29.4.09

Ondas altas

Estou agitada.
Por dentro, lá dentro

Desorganizada
mas não distraída.

Chateada por trabalhar e não produzir
Não andar pra frente,
Ver os dias terminarem
E as tarefas acordarem na minha cama
Mal acabadas, não terminadas
Infinitas

Irritada porque minha bagunça mental não me deixa otimizar meu tempo
Meu tão precioso tempo
Não tenho sabido usá-lo
Dividi-lo entre o que quero,
O que preciso
E o que é importante

Amanhã é mais um dia tenso
Sem qualquer agenda que se cumpra
Impossível de parar só para pensar
Escrever
E sonhar.

28.4.09

Negra Luz

É possível mergulhar em olhos negros e ver a luz?
É sim, é sim.
Tanto, que vi você no meu jardim.
Num manto sem foco,
Uma névoa esbranquiçada

Tem flor
Tem pétala
Tem água dourada

Um sol de esquentar
Um ruído de cantar

Tem você do meu lado
Por dentro e por fora
De um quase sonho
No meu corpo deitado

E é possível
Dois espíritos
Olhar nos olhos
Sem querer, acordados.

21.4.09

De Anônimo

Prosa Patética - Viviane Mosé

Nunca fui de ter inveja, mas de uns tempos pra cá tenho tido.

As mãos dadas dos amantes tem me tirado o sono.

Ontem, desejei com toda força ser a moça do supermercado.

Aquela que fala do namorado com tanta ternura.

Mesmo das brigas ando tendo inveja.

Meu vizinho gritando com a mulher, na casa cheia de crianças,

sempre querendo, querendo.

Me disseram que solidão é sina e é pra sempre.

Confesso que gosto do espaço que é ser sozinho.

Essa extensão, largura, páramo, planura, planície, região.

No entanto, a soma das horas acorda sempre a lembrança

do hálito quente do outro. A voz, o viço.

Hoje andei como louca, quis gritar com a solidão,

expulsar de mim essa Nossa senhora ciumenta.

Madona sedenta de versos. Mas tive medo.

Medo de que ao sair levasse a imensidão onde me deito.

Ausência de espelhos que dissolve a falta, a fraqueza, a preguiça.

E me faz vento, pedra, desembocadura, abotoadura e silêncio.

Tive medo de perder o estado de verso e vácuo,

onde tudo é grave e único. E me mantive quieta e muda.

E mais do que nunca tive inveja.

Invejei quem tem vida reta, quem não é poeta

nem pensa essas coisas. Quem simplesmente ama e é amado.

E lê jornal domingo. Come pudim de leite e doce de abóbora.

A mulher que engravida porque gosta de criança.

Pra mim tudo encerra a gravidade prolixa das palavras: madrugada, mãe, ônibus, olhos, desabrocham em camadas de sentido,

e ressoam como gongos ou sinos de igreja em meus ouvidos.

Escorro entre palavras, como quem navega um barco sem remo.

Um fluxo de líquidos. Um côncavo silêncio.

Clarice diz, que sua função é cuidar do mundo.

E eu, que não sou Clarice nem nada, fui mal forjada,

não tenho bons modos nem berço.

Que escrevo num tempo onde tudo já foi falado, cantado, escrito.

O que o silêncio pode me dizer que já não tenha sido dito?

Eu, cuja única função é lavar palavra suja,

nesse fim de século sem certeza?

Eu quero que a solidão me esqueça.

16.4.09

Sombra

Novidades

Nenhuma.
Nada consideravelmente relevante para escrever aqui.
Aliás, estou hesitante porque acho que quero parar de escrever aqui.
Sei que já falei isso antes, mas - pela falta de posts - dá pra notar que agora a coisa encorpou.
Não é que minha vida tá sem graça
Nem que não tenho nada pra dizer
Até tenho - sempre tenho!
Mas, sei lá - não acho que aqui é o lugar.
E também quando penso em algo, tô debaixo das cobertas, no escurinho do quarto...
Nem o Buda me faz levantar pra ligar o computador!

A verdade é que tem muita coisa acontecendo - e acho que são boas
e eu não tenho tido muito tempo de me inspirar.
Por outro lado, tenho produzido outras coisas, mais úteis, digamos assim...
Porque fala sério - uma balzaca com blog de vida pessoal é triste, né?
Mais ainda se ela for solteira, malhadora, fofoqueira, estiver de dieta e se inscrever num site de relacionamento
Ah! Mas isso é outro post...

14.4.09

Perdidos: lista

- perdi meu caderninho em branco, na ida para Istambul
comprei um novinho no museu Santa Sofia
- perdi minha caneta lilás
peguei emprestada a azul do Vinicius durante toda a viagem
- minhas lentes de contato com o colírio, caixinha e tudo
- perdi um pé do sapatinho que comprei de presente para Sofia
deixei o outro em casa, na esperança de achar o primeiro´
- e ontem, no meio da noite, acordei:
Perdi o caderninho novo, com tantas anotações! Perdi não sei aonde! Perdi perdi!

11.4.09

E para a dor: poesia

William Blake - Auguries of Innocence

To see a world in a grain of sand,
And a heaven in a wild flower,
Hold infinity in the palm of your hand,
And eternity in an hour.

A robin redbreast in a cage
Puts all heaven in a rage.

A dove-house fill'd with doves and pigeons
Shudders hell thro' all its regions.
A dog starv'd at his master's gate
Predicts the ruin of the state.

A horse misused upon the road
Calls to heaven for human blood.
Each outcry of the hunted hare
A fibre from the brain does tear.

A skylark wounded in the wing,
A cherubim does cease to sing.
The game-cock clipt and arm'd for fight
Does the rising sun affright.
(...)

1.4.09

Boemia em Madri



E aí que o Vinícius falou com o Igor que deu um toque sobre um lugar. E a gente andou à beça o dia todo no Museu do Prado e num café da esquina um espanhol basco falou em inglês que o tal lugar seria bem caro. E então a Paula que é amiga do amigo acabou aparecendo e deu o endereço de um outro bar - JUANALOCA - fica no bairo La Latina, duas paradas de metrô que sai por um euro cada ida. Bueno, chegamos e a moça, além de linda, é super querida com outras cinco amigas lindas e super queridas. Ah, sim, e o moço sevilhano, lindo lindo lindo. E bebi três taças do vinho da casa pelo mesmo preço de três copos d'água e comi a melhor tortilla de batatas da minha vida porque tinha umas cebolas caramelas sensacionais. E até fumei um cigarro pra pertencer mais e mais e rir mais e mais até dar umas duas da manhã e o moço lindo pagar toda a conta da mesa e sairmos todos em direção ao LA PLAYA - que é bem pertinho, descendo um ladeira numa rua estreita e iluminada e cheia cheia cheia de gente. E no novo bar, você entra e já vai descendo uma escada que dá pra um porão todo espelhado com areia no chão. Mudei do vinho pra cerveza porque eles não servem nada além disso. E tinha tequila mas eu não tenho mais idade pra tal tipo de misturas. E bebi umas duas. Não, três. Enfim, o suficiente pra dar umas quatro da manhã e outra do grupo lembrar de sair pra dançar. Ah, boa porque com tanto álcool no sangue eu nem saberia chegar ao hotel. E o Vinicius apaixonado e eu com tanto moço ao meu redor que tava jurando que tinha uns 18. Tá, uns 21 anos. E pegamos três taxis pra caber todo mundo e paramos num lugar que tinha fila na porta. Alguém achou que era demais ficar no frio esperando entrar daí pegamos mais três taxis e chegamos num outro bar só que esse não tinha fila mas tinha fechado. Daí o moço lindo lindo lindo entrou só pra comprar cigarros nas incríveis maquininhas que vendem o produto por toda parte da cidade e então pegamos mais três taxis e seguimos para o terceiro destino só que dessa vez um taxi seguiu pra casa com a paixão do Vinicius dentro mas tudo bem. No último bar tinha uma fila igual ao primeiro e eu estava com uma vontade louca de fazer xixi desde o bar número um e daí fiz uma coisa super brasileira e molhei as plantinhas que nascem no meio-fio madrilenho. E o Vinicius fez o mesmo depois de mim. Entramos no bar com a Paula e o lindo lindo lindo e a outra amiga que não saiu na foto mas eu não me lembro porquê. Esse bar eu não sei o nome e também não bebi. Mas dancei dancei dancei e olhei muito pra todos os lados - porque tava super cheio de todas as gentes possíveis e o DJ tocava bem e tinha um pierrot que dançava num tablado. O Vinicius se apaixonou de novo e eu mais mil vezes. Quando quase chegou a manhã em Madri, pulamos num taxi só, o Vi e eu pra dormir e ir embora depois do almoço de paella mixta.