31.5.08

Cante bem alto

Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome prá poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz
A luz de um grande prazer é irremediável neon
Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer djavanear o que há de bom
Pai e mãe, ouro de mina
Coração, desejo e sina
Tudo mais, pura rotina, jazz
Tocarei seu nome prá poder falar de amor
Minha princesa, art-nouveau
Da natureza, tudo o mais
Pura beleza, jazz
A luz de um grande prazer é irremediável neon
Quando o grito do prazer açoitar o ar, reveillon
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom
O luar, estrela do mar
O sol e o dom, quiçá, um dia a fúria
Desse front virá lapidar
O sonho até gerar o som
Como querer caetanear o que há de bom

30.5.08

Realidade Virtual

Nem tudo é o que parece ser
Nem tudo que é pode ser
Nem tudo que pode, deve ser
Nem tudo que se deve, se paga
Tudo que se paga, volta
Tudo que volta é porque um dia, foi
Foi meu
Ou de outro alguém

29.5.08

Horóscopo desta semana

VIRGO [August 23–September 22] Your role model is Tilly Trotter, a 74-year-old grandmother who lives in the U.K. She took up archery two years ago despite the fact that she was blind. Recently, she pulled off a rare feat, shooting her arrow so precisely that it split another arrow already lodged in the target. Among archers, this is called a "Robin Hood." According to my analysis of the astrological omens, you're primed for something similar, Virgo: a riveting triumph that would be difficult even for those who don't have to deal with a limitation like yours.

27.5.08

Fotos

Estou montando um DVD para o aniversário de 80 anos da minha avó materna, Ignez.
São nove filhos, contando minha mãe, que é a mais velha.
Sou a neta mulher mais velha. A mais nova tem dois anos.

Tenho em média umas 500 fotos escaneadas.
Todos esses personagens são ligados a mim pelo sangue.
São fotos lindas, as antigas.
São hilárias aquelas dos anos 80.

O que aconteceu com todos nós?
Será que nessas fotos existe o momento decisivo na vida de algum destes personagens?
Fotos de nascimentos, batizados, casamentos, festas surpresas, férias.
Mas, no exato momento da foto - será que houve aquela luz, aquele click junto com o flash?

Tem uma foto minha sentada num murinho de costas pro mar. Foi o ano que não passei no vestibular. Ali, naquela foto, eu estou serena - mas me lembro da angústia por dentro: culpa de estar de férias e não ter ainda uma matrícula na UnB.

Outras fotos, me lembro nitidamente do dia, mas não me recordo do momento exato da fotografia ali.

E assim vou passando pela vida da minha avó querida - os irmãos que já morreram nas fotos mais desbotadas (que ajeito o melhor que posso com a ajuda do Photoshop) - os filhos rechochudos virando pais, avós, profissionais; virando outras pessoas que não estão mais nas fotos - e já estiveram algum dia?

As fotos me dão um senso de pertencer a algo muito maior que eu - esse estranho laço, o sangue - que considero muito menor que o do afeto - me envolve o peito e é inevitável o sentimento de amor.
É uma ternura calma, e fica difícil não perdoar, esquecer as desavenças quando olho o antigo inimigo em trajes de gala numa gargalhada que ecoa pela foto! Ou o filho que já foi, o dinheiro que acabou:

É impossível não amar o outro quando tenho nas mãos as provas da vida tão complexa catpurada em luz e sombra.

Todas essas pessoas que viveram e morreram são minha família. Umas eu amo de paixão, outras, mal conheci. Umas estão ali nas fotos, outras estão por aí, no mundo.

E imagino se minha avó, como eu, se pergunta:

O que aconteceu com todos nós?

26.5.08

Tudo ao mesmo tempo agora

E quero abraçar o mundo com as pernas, com os braços
Dar um abraço e um beijo
E nunca mais soltar!

25.5.08

O Homem Desiludido

Era um Carnaval de rua, numa viela apertada e quente.
Uma marchinha tocada por um grupo de músicos afinados e a turma fantasiada dançando atrás.
Eu vinha na frente vestida de passista e cantando alto. Parei numa banca de jornal.
Agora, estava em terras estrangeiras - falava inglês.
Na hora de pagar, minha ficha pessoal sai no caixa -
- I´m sorry, can´t sell you anything because it seems that you like pornography
Eu olhei surpresa para o homem:
- Well, I don´t think this has anything to do with it
E meu irmão me repreende porque eu não devo responder às afirmações feitas nesse país. Saio dali ultrajada, nunca abriria mão da minha individualidade para ficar num país assim.
Então, já estou num tour dessa pequena cidade medieval/histórica, (onde já vivi outro sonho antes destes) e minha tia Ana e minha mãe, visitam uma catedral.
Por fora, ela é exatamente como a Notre Dame - por dentro no entanto, é vazada, ventilada, toda de madeira - e tem um bar todo de espelhos e vidro, com garrafas e rótulos e barmen vestidos de fraque.
Saio dali comentando o quanto estou apaixonada e cheia de esperanças.
Entro na casa onde moro - porque agora já estou no meu país - e o apartamento é grande, iluminado, com um lindíssimo jardim de inverno bem no centro. Há plantas tropicais, janelas altíssimas e estou no meu quarto falando ao telefone (em português) com uma grande amiga (que não existe na vida real) sobre o homem que estou apaixonada (que não existe na vida real) - e então, vejo um vulto na porta.
É um adolescente, alto, moreno, que veste apenas uma sunga vermelha. Ele é magro e desengonçado e consigo segui-lo até a entrada.
Meu irmão sai do quarto dele ao mesmo tempo e acusa o moço de sunga vermelha de ser um espião para o meu amado.
Pego o jovem pelos cabelos, torço os braços para trás com a força da ira e ao sentá-lo numa cadeira, insisto:
- Quem te mandou aqui?
Ele chora e treme e me responde em soluços:
- Um homem que quer estragar tudo.
- E quem é esse filho do demônio?
- Um homem que sofreu uma grande desilusão e agora quer acabar com todo o amor do mundo.
Surpresa, minha raiva aumenta. Pergunto para mim mesma:
- Como posso fazer para revidar esse ato de tanta maldade? Poderia mandar esse menino me levar até esse homem e acabar com ele, bater nele, fazê-lo sofrer.
Mas só há um único meio de atingir esse homem tão cruel.
Abraço o menino que ainda chora. Dou um beijo nas bochechas dele.

Acordo com o despertador.
E no entre-sonho decido que ao encontrar o homem desiludido, olharei bem fundo nos olhos dele, e num abraço longo e afetuoso, vou dizer no seus ouvidos:
- EU TE AMO.

22.5.08

Virgo

An interesting interlude awaits you. Three planets in Gemini, the sign governing your career, places you very much in the forefront of what’ll be happening. Magnetic Venus attracts attractive people, e.g., more artists, and the creative sun gives them the power to test your mettle. However, it’s your Mercury ruler, retrograde from Memorial Day until June 19th that can drive you to distraction by not delivering what you want when you want it. Perhaps the universe has another plan, such as spreading your good name?

I suggest that you temporarily suspend your strident yearning. This is one time when it's important to cultivate more appreciation for what you actually have. I urge you and all Virgos to turn your attention away from what you think you lack, and devote your psychic energy to loving what is.

O Corpo de Cristo

Eu não sei bem porque hoje é feriado.
Nem quando eu tentei ser católica eu sabia muito bem...

Hoje é dia de folga, mas tô no trabalho.
Queria ter saído ontem para tomar umas,
Mas fui pra casa, tomei um banho bem quente,
Fiquei de pijamas conversando com a Lu pelo msn.

Eu queria muito ter acordado tardão,
Mas fui tomar café da manhã com a família.
E queria muito mesmo ter patinado no parque logo depois,
Mas fiquei esperando a portaria do STF achar minha autorização para trabalhar no feriado que, claro, a TV Justiça não passou.


É estranho
Mas eu estou com a sensação de ter perdido as rédeas
E a vida está me levando para lugares que me falta tempo para assimilar

Tenho mais duas semanas de 13 horas por dia de trabalho
Com intervalos de fins de semana para fazer a lista de coisas pendentes...

Ai, ai -
eu não queria ter pendências...
mas trabalhar demais deixa a vida de lado
E a vida cobra ser vivida
Estar com amigos, estar no sol, estar só
No silêncio
Na luz
Na alma

19.5.08

Ouvinte


Uma antiga amiga uma vez me disse que fazer um homem falar dele próprio era garantia de conquistar sua atenção.
Em algumas situações, coloquei essa filosofia à prova -
em geral, as pessoas gostam de falar delas mesmas (e aqui estou eu, num lugar exclusivamente reservado para falar de mim!), não apenas os homens.

Muitas vezes, muitas mesmo, conheci homens em festas, bares, casa de amigos.
Na maioria desses primeiros encontros, aplico a teoria da minha amiga.
Pergunto e recebo uma avalanche de respostas. Outra pergunta, mais um enchurrada de histórias...
E não raro, fica por isso mesmo.
Aquela pessoa está ali, falando pra mim sobre seu trabalho, suas viagens, sua vida inteira, e sequer faz a pergunta mágica:
- E VOCÊ?
Não há chance: ele tem mais pressa em se fazer conhecer, transformar minha pessoa no espelho dele.

Confesso, isso não me aborrece mais. Aliás, acho até mais econômico porque na primeira conversa (ou deveria dizer monólogo?) já sei que aquele sujeito, no máximo, só quer me comer naquela noite. Nada contra a situação, diga-se de passagem, mas é bom saber tudo isso antes de criar mil outros cenários.

Essa percepção do outro em relação a mim não é de agora. Mas ultimamente, ela está bem latente. Observo o cara me observando e noto que aquele tempo prestando atenção em mim é a menor fração do tempo que ele vai dedicar na sequência, em falar dele pra mim! Daí, tenho duas reações - ou corto a figura no meio da frase e começo a falar de mim (ele não perguntou mas eu tô respondendo), ou vou para outro planeta, espero a próxima pausa e me retiro mais ou menos educadamente.

Claro, tenho sempre a terceira opção - o cala a boca e beija, pô! - mas não tem nada mais broxante que um cara que fala o tempo todo só de si.


Imagino que a conclusão é que sou uma boa ouvinte (e eu sou mesmo) - dia desses alguém vai querer saber porquê.

17.5.08

Preguiça

Tá tanta que nem consigo em pensar no que escrever.

Por mim, me deitava agora e só acordava na segunda cedo para mais trez horas seguidas de trabalho - por mais duas semanas...só que por isso mesmo, não vou dormir tão cedo hoje!

Amanhã eu me prometo - acordo só pra almoçar!

16.5.08

Catarse

Eu brigava, gritava.
Era grosseira com todo mundo.
Virei um prato de comida no restaurante,
Xinguei um monte tudo que tá entalado aqui ó.

Chutei cadeira, derrubei mesa, saí pisando duro.
Desliguei o telefone da cara
Falei de perto, cuspindo no rosto

Chorei de raiva.
Mas só de raiva. Raiva pura.

Ninguém me entendia, eu precisa ser ouvida, finalmente!

Acordei cansada, mas com a deliciosa sensação de alívio!

15.5.08

Paixão

Estou imersa num amor profundo.
Ser tia tem sido o melhor brinde que essa vida já me deu!


dia do batizado. note a mãozinha segurando as bolinhas do vestido...

12.5.08

Malabares

Trabalho e freela
Aulas e reuniões
Nada de meditar, dançar

Noites para dormir
Descanso para a família

Como prometido, um ano de trabalho
Também prometi voltar a dançar
(e outras promessas que não posso divulgar ainda)
E até aqui, tudo se concretizando

Enquanto isso, as pessoas que amo, aquelas pra quem sempre torci por um grande amor
estão apaixonadas, se encontrando, mais felizes!

De tanto ver e ouvir coisas boas acontecerem com elas
Começo a pensar que, em algum momento, vai sobrar coisa boa pra mim!

11.5.08

Outro dia das mães

Acordei no meio da noite com aquele gosto de cabo de guarda-chuva na boca.
Mandei Gatorade pra dentro, foi vinho demais!
Vi o dia amanhecer, fritei na cama com a barriga super cheia.
Hoje é dia das mães e supostamente a gente deve ficar ao lado delas.

Eu passei dez anos longe da minha mãe nesse dia.
Não me fez falta nenhuma.

Mas, comprei um presente caro pra ela e outro pra Rafaela, a mãe do Enzo que é meu sobrinho.
E é claro que recebi muitos - Feliz dia das mães para a senhora - das vendedoras, flanelinhas, e tal...
Afinal, eu tenho 35 anos e a expectativa social é essa mesmo: eu deveria ser mãe de alguém nessa idade...

Fomos todos tomar café da manhã juntos.
Todos de muito bom humor.
A minha mãe e a mãe do Enzo adoraram os presentes que comprei.
Eu não ganhei presentes, é claro - mas estava feliz de estar ali sendo tia.

Voltei caminhando pra casa enquanto eles foram almoçar com a minha avó Ignez.
Sozinha, me deu uma vontade de chorar, só um pouquinho. Mas passou.
Não preciso mais de comida. E nem de momento família.
Por hoje, é só.
Realmente não me fará falta alguma...nem uma, nem a outra.

Sozinha agora, não tô com vontade de chorar nem um pouquinho. Mas isso também passa...



Minha mãe me segura no colo e a tia Miruta olha pra nós. Adoro essa foto

10.5.08

Possível

É possível ser feliz como sou
É possível ser feliz onde estou
É possível ser feliz com o que tenho
É possível ser feliz nesse momento

E nesse, e nesse, e nesse...

8.5.08

Discutindo a relação

O Enzo gosta de mim porque quando chego, estou sempre sorrindo.
Ele gosta de mim porque beijo muito ele, abraço, faço carinho...
Meu sobrinho gosta de mim porque eu brinco com ele as brincadeiras que ele quer.
E cuido dele quando ele precisa - dou aguinha na boca, pego no colo, troco a fralda.

O Enzo me adora porque eu faço ele rir.
E também porque quando estou com ele, estou só com ele.
Nada mais importa, não me distraio com a tv, não atendo o celular, não abro emails.
Ele gosta de mim porque dedico a ele toda a minha atenção. De coração e tudo.

Quando ele chora, eu sofro
Quando ele dorme, eu sorrio
Quando ele não está, sinto falta

O Enzo me ensinou isso.
Que é possível alguém gostar de mim
Assim como eu sou
Se eu for somente assim, EU.
No melhor EU que eu posso ser

Sei que ele não chegou tarde demais na minha vida...
Não pode ser, não pode ser tarde demais...

7.5.08

Sobrinho

O bom de ter um sobrinho é não ter que ficar falando da sua vida pessoal nos encontros de família.
É só ficar lá no chão, brincando com o menino enquanto os adultos ficam horas falando de si próprios.

6.5.08

Foi sonho, sim

Tive um sono perturbado, confuso, cheio de informações.
Acordei e dormi,
Mas o sonho veio feliz, feliz!

Era um sonho romântico
Foi um beijo
Foi um beijo nú
Na água
Leve mas intenso
Foi um beijo de bater o coração forte
Foi um beijo de sentir a água esquentar

Foi um beijo de sereia
Certo de sentimento
Cheio de intenção

Foi um beijo sim
Como tantos da vida real
Esse beijo foi em sonho
Um sonho de beijo
Um beijo de sonhar com

2.5.08

Dejà Vu

Coisas e pessoas têm me empurrado a pensar em Nova York.
Quase todos os dias ouço de um ou de outro os planos de viagem para a capital do mundo. - Fora todas as todas as outras tantas referências cotidianas em filmes, revistas, leituras.
Uma amiga me perguntou outro dia - você sente saudades?
- Não, eu respondi - e ela retrucou:
- Mas o seu olho brilha quando fala de lá.
Me calei. Eu sei que brilha. Eu sinto que brilha. Mas não é de saudade.
É que me dou conta da sorte que tive - de viver 6 anos (nos meus 20!) num lugar que tinha muito pra me ensinar.

Aprendi minha profissão, aprendi a ter um relacionamento, aprendi a viver só.
Se eu teria aprendido tudo isso aqui mesmo, em Brasília? Não.

Além do inglês fluente, do senso ético naiive, da assertividade na relação com as pessoas, em Nova York eu senti SAUDADE DE MIM.

Mulher, latina, pobre. A noção de não pertecer foi constante na minha vida como imigrante porque eu não me sentia parte de grupo algum:

A comunidade latina tinha preconceitos contra os brasileiros porque não falamos espanhol; eles acham a gente legal e tal, mas não pertencemos e ponto.

Os brancos americanos acham que somos incríveis, lindos, criativos, exuberantes. Mas não assim, moça pra casar.

Os negros americanos acham que somos brancos demais e estão muito ocupados cavando o próprio espaço. Não dá pra ser minoria da minoria.

O curioso é que, alheia a tudo isso, fui inventando meu nicho, criando amizades e ligações com pessoas que eu JAMAIS teria conhecido se já tivesse todos os pré-conceitos que acabei de descrever! O fato de eu não saber que as pessoas me viam assim ou assado, me fizeram cortar o universo americano numa porção transversal só minha.

Daí que eu conheci pessoas no curso de cinema que eram de todo lugar. Minha melhor amiga calhou de ser inglesa, a Gayle. E meu único amigo brasileiro, o Antônio, me apresentou para minha companheira de quarto, a Beth, que havia morado no Brasil, mas também na Índia e que além de cozinhar e cantar lindamente, tinha um leque de amigos do mundo arte - do qual tirou do chapéu meu namorado (de cinco anos), que apesar de sair do mundo arte, era banqueiro do mercado financeiro, milionário e judeu.

E o Ethan abriu o outro mundo, o mundo capital - onde ninguém era o que parecia e nós dois éramos as figurinhas exóticas.
Nas rodas dos casamentos e jantares milionários eu era o animalzinho da vitrine e comecei a notar isso. Ao invés de me incomodar, passei a ter um certo orgulho de NÃO PERTENCER. Fazia questão de ser incrivelmente simpática, doce, meiga, e ainda assim, desfilar de biquini nos casarões de verão, sem sapatos, sem dinheiro, sem qualquer compromisso com os bons modos protestantes.

Eu não me sentia eu mesma. Mas eu não era EU para mais ninguém além de mim, logo, pouco importava quem eu estava SENDO. Porque no final, tudo era EU. Se é que me entendem.

Fiz grandes amigos, muitos americanos, inventei rotinas, jeitos e manias. Fui me moldando àquela multi realidade, até que um dia bateu forte uma sensação de PERDA:

eu fui trabalhar numa ONG ambientalista, a sede era no Zoológico do Bronx. Peguei o metrô Uptwon 9. E ali, me vi perdida. Eu era a única mulher branca do vagão. Estava de pé num trem lotado de homens e mulheres negros. Senti os olhares, senti os suaves cutucões, deu uma vergonha, um medo, uma dor de ser EU. Saí do metrô sufocada. E a sensação de ir e voltar do trabalho, somadas aos quase seis anos que eu já morava no exterior me fizeram sentir uma SAUDADE ENORME DE MIM.

Eu quis voltar. Mais forte que tudo, mais forte que nunca. Eu quis voltar porque eu entendi: eu posso ser quem eu quiser, aonde eu quiser.

Trouxe de lá um forte sentido de ser indivíduo multifacetado. Cameleônica, adaptável, resignada e rebelde. E daí que hoje eu tenho RESPEITO. Por quase todo mundo. E por muitos que eu não teria, caso não tivesse me perdido e me achado.

Não, não é saudades de Nova York. Às vezes, sinto saudades de MIM.
Aí, me dou um abraço, me faço um bom jantar...

Mato as saudades de mim e fico com as boas lembranças de onde vivi.