31.5.07

Dívidas novas

Há dias estou sem ânimo.
Meu torcicolo agora tem nome - hérna de disco.
E dói mais que o dengo que eu fiz nos primeiros dias.
Os remédios fodem com o resto do corpo que ainda funcionava.
Estou sem tesão
Sem fome
Só sede e sono - de remédios sem fim

O Fábio comprou um apartamento do vizinho dele.
Fiquei tão surpresa quanto com o diagnóstico do torcicolo.

Talvez, assim, tanto ele quanto eu, temos dívidas enormes a partir de agora.
E se já não dava pra sair, dar presentinho, viajar, agora vale pros dois lados mesmo. A impossibilidade de repartir, dividir, juntos...

Eu continuo achando que uma dívida só poria fim a duas agonias e ainda por cima nos faria mais próximos um do outro.
Mas talvez seja isso - a proximidade.
Esta, não deve existir.
Então, vamos criando dívidas individuais, doenças individuais...vidas individuais.
Qualquer hora dessas, nem vamos saber porque as outras coisas, aquelas, juntas...

Aí, nem vai precisar de doença, de dinheiro, de nada pra nos separar.
Já seremos estranhos pelas próprias decisões que tomamos. Ou deixamos de tomar.

29.5.07

Póp

É assim: tudo certo, tudo encaminhado
E de repente? póp.
Acabou tudo.

Sem mais nem menos.
Nenhuma explicação

Póp

18.5.07

Madrugada

Era um sonho de medo,
Traição, dor, ameaças
Deu 2h45 da manhã
E não tinha formigas no doce
Bateu uma força insuportável
De escrever

Verniz

O tempo acaba com o verniz do amor

15.5.07

Zen

Espero tudo chegar num estado crítico: minha saúde física, mental.
Quanto tudo beira desabar, me redescubro
Calma
Calada

Uma
coisa
de cada
vez

Me surpreendo falando sozinha
Que vai dar tempo
Que vai dar certo
Que sou feliz,
De uma maneira ou de outra
Dou um jeito de ser feliz

.....

e parabéns ao Fábio que me aguenta por seis meses ininterruptos!
Muitos vivas a ele! E que sorte a minha!

10.5.07

O primeiro amor

O meu primeiro amor não foi meu primeiro namorado.
Ele estudava comigo na oitava série no Rosário, reprovado
Mais velho, mais bonito, mais inteligente que todos os outros caras

Eu, a cedeéfe da escola de freira me apaixonei perdidamente
Ele dirigia sem carteira, era o rebelde burguês, o palhaço da turma
Namoro daqueles de apresentar pros pais, de passar o domingo com a família

De beijar a tarde inteira depois da aula
mas só beijar, porque com quinze anos
Eu achava que ainda queria casar virgem, tal

Passamos do primeiro para o segundo grau juntos,
Fomos estudar no mesmo colégio, mas em turmas diferentes
Depois das aulas de dança, ele era a coisa mais importante na minha vida

Eu já até sonhava com o casamento,
mais pela lua de mel, é verdade
mas ficamos juntos oito meses inteiros!

Até que cheguei na sala de aula e peguei a agenda de uma colega
A intenção era escrever no dia do meu aniversário
Mas o dele vinha no mês antes
E ele tinha escrito palavras doces, meigas
De sentir o pulmão vazio de ar
De ver nada
Do sangue sumir das veias, fugir correndo

Ele apareceu na minha casa e terminou
Ele apareceu na escola de mãos dadas com ela
Ele desapareceu por completo

Meus pais deixaram eu faltar uma semana de aula
Na qual não saí da cama, não comi,
Só chorei, dormi e quis morrer mil vezes

Uma tia que morava em São Paulo me recebeu para um fim de semana
Eu tinha quinze anos, e ir às compras restabeleceu meu espírito
Especialmente sem os dez quilos que havia perdido em quinze dias

Brasília me recebeu bem
Roupas novas
Coração vazio

E da boa moça que era
Entendi que o mundo não era tão bom assim
Mas que a dança podia salvar minha vida
...

Ontem, entra pela porta, o irmão do primeiro homem que partiu meu coração.
Engraçada a vida:
Só agora que meu coração está inteiro, vinte anos depois
A vida me joga bem na frente do quase inimigo

Conclusão: estou velha. estou viva. e amo, por incrível que pareça - amo muito!

8.5.07

Amor

Tracei um paralelo duríssimo:
- minha mãe está para meu pai
assim como eu estou para o Fábio
e vejo nas semelhanças o perigo de cometer erros idênticos

E nessa conclusão cruel, decido rapidamente
Não será assim
Porque eu não quero que seja

O amor não deve ser aquele que aprendi em casa
Brigas, desencontros, bate-bocas como os sinais de afeto
Crises, doenças, famílias, são as batalhas vividas juntas

O amor pode ser sereno, tranquilo e certo
Não há teste diário
Não tem discussão por nada
Para afirmar um sentimento que
Se já é
É
E se não é mais
Fim

Portanto
O meu amor
não precisa ser uma prova
não tem que ter lição no final
não pede comparsas, ajudantes, mandantes

O amor é meu
Eu que inventei
E faço dele o que bem quiser
E quero
Festa
Flores
Sorrisos
Lágrimas e segredos
Medos e aflições

Mas nunca
Uma pista de autódromo
Um globo da morte
Um ringue de boxe

7.5.07

Expectativa

Eu sei porque já passei por isso antes

O pior de esperar o pior
É a espera, e não o pior em si

Tem uma angústia encrustrada no meu peito.

3.5.07

Geração Coca-cola

Não valorizo minhas conquistas porque o bom mesmo é chegar até elas
E não ESTAR nelas

Até porque
as minhas conquistas não são as de todos?
Casa, namorado, dinheiro (pouco)

Grandes coisas, grandes coisas...
O desejo da mediocridade me incomoda
Me irrita
Me deprime

E mesmo assim,
quero casar, ter filhos, viajar no Reveillon

Ô paradoxo burguês da porra!

A vida como ela não é

Esses dias lindos de Outono
O céu azul
As flores rosas
O verde verde

Sol perfeito para uma caminhada de manhã
Noites lindas para um bar com amigos, namorado...

E uma vontade louca
De arrumar as malas
Comprar uma passagem no próximo avião que sai daqui
E começar tudo de novo
Em qualquer outro lugar
Pra fazer qualquer coisa
De qualquer jeito
Menos olhar minha vida nos olhos

Esta mesma que está aqui

Para mim, sempre foi mais fácil
Arrumo e desarrumo malas
Começo e recomeço
Faço e desfaço amigos

Melhor que encarar o todo dia
O mesmo dia cem dias seguidos
Ser estrangeira é fácil
porque a reinvenção é constante

Aterrisar e ficar é difícil
Começar e terminar
Reconstruir em cima do mesmo castelo destruído
Ainda que não seja de todo ruim

Para mim, é sempre mais fácil começar do nada
Que começar do velho, chato, idêntico dia de ontem

Final

Sonhei que tudo dava certo.
Acordei com gosto de cabo de guarda chuva na boca
E a cabeça martelando a cerveja e o cigarro de ontem.
Han, han, tá.
Vai dar tuuuudo certo no final.

Mas, sério - quem precisa do certo NO FINAL?

2.5.07

Cartola

Só não levantei e fui m´embora porque nunca nunca nunca fiz isso no cinema.

Que filminho ruim.
Tudo culpa do editor. Ou dos caras que tavam mandando no editor, Lirio Ferreira e Hilton Lacerda.

Um personagem genial, imagens de arquivo de fazer inveja
com uma produçãozinha meia boca em dvcam, fazendo o tipo luz estourada e contraste lá no teto.
Ai, que horror... não sei nem por onde começar

O filme é uma tentativa de contar a trajetória do grande compositor mangueirense.
O início precisa de legendas. O som da voz dele em arquivo está muito ruim.
Quem ouviu na ilha de edição deve ter adorado. Mas as salas de cinema infelizmente têm as caixas de som vagabundas. E gente falando, comendo, rindo, batucando. Eu sei que legenda "enfeia" o filme. Mas do males, o menor... e quem faz filme tem que ir ao cinema! Não dá pra ficar só na ilha!

Pois é, tentaram, mas não se acharam. Não seguem a cronologia, nem uma sequência natural de fatos, nem de entrevistas - tem umas loooonnnngas demais, faltou assertividade pra cortar as tantas histórias - e Cartola vai se perdendo nessa colagem preguiçosa - é como se tivesse sobrado muito pouco tempo para a finalização e ficou meio assim, de qualquer jeito.

O diretor quis fazer uma "história solta"? Ah, legal - então pra que ficar preso ao tempo? Que moleque era aquele de terninho que sai do bonde no início do filme? Era pra ser o Cartola quando criança? Ah, tá...não ficou poético, não, viu? Ficou quase patético, isso sim. As cenas de passado, de passagem de tempo, putz, dava pra ter caprichado mais, né? Eu sei que é cool essa coisa sem foco, câmera na mão - mas é cool no ano 2000! Estamos em 2007! E pra que deixar a voz do Homem em off com aquelas cenas de favela - se tem a cara do figura, mostra! Não entendi porquê tanta economia!

Olha, não gostei.
Me dessem o material bruto que eu faria uma edição sensacional.

Ponderações de fim de férias

Depois de trinta dias de férias, chego à óbvia conclusão pequeno burguesa:
Eu gostaria muito de não precisar trabalhar para me sustentar.

Não estou com a menor "saudade" de editar.
Não estou com a menor "vontade" de ser criativa, fazer parte de uma equipe, nada nada.
Não sinto "falta" da rotina, das horas de frio com a bunda na ilha sem privacidade, sem assunto...
Eu amo editar.
Mas amo muito mais ficar à toa, sem ler, sem pensar,

Uma total idiota no planeta - mas pelo menos separo meu lixo e controlo o tempo do meu banho.

Ah! Deve ser maravilhoso ter uma vida de idiota sempre! Acompanhar a novela das oito, mudar de canal no horário dos telejornais. Arrumar gavetas, visitar shoppings...

Duas semanas de culpa católica, uma semana de dúvida atroz, e a última semana de férias
realmente de férias.
Ainda assim, adoraria ter essa vida pra sempre.

Não praticar exercício físico
Não fazer dieta
Não beber
Não fumar (nadinha!)
Dormir até encher o saco.
Ter preguiça até de tomar sol

Não, não descansei, não estou "renovada"
Não estou com a menor vontade de voltar à ativa
Nem à rotina estudo-trabalho-casa

Acho a vida injusta, sou vítima do mundo
Desse mundo capitalista
De que tanto sonho ter uma parte
A parte idiota, é claro.