28.5.12

Trabalho, medos e amigos

Na secretaria, duas mulheres atendendo.
- Acho melhor você fazer isso daqui que eu estou fazendo. Não sei fazer, vou fazer errado.
- Não. Eu vou deixar você fazer sozinha para você aprender - respondeu a colega, com um afago na voz.
- Mas é difícil e eu não vou aprender!
- Faça e eu fico aqui, se você errar, eu ajudo. Daí, o dia que eu não estiver mais aqui, você ficará segura de fazer sozinha.
Resignada, a outra moça fez o serviço, tirou dúvidas, terminou tudo.
Interessante como há gente que tem medo de errar.
Raro isso de ver um colega ajudar, com generosidade, paciência e afeto.
Fiquei feliz pelas duas - porque se encontraram nessa vida numa parceria tão perfeita. E pensei na minha nova jornada: não tenho alguém que me ajude nos erros. Mas, também não tenho tanto medo assim de errar...e de novo, pensei o quanto as parcerias são perfeitas, com todos os tantos defeitos.

13.5.12

48 horas sem celular, ou uma coisa de cada vez

Sexta à noite, percebi a ausência do meu aparelho celular na bolsa. Com pressa, imaginei tê-lo deixado dentro do carro. Na volta, olharei as ligações, falei alto.
Pessoas ansiosas a procurarem cadeiras, em uma competição velada por um espaço, aguardamos todos a chegada da palestrante.
E eis que sobe a escadaria, a Monja Coen. Faço uma reverência sorrindo e emocionada. Murmuro um boa noite e seja bem vinda.
Ela me olha através de mim com um sorriso desses que só quem já andou muito por essa trilha tem: o rosto dos santos, o rosto dos monges, o rosto humano na sua forma mais natural: a serenidade.
Nem sério, nem sorridente. O sorriso da Mona Lisa. O sorriso da alma.
O sino toca. Há silêncio. Estou lá fora, sem vê-la, e mal ouvindo suas palavras. Mas estar ali, só isso, já me acalanta. Tudo conectado nesse momento iluminado.

Mais tarde, caminho em silêncio até o carro, procuro com preguiça o aparelho. Está escuro, deixo isso pra lá. Vou dirigindo e pensando qual a real necessidade de se ter uma conexão imediata com quem não está presente, ao meu lado, aqui e agora. 
O que estou perdendo se me desconectar do que não está aqui?

Eu mesma criei o hábito e não sei mais viver sem ele:
o hábito de me certificar a todo instante, quem me ligou, que horas são, o que está anotado para fazer nas próximas horas.
A mania de nunca estar de fato fazendo uma coisa de cada vez; uma angústia de não estar vivendo 100% o que a vida oferece.
Respiro aliviada: uma coisa de cada vez é a única maneira de se viver tudo que a vida tem!
Penso seriamente em nunca mais ter um celular.
No dia seguinte, tento em vão bloquear minha linha até encontrar meu aparelho - que suspeito ter deixado no trabalho - mas nem isso me chateia tanto.
Ligo para mim mesma e o número toca sem resposta.
Desligo sorrindo.
Passei 48 horas vivendo aonde e com quem esteve comigo.
Um sábado quieto e um domingo em família.
Há tempos não me sentia tão presente e plena.
Desconectada, fiz uma coisa de cada vez.
Mas o melhor de tudo foi ter a sensação de não ter perdido nada.

ps.: Hoje é dia de N.S. de Fátima e dia das mães. Achei auspicioso tudo isso acontecer sob o manto protetor de tantas mulheres incríveis na minha vida!