28.2.07

Preferências mais

É incorreto dizer que se prefere uma coisa mais que outra.
Mas discordo.
Eu prefiro muito mais praia que piscina.
Como adoro piscina, não tem como expressar melhor meu amor pelo mar!
Eu prefiro mais mesmo!

É também quase tão errado, dizer que é melhor estar casada que solteira.
De novo, sou contra.
Não prefiro muito mais um a outro,
Mas o estado civil em que se está
Sempre traz uma saudadinha daquele que já foi!

E aquela história de que a gente tem que amar pai e mãe?
Claro, eu amo os meus de paixão.
Mas confesso que amo agora, que sou adulta, cometendo os mesmos erros que eles
Não sei se já os amava assim, desde sempre.

Dizem que é melhor o doce depois do salgado.
Mas aquela fissura de sal depois de uma sobremesa é irresistível!

Prefiro muito mais cochilar antes que depois do almoço.
Me abre o apetite que é uma coisa!
E como a sobremesa bem doce antes,
Faço um pratão de comida de sal
E tomo um café
Forte
Quente
Amargo
Que pra mim, nunca é cafézinho
Porque inho não combina mesmo com café.

26.2.07

Sono

Tudo é muito mais fácil
O dia inteiro
Se antes
à noite
oito horas foram dormidas
encolhidas
em cobertas macias
porta entreaberta
cheiro de chuva e pele!

23.2.07

Do Circo

Quando tudo parecia escurecer...
Tadãn!
Eis que chega a mulher alegria
Esta que vos fala, cheia de euforia
Risadas
Pitadas
Muito bom humor sim senhor!

Dívidas? Blá!
Sono? Pra que dormir ora bolas!
Venham todos venham, venham!

A mulher alegria
Não paga pra ver!

Sorria! Sorria! Sorria!

21.2.07

Ainda bem, Quarta de Cinzas!

Me afundei em almofadas e cuidados e enjoei da minha casa,
da minha cara
e quase do namorado também.

É chato não ter dinheiro
É chato ter que fazer um monte de pequenas (e grandes) tarefas
É chato ficar em casa porque chove
É chato cozinhar só o que tem
É chato não ter computador na hora que se tem boas idéias para blogar

Muito muito melhor
voltar pra vida real.
Tudo mais ou menos pouco
Mas pelo menos
Mais de mais coisas
Ufa!
Ainda bem que o Carnaval acabou.

O Carnaval que eu queria ter desfilado na Beija Flor
ou nos Mascarados de Margareth
beijado o Homem da Meia Noite
quem sabe finalmente conhecer o triângulo mineiro?

Nem praia, nem sol
Nem cerveja,
Nem música, nem dança
e pior
Nem estudos também

Quarta de Cinzas,
Jogo pro alto pra espalhar o desânimo!

Coragem, coragem, coragem.

15.2.07

Nu

Curso de culinária
Todos tagarelando,
Tentativa de entrosamento
E a pérola:
- Eu acho que te conheço de algum lugar - olha pensativa a moça com lentes de contato cor de mel (me fazem lembrar "Entrevista com Vampiro" e Tom Cruise)
- Hmmmm, não sei, você também não me é estranha - retruca a serena Iara.
Breve pausa.
A primeira tem uma luz:
- Eu morei numa comunidade nudista perto de São Jorge. É de lá?
- Não, não... - responde Iara.

Ai, ai, e ainda tive que jantar com a moça...

Fada

Tenho sonhado que estou acordada
Há muitas noites não sonho um sonho...
Fecho os olhos e durmo profundo
O dia seguinte de estudo, dívidas, trabalho

Sonho com muita gente atrapalhando
Muito barulho
Muito entulho

Com pilhas de livros
Camas sem arrumar
Carro sem consertar

Gente do passado
Mais esquisita no futuro

Ah!
Fada dos sonhos
Faça no seu mundo
Um sonho de nuvens
O melhor de todos

Pra noite de hoje
Um sono com sonho
Sem vida real
Pessoas ou alarmes de carros

Um sonho assim
Com vento batendo no rosto
Um sol bem morninho
Os pés numa areia
Bem longe daqui
Amém.

14.2.07

Enzo

Enzo
Querido
Doce
Criança que ainda nem é
Já te pego no colo
E ouço teu choro

Te levo ao cinema
O mundo dos sonhos

Faço viagens mil
Com você no meu coração
Que mesmo te amando tanto
Parece não se conter
Para te amar mais e mais!

Venha menino
Enzo
Tem tantos sorrisos
Tem tantos doces
Tem tanto bem nesse mundo meu
E um sol grande no céu
A grama verde da rua
O macio do veludo das mãos
Da tua mãe
Do teu pai
Da nossa família toda
Tocando você

13.2.07

Câmera lenta

Ouvi uma história de dor contada por uma pessoa tão doce, tão de bem com tudo
Que parei pra pensar

Será que as minhas histórias doces e de bem com tudo
Me farão uma pessoa cheia de dor?

Porque tudo passa rápido
E me ressinto da vida nunca dar tempo pra eu ser simplesmente
Feliz -
Como já sou
Só que em câmera lenta?

9.2.07

Cinema

Meu avô Francisco, agora com 86 anos, vê admirado a enorme caixa chegando pelo elevador.
Meu pai recebe a encomenda e abre com cuidado o papelão.
"O que é isso?" - perguntou meu avô
"É a nova tevê do Bruno" - respondeu meu pai com a cabeça afundada na caixona.
"Televisão?" - meu avô vai chegando perto do gigante.
"É. De quarenta polegas. Grande, né?" - mostra meu pai a tela plana
"Isso aqui é um cinema. Não é mais televisão" - Sentenciou o velho Francisco

ano III

Amanhã tem três anos que trabalho na TV Câmara.

Essas coisas da minha vida mesmo -
Fiquei exatos 3 meses desempregada - sem dinheiro mas também sem ansiedade. Até cair de para-quedas no Buraco. Aquele mesmo, ao lado do Arquivo da TV.

Se aprendi pouco na arte de montar, aprendi horrores sobre tudo mais.
São três anos vividos mesmo. Com Contos, Focos, Talentos, Brasileiros de todos os jeitos.

De todas as frustrações, a maior para mim é pensar no meu emprego como uma escada para algo melhor, e não um lugar para crescer e ponto.

Fico mal de pensar que, assim que eu achar uma solução, saio correndo daqui. Porque no fundo, não tenho vontade de correr pra lugar nenhum.

Gostaria de ficar aqui, trabalhar nesse mesmo buraco, sem ar, sem luz, com escadas infinitas para o banheiro. Mas criar, inventar, melhorar o que já existe, com as pessoas que já estão ao meu lado.
Pra otimizar as máquinas, os cérebros, dar injeção de ânimo e de profissionalismo no resto do povo que ronda isso aqui.

Eu adoro esse lugar. O clima tenso. O cheiro de política e tinta fresca. Os corredores infestados de roupas feias, balangandans nos pescoços dos papagaios de pirata.
Dá tanto pano pra manga! Tanta razão pra rir alto (e onde mais senão nos porões do bunker, se poder gargalhar com a cabeça caída pra trás???). Tanto motivo pra dietas e dores de barriga.

Eu adoro essas pessoas. Chatinhas, malucas, engraçadíssimas, inteligentérrimas!

E adoro todas as chances de trabalhar - as chances que me tiram das mãos todos os dias em troca de institucionais repetidos, "calhaus", presentes de todas as sortes para pessoas de tanto azar...

Eu lamento os três anos de gesso intelectual que me forçaram a usar aqui. Mas gesso é pra quem tá com algo quebrado. Quando sara, o médico desingessa.
Né?

dedico esse post ao pessoal do Núcleo de Vídeos Especiais da TV Câmara - vocês são as melhores pessoas para dividir o ar que respiro nas tardes infinitas de ares congelados! Tin-tin!




Saia de noiva

Meu pai, meu avô, Fábio e eu na hora da sobremesa
Papai conta:

- Na fazenda da minha avó, mãe da minha mãe, ela fazia farinha de mandioca.
Era um mundo de mandioca ralada pelas empregadas. E ia pra um fogo de lenha
numa panela rasa enorme.
Quando a farinha torrava, a gente chegava perto da vovó e pedia -
vó, faz uma sainha de noiva?
A vovó pegava um tanto de açúcar mascavo e jogava por cima daquela farinha ainda torrando. O calor derretia o doce, e ela enrolava a goma de farinha com o açúcar, fazendo um canudinho de açúcar morno.
Era bão demais da conta, sô!

8.2.07

Da Clarinha

A Clarinha, agora com dois aninhos, dizia pro Bruno:

- Não góto de tlocá de binco porque eu chólo

O Bruno

- Ah, mas chora de dor ou é de manha mesmo?

Ela encosta o queixinho no ombro e olha sobre os cachinhos ruivos

- É de manha...

Aperto

Meu avô foi almoçar com a gente

"Ué, quedê o príncipe?"
"Não veio não, vô"
"Ó, não é pra agradar ocê, mas ô moço ajeitado, sô!"
"É, vô, ele é muito legal"
"Aperrrrta ele, não deixa escapar, viu?"
"Tá, vô, pode deixar"

Tô apertando de levinho...

Calada

Essa minha necessidade de falar

Falar falar falar
E não só das coisas bobas

A minha vontade de dizer
das coisas do coração
do que é profundo
do que dói
do que é lindo
das coisas da minha alminha mesma

Parece que quando falo
Ao invés de esvaziar
Enche mais
Clareia
Respiro melhor
Sinto melhor
Amo melhor

Sei que às vezes
é chato para o outro
Até demais

Mas tem dias que não dá mesmo

Preciso, não aguento
é irresistível
Dizer o que sinto

O que penso do que sinto
O que sinto do que penso
Falar até calar
Até dormir
Sonhar

Por isso,
se quando falo é importuno
ou demais
ou sem mais

Me abraça
Que com o calor do silêncio
Cada palavra que some
Transforma a vontade da fala
No vácuo do beijo

7.2.07

Rotina

Nos estudos,
descanso da Tevê
No trabalho
um tempo dos livros
No namorado
o pouco tempo livre
pra nada,
tão bom...nada...

3.2.07

Dúvida

Por uns instantes, uma dúvida:
E se não for nada disso?

E se der errado? Se eu não conseguir?
Qual o próximo passo?
São tantos querendo o mesmo que eu!

Um desânimo, um medo, uma tristeza
A sensação de estar só
E que só eu posso fazer o que preciso

A solidão do caminho
Não tem mapa
Não tem manual de instrução

Todo dia, eu tenho que inventar as horas

Isso me dá um medo enorme
De finalmente ser gente grande
E não ter colo nenhum pra acalmar minha decepção

Minha vida, quem faz sou eu
Mas no fundo no fundo,
Minha vida, queria que outro fizesse por mim

1.2.07

O cheiro do hospital
O azulejo verde
A comida marrom

Minha avó tem gosto do algodão úmido
Que molha a boca fina, seca, branca

O cabelo branco
Os olhos pretos
Já enxergam além?

Murmura, vózinha
Palavras, ruídos (de dor?)
Pedidos (de ir?)

Ela falou "me leva, me leva"?
Talvez "minha neta"?
Não sei
Não estou aqui

O estômago aperta
A porta é aberta
A mulher preta de branco
Entra
E eu, correndo
Fujo

Não é da morte
Mas de sofrer a dor do outro

E não sei se é pura vaidade
Ou a certeza absoluta que
Eu no lugar dela,
Seria muito muito melhor