa, a gente não curte mais essa parada de achar bonito ficar no pé dos caras. Aliás, faz tempo que isso saiu de moda...melhor, isso não esteve na moda não, filho, nem no século passado, tá?

Se eu fosse você, seguiria essas dicas, mas de qualquer modo, boa festa de solteiros aí.
Eu vou abrir um vinho sozinha e ler meu livro de Sonetos do Camões.

7.6.09

Domingo

Hoje está um lindo dia de inverno chegando.
Um céu turquesa, nuvens fofas e brancas
Uma claridade brasiliense já lacrimeja os olhos.

Cedo, fui a uma reunião no Templo - e estou cada dia mais alegre de passar minhas horas lá, como voluntária -
E saí correndo para o almoço em família - morrendo de saudades do meu sobrinho-bijú
Tudo é tão perfeito nessa vida que esse meu contentamento só poderia ser abalado por uma despedida...
Mais uma, entre tantas que vieram e ainda virão.

É incrível como realmente não temos controle de nada. Mesmo quando damos o melhor de nós.

Era um domingo para dar tudo certo.
E agora, não é mais.

6.6.09

O Lanterninha do Cinema

Comecei a ir ao cinema cedo.

Meu primeiro filme foi "A Bela Adormecida" de Walt Disney no cine Karim Criança do Conjunto Nacional de Brasília.

O cinema era fantástico - primeiro porque só passava filmes infantis.
E também porque tinha uma cortina de veludo roxo na entrada, digna de castelos mal-assombrados.

Fomos todos com a tia Gláucia - em dois Fuscas táxis . Meu irmão, o mais novo da turma, mentiu a idade para entrar: o filme era proibido para menores de 6 anos. Ele tinha 4. E eu, seis cravados.

Logo depois do corredor de cortina roxa, tinha o balcão de doces e pipocas - pedi um caramelo de leite Nestlé (daquelas quadradinhas boas de arrancar dentes moles) - sabor chocolate. E tenho uma sensação de o balcão ser assim, da altura da gente, as crianças que frequentavam o local...

Naquela tarde, tudo foi especial. O som, o cheiro, as cadeiras, a penumbra dos corredores da sala de exibição.
O filme foi lindo também.
Mas meu irmão teve medo da bruxa, começou a chorar. Levei-o lá fora até o corredor de cortina roxa. Minha tia chegou e sentou-se com ele nos banquinhos.
E eu, voltei sozinha para sala de cinema. Me assustei com a súbita escuridão. Era bem na hora de uma cena de medo na tela: o dragão desafiava o príncipe a chegar até o castelo! Quem ganharia a terrível batalha?
Recuei um pouco, abri bem os olhos. Mas a luz demorava a entrar pela pupila.

E eis que surge o Lanterninha. Um moço lindo lindo, de uniforme preto com um chapéuzinho na cabeça. Eu não soube que era comigo até ele se abaixar e pegar na minha mão - eu tenho uma lanterna aqui comigo, posso levar você para o seu lugar.
Eu sorri suavemente, olhando nos olhos castanhos por cima da lanterna que ele fazia piscar. Ofereci minha mão como sim e, muito atenta, fui seguindo a luz dele, da lanterna: corredor, degrau, degrau, degrau. Achei! É aqui!
Ele deixou minha mão se soltar e balançou a luz da lanterna rapidinho, um, dois, um, dois, como que dando tchau.
Sorri grande.
Tirei os caramelos de chocolate do bolso da calça e devorei todos torcendo para o príncipe ganhar na luta contra o dragão.
Quando o filme acabou e a Bela Adormecida tinha tido um final feliz, a luz da sala se acendeu. Procurei o Lanterninha por todo lugar. Mas, com luz acesa, Lanterninhas perdem sua utilidade...

Na multidão de crianças, ele sumiu do cinema. Só ficou na minha memória escura de cinemas infantis e cheiro de caramelos na boca.

Então é assim: quando você está com medo do filme e do escuro, aparece um Lanterninha pra te apontar o caminho e te levar de volta pro seu lugar...

Um beijo Lanterninha, você bem sabe quem você é...

5.6.09

Verde de inveja

Fui ver a Mariana dançar quadrilha na festa junina do Carmem Salles.
Ela estava uma fofura, o vestido combinando com os cabelos laranja, amarrados em fitas cintilantes.

Muito barulho, muita cor, um cheiro delicioso de quentão.
O pátio do colégio não é muito grande para o vai e vém de pais, avós, filhos

Olhei para todos os lados.
E só o que senti foi inveja.
Daquelas brabas, mesmo.
Menininhas lindas, com mães até bem mais novas que eu!
Pais bonitões, de mãos dadas com filhos, posando pra fotos, na fila da canjica

As tantas cores das bandeirolas, dos vestidinhos,
Menininhos, sorridentes com barbichas de mentira
Barraquinhas de brincadeiras, comidas

Acho que só eu estava mal
Mas - ó - disfarço suuper bem
Certeza absoluta - ninguém notou!
E não é pra menos: foi só Marianinha sair da pista de dança que fugi sorrateiramente
Verde de inveja, saí dizendo um tchauzinho de longe
Fugi, mas não dá pra enganar
Aquele era exatamente o lugar que eu mais gostaria de pertencer...

2.6.09

Elogios, por favor!

Subitamente, ando recebendo elogios.
De todas frentes, de todos os estilos.
Só agora me dou conta do quanto de tempo fico sem ouvir um elogio.
E o pior, sem fazer um. Unzinho sequer.

É estranho porque admiro muito as pessoas ao meu redor.
Mas não penso essas admirações em voz alta.
Sei lá, fico esperando a hora certa...

Talvez o mesmo se passe com outros, que jamais me elogiam.
Poxa, nem sequer a cor do batom?

Tenho medo de fazer um elogio.
Porque não quero o mesmo de volta,
e isso poderia constranger o outro - pensar que eu quero algo em troca -
e se ver forçado a mentir um elogio para mim
isso sim, seria péssimo!

Tenho medo da força das palavras, da entonação, do jeito que eu vou olhar nos olhos pra falar
Tenho medo de mim
E dos pensamentos que moram em mim
Até os bons pensamentos
- que camisa linda
- seu cabelo tá cheiroso
- você é tão carinhosa com a sua filha
A lista de elogios não termina

Mas me calo. Me envergonho de gostar do próximo e deixá-lo saber disso?
Do meu interesse
Da minha admiração
Encanto?

O fato é esse - eu quase nunca elogio. Ninguém.

E só agora que começo a sentir falta de elogios
Vejo o quanto perpetuo a roda gigante dessa mudez:
vou começar a elogiar e pronto!
Vou instituir o dia do elogio -
data em que todas as pessoas deverão elogiar todos ao redor
- mas não vale mentir -

É isso!
O dia do elogio!
Leitores! Vamos votar a data ideal!
Um dia no inverno quando estamos todos mais calados e intrspectos?
Um dia no verão quando o novo ano ainda é cheio de energia?
Depois da Páscoa?
Bem no meio do ano?
E que tal, todos os dias?

Para começar, vou começar me elogiando -
vou ali no espelho olhar nos meus olhos e sorrir um elogio bem lindo pra mim!