31.7.07

Passarin de manhãnzin

Fui chegando no laguinho
Um dia azul ardido
Vento seco
E na calçada

O passarinho
As penas arrepiadas do mergulho
Não saiu do meu caminho
E olhando minhas passadas
Deu um pulo de ladinho

........

Sabiá lá na gaiola fez um buraquinho
Voou, voou, voou, voou
E a menina que gostava tanto do bichinho
Chorou, chorou, chorou, chorou
Sabiá fugiu do terreiro
Foi cantar no abacateiro
E a menina pôs a chamar
Vem cá, Sabiá, vem cá
...
Sabiá responde de lá
Não chores que eu vou voltar

30.7.07

Cheia

saco cheio total
de ficar entrevada por semanas a fio
alternando com o Fábio os finais de semana de doenças
quando eu melhoro um pouquinho, ele cai de gripe
ele sára, minha hérnia reaparece
entro em recesso, de molho
ele viaja
o enzo nasce
tudo se abala

volto ao trabalho
ao estudo
ao medíocre compasso do pagamente de prestação
visitas médicas
almoço nos velhos
novela das oito

a minha única luzinha é ser tia
do enzo-bijuzinho-rosinha

e por que não posso ser só isso?
tia pra sempre e só?
sem trabalhar
sem estudar
sem fazer prova
sem fisioterapia
remédios amargos em gotas infinitas

carro lavado, óleo trocado, tudo em ordem
casa arrumada, cadeiras, sofá, mobiliada
cabelo cortado, unhas feitas, coluna ereta
namorado amado, suado, dormindo
sobrinho pertinho
pertinho pertinho

24.7.07

O dia do Enzo


23 de julho, 2007 - 13h50
3,500 g. / 48cm



Melhor que brigadeiro
Que um banho de mar

Uma noite bem dormida
Um filme sensacional

Enzo, ser sua tia
É mais legal que sair pra dançar
Que beber até cair
Que chorar de rir

É uma alegria de um amor tão grande
Que dor de coluna
Pouco dinheiro
E todas as outras tristezas ficam assim, sem quê!

Te beijo, te abraço, te adoro, bijuzinho!

13.7.07

Couch Potato

Ganhei um sofá-cama da liquidação da TokStok!

Nunca mais vão ver minha carinha na rua!

Hua hua hua hua!

12.7.07

Extra, extra!

Leiam bem lido, porque é um momento inédito:

Estou com vontade de malhar.

Pronto, falei.
Estou com saudades dos patins, das caminhadas e até do karatê! (sabiam que eu cheguei à faixa verde?)
Estou pensando em aulas de dança, de yoga, de pilates...corrida, bicicleta, natação!

Na segunda que vem, vou perguntar pra fisioterapeuta se eu já tô liberada pra caminhar, pelo menos...

Anjo da Guarda

Pense numa Brigite Bardot velhinha. Agora, borre os olhos com kajal preto e ponha um baton com tonalidade rosada na boca. Era essa figura que lia cartas numa mesa estilo escrivaninha dos anos 20.
A senhora também tem uma assistente, mais moça, de óculos, loira, e ansiosa.
As cartas na mesa são na verdade, pequenas agendas de anotação com desenhos em nanquim e aquarela de figuras etéreas: anjos, fadas, orelhas pontudas, roupas esvoaçantes.
Elas estão espalhadas de modo uniforme, uma ao lado da outra. Até a penúltima que se lê AGOSTO e a última, ANOTAÇÕES.
A velhinha olha para mim - "O seu aniverário é em agosto?"
Afirmo com a cabeça.
"Estranho, muito estranho..." - inverte as posições dos dois últimos "caderninhos" - agora, AGOSTO está em último lugar.
"Ah! É o seu anjo da guarda!"
E a assistente - "Também estou ouvindo! Ele está querendo falar algo!"
Fico admirada: - "Falar o que?"
- "Ele está fazendo um sinal" - e a assistente faz com a duas mãos o movimento de ´venha, venha´
- "Ele quer se mostrar presente" - diz a velhinha.
- "Mas quem vai querer um anjo velho e banguela?" - a assistente traduz a preocupação do meu anjo.
Nesse mesmo instante, enxergo meu anjo mentalmente. É aquele típico senhor de barbas brancas e túnica branca. Barbudo e boca murcha, um dente saindo pela lateral do lábio superior, pele queimada do sol. Um misto de criatura e mendigo.
- "Eu! Eu quero! Diz pra ele que eu quero, sim!" - numa súbita alegria e alívio!

Ah, meu anjo da guarda! Que bom saber que você é assim, velhinho, banguela, vivido...!
Acordei cansada, com dor, mas serena. Muito serena.

11.7.07

Depois do Casamento

(Efter brylluppet, Dinamarca/ Suécia, 2006)
Diretora: Susanne Bier

Sabe aquele primeira impressão que fica? Pois é, pura ignorância.
Não dar uma nova chance à pessoa que acabou de conhecer é de uma burrice sem tamanho.
Sabe quando chega com cinco pedras na mão e vê seu "alvo" tão mal, tão triste que desarma sua raiva?

É meio essa a história que "Depois do Casamento" conta.
Jacob vivem em Bombaim e cuida de um orfanato de meninos. Sem dinnheiro, não resiste à ligação de um milionário Dinamarquês interessado em doar uma quantia considerável. A única condição: Jacob deve visitar a Dinamarca, conhecer Jorgen e apertar sua mão.
De duro e insensível, Jorgen (e sua família milionária) vão aos poucos revelando um lado estranhamente bom, altruísta, enquanto assistimos sua filha Anna se casar e se separar e sua belíssima mulher cuidar dos gêmeos ainda pequenos amarrada a uma mentira do passado.

Jacob, de primeiro mundista fazendo o bem, passa a ser um bêbado mulherengo, pai, e de volta a simplesmente um homem - que errou, que se achou numa causa, que ama a mesma mulher há vinte anos.
O filme mostra as tantas faces que uma mesma pessoa pode ganhar, dependendo do quanto você sabe da história dela.

Mas além do verso e reverso de cada personagem, o filme também fala de amor. De todos os tipos - daqueles errados que a gente acaba fazendo besteira (ou filho); do infinito amor entre pais e filhos - tão elástico; do amor entre homem e mulher, que não começa com paixão, mas se torna a única possibilidade possível. E do amor pelo outro, principalmente o outro que sofre com a fome, a pobreza.

Com uma péssima fotografia (a subexposição nas cenas internas na mansão é difícil de enxergar!), mas excelente roteiro, direção, montagem, Depois do Casamento tem atores sensacionais, que a gente até esquece que eles não são aquelas pessoas, e trilha sonora - incluindo silêncios longos - criativa.

As surpresas do roteiro são perfeitas tanto em timing quanto em intensidade do drama. Uma teia de dramas individuais não apagam a urgência dos dramas coletivos, e todos se sobrepõem de maneira humanista, real e delicada. A vida é assim mesmo.

Saí do cinema ainda com vontade de chorar. Fui deitar ainda pensando nas cenas, na história, no quanto erro quando olho para alguém - sem saber o que esperar do filme, amei. O mesmo não ocorre com as pessoas que cruzam meu caminho.

4.7.07

Enquanto isso, na Câmara Federal

Um carrinho de compras cheio até as bordas - de abacaxis - é empurrado para dentro do elevador privativo dos Deputados.
(é sério, eu vi isso)

2.7.07

Chá de Fraldas

Enzo,
a sua mãe convidou as amigas para o seu chá de fraldas ontem.
Eu levei a sua vó Jô e a sua bisa Ignez.
A casa da sua tia Ana estava cheia de mulheres de todas as idades.
A maioria casada, com filhos, ou esperando um.

Sabe Enzo, o último chá de fraldas que eu fui, saí chorando...
Estava solteira, triste com a vida...
Ontem, todos me elogiaram,
Disseram que eu tava magra
Que meu cabelo tava lindo
Que o amor faz essas coisas

Só que bem lá no fundinho...eu tô com uma pontinha de tristeza, sim.
Triste de certas coisas demorarem pra acontecer na vida
E da falta de controle que tenho sobre outras certas coisas
E que também, eu queria mesmo era querer ter um priminho encaminhado pra você
Mas não sei se sou capaz, ou se quero tanto assim mesmo...

Aquele mundo da sala de estar, não me parece muito real pra mim
Está longe, feliz, rodeado por um muro invisível, impossível de pular!

O mundo da sala de estar é mágico, irreal, proibido para mim
Eu, que acho tão difícil de ser feliz.

Enzo, será que você vai me ver por quem eu sou?
Você, que ainda nem me sente, nem me vê...
Saberá o que todos (fingem que) ignoram - eu sou eternamente melancólica
E será que vai me amar mesmo assim
Do lado de cá do muro invísível da sala mágica das pessoas felizes?

Que maré é essa que não passa?

Fritei na cama, tossindo e fazendo contas
Ainda não é esse mês que saio do cheque especial.
A dívida na farmácia tirou meus cálculos do prumo.

Depois da hérnia de disco, a gripe feroz.
Não, não tem nenhum "ainda bem que"
Eu sei, meu sobrinho nascerá a qualquer hora
E voltei a estudar

Mas não...
Não há nada sensacional em viver hoje, dia dois

Tenho sono, dor, e uma tristeza dura

Toda vez que algo não vai como quero
Penso que NADA SERÁ COMO QUERO
E em desistir de tudo

Não sei ser namorada
Amiga
Filha
Profissional - credo, nem me fale
Não vou conseguir
Não vou dar conta de nada direito

Por isso, talvez fosse melhor desistir

Antes de ser tarde demais pra todos nós
E a culpa será toda minha.