24.3.11

Os Três Porquinhos e o ... Tubarão!

Prometi a mim mesma postar aqui algumas das estórias que invento para o Enzo ouvir.
Não tenho a menor pretensão de fazê-las educativas, engraçadas ou qualquer outro adjetivo.
Minha única ambição é olhar nos olhos do Bijú e ver um brilho que sai da alma e ilumina o rosto do pequeno! Às vezes, seguido de um sorriso largo, outras, uma boca entreaberta, faz e desfaz caretas que acompanham o enredo. A estrória de ontem:
- Tia Bijú, você sabe contar uma estória?
- Ah, depende de qual você quer ouvir...
- Dos Três Porquinhos e o Lobo Mau.
- Hmmm, essa eu não sei, não. Mas eu sei uma dos Três Porquinhos e o Tubarão!
olhos arregalados:
- Conta!
....

Era uma vez os três porquinhos.
Eles estavam passeando na praia quando um pescador perguntou:
- Vocês querem andar de barco?
E todos os porquinhos se animaram.
Subiram no barco e chegaram até o meio do mar.
Aí, o pescador perguntou:
- vocês querem dar um mergulho?
E todos os porquinhos disseram:
- simmmmmmm
Daí, o pescador entregou roupas de mergulho para eles.
(vou citando cada item, e os olhos dele ficando cada vez mais sorridentes: a máscara, o macacão, o pé de pato...)
Eles pularam na água e foram nadando atéeeeeee a luz do sol não aparecer mais!
- Ficou tudo escuro, tia Bijú?
- Ficou! No fundo do mar é tudo muuuito escuro, até parece que está de noite. E aí, sabe o que os três porquinhos fizeram? Acenderam uma lanterna!
(Ele deu o melhor sorriso!)
E lá ficaram, olhando os peixinhos, as pedrinhas de corais...e de repente sentiram a água se mexendo...quando olharam pra trás....o tubarão!!!
(os olhos dele arregalaram!)
Eles levaram um susto enorme! E o tubarão veio nadando muito rápido na direção deles!
Sabe o que eles fizeram para se esconder?
(ele nem se mexe)
Apagaram a laterna e ficaram bemmmm quietinhos!
(ele dá aquele sorrisinho de lado...)
Aí, o tubarão foi embora e eles nadaram de volta até o barco do pescador!

....

De novo, tia Bijú!

19.3.11

Triângulo

Se há uma geometria do Prazer, o triângulo seria o desenho perfeito:

no ápice, claro, o orgasmo: uma centelha mínima que explode e transforma.
A sensação única de intensidade, entrega e exaustão.
Fácil de ser atingindo para uns, desejado por todos, o clímax físico de qualquer ser humano tem um segredo cruel: ele pode ser alcançado em completa solidão.
E é aí que fica um tanto frustrante.
Sem entrar nas diferenças entre um orgasmo compartilhado e aquele solitário, o fato é: saber que se pode ter um orgasmo sozinho, já é suficiente para um tantinho de chateação.
Fica vazio, sim. Pode até não ser importante na hora, no dia, no mês.... Mas que fica, fica.
O ato em si é único. Só que reproduzível tantas vezes quantas se precisar dar um basta na fissura que corrói o corpo. E saber disso leva uma pequena angústia para fora do físico e para dentro da alma. Que cala.

Daí no meio do triângulo, as hastes laterais, moram todos os prazeres outros: sexuais, gustativos, emocionais.
Os que nos adornam as vaidades, os egos, mas também a alma.
Os que nos fazem bem sem olhar a quem.
E é justamente isso que coça: a indiferença de para onde foi e por onde chega os tantos prazeres carnais, físicos, mentais. Porque tanto faz se o jantar é divino para mim ou para você. Se ele é tão incrível, independe de mim, do meu ser. Não precisa de mim nem de ninguém para seguir seduzindo...
Tudo que nos agrada o ego, o corpo, e o espírito são voláteis porque não precisam necessariamente de um de nós, mas sim de qualquer um de nós. Ser mais um na multidão desagrada a maioria. Ser único é o ideal de cada um.

E eis que então chegamos à base do triângulo, ao alicerce de tudo: as satisfações todas.
Aquelas pequenas e grandes, que nos moldam, nos alimentam e nos instigam a sermos mais e melhor.
Ao contrário dos prazeres que culminam ao orgasmo, cada satisfação é parte singular de nós: se não fosse nosso ato, nosso ser, não haveria a satisfação de estar vivo, almejar desejos, atingir orgasmos.
Mas, curiosamente, as satisfações vêm sempre acompanhadas - de um outro ser, uma pessoa em particular, querida por nós.
Nossas satisfações só recebem esse nome porque são compartilhadas com quem escolhemos ao nosso lado.
São nessas escolhas que depositamos toda a estrutura dos nossos prazeres, felicidades.
Em fases, é fácil simplesmente seguir sozinho, rumo ao ápice físico das sensações; há outros momentos que queremos sim um parceiro na construção dessa geometria.

O importante é ter lucidez nas escolhas. Não perder o foco do desenho todo, no que se constrói a cada instante. Porque quanto maior a base nas satisfações, mais firme, intenso e certo será a ponta na nossa figura.




13.3.11

Feijoada

Há algo de felicidade em uma boa feijoada.
É um cheiro de feijão, as multicores da mesa - couve, laranja, farofa, arroz, carnes - mas, especialmente, o que se vê ao redor.
Esse prato popular tem um quê de alegria como quando vemos balões coloridos voando ao ar!
Fogos de artifício, bolhinhas de champanhe, buquê de flores.
Feijoada.

Num domingo de quase sol, um monte de gente e crianças.
A reunião da feijoada trouxe gargalhadas, brincadeiras e um estômago estufado!

Na casa vizinhança aonde cresci - e aonde meus pais ainda moram - trouxe um ar nostálgico das tantas outras felicidades de não feijoadas que já vivi ali.
Com as crianças, bolas e bicicletas, desci para brincar e respirar o ar úmido - ali no cenário da minha infância, vejo meus sobrinhos correrem, crescerem.

A barriga cheia apertou o coração: uma sublime felicidade que era só de feijoada, virou também a alegria de estar ali: mais um domingo em família.
Enquanto beijo e abraço as crianças, faço força para carimbar nas minhas células essa exata sensação inexplicável de se ter a certeza absoluta de se estar no lugar certo, na hora certa, com as pessoas certas. Não, isso não é sorte: é amor.

um beijo para minha mãe, cozinheira da feijoada-felicidade mais fantástica!

12.3.11

Ciclone circulares ciclos

Estranhamente, tive uma severa TPM há dois dias.
Mas esse mês, senti uma irritação maior. Melhor: senti muita raiva mesmo. Um burburinho se apossou de mim. Uma agitação interna, uma convulsão inexplicada.
Porque nessa época do mês, sempre administro da melhor forma possível um surto de tristeza e melancolia. Daí, fico quieta, me isolo um pouco, entro pra dentro, por assim dizer...

Esse não, esse me tirou do prumo. Abalou minha estrutura: esperando a tristeza, veio a raiva.
Movimentos diferentes, ruíram minha confiança. Sem saber o que mais fazer, calei para ouvir. E o estrondo foi ruidoso.

Um tsunami chega num terremoto estrondoso e destrói a civilização mais moderna do mundo. De surpresa, superando todas as expectativas, varre o Japão e a confiança de todos nós de que a Terra é um lugar seguro para se estar.

Achei sinceramente que o movimento das ondas do mar chegaram nos mares internos do meu corpo. Senti aqui dentro a fúria incontrolável de estar fora de controle.
E como todo ser humano que habita esse planeta, virei pequena miniatura nas mãos da força natural das marés, das placas tectônicas. Nas mãos do meu próprio ciclo, fluxo vivo que insistimos em regrar, regular, reger.

Adequar o natural ao civilmente aceito: o ciclo da mulher, o ciclo das marés.
Seria este o maior ato humano de vaidade? Controlar?

De patins, percorri 12 quilômetros para só então entender:
a pretensão humana é tal que realmente pensamos que o Planeta foi desenhado para nós!
Que o ciclo da mulher veio para nos servir!

Um sorriso de canto de boca e percebo: sensações passadas, hora de reconstruir, recomeçar.
Para mim, banho, roupa, comida, cama.
Para o Japão, reengenharia, rearranjos, rezas.

Mas, para todos nós -
é (sempre) hora de repensar
o Homem não é máquina (nem a mulher!)
o Planeta não é máquina

Viver o agora é a única lembrança que levaremos desse corpo, desse mundo.
Há de se fazer o melhor de nós nascer a cada instante numa atitude
a favor do próximo
em prol do Planeta
com a certeza de que o seguinte instante melhor será.
E assim será.