31.1.08

O mistério da vitamina C

Num surto de desespero, parei numa farmácia.
Um frasco de Vitamina C importada (porque as laranjas gringas devem ser mais vitaminadas...), um vidro de Resfenol - o pior veneno contra gripe e contra seu próprio corpo - e umas pastilhas de garganta, que no mínimo vão alegrar meu hálito.
A conta deu 77 reais e pouco. Crédito, por favor. Assina, pega a sacolinha, desce na farmácia homeopática.
Fiz a encomenda do tal sabonete líquido para pele oleosa há mais de um mês, aí, como não fui buscar, eles sei lá, não acharam meu sabonete. Daí me deram um genérico mesmo, tudo bem. Não precisa de sacolinha, coloquei na sacola dos alopatas.
Jogo o saquinho na bolsa, entro no carro, vou pra casa, saio do carro, entro em casa.
Tiro tudo da bolsa, sacolinha, chaves, carteira, tudo mesmo.
Tomo o Resfenol, deito, durmo, acordo, cadê a vitamina C?
Não tá no bolsa, nem no saquinho, nem no banheiro, nem nada.
Volto na farmácia - esqueci no balcão?
- Não senhora, não tá aqui. Mas vou ligar pro vendedor e amanhã eu retorno pra senhora.
As vitaminas C gringas.
Nem notícia delas.
Custaram 55 reais.
E continuo gripada.

30.1.08

Novidade

Acabei de "descobrir" que as férias que eu havia pedido para abril se transformaram em março.
Agora, todos meus planos foram por água abaixo.
Folga mais cedo, mais tarde começará meu ano pra valer!
A minha idéia original era passar um mês inteiro fora de Brasília.
Iria pro Rio, São Paulo e depois, praia.
Agora, no meio das chuvas de verão, preciso repensar tudo.
Menos mal que fiquei sabendo agora. Pelo menos tenho esse mês para me reorganizar...
Enfim, coisas de empregada terceirizada de empresa prestadora de serviço para órgão público...ô canseira!

29.1.08

Monge

Estava deitada com o peito nú.
Curvo o pescoço para a frente, vejo meu peito, meu corpo de ponta-cabeça.
O rosto do Monge entra no meu campo de visão.
Olho de novo para baixo e vejo meu peito sendo aberto
um fino bisturi rasga minha pele, há pouco sangue.

Ele, literalmente, abriu meu coração.

28.1.08

Compaixão

Das coisas intensas, o difícil é tirar a essência e por em letras.
O Mundo Humano é o da incomunicalidade.
A palavra traduz, mas nem sempre esclarece.
É um meio, mas nunca a definição.
Apesar de o meu exercício aqui ter sido constante e diversas direções
Me acho no limite do possível ao tentar dizer em escrito
As tantas sensações que tive nas últimas 72 horas
Mas, aqui vão algumas coisas soltas:

quanto mais caminho, mais entendo que o fim não interessa
e mais - o meu caminho é somente o caminhar -
porque a minha expectativa do fim sempre frustra a experiência do chegar

deixar outro estar próximo é meu papel na iluminação dele
muitas vezes, tudo que o outro precisa é exercitar a ajuda, a mão amiga
e eu posso ser o instrumento desse exercício
simplesmente dizendo sim

as pessoas que me surpreendem tendem a ganhar mais rápido minha admiração

a minha ignorância é um portal para aprender a amar

25.1.08

Meditação

Hoje vou para o retiro budista.
Está chovendo e o tempo está bem nublado.
Estou animada com a idéia de me ausentar por esses dias.
Mesmo que tudo volte a ser igual na segunda - e sei que será o caso - estarei mais centrada, e com novas histórias pra contar.
Levo um caderninho e uma caneta.
Se conseguir, materializo algo aqui no blog no domingo à noite.

24.1.08

Gripe

dor no corpo,
dor de garganta,
dor de cabeça,
nariz entupido
sede,
falta de apetite,
cansaço
moleza
preguiça
chatice
irritação
...
tenho certeza que se eu tivesse na praia, não estava doente!

23.1.08

Queimada!

No pátio largo do colégio, as meninas brincam de queimada - um jogo de bola em que, quem ganha é o time que queima todo o time oponente: a bola bate no jogador e cai no chão.
Agora no jogo, resta uma jogadora de cada lado.
As melhores, as rivais. Então, num súbito gesto, a menina menor estica o braço bem de lado, para ser pega pela bola que vem com toda velocidade.
Queimada! Fim do jogo.
O braço com um vergão vermelho-fogo no sol do meio da manhã.
A menina alcança a bola que quica até o meio-fio. Volta com um meio sorriso, joga a bola para a vencedora e corre para o banheiro.
No frescor dos azulejos, o espelho à altura das meninas de 8 anos, a garota abre a torneira, tira o elástico do cabelo liso e comprido, todo desgrenhado. Olha as bochechas rosadas no espelho. Abaixa a cabeça e molha o rosto, a nuca, o braço marcado da bola.
Na volta do rosto ao espelho, vê ali, atrás da imagem de menina, uma moça. Os mesmos olhos castanhos. Os mesmos cabelos lisos.
- Perdeu o jogo? - a moça pergunta olhando a menina pelo espelho.
- Não perdi, entreguei - responde rápido a garota irritada.
A moça pega os cabelos da menina e entrelaça nas mãos firmes. Lentamente, reconstrói o rabo de cavalo alto, escovando com os dedos todos os fios desde a testa até a nuca.
- Mas entregou com medo de perder?
- Não. Com medo de não saber se ia ganhar.
A moça sorri. O penteado está pronto. Perfeito. Ela vira a menina, e olha dentro dos pequenos olhos castanhos.
- Se você entregar o jogo sempre, nunca vai saber se poderia ganhar.
- Se eu não jogar do meu jeito, prefiro não jogar.
- Se você não jogar, nunca vai ganhar.
Silêncio.
A menina abaixa os olhos e pensa numa solução. Levanta o queixo quase sorrindo:
- Se eu não jogar do meu jeito, é mais difícil de ganhar.
- Você não sabe disso porque você nunca experimentou.
- Eu não quero experimentar.
- Se você não experimentar, nunca vai saber se poderia ganhar.
Outro silêncio.
A menina abraça o pescoço da moça.
- Se eu jogar de novo e não me entregar e perder, você ainda vai gostar de mim?
- Vou.
- E você vai assistir o jogo mesmo assim?
- Do começo ao fim. - dá um beijo leve na marca rosada na pele do braço. - Agora, diga pra mim? - vou experimentar outro jeito de jogar, se eu perder ou se eu ganhar.
- Tá. Eu vou.
Dá um beijo rápido na bochecha da moça. Sai correndo do banheiro.
Fica a moça. O espelho reflete na altura do coração.

22.1.08

Escorregão

Outro dia, chegando no trabalho debaixo de um chuva fininha,
Desci o meio-fio alto e ao pisar no asfalto sujo de óleo, escorreguei.

Torci o pé, deu aquela dor ardida, mas não caí.
Fui rápida e me recompus a tempo de não chegar ao chão com bolsa, casaco, tudo.
Meus reflexos estão bons mas é incrível - caio sempre no tornozelo machucado.

A culpa toda é de um buraco que caí, quando eu tinha uns dezoito anos. Rompii alguns ligamentos do tornozelo esquerdo, andei de muletas por uns dias, fiquei de saco cheio, tirei a tala e pronto.
Nunca mais curou.

De lá pra cá, todas as quedas são em cima do tornozelo fraco, que incha, dói à beça e parece se recuperar pouco. Não tenho paciência pra pomadas, ataduras, bolsa de água quente, gelo, ou sei lá mais ou que.

Essa última torção me doeu por um tempinho. A dor passou, mas o tornozelo continua frágil. E quando chove, sinto um estalinho lá dentro, como uma lembrança de todas as dores que já passei.

Será assim com todas as outras partes do corpo?

20.1.08

Pedido

Me acha na multidão
Me enche de risadas
Me liga
Me paga um cinema
Me traz flores
Me deseja bons sonhos
Me manda mensagens
Me pergunta se eu estou bem
Me faz um carinho
Me deixa com saudades
Me tira da rotina
Me busca do trabalho
Me encontra no meio do caminho
Me enche de vontades
Me abraça com fissura
Me leva com você
E não me deixa nunca?

19.1.08

A fantástica loja escandinávia

Estávamos todos a passeio, no meio daquela gente branca de olhos azuis.
O ruído das vozes em outra língua - sensação familiar nos meus sonhos - mas entre nós, falávamos o bom português.
A loje era imensa. Uma mistura de depósito com loja de departamentos. Tudo meio desorganizado - logo na Escandinávia! - tinha a desculpa de estar em liquidação.
Me apaixonei perdidamente por inúmeros sapatos de plástico, no melhor estilo Melissa - que vinham também em borracha mole, siliconada, com cores incríveis! Verde limão, vermelho cereja, roxo batata. Os preços traduzidos para o real eram tentadores e o melhor de tudo - todos eram meu número!
Desci as escadas para o outro nível da loja, agora com roupas e artigos de casa - tudo numa grande pilha, pensei: - esses gringos devem me achar uma idiota - primeiro dia de viagem e gastando tudo na primeira loja - continuo descendo as escadas para o subsolo e me dou conta que a escada acaba. Assim do nada, não tem chão, não tem parede. Uma vendedora lá embaixo (eu não vejo o chão, só o rosto dela no meio do escuro) me avisa que é melhor eu subir. Fala e puxa o corrimão de um jeito que ele se encolhe todo, some da minha mão e fica camuflado no teto!
No andar seguinte, chego a um grande lobby em madeira escura e envernizada, com colagens lindíssimas pelas paredes. É um bar, tem pessoas conversando e tomando drinks. É o espaço mais amplo e bonito da loja. Hora de acordar.

18.1.08

Afinidades

A afinidade não é o mais brilhante, mas o mais sutil,
delicado e penetrante dos sentimentos.
E o mais independente.
Não importa o tempo, a ausência, os adiamentos,
as distâncias, as impossibilidades.
Quando há afinidade, qualquer reencontro
retoma a relação, o diálogo, a conversa, o afeto
no exato ponto em que foi interrompido.

Afinidade é não haver tempo mediando a vida.
É uma vitória do adivinhado sobre o real.
Do subjetivo para o objetivo.
Do permanente sobre o passageiro.
Do básico sobre o superficial.

Ter afinidade é muito raro.
Mas quando existe não precisa de códigos
verbais para se manifestar.
Existia antes do conhecimento,
irradia durante e permanece depois que
as pessoas deixaram de estar juntas.
O que você tem dificuldade de expressar
a um não afim, sai simples e claro diante
de alguém com quem você tem afinidade.

Afinidade é ficar longe pensando parecido a
respeito dos mesmos fatos que impressionam comovem ou mobilizam.
É ficar conversando sem trocar palavras.
É receber o que vem do outro com aceitação anterior ao entendimento

Afinidade é sentir com. Nem sentir contra,
nem sentir para, nem sentir por, nem sentir pelo.
Quanta gente ama loucamente,
mas sente contra o ser amado.
Quantos amam e sentem para o ser amado,
não para eles próprios.

Sentir com é não ter necessidade de explicar o que está sentindo.
É olhar e perceber.
É mais calar do que falar, ou, quando falar,
jamais explicar: apenas afirmar.

Afinidade é jamais sentir por.
Quem sente por, confunde afinidade com masoquismo.
Mas quem sente com, avalia sem se contaminar.
Compreende sem ocupar o lugar do outro.
Aceita para poder questionar.
Quem não tem afinidade, questiona por não aceitar.

Afinidade é ter perdas semelhantes e iguais esperanças.
É conversar no silêncio, tanto das possibilidades exercidas,
quanto das impossibilidades vividas.

Afinidade é retomar a relação no ponto em que
parou sem lamentar o tempo de separação.
Porque tempo e separação nunca existiram.
Foram apenas oportunidades dadas (tiradas) pela vida,
para que a maturação comum pudesse se dar.
E para que cada pessoa pudesse e possa ser,
cada vez mais a expressão do outro sob a
forma ampliada do eu individual aprimorado.


Artur da Távola - entregue pelo Paulo para mim.

(Dedico esse poema aos novos e velhos amigos que fizeram parte da minha vida nesses últimos tempos difíceis. Desde os comentários aqui até as almofadas da minha casa, super obrigada por tudo! Amo nossas afinidades! Vai também para meu irmão, que me aguenta firme sempre e para todos os seres que amo amo amo sem parar!)

17.1.08

Denguinho



Enzo, tudo em você é sereno e me acalma. Amo você, Biju!
(faltando seis dias para seu sexto mês! Vivas!)

Edmundo

Querida Júlix:

Hoje foi seu aniversário de oito anos e seus pais deixaram você aqui em Brasília para comemorar.
Sua festa foi de Branca de Neve e todas as suas tias ajudaram na preparação.
Tinha todos os salgadinhos da tia Angélica e um bolo de Suflair com brigadeiros da vovó Ignez.
Todos nós fomos e todos lhe deram presentes legais.
Mas o que você mais gostou, foi do pinto que você roubou da chácara da sua avó Mariz.
O Edmundo, que você batizou assim, era um pinto malhado de preto e branco, feio e fedido.
Você deixou ele descansando um pouco numa caixa de papelão na área de serviço, mas foi por pouco tempo.
Pegou o pinto pelas patas e carregou pra debaixo do bloco, depois que a súbita chuva passou.
O Edmundo estava bem estressado. Não estava confortável no seu colo. E muito menos com um barbante amarrado na pata enquanto você gritava - Edmundo, anda! Vem aqui! - Ele ciscava o chão liso e preto do prédio, talvez rezando por um salvador.
Não houve quem te convencesse que o Edmundo deveria voltar para a chácara, onde ele sempre seria seu - até você voltar, no próximo verão. - Nem mesmo explicando que ele morreria numa viagem de avião até o Rio, congelado com as bagagens. Você chorou e correu - o Edmundo debaixo do braço - até o fim do bloco. O pinto piava, você chorava e os adultos discutiam. A esperança é que amanhã você esqueça o pinto e vá brincar com todos os seus novos brinquedos - aí, Edmundo será libertado de volta.
Eu mesma duvido muito. Aposto que amanhã você acordará e já com Edmundo a tiracolo, irá brincar por aí entre os prédios da quadra da vó Ignez, em mais um dia de verão.





Feliz Aniversário, Júlia!
Beijos da Prima Fabianix
ps - Edmundo se recusou a posar para esta foto. Ele na verdade é uma franga. Odiou o nome e não quer dar entrevistas

Desculpas, amigo

Eu postei aquele poema, mas mudei de idéia.
Fica pra próxima.

16.1.08

Silêncio

É. Não tenho mesmo mais nada a dizer.
Tudo que queria falar, falei.
Escrevi.
Pensei alto.
E cheguei até aqui.
Hoje, não tenho nada pra contar.

Será que esse blog não tem mais serventia?


...

15.1.08

Fazeduras

O que se faz com tudo que se faz
quando não se faz nada
na hora de fazer?
E se faz de tudo
na hora de simplesmente estar?

Medo

O budismo acredita que nós não aceitamos ser felizes.
Eu sou assim.
E sei de muita gente que é assim também. Tem medo.

Medo e se esconde.
Medo e mente.
Medo e fica doente.
Medo e finge o oposto.
Medo e cai na gandaia.
Medo e foge da raia.
Medo e bebe demais.
Medo e dorme, come, chora.
Medo e se perde
Medo e passa.
E não se acha
Até passar
O medo.
E se foi o tempo
E com ele o medo
E a vontade de amar.

Surpresa

As pessoas me surpreendem.
Quando acho que conheço alguém, me decepciono.
Quando imagino que aquela figura do passado mudou, de novo, erro.

Mas nada é melhor que uma boa surpresa.
Quando a pessoa é melhor do que eu pensei.
Quando o jeito de olhar, as coisas que pensa, os sorrisos
Simplesmente surpreendem

E a conversa é fácil
As risadas vêm
E tudo parece como deveria ser
Simples
Possível
Quase tranquilo

14.1.08

Requerimento

- Bom dia, eu queria pedir uma garrafa de café sem açúcar aqui pro Núcleo.
- E quem vai beber?
- Quem? Eu. Eu vou beber café sem açúcar.
- Sim, mas você e quem mais?
- Quem mais quiser, claro.
- Mas é que não é assim.
- Como assim não é assim. Qual é o problema de pedir uma garrafa de café sem açúcar? E se eu for diabética por exemplo?
- Mas é porque pra garrafa de café sem açúcar tem que abrir requerimento.

É sério. Isso acabou de acontecer...

Recadinho para os esperançosos

O difícil leva um tempinho;
o impossível é o que leva um pouquinho mais.

Fridtjof Nansen


(um beijo pra marcinha)

Dica do Drummond

"Não importa onde você parou...
Em que momento da vida você cansou...

O que importa é que sempre é possível recomeçar.
Recomeçar é dar uma nova chance a si mesmo...

É renovar as esperanças na vida e, o mais importante...
Acreditar em você de novo. Sofreu muito neste período? Foi aprendizado...
Chorou muito? Foi limpeza da alma...
Ficou com raiva das pessoas? Foi para perdoá-las um dia...

Sentiu-se só diversas vezes? É porque fechaste a porta até para os anjos... Acreditou que tudo estava perdido? Era o início da tua melhora...

Onde você quer chegar?
Ir alto? Sonhe alto...
Queira o melhor do melhor...

Se pensarmos pequeno...
Coisas pequenas teremos...

Mas se desejarmos fortemente o melhor e,
principalmente, lutarmos pelo melhor...
O melhor vai se instalar em nossa vida.

Porque sou do tamanho daquilo que vejo,
e não do tamanho da minha altura."

(Carlos Drummond de Andrade)

ps - um beijo pra Alys!

12.1.08

Coraçåo em choque

Hemodinåmica. Deve ser porque o exame usa o movimento sanguíneo pra chegar aonde o instrumento precisa ir?
Vai saber.
Só sei que tem que tirar a roupa toda, vestir aquela furada nas costas. O enfermeiro te leva para a sala. Lembro de filmes de ficção científica.
Isso, deita na maca de ferro. Em cima de um gel geladíssimo. Facilita os condutores elétricos que vão achar o defeito no coração.
Seringa de anestesia.
Seringa disso.
Seringa daquilo.
Nua, escorre uma lágrima. Logo o meu coração é sem compasso!
A aorta femural que se encontra na virilha direita vai direto a uma entrada do coração.
O catéter entrará por uma siringa da largura da ponta do meu mindinho e com sorte, chegará ao peito esquerdo para descobrir porque bato tum-t-tum-t-t ... e não tum-tum...tum-tum
Resisto ao sono anestésico. Sinto a seringa furando a pele, perto da marquinha do biquini. Sinto algo que se move,
por dentro, no fundo.
Sinto o peito bater com mais força. Será que não sentiria a morte chegar?
Acordo no corredor. De cabeça pra baixo, vejo figuras que reconheço e vozes falando de mim.
Gráficos, Laudos, Segura a pastinha de exames. Por aqui até o quarto.
Uma lágrima que escorre cai dentro do ouvido. Um ruído.
É meu novo coração. Bate agora compassado, com todos os outros ao meu lado.
Tum-tum, tum-tum, tum-tum

(um beijo para minha corajosa amiga Mariane)

10.1.08

Noite

Agora quando chove, acordo e não durmo mais.
A chuva entra com força no meu corpo,
trovões sacodem meu coração.
O cheiro que sobe pelas janelas
O medo
O entre-sonhos que não amanhece
Exausta, amanheço úmida
Respingos de resquícios de sono e escuridão

9.1.08

Mariposa

Numa noite chuvosa e quente, as janelas abertas, o som do bater de asas.
Entre o sonho e a preguiça, viro de lado, tampo os ouvidos.
As asas batem arritmadas, ora caladas, ora desesperadas, muito perto dos meus olhos na escuridão.
Durmo em sobressaltos, ouço uma voz sábia trazida pela borboleta.
Acordo sem susto, na manhã nublada.
Lá está ela - sua textura e desenho se mesclam com a luminária vermelha. É preciso atenção para percebê-la ali.
Agora silenciosa, tatuada na seda da luz.

5.1.08

Ruivinhas



Maria Clara e Julia nas escadas do Conic

Sobre dormir acompanhada - de novo

Dormir ao lado de alguem eh algo muito intenso.
Voce divide uma hora muito fragil do seu ser - o momento de sonhar.

Mesmo quando comeco um novo namoro, a coisa do dormir eh um pouco mais demorada que o sexo. Se o ultimo eh intenso, dormir junto depois eh abrir uma nova dimensao. Eh um vortex da tao assustadora intimidade.

E entao, tenho dormido sozinha ja ha um tempinho...quando entra nessa historia o ser que quebrou minha virgindade do meu sono acompanhada.

E como as coisas sao certas!
A Julia, minha prima de 8 anos, animadissima com a possibilidade de dormir na minha casa, ficou muito surpresa em constatar:
- voce tem uma casa de CASAL!!!!!!
Sim, de casal, e para ela, provavelmente, uma cama ENORRME.

Nao arredou peh, pediu, ajoelhou, implorou e saiu do sofa-cama direto para a minha cama de CASAL.
Eu nao pude dizer nao. Aquela figurinha andando com meus saltos altos e de batom super vermelho na frente do espelho finalmente entrou nos meus sonhos.

Dormimos juntas na minha cama, Julia e eu.
Quer dizer, ela dormiu. Eu assisti.
Aquela menininha espalhada nos meus lencois, os cabelos longos e cheirosos por sobre as fronhas, os bracos jogados por cima da cabeca. Se mexeu a noite toda, riu dormindo, levantou pra fazer xixi.
Na penumbra e no calor, fui espectadora da minha noite de sonhos.
E a minha cama de CASAL tem a partir de agora uma nova serventia - abracar os sonhos dessa pequena mulher que me olha admirada, que adora tudo que eh meu, que me acha o maximo - intenso, muito intenso essa coisa de amor.

4.1.08

Previsoes

VIRGO [Aug. 23–Sept. 22]
Your main assignment in 2008 is to become highly skilled at feeling good. Does that sound like something you might want to do? If so, here's the beginning of a regimen you could follow: (1) Be constantly taking notes about what experiences give you delight and what situations make you feel at home in the world. (2) Always be scheming to provide yourself with those experiences and situations. (3) Take a vow that nothing will obstruct you from seeking out and creating pleasure, peace, love, wonder, and an intimate connection with life.

3.1.08

2008



Queda das Carioquinhas no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros.

Tirei essa foto para me lembrar da forca que as coisas simples tem - a agua que cai na pedra, alisa a superficie. A pedra que rola o rio suavemente, mas com rapidez. O cheiro do verde e da terra que fica entre os dedos e entranhado na alma. 2008 sera assim - forte e simples.