31.5.10

Barriga

Uma escadaria em caracol suntuosa e branca de um sobrado muito alto.
Cheira a madeira escura, recém-encerada.
A luz difusa da janela grande atravessa tudo.

Desço os degraus com um sorriso grande
uma alegria lá de dentro.
Seguro a mão de minha mãe. Rimos entre nós.

Estou grávida.
A barriga pequena e dura aparece por cima da calça e da camisa branca, de botões.
Tenho o umbigo estufado a pele lisa, esticada.

Enzo nos encontra no meio da descida. Ponho as pequenas mãozinhas do meu sobrinho Biju e aviso:
- aqui Biju, na barriga da titia tem um nenénzinho crescendo! Aqui, ele é seu primo, Biju!
A Sofia biscuizinha está sorridente e também toca minha barriga avantajada.
Uma felicidade impossível de escrever aqui.

Acordei.

Ao telefone, conto pro Enzo:
- Biju eu tive um sonho com você! A gente descia uma escada bemmm comprida, sabia?
- Não! Tchau, tia Biju!

Desliguei rindo.
E rindo continuo.

para minha mãe.

26.5.10

encantadora de cobras

VIRGO [August 23–September 22] Snake charmers are still a fixture in many Indian cities. Moving rhythmically and playing a flute-like instrument, they influence erect cobras to bob and sway as if dancing.
You now have the power to do the metaphorical equivalent of that magic trick. This is one of those rare times when you possess the mojo to direct and even control strong forces that may usually be too wild to tame. You've still got to be careful, though. Just because you've got the power doesn't mean that you can scrimp on preparation and discipline.
hua hua hua! let´s begin the practice ; )

20.5.10

Crescer na dor...será?

É indiscutível que a dor nos faz mais fortes.
O sofrimento traz perspectiva e novos parâmetros.
Com um pouco de inteligência, dá para usar o passado para evitar o pior no futuro.
Mas, será?

Sempre que vivo uma dor profunda, daquelas que acho que nunca vão acabar,
tudo que quero é que o mundo acabe. De preferência no escuro.
A desolação do sofrimento, a percepção de me sentir vulnerável e principalmente impotente, essas coisas não me deixam raciocinar nada.

Só quando passa - porque tudo passa - é que ganho fôlego, força e lucidez.
Daí, comecei a acreditar que não é bem a DOR que me faz crescer e sim, o fim dela.

Ver a vida depois da tempestade, recomeçar, me traz um alento e uma confiança em mim mesma. De que eu sou capaz de me reinventar, de aprender e tocar a vida. Mesmo cheia de cicatrizes e marcas.

Mas, o que é isso depois da tempestade?
O que me assola na bonança como um estalo?
Uma resposta que só aguardava a pergunta,
me tira da cama sorrindo, me faz dançar e cantar no chuveiro!

O que é?
Sem dúvida, não é a dor.
Com certeza, a dor é necessária para se chegar do outro lado do túnel,
Emergir do mergulho já sem fôlego para uma inspiração profunda!
Mas, não é a dor em si.

Crescer na dor, não existe.
Quando ela termina, começa outra coisa,
Essa, sim!
Me faz grande por dentro, cheia de esperança, calor e luz!
As tantas dores só me ensinaram que nunca estou pronta para elas.

No fundo, o sofrimento não traz nada de novo.
Nem perspectiva ou novos parâmetros.
Sobreviver a ele, ressuscitar da dor, é que é!
Me dá ganas de viver e dançar!

Renascer das cinzas é o segredo da dor!


18.5.10

O lado bom

Como se não bastasse meu pai na UTI, no mesmo dia, bati o carro.
Quero dizer, bateram no meu carro.
Poderia dizer que eu estava sem dormir, com o corpo todo moído de tensão, os olhos molhados de lágrimas - mas eu estava PARADA, esperando minha vez de entrar na principal!

O solavanco que senti no pescoço, nem doeu na hora. Amassou a traseira, o porta-malas não abria.
Saí do carro tranquilamente, vi o Citroen C5 da senhora e só perguntei:
- A senhora se machucou?
- Não.
- A senhora está sozinha?
- Sim.
- Me desculpe, mas meu pai está na UTI do coração e eu não tenho a menor condição de discutir isso aqui com a senhora. Me dá seu número e eu ligo pra senhora mais tarde, talvez a semana que vem.
Se ela balbuciou algumas coisas, nem sei. Deixei a mulher sozinha, entre buzinas e xingamentos, atravancando o trânsito.

Entrei no carro. Tremendo, com ânsias de nervoso. Parei numa farmácia, tomei um relaxante muscular.
- Bati o carro, falei pra minha mãe.
- Meu Deus, e agora?
- Nada. Já tomei um relaxante; depois, faço fisio, ressonância, acupuntura. Depois.
- E o carro?
- Depois eu arrumo. A mulher falou que vai pagar - falou nada. Mas nem tinha ânimo pra entrar nessa discussão.
...
Minha mãe contou pro meu pai. Que me viu e foi logo perguntando:
- Amassou muito?
- Não.
- Anotou a placa?
- Han han - mentira. Nem me lembrei disso! - a mulher falou que vai pagar. - outra mentira. De novo. Mas é a mesma, daí só conta uma vez.
Meu irmão chegou:
- Antou a placa?
- Han han, a mulher vai pagar.
- Fez BO?
- Ainda não, faço hoje quando chegar em casa - que foi por volta das onze e meia da noite. Nem liguei o computador.
...
Passada uma semana, liguei para a senhora do Citroen. Ela me passou o telefone do marido que é quem resolve as coisas de carro. O marido disse para eu consertar o carro com quem fosse de confiança, que ligasse pra dizer o valor do orçamento. E pediu desculpas pelo infortúnio umas cinco vezes. E desejou melhoras ao meu pai umas dez.
...
Mais uma semana, ligo para o marido da senhora do Citroen.
600 reais.
- Como a senhora prefere fazer?
- O que for melhor para o senhor. Se o senhor quiser ir até a oficina e fazer o cheque para pegar a nota fiscal, podemos nos encontrar lá. Ou o senhor pode fazer um depósito para mim e eu repasso para o mecânico.
- Eu faço o depósito agora. E de novo, desculpe pelo infortúnio, melhoras a seu pai e tudo de bom.

Assim.
Dois minutos depois, o dinheiro estava na minha conta.
Fim.
...
Será que se eu fosse muito má, um homem bom teria batido no meu carro?
Não.
Será que se eu fosse uma filha horrível e não estivesse indo ver meu pai no hospital, meu carro estaria intacto?
Sim.
É isso: eu sou legal, pessoas legais cruzam o meu caminho. Nas piores situações.

De um jeito torto, todo dia o Universo me mostra que minha trilha é essa mesma: seguir sofrendo, aprendendo, mas com certeza absoluta que em tudo tem um lado bom. Se eu não vi ainda, já já acontece um acidente pra me mostrar bem de pertinho.

ps - já já já fiz ressonância, RPG, acupuntura. E não é (totalmente) mentira. Juro.



13.5.10

Igual diferente

Há uma semana meu pai sofreu uma ameaça de infarto.
De volta em casa para seu aniversário no sábado passado, comemoramos seus 66 anos de vida.
Tudo está como antes.

Mas, não sei...

Tive muito medo do meu pai sofrer.
Ele detesta hospitais (eu também)
E não gosta de jeito nenhum de ficar sozinho.
Quis muitas vezes trocar de lugar com ele naquelas horas frias da UTI.
Chorei um pouquinho, dormi um tantinho...

Mas, também não é isso...

Fiquei presa a pensamentos do futuro sem o meu pai.
E como seria quando eu tiver filhos, sem ele para ser o Vôvis.
O dia que eu quisesse apresentá-lo para o meu companheiro de estrada, de vida, o marido.
Chorei mais, não dormi nada...

E então, finalmente me veio:

Meu pai é um homem incrível
Herdei o sorriso fácil, o gostar da casa, mas também da estrada
A curiosidade sobre o mundo mecânico das coisas que funcionam com botões, luzinhas, cordas, fios, parafusos...
Ele me ensinou a trocar um pneu
A andar de bicicleta
E me salvou da piscina, sem nunca ter aprendido a nadar.

E por tudo isso, eu simplesmente não quero deixar que ele saia da minha vida.
É meu, eu vi primeiro, não vou emprestar, dar, alugar pra ninguém.
Nem pra Deus, nem pro céu, nem pro diabo que o carregue.
Egoísmo, vaidade, mimo de filhinha do papai:
Meu pai não está autorizado a ir a lugar algum sem antes pedir minha autorização!
E adianto logo - para morrer, a concessão está proibida pelos próximos 20 anos.

Como eu disse: nada mudou.
Ou pelo menos, não para pior.
Mas...
Sei lá, uma coisinha aqui dentro mexeu...
Brios, frios na barriga, ódio mortal da morte que um dia virá.
E também uma fúria louca de viver a vida com toda força!

11.5.10

Tigresa


2010 O Ano do Tigre

Este é definitivamente um ano explosivo. Começa geralmente com um estrondo e acaba com um choramingo. Um ano dado para a guerra, o desacordo e desastres de todo os tipo. Mas será também um ano grande. Nada será feito numa escala pequena, ou tímida. Tudo, bom e mau, pode e será levado aos extremos. As fortunas podem ser feitas e perdidas. Se você tiver uma possibilidade poderá agarrá-la mas nunca esqueça que tem grandes obstáculos pela frente.

As pessoas farão coisas drásticas no mesmo momento. Os temperamentos subirão ao seu redor, será uma época de testar a sua diplomacia. Como o tigre, nós tenderemos a agir sem pensar e a terminar lamentando-nos pela pressa que tivemos.

As amizades, os riscos comuns e os negócios que requerem a confiança mútua e a cooperação feitas neste tempo são frágeis e serão quebrados facilmente. Entretanto, o ano forte e vigoroso do tigre pode também ser usado para injectar a vida e a vitalidade em causas perdidas, em riscos, em indústrias que se afundam, e/ou falhando. Será do mesmo modo um momento para a mudança maciça, para a introdução de ideias novas e marcantes, especialmente controversas.
O calor impetuoso do ano do tigre, apesar de seus aspectos negativos, devemos dizer que poderia ter um efeito de limpeza e purificação em todos nós.
Tal como o calor intenso é necessário para extrair metais preciosos de seus minérios, assim também o ano do tigre pode trazer para fora o melhor que existe em nós.

Apenas um breve conselho para este ano imprevisível - agarre-se ao seu sentido de humor e deixe a má cara enterrada ou escondida durante este ano.

recebi via email, pela Pink. E sim, é bem por aí.

5.5.10

Bonança

Depois da tempestade, vem a bonança.
Ainda não lá.
Uma hora....

Coração

O meu, parou. Está congelado.
Suspeita de infarto.
Não no meu peito.
Mas no peito do meu pai.

Achei que era uma dor mais fácil, já que é no coração de outrem.
Nada.
Dor doída.
Sem fome.
Sem sono.
Sem vontade nenhuma.
Só mesmo de trocar de lugar.

Eu aguento fácil um quarto gelado e tubos nos braços.
Meu pai. Ele não suporta nada disso não, gente.

Muda ele de lugar: amanhã ele vai ao meu trabalho e eu faço mil outros exames.
Ou troca nossos corações.
Prometo cuidar do dele bem melhor do que cuido do meu.

Do jeito que for, que volte logo a bater o meu coração.
do jeito de sempre, igualzinho.
ou melhor até
quando o coração do meu pai sair do susto
voltar à guerra.
pulsar junto
junto com o meu.

1.5.10

Vai-e-vem

Percebi que todo bem que faço para mim mesma, também faço cinco maldades.
Esse jogo está bem desigual...