31.10.08

Sabia que deveria ficar online até agora
Não tinha a resposta assim, em palavras, mas sabia

Daí, meu irmão ficou online
E trocamos algumas linhas:

Estão todos bem
Só faltou eu
Meus pais estão ótimos e adorando
O Enzo está engraçado e "falador"

E foi me dando um aperto aqui
Na boca do estômago
Um nó de marinheiro
Nesse cerrado sozinha
Até...

Chorei de saudades
Do Bruno
Do Enzo
Dos domingos em volta da mesa com cheiro de café e doce
Do papai com as histórias mirabolantes
E mamãe com um comentário atento
E a risada boa da Rafa

A gente seleciona as memórias
E eu apaguei estas
Das saudades de família
E só agora me lembro
Que pode ser grande e pontuda
Um nó na barriga
Uma lágrima na bochecha

Um amor estranho que a distância evidencia
É esse amor de família
Que nunca fiz muita questão de ter
Porque na verdade, sempre esteve ao redor
E dentro de mim.

Um beijo e um abraço apertado pra todos os viajantes: papai, mamãe, Bruno, Rafa e meu Biju-Enzo

29.10.08

Calor

Acordei de mais uma noite mal dormida com o calor infernal que assola Brasília há vários dias.
Desliguei o chuveiro elétrico, mas a água cai morna no meu corpo suado de lençol.
Nem banho dá vontade de tomar.
Estou cansada, estranhamente cansada.
É esse calor, pensei comigo -
E também pensei
E se for assim daqui pra frente?
Todo outubro sem chuva e com um sol de agosto?

O ser humano se adapta a tudo, não me preocupo com as próximas gerações
que nascerão já nesse clima apocaliptico.
Mas...e nós, que já brincamos nas chuvas de outubro?
Que assistimos filmes em VHS com a céu caindo lá fora em novembro?

Teremos que nos adaptar, não há outra saída.
Me sinto na obrigação! Como posso deixar de viver porque está calor?
Não posso me deixar levar pela preguiça e o desânimo do calor desses dias.
Não.
Hoje à tardinha, vou correr no parque.

27.10.08

Mundos

Depois de um intenso e merecido mergulho no Samsara, fui meditar hoje à noite.

Passei o fim de semana em isolamento total do mundo cibernético:
me dediquei exclusivamente ao mundo palpável e tátil
-
Tomei sol e comi muito com a Bio e Luiz - que agora são paulistas e sempre chegam e voltam correndo -
matar a saudade não dá, mas dessa vez deu pra por a fofoca em dia - ou quase.
E a comidinha da tia Marilene tira qualquer dieta do prumo! Pena de mim!

Comecei minhas sessões de corrida com a Cris em um dia e com a Márcia no outro.
Não preciso dizer que estou dolorida, mas a exaustão física é um alento pra minha alma:
Aos poucos, entro no mundo físico do esporte, da prática da atividade com um objetivo único - estar bem.

Fui à festas de aniversários com amigos, bebidas, música e risadas altas. É de todos, o mundo mais familiar,
mas que aos poucos vem perdendo espaço pela idade, preguiça e para tantos outros mundos que eu ainda quero conhecer!
Visitei meu avô, que com 90 anos, resumiu tudo:
"Eu me achava muito evoluído. Mas com a morte da sua vó me dei conta que sou como todo mundo. Sofro e choro de saudades"

A ausência da minha família direta - todo mundo em Santiago do Chile - me lembrou de como era viver longe de pai e mãe: uma saudade gostosa de sentir, uma liberdade boa, mas uma apreensão lá no fundo - e se eu nunca mais vê-los?

A meditação me lembrou que eu não sou nenhum desses mundos. Que eu não pertenço a nenhum deles. Eu sou somente uma sombra. Porque perto de mim, sempre há Luz.

22.10.08

Adeus

Hoje eu reli uma carta de amor datada de 25 de novembro de 2004.

Foi a carta mais linda que alguém já me escreveu.
Palavras doces e amorosas, tudo que eu sempre quis ouvir.

Uma pessoa que realmente me via, me enxergava como sou -
mas como ele mesmo disse, dois anos tarde demais.

Eu li tudo, do começo ao fim e aí veio uma vontade de chorar.
Ontem eu também tive uma vontade de chorar
Aliás, pensando bem, já faz um tempo que eu ando assim, meio com vontade de chorar.

Daí, quando eu choro, vem uma lagriminha solitária, que nem escorre direito

Enxugo a danada do rosto e perco a concentração na dor -
O adeus ficou no passado
O amor ficou no passado

E o que está comigo aqui
É essa incrível possibilidade de querer amar alguém
Não cabe mesmo lágrima de antigo amor.
No máximo um sorriso de canto de boca, os olhos fechados na chuva
Sopro com força um beijo carinhoso
Para ele, sempre tão longe
Vai junto um novo adeus
Cheio de espera
E de esperança

21.10.08

Probabilidades

É possível que o improvável aconteça um dia?
Ou seria provável pensar que o impossível uma hora acontece?
Afinal, é tudo um jogo de palavras
Ou são peças nos lances do amor?
Sinto saudades das tantas certezas
Que nunca mais tive

18.10.08

Inimigo íntimo

Demorou, mas as cigarras berram em Brasília.
Este ano, fiquei um tanto ansiosa com esse tempo longo para sairem da terra.
Eu adoro reclamar das cigarras! E morro de medo delas também!

Geralmente, anunciam a primeira chuva e por aqui ficam até quase o Natal.
Os ipês se despedem, entram as cigarras, os içás - que são formigas aladas - e finalmente, os flamboyants e a chuva de verão.

O hiato entre agosto e setembro nunca demorou como este ano.
Espero, espero e numa noite calorenta, as janelas escancaradas convidaram -
A cigarrinha entrou rápida no seu zunido particular.
Bateu no vidro, na parede, na luminária e tuft! - entrou por entre o lustre a lâmpada!
Gritaaaava!
Num salto de susto, apaguei a luz! O que mais poderia eu fazer?
Ela vai morrer presa ali.

Me deu uma profunda tristeza e um medo terrível - a criatura que detesto tanto, vai morrer presa, aqui na minha casa!
Ela morreu mesmo, vejo a sombra dela quando acendo a luz. Não tenho coragem de tirar o lustre para jogá-la no lixo. Eu tenho medo de cigarras mortas também.

E lá estava ela até ontem à noite, no calor insuportável que temos tido por aqui: a janela é a moldura de um quadro onde lá fora nada se move. A jaqueira parece pintada ao lado dos carros e prédios. Vidros devem ficar abertos!

Não sopra vento, mas... eis que outra cigarra vem me visitar! - Das grandes!
Fico ali, no computador, fazendo de conta que nem ligo. Ela, em silêncio, está na cozinha. E por ali fica, sem cantar (o que me faz pensar que deve ser fêmea, pois somente os machos cantam para acasalar. E aliás, não é cantar com a garganta; é uma espécie de fricção do abdomem.)Me convenço que isso é um absurdo, apago tudo e corro pro quarto de dormir.

Não passava das 7 da manhã, a cigarra me acordou hoje. Com muito calor, fui pro banho morta de preguiça e medo - ela ainda está viva! Por que não foi embora daqui?
Vesti uma roupa e chinelos, e apelei para o novo porteiro do prédio.
Quando subiu de vassoura em punho, comentou:
- Eu vou matar ela pra jogar fora.

Senti um golpe no estômago. Ela já estava meio moribunda, lerda, andando pelo chão branco, perdida e calada. (Vai ver que era por isso que buscara refúgio, um lugar longe das outras, felizes e cantantes.)
Matar uma cigarra? Outra?
No outro canto do apartamento, ouvi as vassouradas baterem forte no chão da cozinha.
Para cada baque, um pulo no meu coração. Me deu vontade de chorar.
O porteiro varreu a cigarra morta pra fora de casa.
Fechando a porta, senti uma solidão profunda.

No Templo, o monge Haritane falou das cigarras. Como demoram pra sair da terra para cantar por pouco tempo - como nós, que demoramos tantas vidas para chegar à iluminação.
E daí, comentou que uma cigarra entrou na casa dele. Como a minha visitante, aquela era fraca e doente. O monge deu a ela água com açúcar e conviveu com o tal ser por um longo dia até a cigarra morrer naturalmente. - E aí, eu fiquei triste - ele acrescentou.
E eu, mais ainda.

15.10.08

Efeito Lua Cheia

Estava eu e este homem.
Era a sala ou o cômodo de algum lugar, um apartamento talvez.
Estava dia, a luz entrava forte pelas janelas,
Mas não era calor, era bom
Ele estava sentado no sofá e me puxava de leve bem pra cima dele
Eu sorria, falávamos em outra língua - talvez espanhol?
O beijo era bom
A textura da pele,
Olhando no olho
Já estávamos sem roupas

Em movimentos uníssonos
Sem sons
Só palavras em outra língua
Lábios
Orelhas
E um longo suspiro
Ao acordar

14.10.08

Lenço

Comecei em julho, ou seja, três meses de aulas.
Mudei de horário, porque o tempo anda meio apertado mesmo e é melhor andar pra trás do que parar
pelo menos em se tratando de algo que teimo em aprender.

Acho que sofri um leve retrocesso, porque matei aulas demais, quase três semanas seguidas!

Mas, hoje, saindo pra aula, via a lua cheia, e com meu lenço novo amarrado abaixo da cintura
Me senti uma rainha egípcia
Com guizo nos quadris
Dançando ao luar!



ps - esta foto é meramente ilustrativa, viu pessoal...

12.10.08

Início


Eu achava que quando alguém assume um compromisso com você, tem que cumprir até o fim
que quando a gente promete algo, tem que fazer
falou tá falado, promessa é dívida
ajoelhou tem que rezar

Me sentia muito bem assim, cética e certa no meu mundo de afazeres prometidos
promessas cumpridas
encomendas entregues

Até chegar o amor
e o fim dele

E me vi desprometendo, descumprindo, desfalando
desfazendo os compromissos todos!
O amor - em todas as formas que passou na minha vida,
me fez ver aos poucos que, o compromisso é feito,
a vontade é de cumpri-lo,
mas a força da vida, do sentimento, do mundo
muda tudo
toda hora

Assumir um mesmo amor, fazer dele um compromisso,
é desafiar a estrutura orgânica da vida,
de si próprio,
dizendo um sim que já se sabe de antemão
que terá tantos poréns -
e é exatamente nisso que reside toda a força do compromisso de amar

(E por aprender isso,
vim fugindo do dito cujo a vida toda)

Com medo de não conseguir
de mudar de idéia, de sentimento, de vontade;
com tanto medo de assumir,
que preferi sempre culpar o outro
inventar uma celeuma, mudar de país

Meus relacionamentos acabaram porque
eu, eu tinha medo do compromisso
não de cumpri-lo
mas de descumpri-lo,
de desfazê-lo
acordar de outro jeito e fim

Por tudo isso
Hoje fiz minha iniciação no Budismo
A cerimônia de Tomada de Refúgio nos três tesouros do Budismo
(O Buda, o Darma, e a Sanga)

Assumi um compromisso de viver o budismo na minha vida
Vivendo a experiência direta do darma
Praticando a compaixão e o bem ao próximo
No meu Caminho Óctuplo

Fiz um compromisso sério, pensando em cumpri-lo até o fim da minha vida
Fiz morrendo de medo
com algumas incertezas e dúvidas
e me sentindo ainda muito ignorante e incapaz

Mas, fiz um compromisso.
A pessoa que sou hoje fez um compromisso hoje

Amanhã, quando acordar, farei um novo compromisso
Com o sentimento da pessoa que eu serei amanhã

E assim será
como a vida,
um novo compromisso a cada dia
numa nova pessoa que serei a cada dia
budista, iniciada, mas nunca a mesma de hoje
deste momento
deste compromisso
mas acreditando sempre na fé
e na minha capacidade de ser, todo dia,
uma pessoa melhor do que fui ontem

8.10.08

Mãe


Hoje é aniversário da minha mãe.
Espontânea, inteligente, linda.

Ela está com 62 e por tudo que já passou, até que segurou bem a onda.
É uma pessoa ímpar
Porque é agressivamente leal
Intuitiva
Careta
Doceira
Ledora curiosa de tudo sobre o ser humano
E incrivelmente doce e brava ao mesmo tempo

Me vejo com 62 anos quando olha pra ela
Imagem e semelhança
Aceito os defeitos herdados
Ansiedade
Dona da verdade
Ciumenta
Preguiçosa

E lamento as qualidades que não vieram no sangue
Paciência
Generosidade
Senso de profundidade, tamanho, localização

Hoje, comemoro com ela mais um ano de alegrias e tristezas naquela vida
O Enzo, a doença imunológica, o trabalho
Mas principalmente
Hoje celebro a alegria de ser parte da vida de mamãe
Conversar, fazer planos, falar mal da vida alheia, fazer as unhas
No auge na minha vida adulta,
Finalmente, reconheço nela uma grande amiga e mulher!

Beijinho, mãe!

5.10.08

Sobre ver o invisível

Eu amo arte.
O que ela pode representar para mim e os efeitos que me causa.

A surpresa que a arte traz - uma lembrança do humano em mim - de sentimento, sensação, emoção
me deixa compreender que faço parte do todo, do humano e do não humano.

Estar despreparada para o que vou ver, ouvir, sentir na arte - é estar no presente, viver o aqui e agora intensamente.

Olhos abertos, mente atenta - e a arte vai até o coração. Ilumina pela luz que sai das tintas, tranborda notas musicais, o escuro do teatro.

A arte é divina. E humana. É o caminho, o fio de contas, a flor que nasce na sala escura do cinema, na aquarela em branco.

Mas só agora, tudo isso faz sentido em palavras.
É que só esse ano, conheci a Adriana.
E vi nas suas telas, minha jornada no budismo até aqui.

O budismo virou arte, que virou vida, que virou budismo.
Que na verdade, sempre foi tudo.
E tudo sempre foi budismo.

Adriana, meu veículo para a arte-luz
E Budismo, meu veículo para a vida.

Beijão, querida. Obrigada.


ps - "O Budismo cabe em um copo d'água" - exposição individual de Adriana Marques - de 5 a 18 de outubro no Mezanino do Teatro Nacional, Brasília.

1.10.08

Pra semana

VIRGO [August 23–September 22] Talk back to those annoying voices inside your head, Virgo—I mean those nagging little chatterers who second-guess you 10 times a day, trying to undermine your faith in what you've started in recent weeks. And as you respond to their agitation, do so with poise and grace—not with defensiveness or bitter complaint, but with a quietly aggressive confidence that the intuitions you relied on to launch your new projects were basically sound. Those annoying little voices are trying to convince you to go back to square one, when in fact you're on the right track and merely need to do some tinkering.