24.3.12

sábado

eu sinto uma estranha falta de ser quem eu já fui com as coisas todas outras que já sou
eu sinto uma saudade burra de quem nunca veio e daqueles que já foram (e eu mal notei)
eu sinto uma alegria débil de simplesmente desobedecer
as regras
a etiqueta
o jeito de ver o mundo que o mundo me força a ter

13.3.12

Fim do fim

E não, não dá alívio. Nem uma leveza, nada, nada.
De malas prontas, meu coração está apertado:
vou deixar minha casa pra trás e tempos difíceis também.

Sei, deveria pular de alegria, celebrar. Mas não sinto.
Tem uma chapa de chumbo no centro do peito.
Hiatos de prazer que não pareço merecer...

A leveza, pra mim, é sempre dura, impermeável.
Olho pro lado, pra dentro, suspiro:
sou intensa, medrosa e cheia de arestas.
O sopro de dias livres me assusta,
o coração vazio me entristece
a boca sussura - quando?
Quando, nessa vida, vou finalmente aprender
a simplesmente aceitar e ser?

5.3.12

Ponte

Todo mundo já cruzou uma ponte na vida: a pé, de carro. No parquinho de areia.
Uma das minhas favoritas está no Parque da Chapada dos Veadeiros.
É feita de ripas de madeira e corda. Uma ponte daquelas moles, presas firmemente de um lado e do outro no solo. E só.
Olho o outro lado, que nem é tão distante assim, seguro firme nas cordas que servem de corrimão: ao dar meu primeiro passo, a ponte toda treme!
De susto, dou um passo pra trás.
Agora, a ponte está como uma minhoca.
Medo.
Nova tentativa.
Com dois passos à frente, o peso do meu corpo todo sobre as ripas criam um estranho equilíbrio, fica quase fácil dar o terceiro passo...
O ritmo das passadas faz ondas na superfície da ponte que agora balança pra valer!
Aperto as mãos nas cordas, mas eis que quanto mais me apego ao suporte, mais difícil fica de caminhar pra frente!
No limite de cair, percebo então que sou eu quem imponho o ritmo daquela ponte a balançar!
As ripas, as cordas, tudo obedece ao meu caminhar.
Para cada passo, uma onda até o lado oposto.
E fim.
Eu sou a dona dos meus passos.
E, se não escolho todos os caminhos por onde passarei, farei deles meus próprios:
com equilíbrio único, no meu ritmo, uma onda de cada vez.

Com muito amor para todos que atravessam comigo as inúmeras pontes da minha vida. Vocês sabem quem são.