28.3.09

O sol do Saara


Manhã no acampamento no quase deserto do Saara.

O que dizer de Marrocos?
Nao acho adjetivos.
Senti a solidão da falta de comunicação, o vazio de não entender aquela gente, a cultura, o jeito de ver a vida.
Tudo tem uma beleza intensa, que não me convidaram a participar.
Meu pobre francês sofreu. Meus sorrisos foram praticamente em vão.
Ainda assim, adorei Marrakesh.
Talvez, exatamente por isso - porque entendi que há lugares que simplesmente nunca vou pertencer!
E pela exclusão, estou encontrando aos poucos aonde pertenço...

Volto em breve para casa. Quero escrever muito muito mais.

20.3.09

A Mesquita Azul




A imponência do edifício já me deu o tamanho da intenção.
Entramos pelo pátio lateral onde hoje funciona - claro - um bazar.
A frente da Mesquita tem uma larga entrada com uma escada que chega ao pátio principal. Ali, há uma espécie de púlpito que na verdade é um lugar para os homens lavarem os pés e as mãos antes de entrar na Mesquita. Mas nós, os não muçulmanos, devemos entrar pela porta do lado.
Mas ali, na porta, fomos parados - o minarete inicou o chamado para as preces daquela hora do dia. Nenhum infiél deve entrar a Mesquita. A voz sai das torres em volta do edificio numa gravação em árabe: um homem canta acapela em intervalos de silêncio o nome de Alah. Essa voz entra no peito. Dá pra ouvir com o coração. E a vontade é de segui-la, ver ao que ela convida.

Depois de aguardar por uma hora as preces terminarem, entramos. Eu cobri a cabeça com o meu cachecol - as mulheres devem entrar assim, sem exceções. Meu coração estremeceu por um instante. Mesmo abarrotada de turistas, pessoas ajoelhadas no imenso tapete veremelho se concentram em silêncio. Ajoelhados em direção `a Meca, o burburinho é menor que tudo - e a beleza só não é maior que Deus.
As abóbodas e paredes inteiras cobertas de azulejos - em torno de 20 mil - fazem um jogo de cor e textura, num lindíssimo elo entre arte e adoração.

Os grandes pilares e paredes só ganham esmero acima de nossas cabeças. Por isso, tem-se que olhar para cima o tempo todo como que mostrando que beleza estará sempre acima da compreensão humana. É mesmo coisa dos deuses.

Vitrais coloridíssimos filtram a pouca luz do fim do inverno que entra e a luz dos lustres muito baixos aonde se vê pequenas lâmpadas nos lugares de velas que ali iluminaram preces de séculos atrás.

Rodeada de gente de todos os lugares do mundo, ouvindo vozes em todas as línguas, minha vontade é de me ajoelhar. Olho ao lado e só então enxergo o lugar das mulheres: no canto, atrás de uma treliça de madeira. Ali no fundo, uma dezena de lenços coloridos se revezam abaixando e levantando o troco, ajoelhadas no chão. Imaginam o que pedem, para quem rezam essas mulheres que não seja pela própria liberdade, emancipação, escolha...

Com a cabeça coberta, jogo o corpo levemente para trás e olhando para o alto, penso em Deus.

15.3.09

Agora é tempo de espera

Ficarei quinze dias fora de casa mais uma vez.

Penso que todo o meu sentimento de paz espiritual, de serenidade interna,
tudo que vivi este último ano - de meditação e budismo
não valeram de nada
Eu continuo o mesmo ser ansioso, irritável, medroso
Que sempre fui

Viajo com a impressão de que nada me transformou até aqui
E fico triste

Porque vou buscar em outro lugar
Uma resposta

Eu busco inspiração, coragem, força e acima de tudo
Certezas
E com isso, ou contra isso
Não há nada que eu possa fazer agora
A não ser esperar
Que é o mesmo que ter esperança
Que é quase a mesma coisa que ter fé
E fé, é o que eu sempre tive de sobra

Não prometo, mas tentarei postar aqui durante minhas andanças.
Está tudo pronto.
Só falta ir.
Chegar.
Viver.
E voltar.

11.3.09

Turquia


Mesquita Azul, Istambul, Turquia

Foi mais ou menos uma foto como essa que vi quando eu tinha uns oito anos numa revista Geográfica Universal. Me causou um impacto inesquecível.
Istambul sempre ficou no canto dos meus sonhos - acho que mais ou menos junto com o sonho de ser astronauta, bailarina, mergulhadora, princesa, cantora pop, cientista, escritora, cineasta, maratonista, surfer girl - e vez ou outra vinha à tona em conversas, cenas de filmes, reportagens...

Prometi a mim mesma que iria visitá-la na minha lua de mel, uma viagem romântica a dois...

Até que a minha ficha caiu:
Estou envelhecendo cada vez mais rápido exatamente porque deixei de lado inúmeros sonhos e vontades - por circunstâncias, situações, imposições que eu mesma inventei!

Quem disse que eu tenho que estar em lua de mel COM ALGUÉM mais que eu mesma para ir à Turquia? Fui eu.
Quem inventou essa história de viagem romântica? Fui eu.
Ah, então eu acabo de inventar uma coisa nova:

Eu vou para Istambul agora - porque agora é a hora que tenho tempo e dinheiro e saúde. E AINDA SONHO.

Chego na antiga Constantinopla dia 16 de março. Vou com meu primo Vinicius, a melhor versão humana de mim mesma no sexo oposto. Ele é mais novo, mais viajado e mais bonito do que eu. Vai dar super certo.

Estou empolgada e até meio anestesiada.
Eu vou de encontro a um sonho muito muito antigo.
Num momento muito muito digamos, estranho da minha vida -
insatisfeita com a vida profissional, amorosa, sexual, financeira e espiritual (e todas as outras vidas que uma pessoa humana possa ter!)
- vou fugindo de um tanto de coisas que evito pensar
mas é difícil não pensar que esse passo é o melhor e o mais certo que eu poderia dar no momento!

Fugir para sonhar
É um medo diferente.
Mais ou menos igual ao que senti quando finalmente entendi o que é um compromisso espiritual.

Vou conhecer o meio do mundo, o lugar que dividiu impérios, que lutou contra todas as grande nações antigas. Com a sua identidade, mas que também abraçou as outras que ali se forçaram entrar; com a sua gente, apesar de receber hoje etnias e religiões de todo o mundo.

Eu sinto que desde sempre, o Oriente me chamava em segredo.
O Budismo abriu minha mente.
A Turquia vai abrir meus olhos, meus sentidos todos, para o outro lado do mundo.

10.3.09

All of the above!

VIRGO [August 23–September 22] One reason I've been put on this earth is to expose you to a kind of astrology that doesn't crush your free will, but instead clarifies your choices. In this horoscope, I'll crisply delineate your options so that you may decide upon a bold course of action that's most in tune with your highest values. Study the following query, then briskly flex your freedom of choice. Would you rather want someone to:
1) knock the wind out of one of your illusions, thereby exposing the truth about what you really want;
2) not exactly kick you in the butt, but more like pinch and spank you there, inspiring you to revise your ideas about what it means to be close to someone; or
3) spin you around in dizzying yet oddly pleasurable circles, shaking up your notions about how to keep intimacy both interestingly unpredictable and soothingly stable.

6.3.09

Despedida

Na praia, conversas picadas de gentes ao redor do meu silêncio:

- o cara me liga na quarta de cinzas do aeroporto pra me pedir desculpas? saaaaaaaaabeee...é muito egoíshhmo...

- vai lá no Bacalhau hoje, véi?
- não, eu fui na segunda que teve Furacão 2000 e o ingresso era grátis

- oiê Rafa. Poxa, me eshhqueceu total, né? tu tá onde? tu tá onde?

- aê, que fumar um bom?
- tem aê?
- já é

- aqui no Rio tudo é fácil, mano. Lá em Manaushh, um show do Belo sai tipo 100 reais! Aqui, 15 contos. Pô, muito fácil...


- e foi Moliere o responsável por criar o balé assim, com história, cenário, figurino.
- é, e ele morreu de artrite.

- eu tirei a maquiagem e fui chorando pro camarim...

- a Suélen não é mulher que se pendura em homem, não. Formou na faculdade, tem o emprego dela, qual é!

- aqui no Rio é assim - começa a usar uma coisa, todo mundo imita. Parece até que tão dando de graça em algum lugar...

5.3.09

Malandragem

Posto 9, Ipanema, 18h.
Esperando o farol da Vieira Souto para atravessar pra Vinícius.
Multidão na calçada, no trânsito, na praia.

Uma senhora do meu lado, canga, cadeira, havaianas, areia e maiô.
O telefone dela toca. Ela:
- Oi dona Glória eu tô aqui na Barra resolvendo unshh problemashh pra pagar o dinheiro da senhora, tá? Chego aí no máximo amanhã bem cedinho.

Ah, tá. Eu achei que a senhora estivesse no posto 9 tomando uma gelada e vendo o sol se por...

4.3.09

E o Anônimo disse ...

A velha e ridícula crise da classe média: SER OU NÃO SER? ter ou não ter, ir ou ficar...
Que maravilha, eu tenho um carro, pago um apartamento próprio, já morei em Nova Iorque, passei as festas de fim de ano na Inglaterra, e agora estou de férias no Rio de Janeiro, com uma puta crise existencial na praia de Ipanema, pensando em talvez estourar minha poupança numa viagem pra Turquia e pro Marrocos ou virar monja budista.
Olha ao teu redor garota, aliás pra cima e pra trás e me diz qual a dúvida das pessoas que moram nesse teu país, qual a perspectiva desse povo, qual a crise existencial desse povo.
vc já imaginou quantos desempregados estão por aí agora neste momento querendo muito uma chance de vida???
Tua crise existencial é crise de UMBIGO.
E quer saber, vou dar um tempo de vc e desse teu blogue, vc me cansa.


Ahh! Adoro, adoro, adoro!
Não tem coisa melhor que ser surpreendida por alguém. Mesmo quando esse alguém é um Anônimo leitor do meu blog!
Adoraria implorar pra ele(a) ficar, ler, comentar!
Mas se ele(a) vai parar de ler, nem adianta deixar recado.
Mas eu vivo pra isso - pra incomodar e ser incomodada.
Desculpem, mas agora eu tenho que ir viver minha crise classe média no posto 9...
eu sei, é difícil ter a vida que eu tenho.
Mas tudo pode piorar anônimo. Ou não.

3.3.09

O Vazio e o Silêncio

Por coincidência, li um post no blog do Samarone sobre a ausência de silêncio em diversos lugares - públicos ou não.
E hoje, a matéria do caderno Dois do Globo é sobre uma coletânea de artistas desde a década de 50 até a atualidade que expõem salas vazias em Paris. Um escândalo para os parisienses revoltados com a falta de vergonha da classe artítica porque onde já viu não por nada e ainda dizer que é arte um museu como o George Pompidou?

Interessante isso.
Porque o silêncio e o vazio incomodam pra valer. Parece que o lado de dentro da gente aumenta o som e a cor de tudo por dentro, se há vazio e silêncio lá fora. Que medo. Ouvir os pensamentos e enxergar os sentimentos em TECHNICOLOR.
Ver uma tela em branco, uma sala vazia. Um elevador sem música. Uma sala de espera sem TV.
Sem estímulos aqui fora, somos obrigados a encararmos os de dentro? Estes que não se calam nunca, mas a gente dá um MUTE no controle e finge que eles não estão aqui.
Tanto que vai meio apodrecendo e criando uma fina camada de mofo, visgo, teia. Vai deixando o sujeito cego e surdo. E começa a ver pra fora e pra dentro tudo meio distorcido, ecoando barulhos sem fim...

Eu acho, e isso é só uma desconfiança, que quanto maior o esforço para abrir os ouvidos e limpar os óculos e ver aqui de fora, maior é o filtro apodrecido que cresce silenciosamente dentro de nós.
Ver e ouvir o mundo e o outro deveriam ser um reflexo natural.
Mas passam pelo filtro visguento do medo que a gente tem de ouvir e ver o que há aqui dentro!
Daí, evitamos, vomitamos e interpretamos tudo lá fora. Parece mais fácil, mas uma hora, ao dobrar a esquina - puft! - o silêncio e o vazio se apresentam cara a cara. E o horror das mil cores e sons daqui de dentro se apresentam cruéis: pré-conceitos, fobias e desesperos. Sofrimentos gerados por nós mesmos e paridos para o mundo afora, culpa toda dessa louca ausência do silêncio e do vazio.

Estou assim - olhando o silêncio todos os dias. Ouvindo meu barulho de solidão e tristeza todas as manhãs de sol em Ipanema.
Calada por fora, acordo, leio, escrevo, ando até a praia. Por dentro, minha vida infinita se desdobra. Tanto que já há quase um silêncio e um tom preto e branco nas minhas idéias.

Estou esvaziando a mente? Ou enchendo o vazio externo de solidão?

2.3.09

Crise

Estou no Rio de Janeiro, vou à praia todos os dias, leio e durmo.
Mais do que descansada, penso na vida em silêncio.
Estar sozinha tem dessas coisas: você pensa na vida.

Concluí que não quero mais fazer o que faço.
Não quero mais ganhar dinheiro como ganho.
Não estou feliz profissionalmente.
E não sei o que fazer a respeito.
Essa pontada de angústia que me assola há um bom tempo, tem agora uma dimensão maior
talvez porque minha rotina seja sol e mar e ainda assim, penso no quão triste estou.
Ou porque ao invés de resolver a questão olhando no olho, decidi estar aqui na praia, e depois na Turquia, e depois Marrocos e depois Espanha.
E na volta, praticamente terei queimado minha poupança.
Mas minha frustração profissional continuará aqui no peito.
Porque estou fugindo de olhá-la nos olhos já faz tempo.

Simplesmente, eu não sei o que quero ser quando crescer.
E por isso, não sei qual próximo passo a dar.

Daí, quando penso nisso, a vontade de ser monja toma conta de mim.
Eu acho que é fuga. A saída mais prática pra não pensar em trabalho.
Eu, monja.
Me vejo facilmente entrando por esse caminho e não saindo nunca mais...

Mas, é comodismo? É preguiça de pensar numa solução profissional pra minha vida?

Ontem vi um Stand up do Chris Rock. Tem um pedaço que ele fala.
" Se você é uma dessas pessoas que tem um CARREIRA, não fique por aí falando dela ao redor das pessoas que têm somente um EMPREGO. Não faça os outros infelizes com a sua felicidade."
UGH. Bem na minha cara.

E hoje de manhã, o Vinícius me manda esse link.

http://www.youtube.com/watch?v=uy0HNWto0UY


Está me falantando tudo na vida.
E não está me faltando nada.