13.12.10

Resoluções para 2011

Depois de um ano inteiro errando erros semelhantes, faço aqui minhas promessas para 2011

Para o ano, serei:

mais distraída
mais esquecida
mais indisciplinada
mais inadequada
mais irresponsável
mais inconsequente
mais ingênua
mais lenta

prometo também

chegar atrasada com mais frequência
gastar dinheiro com: manicure, massagem, limpeza de pele, roupas e sapatos.
fazer dieta pra ficar gostosa
ficar gostosa pra ser exibida
ser exibida pra dizer não
dizer não pra achar coragem
e ter coragem pra dizer sim

e espero que em 2011 eu consiga

estar mais indisponível
mas fazer novos amigos

ler todos os romances que sonho
mas passar no concurso dos sonhos

acordar cedo nos dias de folga
e sem sono nos dias de semana

ser ignorante
ser surpreendida
ser indiferente
economizar em: palavras, atos e pensamentos

mas, acima de tudo eu quero muito:

ser diferente
sendo eu mesma
ser feliz
do jeito que der e vier

6.12.10

lendo letras lentamente

e se ler fosse um simples ato de ver letras?
se a leitura se tornasse assim, como uma observação de um quadro na parede?
imagine que ler, não necessariamente trouxesse uma história, uma narração.
feche os olhos e imagine...
p
u
f
t
!!!!!!!!!!

a literatura
não é escrever historinhas

não é conceito de gente, de lugar, de

é tudo e nada
literatura
literalmente
cabe em
qualquer vazio

e enche todo coração
vai, fecha os olhos...


30.11.10

Chá

Se não escrevo aqui, tenho muitas razões.
Mas a maior delas é a falta de competência.
Tenho lido tanta gente boa
e me apaixonado por todas elas
- que tá difícil achar que sou digna de linhas e leitores.

É, tomei chá de sumiço.
Sem vontade de compromisso.
Chá dos bons, pra dormir e acordar com mais preguiça ainda.
Incrível.
Quanto mais faço, menos vontade de fazer.
Cansaço.
Deve ser mesmo esse fim de ano-banzo, uma coisa que sempre pega pra mim.

Um chá forte e sem açúcar.
Que esse ano foi quase de amargar
Planos que não saíram do papel
vários
Coisas que nem funcionaram
muitas

E um ranço de que nada andou
Um ano parado, focado no futuro - longe
que nunca chegou

um ano mudo
chegando ao fim
ufa pra mim!

E por isso tudo, não escrevi mais aqui.
Mas ponho agora esse rabisco
Que é pra manter o visgo
do hábito

E o bom do escrever:
botar pra fora o que não cabe
envelhecer
vaidade

vai
sai
chega de chá de sumiço
me acho talvez
uma vez
aqui
ali
na letra á ou na zê
escrever

linha
parágrafo
ponto final

28.11.10

Pérolas do Enzo I

- tia Bijú, quem é seu marido?
- eu (ainda) não sou casada, Enzo. Eu sou solteira.
- e com quem eu sou casado?
- você também é solteiro. Toda criança é solteira.
- o que é ser solteiro?
- é assim, não ter marido ou mulher; não ter uma casa com filhos...
pensativo.
- mas Enzo, você vai crescer e quando for adulto vai poder escolher se casar, ficar solteiro. Vai poder escolher o que quiser!
rapidamente.
- eu quero ficar solteiro mesmo!

........


- tia Bijú, quem casou com você?
- eu (ainda) não me casei, Enzo.
- você conhece o seu marido?
- eu (ainda, eu acho) não conheço ele. Mas quando eu conhecer, vou falar assim: "eu tenho um sobrinho que eu amo muito e se chama Enzo e ele é muito legal."
- e o que ele respondeu?

......

esperando suco de laranja.
Enzo, com a borda da mesa de vidro redonda tocando o queixinho. Ele não resiste, passa a língua no contorno do vidro me olhando.
- Enzo, não lambe o vidro porque ele pode ter uma lasquinha e cortar você!
- Mesmo o vidro com um corte CIRCULAR, tia Bijú? Ele corta mesmo assim?

.......

comendo maçã e fugindo da Sofia.
A Sofia grita 'dá' pedindo um pedaço.
- Bijú, dá um pedaço de maçã pra Sofia.
- Não.
- Ah, Enzo, dá sim, ela quer só uma mordida.
- Ah, não.
- Enzo. Dá um pedaço pra ela, vai. O que que custa?
- Sete reais.

3.11.10

Massinha

Sabe aquelas massinhas de modelar?
Aquelas pra crianças, que vêm em potinhos de plásticos em todas as cores imagináveis?
Que você faz bichos, plantas, pratos e talheres, pizzas de sabores mil?

Essas massinhas são incríveis com suas cores infinitas e a maleabilidade de se fazer tudo tudo que a imaginação deixar.
Você constrói e destrói castelos, florestas, um zoológico inteiro!

Mas, o único perigo é deixar a massinha fora do potinho.
Desabrigada, ela resseca, endurece, perde a cor.
E se você não se der conta de tudo isso a tempo, ela nunca mais volta a ser maleável para brincar.

É assim também meu coração.



24.10.10

O barco tailandês

Estamos de férias em família e na voadeira que percorre velozmente a beira mar, estamos Bruno, Enzo e eu. O menino do barco tira finas dos transeuntes da praia e me impressiona a capacidade da lanchinha se manter intacta com pouco atrito na água.
Na verdade, estamos voando baixinho!

A praia de cidade poderia ser Fortaleza, Maceió, Salvador, mas não é.
Em uma das pontas, há um antigo barco Tailandês.
Agora um ponto turístico, está meio ancorado, meio enterrado num estreito espaço de areia e rochas.
Não tem uma estrutura muito grande, parece até de brinquedo. Ou uma maquete agigantada.
É de um preto brilhante, com adornos na pintura em cores fortes: amarelo, verde, vermelho e frisos dourados. Há um desenho de dragão na proa, típicos desses que vemos em tudo que é tailandês.
Entramos por uma pequena escada e com o nosso peso, o barco se mexe lentamente. Levamos um susto, mas seguimos caminhando até a outra extremidade.

E eis que acontece: o barco se solta da areia, e pende para uma das pontas!
Lá dentro, tenho a nítida sensação de que a queda será enorme e os estragos mortais!
Sinto um medo profundo, um frio na barriga e a súbita perda da gravidade!
De onde estou na queda, sou capaz de ver o Bruno, mas o Enzo está totalmente fora do meu campo de visão.
O medo vira pânico. Não gritamos. Ouvimos o ranger da madeira e a rapidez com que o barco vira!
Estamos em queda livre de uma altura incalculável!

Com o coração batendo na boca, pronuncio uma única palavra:
NAMANDABU*
E a surpresa vem justamente do som: minha voz sai forte, alta, lúcida, firme, serena;
silencia todos os outros ruídos.
O barco suavemente para de se mexer. Como no retorno de um pêndulo de relógio, inicia a volta no sentido contrário ao da queda.
Só que agora lentamente, como que controlado por uma força muito maior, é posto de volta na areia. E estamos sãos e salvos.

*namo amida butsu na escola shin budista é a entoação do nome do buda Amida, a luz de compaixão e sabedoria que nos espera, nos guia e nos inspira pacientemente e com alegria até chegarmos ao nosso próprio estado búdico.*

ps - para meus companheiros de viagens: Enzo e Bruno


20.10.10

sobre o fim do começo

ps - as chuvas fazem Brasília verde-esmeralda.
O céu fica muito azul de dia, calor seco virando nuvem cinza de tarde.
Daí, um trovão forte vem e faz chover!
Bate um vento leve e frio, arrepia o corpo, deixa um sorriso no rosto...

16.10.10

Provas

Eu sou a prova de que ser inteligente não necessariamente paga bem
Eu sou a comprovação de que ser legal, carinhosa e leal não significa encontrar um parceiro apaixonado
Eu sou a prova de que o esforço e a dedicação não levam ao resultado sonhado
De que falar a verdade, gastar bem o dinheiro e tratar bem o outro ser humano não traz prêmio nenhum
A prova de que amigos e família que me amam não é alento na cama vazia à noite
Que um teto sob minha cabeça resolve um tanto, e complica um outro tanto bem mais difícil de explicar

Passei grande parte da vida acreditando que as coisas boas que me aconteceram (e me acontecem) são prêmios de boa conduta.
Errei feio: sou a prova cabal de que não há prêmios. Não há castigos.
Os eventos e as pessoas acontecem por motivos alheios à nossa vontade.
São frutos de um somatório de fatos e fins impossíveis de se somar a um único ato.

No final, não tenho qualquer controle do que é minha vida.
Mas é tão difícil aceitar isso, que prefiro fingir que todo controle que exerço sobre meus atos, comportamentos e ações serão necessariamente refletidos nos frutos que eu colherei.
Sim, eles influenciam e muito na tal colheita. Mas não é linear, não proporcional, não é medido nessa régua que eu tenho em mim.

Eu sou a prova de que há ordem no Universo. Mas não é a MINHA ordem. Nem qualquer outra que conheço.
Até aqui, a única aposta que faço com segurança é essa:

Os méritos que tenho são frutos de muito suor meu, mas também de um acúmulo de outras "sortes" que trouxe comigo nessa vida.
E os meus desejos e sonhos são sempre realizados com suor e resignação. Mas muitos, muitos mesmo, foram deixados pelo caminho.

Há provas de que tive sorte, também há as de azar.
Mas não há comprovação nenhuma de que minha felicidade depende só de mim.
Ainda assim, insisto em ser quem sou, em sonhar alto, em desejar o melhor e o bem.
Se não ajudar, pelo menos, não atrapalha.


ps - obrigada à torcida de plantão. cronômetro zerado: nova corrida começa!


14.10.10

medicina

VIRGO [August 23–September 22] "The art of medicine consists of amusing the patient while nature cures the disease," said Voltaire. With this in mind, let's evaluate your discomfort. Healing forces are going to be working their mojo to chip away at your problem. But it will still be wise for you to occupy yourself in activities that you think will expedite the fix. Doing so will minimize your anxieties, allowing nature to do what it does best.

6.10.10

Descanso

Férias merecidas e agora, de volta à labuta:
nada demais para escrever aqui (ainda).

Só apareci para dar uma certa satisfação.

Uma dica: estou afundada em bons livros. Isso sempre dá um caldo.

Até.

3.9.10

Fim

Faltam só oito dias agora.

De arrependimentos, talvez a falta de disciplina para agendar as coisas boas:
meditação, cinema, malhação - o fato é a maior parte do meu tempo livre estive exausta e sem a menor motivação para pensar ou fazer algo por mim mesma.

Nessas horas, também me senti muito sozinha - uma solidão de esperar ser salva por alguém que me esperasse de noite com uma comida quentinha depois das aulas...
Família e amigos tamparam esse buraco tanto quanto eu os permiti - com alegres e rápidos encontros ou almoços entre meus sobrinhos, meus pequenos grandes faróis nesse oceano de incertezas!

Consegui, ainda assim, manter minha ansiedade num nível estável. Sim, é incrível, mas eu não pirei.
Confesso, tive crises de choro, noites sem dormir ou com sonhos de resoluções de exercícios.
Mas, não surtei.
E de novo, graças à intervenção carinhosa dos meus amigos e familiares.

Foi um ano que passou rápido, que não teve grandes novidades, que mal vivi.
Um ano que aprendi coisas que talvez nunca use, mas que, com sorte, me levarão a um momento melhor na vida profissional e especialmente financeira.

Nessa reta final, minhas expectativas são tímidas: quero fazer uma boa prova, mas já não me chateio em pensar na reprovação; quero estar serena, em controle absoluto da minha mente, e com isso aprender a gerenciar, quem sabe, outros departamentos da minha vida!
Penso já na próxima etapa, depois de um tempinho de descanso: iniciar nova rotina de estudos, dessa vez mais equilibrada!
Esse tempo de espera me ensinou a não ter pressa.

O fim chegou.
E começo a sentir uma estranha sensação de dever cumprido, de euforia e alívio.
Preciso de sorte na prova.
Mas é impossível negar:
Tenho sorte sempre. Até aqui, com (quase) todos os meus amados ao meu lado, na torcida.
Com saúde física, espiritual e (ufa!) mental.

Estou firme no meu desejo de ser sempre uma pessoa melhor: afinal, se eu nunca tentasse, como saberia onde errei?
E se errei, por que não recomeçar agora pensando no acerto?

Hora da aula.
Retomarei escrivanhações mil em breve.
Aos amigos e família, aos amados e queridos: minha imensa gratidão!

Aqui, só peço uma última coisa: que o que tiver que acontecer, que aconteça.
E que eu tenha a lucidez e serenidade para enxergar o que vier da maneira mais sábia possível para ser, estar, permanecer FELIZ!





29.8.10

Coisas que aprendi aos 37

1 - Quando se vive um ano pensando no ano seguinte, não se vive;
2 - Eu nunca mais vou fazer matrícula numa academia de ginástica
3 - Eu devo falar menos de mim, aliás falar menos e ponto;
4 - Achei que fosse disciplinada, mas é mentira; eu sou obsessiva: bem diferente;
5 - Achei que soubesse viver sozinha mas é mentira: eu preciso de pessoas que amo (e me amam de volta) ao meu redor)
6 - Tenho medo de morrer;
7 - Tenho medo dos meus amados morrerem antes de mim;
8 - Tenho medo.
9 - Se antes dizia nunca ter sonhos, agora tenho tantos que nem cabem em mim!
10 - Sonho em realizar sonhos;

26.8.10

O Nome do Sol

Our sun doesn't really have a name.
The word "sun" is a term that can refer to any of trillions of stars.
So I'd like to propose that you come up with a name for it.
It could be a nickname or a title, like, "Big Singer" or "Aurora Rex" or "Joy Shouter" or "Renaldo."

I hope this exercise will get you in the mood to find names for a whole host of other under-identified things in your life, like the mysterious feelings that are swirling around inside you right now, and your longings for experiences that don't exist yet, and your dreams about the elusive blessings you want so bad.


(http://www.villagevoice.com/ - VIRGO)

24.8.10

Setecentos e cinquenta mil inscritos

O problema do número não é a concorrência, mas a logística de um dia de prova com tanta gente!

Vamos começar um mantra!

que o meu local de prova seja:
arejado, com banheiro que tenha descarga, papel, água,
e mesa e cadeira que não belisquem as pernas da gente,
e gente que não coma com a boca aberta ou espirre em cima do seu cabelo;
e fiscais que sejam atenciosos
e não gritem com ninguém,
e que não esteja nem frio nem calor,
e que minha cadeira não fique no sol a manhã toda,
e nem tenha aranhas subindo pela sua perna e você achando que é porque não se depilou e tem um cabelinho fazendo cócegas na calça,

e claro, fora isso:
que tudo que eu sei,
eu me lembre,
e tudo que eu me lembre,
caia na prova,
que tudo que caia,
não seja anulado

e também
que eu passe entre os primeiros chamados
e os chamados sejam empossados
e os empossados entrem em exercício
e que o exercício comece em fevereiro de 2011!

amém!

23.8.10

A paixão, o que faz?

Tem uns dias que matuto sobre essa coisa da paixão.
A romântica, especialmente.
É um surto fisiológico, um tilt do sistema, sem dúvida.

Um coração humano, duvido, não aguentaria viver sob o estado contínuo da paixão:
rubor nas faces, palpitações, tremedeira dos joelhos, falta de ar.
Viver isso todo santo dia que o seu amado abre a porta de casa, seria uma vida mínima.
Puft, morta aos 20 anos.

Mas, lá no fundo, inventei essa teoria para justificar:
faz um tempão que não me apaixono.
Ou isso, ou não me deixo apaixonar?

Justifico também que a paixão é uma coisa um tanto juvenil -
no auge da idade da loba, virei gata escaldada:
não é o medo da água fria: o fato é que eu já sei aonde essa estrada vai dar.
E aí, dá mesmo é preguiça.

Apesar de tudo, não sinto saudades das sensações da tão famosa paixão romântica.
Até porque, já aprendi a reproduzi-las em outros departamentos da vida: o famoso sublimar, conhecem?
Funciona. Ô.

A saudade que sinto é uma outra.
Que por enquanto, é bem mais complicada de matar.
É que envolve a paixão imatura, inconsequente.
Mas tem muito mais a ver com amor.

E o amor, o que faz?
Ou melhor, como fazer sem ele?

17.8.10

Interrompemos nossa programação para o horário eleitoral

Assisto agora o horário obrigatório da propaganda política.
Sem entrar no mérito do conteúdo de cada candidato à presidência, quero ponderar alguns aspectos técnicos dos programas:

Serra -
O candidato está amarelo, o programa inteiro está amarelo.
O pessoal da ilha de edição precisa suavizar a mão na correção de cor.
Cenário bonito e funcional; complicado de ler as legendas, a fonte escolhida é sem serifa e pequena demais.
Boa ideia de deixar o crédito Serra Presidente o programa inteiro.
Quem foi que escreveu o texto? Gostei. Talvez um pouco informal demais, mas a voz do off tava ótima! A melhor coisa do programa todo.
Serra tá quase simpático, já já ele pega o jeito.
Boas imagens de hospitais, hospitais, hospitais...
Mas, vai uma dica: identidade própria, sem imitações, please! Se o dinheiro é pouco, melhor pensar soluções mais baratas e mais eficazes que tentar a mega produção...

Marina -
Esse excesso de modéstia vai acabar com ela: a candidata só aparece no finalzinho do VT! Grande erro estratégico. Para quem não conhece o rosto, difícil saber quem é ela.
Imagens lindíssimas (de arquivo - será que ela realmente comprou o direito de uso?) com a voz da candidata.
Impossível de ler a legenda, fonte pequena demais.
O texto foi mal escrito, mal editado. E com informações duvidosas: "os mares vão subir 7 metros"...hmm, e daí?

Plínio -
Ótima vinheta de abertura, mas talvez de mau gosto demais para os mais conservadores.
Solução excelente de cenário com o candidato muito à vontade, falando claramente, texto bem redigido. A melhor luz de cenário, ótima escolha de figurino.
O pouco tempo comprometeu o candidato.

Dilma -
Tem dedo de Duda Mendonça em tudo: imagens belíssimas, excelente edição de imagem, texto bem redigido.
A candidata começa nervosa e claramente lendo o TP (teleprompter); e houve erro gravíssimo no primeiro figurino: a mulher já tem pouca estatura, um casaco com aquela gola? Feio.
A imagem do Lula funciona como provável quebra-gelo: ver e ouvir o Presidente falando é o melhor abre-alas para Dilma.
Os dois apresentadores (brancos e paulistas) nos lembram aonde são feitas as campanhas políticas: não ficou legal, não. Acredito que a apresentadora negra precise de mais tempo no video nos próximos dias.
A voz do off está pomposa demais, paulista demais, oficial demais.
O banco de imagens é invejável. A câmera e a luz estão excelentes.
Achei o jingle apelão pra caramba. Chamar a Dilma de mãe do Brasil, forçou um pouco, né?

Impossível decidir um voto assim, vendo candidatos produzidos e embrulhados em minutos de pouco conteúdo na televisão.
A democracia no Brasil tem o aspecto eleitoral como um joguinho de tabuleiro: ganha o mais esperto, o que já brincou mais vezes, o que tem mais amigos pra ensinar as regras...
Mas pelo menos, é mais divertido que Jornal Nacional.


14.8.10

Aniversário de Rainha

Querida Afilhada,

você é a rainha do charme.

O brilho dos seus olhos cinzas, fazem todos se ajoelharem perante sua alegria e seu enorme sorriso de cinco dentes.

Sua pele branquinha, seu cabelo fininho, você é uma verdadeira Rainha-biscuit!

Mas como toda realeza que se preza, os dotes físicos são parte, mas não o todo:
Você é engraçada. Conversa com todo mundo. Está sempre prestes a dar um grande sorriso de cinco dentes. E nunca recusa uma refeição.
Tem um inteligência aplicada ao que lhe convém: a velocidade na locomoção estilo "lagartixa" e a completa recusa em se desligar dos assuntos do reino para uma soneca vespertina.

Como sua aia de companhia, sei que ando um pouco relapsa, atendendo outras demandas. Sonho em um dia ter o tempo que vossa Alteza merece e demanda com longos passeios pelos jardins do palácio e viagens para reinos distantes, à beira mar, ou até na neve!

Ainda com pouco tempo, as nossas conversas são sempre longas e engraçadas.
Com sua simpatia e carinho, acolhe meus agrados com sabedoria - aceitando cada colherada, cada troca de fraldas e cada valsa que dançamos juntas!

Hoje você completa um ano no reino da minha vida.
E meu coração estará sempre às suas ordens, Majestade-biscuita!

Eu serei sempre a madrinha que sonha em ser sua Fada de todos os desejos ainda por nascer!
E que torce para estar ao seu lado em cada um deles, rindo e chorando,
Mas felizes para sempre no Reino Encantado das Afilhadas e Madrinhas!

12.8.10

Tá bom assim?

Teria que falar sobre essa assunto alguma hora.
Na verdade, essa nem é a melhor hora, mas tem umas coisas que ou a gente faz na hora que dá vontade, ou acaba por não fazer.
E eu quero falar sobre televisão pública, acesso à comunicação, mídia, jornalismo. Um por vez, calma.

Minhas ideias são bem organizadas, o difícil é colocar no papel. É que é bem mais fácil fazer um debate desses numa mesa de bar, de preferência com cerveja gelada (ai, que saudades!) e gente inteligente ao redor.

A televisão brasileira é pública.
Está na Constituição. Ela é assim porque é uma concessão do governo.
Ou seja, o cara não manda no canal, está lá substituindo o poder público, que concede o direito de explorar aquela fibra ótica, aquelas ondas de rádio.
Em retorno, é obrigado a cumprir as regras: priorizar a educação, a língua e a cultura nacionais. Tudo isso, na nossa Carta Magna.

E daí que é óbvio que a televisão que a gente assiste em casa não tem qualquer caráter público - não educa (a não ser que você sonhe em aprender horrores com o Faustão), não prioriza a cultura nacional (na Constituição fala-se de culturas regionais, inclusive); sem mencionar todos os outros conceitos que norteiam a palavra público - do povo, das pessoas - nós, os cidadãos é que deveríamos controlar a mídia. Literalmente.
Estar nos conselhos de diretoria, de conteúdo, de criação.
Nós somos a televisão porque é a nós que ela tem que servir.
Como os hospitais públicos. Como as escolas públicas. Pagamos impostos para a Rede Globo funcionar!

Por sorte dos nossos governantes (25% dos senadores possuem concessões de rádio e televisão no Brasil), a população ainda não entendeu que isso é um DIREITO.
Para o direito à saúde e educação por exemplo, há mobilização social.
Aliás: a própria mídia estimula o povo brasileiro a lutar pelos direitos a escola e hospitais!
Por que será que a televisão não fala sobre a televisão?
Por que não há um TV ESPERANÇA no lugar de CRIANÇA ESPERANÇA?

Nós somos ignorantes dos nossos direitos básicos.
Tanto que não entendemos que o direito à informação, É BÁSICO.
Acessibilidade a conteúdos que nos eduquem, nos estimulem, nos instiguem a ser um povo melhor é obrigação do Estado.
Que, por lei, é representado pela Globo, SBT, Record...

Da próxima vez que assistirem ao Bonner e à Fátima, duvidem:
Eles estão te explicando pra te confundir.

Assistam a seguir:
Por que nossa lei de imprensa foi revogada?
O que acontecerá sem os diplomas para exercer o jornalismo?
Quem nos representa no Conselho de Comunicação para regulamentar uma nova legislação?

8.8.10

No meio

Semana Um
- cronograma feito, matrícula paga, início da reta final. Onze semanas.
medo, ansiedade, dor nas costas, euforia, esperança, total concentração. engordei.

Semana Dois
- cronograma atrasado, aulas longas e cansativas. cancelei a academia.
ansiedade, dor de cabeça, concentração absoluta, fé. emagreci.

Semana Três
- joguei o cronograma no lixo e fiz um novo. matei aulas improdutivas. comprei dez sessões de massagens.
ritmo, dor nos braços, dispersão, sono atrasado. ansiedade. engordei.

Semana Quatro
- novo cronograma. matei menos aulas. comprei um horror de material.
ansiedade. zumbido nos ouvidos. concentração. insônia. emagreci.

Semana Cinco
- novíssimo cronograma. matei aulas. matei um dia de biblioteca. comprei homeopáticos para dormir.
ansiedade. palpitações. insônia. zumbido nos ouvidos. dispersão. medo. ataque de choro (no chuveiro). engordei.

Semanha Seis - em curso:
- fazendo o mais novíssimo cronograma.
não matarei aulas;
tomarei os remédios para dormir;
farei as unhas;
e meditações diárias;
tudo bem, acho que vou chorar no chuveiro...
estou com medo.
mas também resignada: é esse o caminho.
e quase a todo momento, tenho certeza de que estou fazendo tudo que sei e que posso.

O caminho está no meio. Estou no meio do Caminho. E sinto que este é o Caminho do Meio.




4.8.10

Perspectivas

Mulheres têm absoluta adoração por saltos altos.
Desde de meninas, assaltamos os armários das mulheres da família em busca dos saltos mais altos: com os pézinhos cabendo inteiro na primeira metade do sapato, fica impossível caminhar!
E lá vamos nós, pequeninas deselegantes, arrastando como chinelas, os saltos mais caros da casa!

Com a idade nos vemos "treinando" andar de saltos - esses já nossos, certinhos no pé, combinando com o vestido - um misto de equilíbrio com postura, delicadeza com astúcia.
Depois das primeiras festas, algumas pegam gosto. Outras, entocam scarpins no fundo do armário para dias de festas somente.

Aprendemos todas. Mas esquecemos da incrível habilidade que ganhamos com essa simples tarefa: a da perspectiva.

Escolhemos todos os dias de que altura vamos encarar o mundo:
sapatilhas para dias de pés no chão, plantados, serenos e firmes.
Saltinhos para saltar: dias leves, rápidos, de sol ou de chuva.
E SALTÕES! Para o equilíbrio perfeito, flutuando por esse mundo duro na pontinha dos pés!

Hoje, calcei minhas sandálias super azuis e altas.
Vistos (mais) do alto, os fatos ruins ficam menores, lá embaixo!
E ao chegar em casa e descer à altura do real, a sensação de aterrisagem é tão confortante.
De volta à Terra!
Câmbio, desligo.



2.8.10

A porta do Jardim

Vivemos de sonhos. Pequenos e grandes.
Sonhamos e fazemos alguns deles se tornarem metas.

Daí, um deles dá todos os sinais de que VAI ACONTECER.

Estou de frente ao portal mágico e um jardim lindíssimo, com todas as minhas flores favoritas e árvores de frutas que adoro.
Tudo do outro lado.
Acabo de ganhar a chave.
E já começo a achar que o tal jardim nem é lá tão lindo.
As frutas e flores, sei lá.
Aliás, era ESSE mesmo o jardim que eu queria?

Meu coração palpita.
É sim. É tudo que eu quis.
E a chave está bem nas minhas mãos.
Coloco-a na grande fechadura.
Vou começar a destrancar o meu jardim...






30.7.10

Cotidiano

Toca o alarme.
Pasta de dentes para dentes sensíveis.
Escova de dentes com pilha nova, para remoção de placas e tártaros.
Água pelando do chuveiro.
Sabonete líquido manipulado para pele semi-oleosa, só no rosto.
Sabonete no corpo, trazido de Campos do Jordão.
Xampu de camomila para brilho nos cabelos.
Condicionador de camomila também - pra não ficar cheirando a salada de frutas de self-service. Pouco. A quantidade do condicionador, não a camomila. Nem a salada de frutas.
Enrola na toalha.
Desodorante anti-transpirante com proteção 48h. Mas mesmo assim, amanhã vou usar de novo. Cheiro de alguma florzinha.
Hidratante de Bergamota no corpo.
Protetor solar 45 no rosto. Nas mãos. No colo. No pescoço.
Cabelo penteado em 3 escovadas. Melhor, penteadas mesmo. Com pente.
Veste roupa. Uma sobre a outra como deve ser.
Vitamina de linhaça, aveia, ameixa, couve, frutas. Para estômago e intestino.
Floral para TPM.
Homeopático para ansiedade.
Banana na bolsa. Ou maçã.
E barra de cereal de quinua. Sem açúcar e com uva passa. Para o colesterol.
Casaco.
Óculos de sol para dirigir.
No sinal vermelho:
Creme para as unhas e cutículas.
Batom com suave brilho e proteção solar 15.
Se der, pó compacto no rosto, pescoço, colo. Com proteção solar 15 - daí, soma 60.
Sinal verde:
Esplanada dos Ministérios.
Em Brasília, oito horas.



29.7.10

Couraça

Sou cobaia da psicologia.
E em alguma das escolas, que se não me engano é a bioenergética, acredita-se que o corpo humano vai se moldando às emoções e sentimentos que vivemos no decorrer da vida.
Criamos, aos poucos, mas rapidamente, o modo como usamos o corpo e as cicatrizes que vão marcando cada curva, cada órgão, cada membro.

Mas, como cachorro correndo atrás do rabo, não há como saber qual emoção causou qual cicatriz e vice-versa. Daí, o exercício terapêutico seria assim: chegar à profunda exaustão da máquina. Deixar o corpo físico tão esgotado, que as emoções surgirão, sem qualquer censura.

Já sentiu isso?
Um exceço de atividade física é seguida por uma vontade de gritaaaaaaar logo depois!
Ou um ato sexual tão intenso que as lágrimas vem sem controle.

Talvez, alguns sejam mais sensíveis, e outros precisem de sofrer mais na carne até deixar derreter a couraça.
Esse limite de cada um é bem pessoal.
Mas é bem provável que a exaustão física é amiga da real intimidade com sentimentos e emoções escondidas.

Quem sabe o ditado popular realmente é verdade?
Afinal, emoção à flor da pele diz muito do que a psicologia parece afirmar.

Qual foi a última vez que um sentimento te tomou o corpo assim?




28.7.10

Narcótico

Em uma das teorias da comunicação, fala-se sobre o efeito narcotizante dos meios de comunicação.
De um modo simplista, é quando nossa mídia não cumpre seu papel e acaba bombardeando a sociedade com um volume dispensável e inútil de tudo: informação, entretenimento, quando seu objetivo deveria ser infomar, entreter, interpretar, e - ok, até vigiar o status quo - mas, com um tempo para algum respiro.
Uma pausa para digestão. Nada!

O efeito narcotizante produz exatamente o óbvio - ficamos assim como que embriagados, anestesiados.
Satisfeitos em sabermos bastante sobre um monte de coisinhas.
Não mais sentimos a NECESSIDADE de agir.
A mídia nos substitui reclamando, denunciando, mostrando a guerra, a pobreza, a corrupção. Nós, de tanto ver, nem notamos mais e clic - mudamos o canal.
Ou abrimos a próxima página na internet.

Deixamos o agir para, sei lá, quando houver mais tempo
- mas o tempo adicional também trará mais vontades: mais filmes, mais notícias, mais isso, mais aquilo - aquilo tudo que a mídia reforça que devemos ter vontade de.

Como bêbados, não sabemos a hora de parar.
E se paramos, não sabemos muito bem o que fazer senão esperar a próxima oportunidade de voltar a beber.
A sensação é boa, sem dúvida.
Ficamos estranhamente preenchidos.
E só assim temos amigos para dividir opiniões lidas, pensadas!

Incrível tudo isso ter sido pensado em meados da década de 40
- a televisão ainda era um projeto e o rádio deveria ser como nossa internet. Não, nosso twitter. Não. Nossa Rede Globo. Todos, todos mesmo, tem acesso.
Ah, lindo isso: usar a mesma droga. Isso sim é democracia!

27.7.10

De volta!

De cara nova, cabelo curto e muitas ideias pra tagarelar aqui.

Sim, um evento horrível me forçou a tirar o blog do ar por uns dias, pensar numas coisas.
Tenho muito a dizer sobre isso, talvez aqui seja o melhor lugar.
Mas, talvez seja exatamente isso que eu não deva fazer...

Bem, vamos ao que interessa: ESCREVER, ESCREVER, ESCREVER!

Até breve, amig@s!

16.7.10

Fim

amigos,
um evento horrível ocorreu e me fez tomar a decisão de encerrar esse blog.

fui vítima da minha própria ingenuidade e descompromisso com a minha vida privada.
e além de pagar um preço alto, acho que é hora também de parar de falar aqui.

um amigo de disse que minha personalidade é muito "dercy gonçalves" e que eu deveria ser menos isso, menos aquilo. ele está certo.
e eu, pra variar, aprendendo do jeito mais difícil.

o pior são as pessoas que sofrem junto. merda.

obrigado, leitores.
um dia vou escrever livros. aí, nos encontramos de novo.

13.7.10

Rotina

Hoje foi muito difícil acordar. Mais que o comum.
Tenho tido um sono pesadíssimo, apesar de demorar a cair no sono.
Os sonhos são sempre cheios de personagens - da vida real - e com muita ação.

A aula de ontem acabou dez e meia e cheguei em casa quase onze horas.
Há 350 pessoas na minha turma.
Imaginem uma sala de aula desse tamanho!

Essa rotina só está começando.

E já antecipo agosto sendo um loooooongo mês...





12.7.10

Espiral

Uma semana já passou. E rápida!
Em retrospectiva, posso dizer que meu cronograma está impossível de ser cumprido.
E por outro lado, se não cumpri-lo, não conseguirei ver todo conteúdo até o dia da prova.

Tive um surto de ansiedade.
Daqueles que chamo de espirais:
Começo com um pensamento ruim e dele nascem inúmeros outros em cadeia,
de forma que vão me puxando para baixo num espiral circular para baixo!

Em anos de terapia, criei essa imagem e aprendi a domá-la.
A prática da meditação me ensinou a silenciar esses pesnsamentos visualizando a Terra da Paz do Buda.
E um pote de sorvete HagenDas de Macadâmia me deixou entorpecida de açúcar o suficiente para desligar do mundo e surfar na internet em busca de nada por algumas horas.

Independente das técnicas, foi um aviso:
Eu tenho que escolher como vou administrar minha ansiedade mais uma vez.
Ela pode me derrubar num espiral para baixo e me impedir de agir - congelando minhas boas ideias e atitudes, sabotando meus sonhos e planos.
E pode também se transformar em combustível: domando a ansiedade, me sinto forte para enfrentar qualquer outro desafio emocional.

Escolhi a última. Fiz um floral, mantenho as meditações, mas acabei logo com o pote de sorvete.
É que tudo bem controlar a ansiedade. Mas de preferência com a circunferência da cintura intacta. Ou quase. Ai.

E vamos à semana dois.

9.7.10

Ventos e velas

No início dessa fase de estudos, me convenci de que só depende de mim.
É só ter disciplina, é só estar focada, é só aprender, memorizar, estudar, estudar, estudar.
Esse pragmatismo funciona, claro.

Mas, agora que a prova tem data e já inicio um estudo de revisão, me dou conta de que não
não depende só de mim.
Eu tenho que contar com uma certa sorte:
a sorte de estudar o que vai cair na prova
a sorte de me lembrar do que estudei
a sorte de estar saudável, descansada, enfim...

Além da sorte, preciso de confiança.
Confiar no caminho que escolhi, nos passos que dei até aqui.
Confiar que fiz tudo certo para chegar onde quero. Mas como contar com a confiança? De onde tiro isso?

Isso me atrapalhava o sono de ontem quando me lembrei de uma história budista que vou adaptar aqui:

Você está num mar belíssimo num barco a velas.
Seu barco é grande, confortável, do jeito que você sempre quis.
Há muitos lugares que você conhecer navegando por esse mar.
Mas, para seguir, você preisa de ventos. Ventos que acordem a velas do barco da sua vida.
Você pode ser um grande navegador. Seu barco a velas pode ser o melhor do mundo.
O mar pode ser convidativo.
Só que sem os ventos, nada acontece.
Os ventos são o Outro Poder, o Tariki.
Aquele que sopra o Próprio Poder, o Jiriki - que é você, eu, cada um de nós. Esse poder que pode muito, mas não pode tudo. Porque precisa do Outro Poder, do que completa, do que impulsiona, do que faz mover o mundo. O Buda Amida.

Fechei os olhos sorrindo, respirando fundo e já sentindo o frescor e o sopro do mar: há ventos soprando na minha vida.

É possível seguir velejando porque o Outro Poder me leva para onde quero ir.

7.7.10

Emagrecimento

Estudar para concurso é como perder peso:
todo mundo sabe o que se tem que fazer, mas fica todo mundo procurando um atalho!

Não há corta caminho em nenhum dos dois:
para emagrecer, a maioria das pessoas precisa só de duas coisas - comer menos e queimar mais calorias. Ou seja, fechar a boca e mexer o corpo.
para estudar, é igual - estudar mais para saber mais.

Ah, mas tem um remedinho, tem uma pílula, tem um dica. Ok, você pode ACRESCENTAR isso na sua dieta. Mas a dieta tem que ser feita.
Ok, tem um professor ninja, um livro perfeito, lindo. Adicione isso a todas as horas de estudos. Mas sem as horas estudadas, difícil....

Han, han, conheço um vizinho, uma prima, um colega que emgraceu cem mil quilos em um mês tomando cerveja todo dia! Ele é a exceção.
Tem uma amiga de trabalho que não estudou nada, fez a prova e passou. Parabéns pra ela, não é meu caso - eu sou bem inteligente, mas ainda não sou vidente...(nem mentirosa desse tanto)

Emagrecer e passar no concurso que quero não tem caminho-de-rato. Pelo menos, não pra mim...rotina, disciplina, foco, concentração.
E especialmente: disposição, boa vontade, bom humor, ânimo, e aquela fissura boa de se fazer algo bem feito e conseguir o que ser quer.

Vamos ao dia três da dieta. Digo, dos estudos.

6.7.10

Aprendendo de mim

Sempre gostei de estudar.
Até hoje, aquele "oh" sai fácil quando finalmente compreendo um novo conceito, uma nova sequência de raciocínios.

Com esses meses de leituras, resumos e aulas, aprendi muito sobre mim também.
Meu corpo tem sido um bom livro:

A rotina diária foi adaptada a quem eu sou, e não o contrário.
Por exemplo, adotei um cochilo depois do almoço. Não tenho sono nesse horário. Mas meu corpo agradece a posição vertical e os olhos fechados. É um "log off/log on" entre o trabalho e os estudos. Em média, durmo 17 minutos. Ponho o despertador para tocar em vinte. Mas sempre acordo exatos três minutos antes.

Outra coisa: a cada 55 minutos, tenho que me levantar da cadeira. Nem preciso olhar no relógio, sei que uma hora passou. E aproveito para trocar de matéria. Meu cérebro fica entediado, disperso, preguiçoso - facilito a vida dele, mudo de assunto.

Demorou um pouco, mas prestando atenção no meu corpo está mais fácil ficar quieta, concentrada e feliz - e mais rápido parece o tempo passar!

Quando essa fase acabar, terei mais conhecimento sobre inúmeros assuntos. Mas principalmente, uma PhD de mim!




5.7.10

1 de 46

Hoje foi o dia um de quarenta e seis.
Admito: comecei os estudos em outubro de 2009 - uma revisão da língua portuguesa.
Depois estudei Lógica e Matrizes e Determinantes.
De novembro até o Reveillon, foi bem complicado criar um ritmo.
Disciplina é liberdade, e no meu caso, é passaporte para uma guinada financeira.

Explico: desde minha viagem à Turquia, voltei pensando que toda a edição que mora em mim, acabou. Ou pelo menos, preciso ter isso como diversão, e não profissão. Afinal, meu sonhos não cabem mais no meu salário.

Bem, tudo isso foi confirmado em junho, quando fui "demitida" por dois meses. Com as finanças totalmente descontraladas, em outubro me reergui e a primeira coisa que fiz com o dinheiro que sobrou do mês foi a matrícula do curso de português!

Chega de flashback!
O fato é que o edital do concurso público para o Ministério Público da União foi publicado na última sexta. E a prova, amigos, será dia 11 de setembro!
Tudo muito simbólico na minha vida, eu sei.

E por isso mesmo, estou confiante.
Tudo que tiver que ser, será.
Mas por via das dúvidas, farei tudo que me é possível fazer: me dedicar de coração.

É chegada a hora de tirar uma sabática do mundo:
entrar no meu "mode" obsessiva compulsiva e estudar quarenta e cinco dias sem sair de cima.

Depois tomo sol.
Depois, cerveja, sono, cinema.
Depois, depois.
Já fiz tudo isso muito.
Esse tempinho de nada passará rápido e é até bom pra dar saudade...(pros outros também, sabiam?)

Meus posts serão portanto, reflexo dessa bolha que entro hoje.
Prometo: ficarão abismados com a quantidade de mini-mundos podem existir em um momento assim!
Aguardem!








29.6.10

Árvores de totó

Estar com meu sobrinho Enzo tem sido um dos deleites da minha vida.
Encontro com o menino de quase três anos com a frequência que faço questão: todas as terças, quintas e domingo.
Estamos sempre rodeados de outros adultos e quase sempre, da pequena Sofia.
Mas acho um jeito de ficar com o Enzo, só com ele, pelo menos alguns minutos.

Domingo, cheguei mais cedo para o almoço e o encontrei vendo DVD.
Um dia lindo lá fora, desliguei o filminho e, pela mão, levei-o até a bicicleta.
Descemos os três.

Embaixo do prédio, ele corria na bike - ele fala bike - e eu ia atrás.
Depois, mudamos para motocicleta. E aí eu era carona. Com capacete e luvas - ele providenciou as minhas que sairam de dentro da mochila faz-de-conta.

Ao descermos da moto, ele foi fazer xixi na grama.
- Eu não preciso de ajuda, tia Biju - abaixaindo o short de Homem Aranha e a cueca de Elmo.
A umidade da urina deixou a grama brilhante e ele olhou pra mim:
- Vamos plantar uma árvore?

Plantamos. Muitas. Pé de amendoim. Pé de amora. Pé de abacaxi. Pé de mamão - esse é pra Sofia, tia Biju, porque eu não gosto de mamão.
E para finalizar o nosso pomar com chave de ouro.
- Agora, vamos plantar um pé de totó.
- Totó? E como é o gosto dessa fruta?
- E de abacaxi.
- Hmmm, e ele tem cara de que fruta?
- De manga.
- Ah, entendi. Totó tem gosto de abacaxi e cara de manga. Que delícia, Bíju!
- Han, han - ele afirma com a cabeça, os olhinhos fechados, tão certo de si, desse mundo mágico de pomares, motos, corridas de bicicleta!

Isso tudo em uns 15 minutos.
Valeu a semana toda.

28.6.10

Hoje tem jogo

Essa Copa do Mundo tá sem sal.
Não, não entendo nada de futebol e só vejo jogos de quatro em quatro anos.
Mas nesta, tá faltando de tudo um pouco:
a maioria do nosso time não joga no Brasil, nosso técnico é sisudo e introspecto, o Galvão Bueno é (continua) insuportável...

E fora isso, tem o fato de estarmos no século 21.
É gente, porque em 82, a única coisa que se fazia era ver o jogo.
Hoje, além de assistir a partida, o noticiário tem links ao vivo a cada dois segundos. Temos a internet, pessoal!

A possibilidade de se mandar uma equipe, gravar, editar e mandar a matéria pro jornal supera todas as diferenças de fuso-horário!
Impressões e comentários que vão de leigos-fanáticos a profissionais-ex-jogadores borbulham por todo lugar!

Essa super valorização, tira o valor do jogo em si.
De tanto se falar na partida, a partida perde sua aura mágica.
De tanto replay, todo mundo começa a achar o gol uma coisa básica...tipo, é só isso?
E o pior: na hora de realmente se comemorar o fim daquele jogo, todo mundo já está meio saturado, não há buzinaço, samba na esquina do bar: pra quê? É só ficar em frente à telinha e assistir a comemoração dos outros: na Bahia, no Rio, tals...

Eu confesso, ainda não entrei na onda.
Acho que nem vou entrar.
Se mais nova eu não curtia tanto assim, agora talvez seja tarde demais!
Tudo bem, não deixei de ir aos sambas e batucadas ao final de cada jogo.
E me pego repetindo os comentários que ouvi na TV só pra não ficar de fora...
Mas, no fundo, tanto faz - aliás, hoje eu nem verei o jogo. Tenho mais o que fazer. Mesmo.

Confesso, tem um lado meu torcendo pro Brasil sair logo da Copa e minha vida voltar ao normal.
Mas um outro lado do meu serzinho acha lindo demais ver um país inteiro paradinho, quietinho, um silêncio profundo na hora do jogo.

Não torço pro time. Torço pro Brasil. E se esse povo sensacional ama tanto o futebol, que assim seja: boa sorte, seleção! E que venha o Hexa!

22.6.10

Férias

Sabe a tampa do liquidificador? Tem aquela mini-tampa transparente, no meio, que encaixa, não tem?
Então, toda manhã acordo atrasada graças ao modo soneca do relógio.
Pulo rápido da cama, mas com preguiça monstra.
Do chuveiro, geral no quarto, roupa e cozinha: bato uma vitamina no liquidificador.
Linhaça, pera, suco de amora, quinua ...
glupt pra dentro e puft pro trabalho.

Nada diferente hoje.
Mas cadê a tampinha da tampa?
Ontem mesmo estava ali, eu lavei, deixei na pia...
Com a pressa, tampo o espaço vazio com a mão e ligo o aparelho:
PLUNCT, PLACT!!!

Desligo - peras não fazem tanto ruído!
Despejo o suco lentamente no copo - tlóc!
Sim, a tampinha quase virou vitamina de amora.
Bebi a coisa. Antes, porém, passei o líquido pela peneira - e nela ficaram muitos pedacinhos de plástico de tampinha de tampa de liquidificador...

A vitamina ficou ótima. Mas, definitivamente eu preciso de férias.

17.6.10

Partidas e chegadas

Despedir-se de alguém é sempre doído, nunca estamos prontos.
Ainda não dei um adeus definitivo a ninguém que amo de verdade, estão todos ao alcance do meu abraço.

Não acredito que as experiências que acumulei até aqui com decepções e tristezas, com partidas e finais infelizes sejam necessariamente uma prévia do que virá com a morte de um ente amado.

Ainda não sobrevivi à morte de um amado, mas já superei inúmeros grandes amores, longas amizades, decepções surpreendentes. Dói diferente, sem dúvida. Mas dói.
No entanto, estas dores da vida nos preparam para as próximas que serão semelhantes. Apesar de sentir com força e intensidade, sigo a vida mais serena, mais igual, mais como se nada tivesse me acontecido.
Isso é bom? Ou só sinal da idade?

Com a morte, duvido. Não sei se morrer alguém nos prepara para a ida de um próximo. Com a morte dos meus avós pelo menos, uma despedida foi sempre diferente (e doída) da outra.

E tenho certeza que é por isso que a vida me poupou, até agora, dessa tragédia que é perder alguém pra valer. Eu não tenho forças para pensar nisso.
Sim, morro de medo da morte. Da minha nem tanto. Mas assistir quem tanto amo sair desse meu mundo é insuportável!

A única coisa que me parece absoluta é que a morte chega. E quando ela chega, há de ser uma hora terrível de lágrimas e luto. Mas, ao chegar, é imprescindível vivê-la. Com toda a intensidade e tempo que ela demanda. (e cada um tem seu jeito e sua forma).

Olhar a dor da morte na hora que ela chega é um ato de fé na vida e de coragem no amor que permeia o momento.
Não tem receita, não tem remédio. Só vivendo pra ver.

com amor, para lucyana.

13.6.10

carta ao "tal" santo

prezado santo -vocêsabequemé-

eu nem sou mais católica, mas como hoje é seu dia, me achei na obrigação de mandar uma cartinha:
apesar de você não ser o papai noel, essa data está ficando tão insuportável quanto o natal.
a tv, o jornal, os amigos, tudo no planeta gira em torno de corações de plástico, dicas quentes e promoção de motel.
legal, legal.

mas, se o senhor é mesmo o santo casamenteiro, se o amor dos namorados deve ser aquele que durará para sempre - por que tanta marginalização?
afinal, nós solteiros também somos gente. e em grande parte, somos bem legais!

outra coisa: tudo acaba. inclusive os namoros. é bom ter solteiros ao redor dos namorados, essa coisa de separatismo causa muita dor a ambos os grupos, santo. o senhor sabe disso, já que vê tudo de cima: essa paradinha de grupinhos radicais não é canseira! no final, ninguém fica feliz.

é chato não ter namorado. agora é mais chato ainda não ter nada diferente disso nesse fatídico dia!
tá certo, nem procurei com muita força...fui a um jantar de noivado ontem!
(exatamente, só pra deixar o coração apertado maissss um pouquinho...)
mas, putz - custa ter algo menos impositivo? - nem o natal exclui tanto assim! é festa família, quem não tem uma é logo convidado a compartilhar com amigos a famosa ceia do dia 24.
claro, sei que não há como dividir namorado...enfim, pensa em algo milagroso aí, santo!

recebi uma mensagem fofa de uma amiga casada, me aconselhando a ir à missa de hoje, comer o pão benzido, fazer as orações pra pedir marido.
não é rebeldia, não é falta de fé, mas, eu não vou não...
o santo sabe o que eu quero. sempre soube. e eu nunca mudei de ideia, nunca tive dúvidas, nunca titubeei.
nunquinha. aliás, de tudo que já passei, taí uma coisa que nunca mudou: quero ter minha família com maridão, filhotes e tals.
todo mundo sabe. o santo sabe. o buda sabe. minhas tias carolas, minha mãe...
uns torcem por mim de longe, outros, fazem o que é possível...
mas esse departamento da vida é mesmo um misto de sorte com disposição: tenho tido ora uma, ora outra; nunca ambas ao mesmo tempo. e isso não é exatamente culpa da minha torcida. nem do santo...nem da vida...e nem minha, santo! você bem sabe que eu ando tão na linha!

além do mais, vai que o santo é como os homens - você pega no pé demais e ele some!
ou vai que ele está atendendo as mais sofridas, numa fila infinita de prioridades - as viúvas, as estéreis, as órfãs...- como saberei o critério do santo? melhor deixar isso com ele e não incomodar o cara na concentração!

santo, feliz dia pra você. o meu será como sempre (não é uma reclamação!).
o senhor bem sabe que estou aqui: feliz em tudo. falta só esse um departamento. (e isso não é uma cobrança!). o senhor bem vê a pessoa que sou, como sou e porque sou. talvez, mais do que eu, já que é santo e tals. então, é isso.

sabe santo, se eu fosse te pedir uma única coisa, eu te pediria:
por favor, se esse departamento da vida não for pra mim, não rolar de jeito nenhum, faça uma lobotomia e tire essa vontade da minha cabeça? - me dê um implante de órgãos e troque meu coração por um bem durinho, sequinho, sem lágrimas, sem esperanças?

amém.







31.5.10

Barriga

Uma escadaria em caracol suntuosa e branca de um sobrado muito alto.
Cheira a madeira escura, recém-encerada.
A luz difusa da janela grande atravessa tudo.

Desço os degraus com um sorriso grande
uma alegria lá de dentro.
Seguro a mão de minha mãe. Rimos entre nós.

Estou grávida.
A barriga pequena e dura aparece por cima da calça e da camisa branca, de botões.
Tenho o umbigo estufado a pele lisa, esticada.

Enzo nos encontra no meio da descida. Ponho as pequenas mãozinhas do meu sobrinho Biju e aviso:
- aqui Biju, na barriga da titia tem um nenénzinho crescendo! Aqui, ele é seu primo, Biju!
A Sofia biscuizinha está sorridente e também toca minha barriga avantajada.
Uma felicidade impossível de escrever aqui.

Acordei.

Ao telefone, conto pro Enzo:
- Biju eu tive um sonho com você! A gente descia uma escada bemmm comprida, sabia?
- Não! Tchau, tia Biju!

Desliguei rindo.
E rindo continuo.

para minha mãe.

26.5.10

encantadora de cobras

VIRGO [August 23–September 22] Snake charmers are still a fixture in many Indian cities. Moving rhythmically and playing a flute-like instrument, they influence erect cobras to bob and sway as if dancing.
You now have the power to do the metaphorical equivalent of that magic trick. This is one of those rare times when you possess the mojo to direct and even control strong forces that may usually be too wild to tame. You've still got to be careful, though. Just because you've got the power doesn't mean that you can scrimp on preparation and discipline.
hua hua hua! let´s begin the practice ; )

20.5.10

Crescer na dor...será?

É indiscutível que a dor nos faz mais fortes.
O sofrimento traz perspectiva e novos parâmetros.
Com um pouco de inteligência, dá para usar o passado para evitar o pior no futuro.
Mas, será?

Sempre que vivo uma dor profunda, daquelas que acho que nunca vão acabar,
tudo que quero é que o mundo acabe. De preferência no escuro.
A desolação do sofrimento, a percepção de me sentir vulnerável e principalmente impotente, essas coisas não me deixam raciocinar nada.

Só quando passa - porque tudo passa - é que ganho fôlego, força e lucidez.
Daí, comecei a acreditar que não é bem a DOR que me faz crescer e sim, o fim dela.

Ver a vida depois da tempestade, recomeçar, me traz um alento e uma confiança em mim mesma. De que eu sou capaz de me reinventar, de aprender e tocar a vida. Mesmo cheia de cicatrizes e marcas.

Mas, o que é isso depois da tempestade?
O que me assola na bonança como um estalo?
Uma resposta que só aguardava a pergunta,
me tira da cama sorrindo, me faz dançar e cantar no chuveiro!

O que é?
Sem dúvida, não é a dor.
Com certeza, a dor é necessária para se chegar do outro lado do túnel,
Emergir do mergulho já sem fôlego para uma inspiração profunda!
Mas, não é a dor em si.

Crescer na dor, não existe.
Quando ela termina, começa outra coisa,
Essa, sim!
Me faz grande por dentro, cheia de esperança, calor e luz!
As tantas dores só me ensinaram que nunca estou pronta para elas.

No fundo, o sofrimento não traz nada de novo.
Nem perspectiva ou novos parâmetros.
Sobreviver a ele, ressuscitar da dor, é que é!
Me dá ganas de viver e dançar!

Renascer das cinzas é o segredo da dor!


18.5.10

O lado bom

Como se não bastasse meu pai na UTI, no mesmo dia, bati o carro.
Quero dizer, bateram no meu carro.
Poderia dizer que eu estava sem dormir, com o corpo todo moído de tensão, os olhos molhados de lágrimas - mas eu estava PARADA, esperando minha vez de entrar na principal!

O solavanco que senti no pescoço, nem doeu na hora. Amassou a traseira, o porta-malas não abria.
Saí do carro tranquilamente, vi o Citroen C5 da senhora e só perguntei:
- A senhora se machucou?
- Não.
- A senhora está sozinha?
- Sim.
- Me desculpe, mas meu pai está na UTI do coração e eu não tenho a menor condição de discutir isso aqui com a senhora. Me dá seu número e eu ligo pra senhora mais tarde, talvez a semana que vem.
Se ela balbuciou algumas coisas, nem sei. Deixei a mulher sozinha, entre buzinas e xingamentos, atravancando o trânsito.

Entrei no carro. Tremendo, com ânsias de nervoso. Parei numa farmácia, tomei um relaxante muscular.
- Bati o carro, falei pra minha mãe.
- Meu Deus, e agora?
- Nada. Já tomei um relaxante; depois, faço fisio, ressonância, acupuntura. Depois.
- E o carro?
- Depois eu arrumo. A mulher falou que vai pagar - falou nada. Mas nem tinha ânimo pra entrar nessa discussão.
...
Minha mãe contou pro meu pai. Que me viu e foi logo perguntando:
- Amassou muito?
- Não.
- Anotou a placa?
- Han han - mentira. Nem me lembrei disso! - a mulher falou que vai pagar. - outra mentira. De novo. Mas é a mesma, daí só conta uma vez.
Meu irmão chegou:
- Antou a placa?
- Han han, a mulher vai pagar.
- Fez BO?
- Ainda não, faço hoje quando chegar em casa - que foi por volta das onze e meia da noite. Nem liguei o computador.
...
Passada uma semana, liguei para a senhora do Citroen. Ela me passou o telefone do marido que é quem resolve as coisas de carro. O marido disse para eu consertar o carro com quem fosse de confiança, que ligasse pra dizer o valor do orçamento. E pediu desculpas pelo infortúnio umas cinco vezes. E desejou melhoras ao meu pai umas dez.
...
Mais uma semana, ligo para o marido da senhora do Citroen.
600 reais.
- Como a senhora prefere fazer?
- O que for melhor para o senhor. Se o senhor quiser ir até a oficina e fazer o cheque para pegar a nota fiscal, podemos nos encontrar lá. Ou o senhor pode fazer um depósito para mim e eu repasso para o mecânico.
- Eu faço o depósito agora. E de novo, desculpe pelo infortúnio, melhoras a seu pai e tudo de bom.

Assim.
Dois minutos depois, o dinheiro estava na minha conta.
Fim.
...
Será que se eu fosse muito má, um homem bom teria batido no meu carro?
Não.
Será que se eu fosse uma filha horrível e não estivesse indo ver meu pai no hospital, meu carro estaria intacto?
Sim.
É isso: eu sou legal, pessoas legais cruzam o meu caminho. Nas piores situações.

De um jeito torto, todo dia o Universo me mostra que minha trilha é essa mesma: seguir sofrendo, aprendendo, mas com certeza absoluta que em tudo tem um lado bom. Se eu não vi ainda, já já acontece um acidente pra me mostrar bem de pertinho.

ps - já já já fiz ressonância, RPG, acupuntura. E não é (totalmente) mentira. Juro.



13.5.10

Igual diferente

Há uma semana meu pai sofreu uma ameaça de infarto.
De volta em casa para seu aniversário no sábado passado, comemoramos seus 66 anos de vida.
Tudo está como antes.

Mas, não sei...

Tive muito medo do meu pai sofrer.
Ele detesta hospitais (eu também)
E não gosta de jeito nenhum de ficar sozinho.
Quis muitas vezes trocar de lugar com ele naquelas horas frias da UTI.
Chorei um pouquinho, dormi um tantinho...

Mas, também não é isso...

Fiquei presa a pensamentos do futuro sem o meu pai.
E como seria quando eu tiver filhos, sem ele para ser o Vôvis.
O dia que eu quisesse apresentá-lo para o meu companheiro de estrada, de vida, o marido.
Chorei mais, não dormi nada...

E então, finalmente me veio:

Meu pai é um homem incrível
Herdei o sorriso fácil, o gostar da casa, mas também da estrada
A curiosidade sobre o mundo mecânico das coisas que funcionam com botões, luzinhas, cordas, fios, parafusos...
Ele me ensinou a trocar um pneu
A andar de bicicleta
E me salvou da piscina, sem nunca ter aprendido a nadar.

E por tudo isso, eu simplesmente não quero deixar que ele saia da minha vida.
É meu, eu vi primeiro, não vou emprestar, dar, alugar pra ninguém.
Nem pra Deus, nem pro céu, nem pro diabo que o carregue.
Egoísmo, vaidade, mimo de filhinha do papai:
Meu pai não está autorizado a ir a lugar algum sem antes pedir minha autorização!
E adianto logo - para morrer, a concessão está proibida pelos próximos 20 anos.

Como eu disse: nada mudou.
Ou pelo menos, não para pior.
Mas...
Sei lá, uma coisinha aqui dentro mexeu...
Brios, frios na barriga, ódio mortal da morte que um dia virá.
E também uma fúria louca de viver a vida com toda força!

11.5.10

Tigresa


2010 O Ano do Tigre

Este é definitivamente um ano explosivo. Começa geralmente com um estrondo e acaba com um choramingo. Um ano dado para a guerra, o desacordo e desastres de todo os tipo. Mas será também um ano grande. Nada será feito numa escala pequena, ou tímida. Tudo, bom e mau, pode e será levado aos extremos. As fortunas podem ser feitas e perdidas. Se você tiver uma possibilidade poderá agarrá-la mas nunca esqueça que tem grandes obstáculos pela frente.

As pessoas farão coisas drásticas no mesmo momento. Os temperamentos subirão ao seu redor, será uma época de testar a sua diplomacia. Como o tigre, nós tenderemos a agir sem pensar e a terminar lamentando-nos pela pressa que tivemos.

As amizades, os riscos comuns e os negócios que requerem a confiança mútua e a cooperação feitas neste tempo são frágeis e serão quebrados facilmente. Entretanto, o ano forte e vigoroso do tigre pode também ser usado para injectar a vida e a vitalidade em causas perdidas, em riscos, em indústrias que se afundam, e/ou falhando. Será do mesmo modo um momento para a mudança maciça, para a introdução de ideias novas e marcantes, especialmente controversas.
O calor impetuoso do ano do tigre, apesar de seus aspectos negativos, devemos dizer que poderia ter um efeito de limpeza e purificação em todos nós.
Tal como o calor intenso é necessário para extrair metais preciosos de seus minérios, assim também o ano do tigre pode trazer para fora o melhor que existe em nós.

Apenas um breve conselho para este ano imprevisível - agarre-se ao seu sentido de humor e deixe a má cara enterrada ou escondida durante este ano.

recebi via email, pela Pink. E sim, é bem por aí.

5.5.10

Bonança

Depois da tempestade, vem a bonança.
Ainda não lá.
Uma hora....

Coração

O meu, parou. Está congelado.
Suspeita de infarto.
Não no meu peito.
Mas no peito do meu pai.

Achei que era uma dor mais fácil, já que é no coração de outrem.
Nada.
Dor doída.
Sem fome.
Sem sono.
Sem vontade nenhuma.
Só mesmo de trocar de lugar.

Eu aguento fácil um quarto gelado e tubos nos braços.
Meu pai. Ele não suporta nada disso não, gente.

Muda ele de lugar: amanhã ele vai ao meu trabalho e eu faço mil outros exames.
Ou troca nossos corações.
Prometo cuidar do dele bem melhor do que cuido do meu.

Do jeito que for, que volte logo a bater o meu coração.
do jeito de sempre, igualzinho.
ou melhor até
quando o coração do meu pai sair do susto
voltar à guerra.
pulsar junto
junto com o meu.

1.5.10

Vai-e-vem

Percebi que todo bem que faço para mim mesma, também faço cinco maldades.
Esse jogo está bem desigual...

29.4.10

Gerações

Minha avó materna, Ignez (oitenta e tantos), segura a bisneta Sofia (oito meses e tantos dias) no dia do Batizado desta última. Lindas.

28.4.10

Xópin Cênter

Passei no Shopping Center para fazer minha carterinha estudantil - sim, eu sou estudante de verdade esse ano - e comprar um presente de aniversário.

Meu, como eu detesto shopping!
Realmente, tudo me deixa irritada:

Eu não gosto da luz dos shoppings: excesso de luz branca, tão diferente da luz do sol!
Uma luz que ofusca, que não cria sombras, nuances, texturas...
todo mundo fica sem contorno, figurinhas coladas num álbum.

Eu também não gosto do cheiro: um cheiro de comida se mistura com o do número incrível de pessoas: suvaco, perfume, creme...atchim! Aroma de hambúguer com lavanda, não dá!

Me incomoda muito também a poluição sonora: as pessoas parecem falar mais alto, porque há música tocando nos corredores!
E perto de cada porta de loja, outra música sai lá de dentro!
Os sons se misturam desorganizadamente, provocando uma ansiedade que nasce nas orelhas e entra para dentro da testa, bem aqui, no meio dos olhos.

E os olhos, só enxergam nos largos corredores, as vitrines - cheias de coisas diferentes, que no fundo são todas iguais: é o que chamam de moda.
Essa moda que quase nunca combina comigo (combina com alguém?); e se combina, eu não tenho a menor vontade de usar...
estou sempre no antepasso da moda shopping center: quando o bico é fino, procuro tamancos; se a moda está bege, quero o roxo batata;
e quando todo mundo cansou do pink, caí de amores!

E até a livraria, ah, uma livraria!
Nem ali eu fico sossegada - a pessoinha dentro de mim pedindo peloamordobuda vamos sair daqui.
Compro a lembrancinha de presente de aniversário e sumo dali.

Dor de cabeça. Ansiosa. Quase triste.
Será que é por isso que as pessoas compram por impulso nos shoppings?
Sou só eu?
Na esperança de silenciarem tanto desconforto, usam o cartão de crédito no que acreditam precisar urgentemente: hoje, eu vi uma bolsa que tenho que ter.
Custa quase 400 reais. Quase dez cestas básicas. Um bolsa vazia.

Saí da loja, saí do shopping. Era hora da minha meditação no Templo.

Aqui, longe da bolsa e da meditação, não preciso de nenhum dos dois.

Mas voltarei à meditação.
Já ao shopping, não voltarei tão cedo!

24.4.10

Fé e religião

Comecei minha vida religiosa muito cedo.
Fui batizada antes de completar um ano.
Aos dez, fiz minha primeira comunhão num colégio Católico.
Nesse dia, tive um desentendimento com o padre. Estava de mini-saia e ele achou ruim eu chegar na casa de Deus vestida daquela maneira. E eu achei péssimo ele falar mal da minha melhor mini-saia pra ir visitar a casa de Deus. Enfim.
Confissões feitas e comunhão recebida, nunca voltei à igreja para ser Crismada. E com o andar dessa carruagem, acho bem provável nunca subir ao altar na cerimônia do Casamento.

Anos depois, em 2008, me converti ao Budismo depois de frequentar o Templo por um ano.
É pouco tempo, eu sei.
E uma decisão muito séria. Pelo menos para mim, é.

Acho difícil explicar o que me aconteceu, mas é mais ou menos quando a gente chega em casa de uma longa viagem: o passeio foi incrível, mas voltar para a nossa casa, nossa cama e lençóis é a melhor sensação de todas!

É claro que não dá pra saber se daqui a trinta anos, serei umbandista, espírita ou me converter a outra religião - e até voltar para o Catolicismo.

Mas acho estranhíssimo a postura de se mudar de religião a cada um, dois anos porque brigou com alguém da igreja ou da comunidade; porque discorda do jeito que as coisas funcionam na administração do centro ou do templo...

A única explicação que tenho é: ter uma religião é a parte mais fácil da fé.
O difícil é praticá-la na sua comunidade, com as pessoas mais distintas possíveis de você;
o complicado mesmo é aplicar aquilo que é lindo nos livros, sutras, bíblias e alcorões, no cotidiano dos templos, igrejas, centros...

No Templo Budista, tenho muitos colegas.
Fiz um, dois amigos. E ainda assim, pessoas que sequer conhecem minha casa!
A maioria dos budistas que conheço tem muito pouco em comum comigo - são pessoas mais velhas, com mais poder aquisitivo, casados e com filhos grandes.

Nas atividades do Templo, como voluntária, tenho que lidar com gente de todo tipo, budistas ou não, que desafiam minha capacidade de ser bem educada - que dizer de ser budista!

Confesso que em muitas situações, me irritei, praguejei e até falei mal das pessoas.
E em outras, simplesmente desisti de estar presente, exausta da demanda que o ser humano impõe quando quer ser chato de galochas - como diria Emília, a mais inteligente das bonecas de trapo.
Nunca entrei em um embate, deixei esse estilo na adolescência e aprendi que uma boa briga se ganha de outras formas. Também porque, com o Budismo, entendi que o silêncio é meu melhor amigo nas horas em que tudo que quero fazer é soltar os cachorros e cuspir marimbondos.
O peso da minha mudez já moveu opiniões. Inclusive as minhas próprias.

Mas, mesmo sem grandes amigos no Templo, mesmo sem muita paciência para conhecer pessoas tão diferentes, mesmo com pouca habilidade para lidar com gente rude, estranha, até agora, eu não desisti da minha fé.
Eu confio sinceramente que aonde estou e no quê acredito não estão ligados intrinsicamente ao fato de o Templo ser ou não meu lugar de amizades e afetos...

E tenho certeza absoluta que é exatamente este o meu caminho budista:
Cheio de gente diferente; gente mesquinha, vaidosa, covarde, metida; gente como eu - com defeitos - que busca a luz do Buda no próximo - quando talvez devêssemos estar emanando a luz do Buda PARA O PRÓXIMO.

Nesse caminho, não há retrocesso, disse o monge Sato.
Eu não desvirei católica para virar budista.
E não sei como será meu caminho de fé para os próximos 30 anos.
Mas sou uma pessoa melhor do que eu era antes porque tenho uma fé aplicada a uma religião.
E esse compromisso - do que eu quero da religião que escolhi e das coisas que acredito - me dão forças para eu seguir aprendendo e conhecendo pessoas de todos os jeitos e maneiras.

para o meu amigo-budista, Bruno.


23.4.10

Bonança

Fora a preguiça que me assola - o Pecado Capital dominante em mim - realmente o ano começou, de novo!
Fiz meu exame de ressonância magnética com dopler da tireóide.
E ... tchan!!!!!!!! Achei que não fosse possível, mas o encolhimento desse glândula que tanto me preocupou no ano passado...sumiu!
A minha tireóide cresceu!
Como? Ah, a gente teve uma conversa de garotas...

No ano passado, o mesmo exame acusou uma redução de 8 para 5 cm cúbicos. A produção de hormônio estava normal, mas uma glândula diminuir é motivo de preocupação, já que não é legal uma mulher adulta ter glândula de menina.
Bem, daí que ontem, depois de ouvir o barulhinho interno dela (vocês já fizeram esse exame? É sensacional ouvir o pulsar do seu corpo...o sangue, a pressão...)
veio o resultado:
de 5 cm cúbicos, minha tireóide mede agora distintos 6,9 cm cúbicos!
Hehe, um número sugestivo...

De presente para ela, parei numa lojinha de presentes - pensei em comprar bobages para a cozinha ou umas velinhas cheirosas...ei que vejo um Buda!
O Buda Amida!
O Buda que procuro desde que fiz a iniciação!
Um Buda em pé, com as mãos espalmadas para fora, olhos semi-cerrados, e o sorriso da Mona-Lisa (seria ela iluminada também?) - uma estátua do Buda exatamente como eu queria!

No Budismo, quando fazemos um altar em casa, a casa se torna a morada do Buda.
Meu corpo é o altar da mente tranquila.
E minha casa, a casa Daquele que está Desperto.

Gashô.

22.4.10

Rebordosa

Eu não sei vocês, mas estou numa ressaca monstra da Festa de aniversário de Brasília.
Nem fiz grandes farras. Fugi da muvuca da Esplanada.

É que para mim, as duas últimas semanas foram tão intensas!
Não nas rotinas, no cotidiano...
Intensidades lá no fundo, no meu coração, na minha alma mesmo.

Tenho a sensação que transitei por placas tectônicas em movimento.
E agora, finalmente, elas cessaram.
Na estabilidade, percebi coisas fora de lugar.
Que na verdade, estão no lugar certo agora, e não antes.
Interessante.
Seria o aniversário de Brasília?
A chegada da Primavera?

Ciclos se fecharam.
Pessoas se foram. Outras voltaram.
Eu me reencontro de volta ao meu corpo depois de um estranhamento desconfortável.

Hoje é como se fosse Primeiro de janeiro.
Aquele dia que a gente acorda já no fim do dia pensando que tem o ano inteiro pela frente!

Acordei de um Reveillon.
Uma passagem de etapa, de fase.

Estou desperta.
No corpo e na mente.
Viva.
A veras.

20.4.10

18.4.10

Domingo à tardinha

Em Brasília, o fim de tarde é tão lindo que chega à beira da cafonice.
E eu não sei porquê o por do sol do domingo é o ápice dessa ideia.
Fica quase religioso, angelical. Totalmente piegas.
A cara do brasiliense.
A minha cara.

Eu adoro os domingos.
Especialmente assim, como os de hoje:
teve sol, teve vento.
teve Beiras e cinema.
E teve o por do sol.

O céu cheio de nuvens, até parecia que vinha chuva - cinza chumbo, branco gelo.
E a hora que o sol vinha caindo, refletia aquele pink-chiclete nas nuances de branco-cinza das nuvens e...
Ai, difícil achar palavras...

Falar sobre o por do sol de Brasília é igual descrever um sentimento, assim, o amor:
Não basta só falar da reação física - o coração palpitar, o sorriso abrir - das cores e tons - o turquesa do céu, o laranja do sol - tem que por o som alto no rádio, abrir a janela e botar a cabeça pra fora gritando - ahhhhhh!
E ainda assim, impossível fugir do kitsch, do brega...

O por do sol em Basília é apoqiweqruaslkd
Assim como o amor é apoqizxcvzb
Sabe?

Sabe, sabe sim.
Todo mundo sabe.
E se não sabe até hoje, vem aqui pra saber, vem...

dedico um por do sol de Brasília para cada amigo que mora longe. Saudades!


17.4.10

Sem encontro no encontro

Se meu passo é muito rápido
E meu rumo não é o seu
Eu me calo
Num resguardo
Nesse quarto azulado

Mas se espero aqui no canto
Um convite ao caminhar
Me espanto - um momento
Quando a voz chega no vento
Falando de um outro lugar

É você chamando longe
Eu respondo hesitante:
Se eu sair do meu caminho
E andar devagarinho
Chego perto de você?

Ou será, distante fico
De mim e do meu querer
Pensando em ficar com você?

Se eu falo isso agora
E nunca escuto você
É por medo da voz calada
Ouvir o surdo canto
Dessa saudade gritada

Então ando assim no meu passo
Aqui de longe mirando você
Que anda no outro traço
Em outra linha, de um espaço

Mas ah! se um dia der certo
E o vento fizer parar
O meu trotar na sua vida
A sua vida no meu passar
Eu desacelero o mundo
Eu mudo de prumo, de fato
Pro rumo do seu abraço




intensa assim. fazer o quê. beijo pra você.



14.4.10

Aqui é meu local de trabalho

recebi essa foto por email, não sei dizer quem é o autor. mas olha que lindo esse ângulo do prédio do congresso nacional!
entro por baixo dessa longa rampa todas as manhãs e confesso: sinto um orgulho imenso de ser uma formiguinha trabalhando ali!

13.4.10

O Guri

Acordei. Acordei do que seria a morte, mais uma vez algo deu errado. Não quero me rasgar o peito com uma lâmina cega de cólera, nem ter meu crânio estilhaçado por uma bala, não quero sangue. Além disso, esses dois modos são arriscados demais, posso sobreviver com sequelas e cicatrizes. Seja como for, seja limpo, dê o mínimo de trabalho aos outros.

Merda! Mijei na cama, to velho pra isso, ou ainda muito novo. Minha camisa serve como pano de chão, acho que dá para absorver o pouco de urina que tem. Não enxergo nada nessa escuridão, a cortina não revela se é dia ou se é noite. Sinto que dormi alguns dias, sinto um estranho gosto de vinho e cigarro na boca.

Já sei. O vinho fazia parte do meu rito de passagem, de uma vida para um nada. Era um cabernet sauvignon com comprimidos de dormonid, valium e lexotan. Maldita ressaca, essa mistura quando não mata te faz mal. Misturemos sempre com moderação, com a moderação necessária para nos matar.

Preciso dormir mais um pouco, mas nesse mijo úmido não dá, talvez o sofá de dois lugares em frente à TV, um sofá não pode ser pior que a sobrevida. Se um livro de auto-ajuda fala em 12 passos, eu preciso de um pouco mais, acho que até a sala são uns vinte cinco. Nesses vinte cinco, sigo cambaleando e batendo entre as paredes do corredor, esquerda, direita, esquerda, direita, passo a passo, até cair sublimemente como uma pluma cai do céu ou como um corpo que cai do oitavo andar.

Durmo mais oito horas seguidas, levanto e pego a minha água com gás, bem gelada com uma fatia de limão, sinto a garganta rasgar com o choque da água fria e do gás concentrado. Meu corpo flutua e pesa mais de uma tonelada ao mesmo tempo, é a gravidade brincando com o meu ser. São meus neurotransmissores e minhas bainhas de mielina que brincam comigo como teatro de sombras . É a vida, ou o resto que resta dela. Ligo o estéreo e seleciono a minha seleção de jazz, a ocasião pede luz de velas longe de mim e um jazz suave, quase sombrio, pode ser também um folk rock de um cantor suicida. Durmo mais algumas horas, sonho pouco, sonhos estranhos, alguns com sexo, outros com monstros e candidatos à presidência.

Não sei quanto tempo se passou desde o meu rito, passando pelo meu fracasso, até o momento atual. Fracasso... O insucesso é o fracasso dos otimistas, talvez um dia seja insucesso mijar na cama.

Preciso de um café, um bom café, não daqueles de padaria feitos às pressas com kilos de açúcar, quero um bom grão, um café bem tirado da máquina, para tomar sem açúcar, sentindo a pureza, pensando em poucas coisas puras que ainda há nesse mundo, talvez nem esse café seja puro. Mas prefiro não pensar muito nisso.

No caminho da cafeteria vejo um guri com uma cara chorosa, sozinho em frente ao banco, não sei quantos anos tem o pequeno piá, talvez oito ou dez, é impossível diferenciar crianças quando elas começam a ler aos 6 anos até começar a fumar maconha aos 16. Nesse período todos são iguais, alguns mais iguais que os outros.

- E aí guri, tá perdido? Pergunto com um certo tom de preocupação, não tão preocupado por ele estar perdido, talvez mais preocupado pela responsabilidade de ter que cuidar dele até ele encontrar o pai.

Com uma voz chorosa e presa, como quem sofresse em silêncio uma dor inexplicável, sem tamanho, ele responde:

- ´Tô esperando o meu pai, ele foi pegar dinheiro pra fazer a compra do mês. Já deve ‘tá saindo.

- É perigoso um garoto da sua idade ficar sozinho aqui.

- Ele disse que seria rápido. Porque o senhor está triste?

-Por que me chama de senhor?

- Meu pai me disse pra chamar gente mais velha que a gente de senhor.

-Entendo. Estou triste. Minhas paredes estão caindo e eu estou tropeçando nos meus passos, as pontes pelas quais passei caíram.

- Como assim, senhor?

-Esquece. Esse moletom foi você que escolheu?

-Mais ou menos. Meu pai queria que eu pegasse esse.

O garoto tímido, alto pra idade dele e bem articulado, apesar de poucas palavras, usava um moletom flanelado com uma estampa chamativa, era laranja e azul, uma combinação bem infantil para um garoto com postura de homem, pelo olhar desse guri dava pra ver que pela vida já havia passado maus bocados. O guri de cabeça baixa fazia um vai e vem com a perna.

-Seu pai percebeu que você escolheu essa roupa pra agradá-lo.

-Não sei, senhor. Eu uso pouco essa roupa, não gosto de usar perto dos meus amigos, uso só quando saio com meu pai. Queria um com desenho preto e vermelho. Meu pai tá me chamando. Tchau!

Alguns meses se passaram, minha esperança na vida ainda era fraca. A vida não passa de uma sucessão de acontecimentos repetitivos com pequenas variações imperceptíveis. As cores são dadas pelo eterno conflito do bem e do mal, esquerda e direita, copo meio cheio e copo meio vazio, estampas laranja e azul, e preta e vermelha. A vida tem sentindo na contradição, na antítese e no paradoxo.

Estava decidido Juntei receitas de diversos médicos, e brindes de alguns traficantes. Dessa vez o meu ritual seria com Jack Daniels, o melhor Bourbon, teria Valium, Dormonid e Lexotam. Começaria pelo Lexotan por ser mais fraco, curtiria a onda, a dormência dos olhos. Depois passaria para o Valium, minha boca ficaria mole, as palavras sem sentido e tudo teria um tom cômico. Depois abriria o Jack, sem gelo, como deve ser um Bourbon, e acabaria com o Dormonid. Sentiria meus dedos adormecerem, meus pés, meus braços e minhas pernas...uma gradação de dormência e esperança em não mais palpitar o coração.

Quando saí da farmácia vi o guri. Era um piá, um pequeno guri, mas estava tão alto, tão crescido. Sem barba e com pensamentos e devaneios e usava um moletom. Dessa vez preto e vermelho, discreto, ideal pra sua idade, ou suposta idade pela altura que tinha. Parecia feliz caminhando com passos fortes e largos. Às vezes penso se era um guri ou um homem. Ele passou por mim, me derrubou no chão, minha sacola de compras da mão direita voou longe, minha garrafa caiu no chão mas não quebrou. O Rapaz pediu desculpas, foi bastante educado perguntou se eu estava bem, mas não me reconheceu. Quando levantei, procurei meu kit suicídio e vi que estava no meio da rua, sendo atropelado várias vezes por carros e dentro de uma poça d’água. Merda!

Pelo menos o pequeno herói de moletom com estampa preta e vermelha me deixou com a garrafa de Jack e mais um dia de vida, talvez ache uma linda mulher pra tomar comigo. Talvez chegue em casa e escreva um bilhete na geladeira “ carpe diem”, quem sabe eu não escreva em algum outro dia “carpe vitae”.

de b.varjão

beijo, querido!

11.4.10

Sofia, minha afilhada!

Pensei que o impacto do ritual me seria de pouca importância.
Mas ver o sorriso da Sofia recebendo o óleo ungido, foi muito especial.
Obrigada, Rainha Sofia, minha biscuit de gentinha feliz!
Obrigada, Enz0-Bijú, meu sobrinho adorável, encantador!
Obrigada Bruno e Rafaela por me darem minha primeira afilhada da vida!
Um domingo especial. Sempre.

6.4.10

Noite em Brasília: os gatos nunca são pardos

Se não me falha a memória, minha primeira noite em Brasília foi no Beirute da 109.
Estava com uma tia. Ela estudava Física na UnB.
Eu acho que eu tinha no máximo uns onze anos.
Contando dessa noite, vou ao Beirute desde então. Vinte e muitos anos!

Enquanto a noite em Brasília mudou muito, o Beirute mudou pouco: continua meio ruim, meio sujo, meio estranho. Com cerveja muito gelada e gente muita. E de todo tipo.

Aqui, tem noite e gente pra todo gosto, pra todo gato - não só o pardo:
tem aquele happy hour sensacional em qualquer esquina que você escolher - tem, tem, aqui tem esquina sim. Bares, moquifos, pubs, padarias e botecos pra todo bolso, espalhados por entre as quadras - e quadras são quadradas, logo, há esquinas.

Mas, a cidade tem um estranho hábito de transformar o singelo happy hour do fim do dia de trabalho em uma noitada surreal: porque há festas.
Em todas as vizinhanças, até tarde.
Há festas particulares pagas, que não são tão particulares - geralmente no Setor de Clubes Sul - e também aquelas na casa do amigo do amigo: é só levar o que for beber e um sorriso. Estas últimas, acabam a hora que Deus der bom tempo, e com tanta chuva, andam amanhecendo o dia. Outro dia fui parar numa da embaixada da França. Não, nada oficial: é que tem uns moços que trabalham na embaixada, moram por aqui, e pra se entrosarem...

Pois é. Na noite, você cruza com esse pessoal de embaixada. Mas pode também preferir o subterrâneo do CONIC - um centro comercial que deixa o Parkshopping no chinelo: à noite, putas, travestis e festinhas no melhor estilo inferninho tomam conta de todo o local, bem na frente da Igreja Universal do Reino de Deus. Amém!

Nas quadras residencias, já teve muita boate legal - uma portinha ingênua e gente enlouquecendo lá dentro.
Que tipo de música? Escolha seu estilo, vai ter um canto tocando, não se preocupe. Ultimamente, com a lei do silêncio imperando, bares com música, boates e afins estão ficando mais isolados, em setores comerciais e áreas fora do Plano - só o Gate's salva. O lugar tá ali há décadas, pouco melhor que em 70. Mais fedido, mais caro e mais enfim - igual. Ainda assim, ótimo lugar pra balançar o esqueleto e beijar na boca.

Ah, sim. O beijo na boca: pra todos os gêneros e gostos, o beijo na boca é totalmente possível.
As meninas brasilienses têm má fama, admito: narizinho empinado e carinha de azedas, mas elas não enganam ninguém - brasilienses adoram dançar, beijar na boca, beber todas e tomar café da manhã na padaria antes de subir pra casa. E eu assino embaixo, só não sou azedinha. Virei caipiroska com muito açúcar!

Esse seria o post mais longo de todos porque ainda nem comecei a falar dos shows, eventos, performances; da Orquestra Sinfônica grátis, do Teatro Nacional, da sala FUNARTE, dos tantos e tantos festivais de cinema patrocinados por todas as embaixadas do mundo que ficam aqui.

E daria um post sozinho as infinitas manifestações noturnas no gramado da Esplanada: grátis, à noitinha, de madrugada. Palcos, telões, gigantescas caixas de som viram pequenas peças do LEGO, para a diversão ser o objetivo principal. O monta-desmonta faz o ano passar correndo. E já é dia do aniversário da cidade de novo: mais show, mais missa, mais tudo.

Por isso, ficou faltando muito.
Mas...ix, já deu seis e meia. É hora do happy hour e já tem gente me ligando - falou, galera. Vou tomar uma cachacinha aqui na quadra, que essa chuva tá pedindo um esquenta-goela!

beijo pra Marcinha que tá em Washington louca por um choppinho do Boteco.
beijo pro Bruno. Outra sangria no Barça?
beijo pra todos os amigos de noitadas brasilienses. Azedinhos nada, somos todos o açúcar da Capital!

5.4.10

Fé ou simplesmente o fatídico inferno astral

Talvez por ter sido uma visão de Dom Bosco, Brasília já nasceu com um quê de fé.
As pessoas vieram sonhando o discurso do presidente Juscelino.
Com fé na vida nova, no Brasil novinho em folha.
Essa coisa de brasileiro: de ter fé mesmo quando não se tem porquê ter.

Gente de todo canto, com fé de todo jeito.
Do candomblé ao budismo, a nova capital teve espaço pra todo santo, toda energia sideral.

Um mapa astral se formava no dia 21 de abril de 1960.
Brasília é taurina. Bicha tinhosa, família, leal e muito bem humorada.

Sou budista, como sabem. Fui católica até pouco tempo.
Mas não resisto a um bom horóscopo da semana no jornal de domingo.
E de tanto ler, tenho que concordar:
Brasília passa por seu inferno astral, aquele período do ano que antecede nosso aniversário, uma ou duas semanas antes do dia da gente nascer.

Minha cidade natal em poucos dias fará 50 anos e essas semanas estão sendo catársicas!
Governo desmantelado, chuvas alagadoras, espaços públicos abandonados, contraste social alarmante.

Leio horóscopo sim, mas tenho quase certeza que sou budista porque nasci brasiliense: tinha vizinhos da umbanda, da igreja adventista. E uma melhor amiga na escola simplesmente nunca acreditou em Deus.

No Budismo, para cada ação, há uma consequência. Não há inferno astral, mas simplesmente colhemos o que plantamos.
Brasília colhe hoje, as inúmeras sementes burras, tortas e daninhas que todos nós plantamos em 50 anos: só pensando em nós mesmos. Só votando nos amigos. Só agindo na última hora. Com preguiça de tomar a frente, ter iniciativa.

Mas no Budismo também há espaço para o que os Católicos chamam de ressurreição, redenção: o milagre de recomeçar, renascer, criar uma nova vida, uma segunda chance.
Não há segredo: para ter um aniversário de 100 anos melhor, Brasília deve, desde já, tomar atitudes que gerem o bom carma: fazer o bem ao próximo, ser sábia e compassiva com ação, pensamentos corretos.

50 anos em 5.
Esse deve ser o nosso lema para o aniversário de 100 anos! Para que os próximos 5 anos da Capital Federal sejam só de boas coisas, vamos, cada um, nos tornarmos pessoas melhores!
E isso se dá com fé. Qualquer que seja. Afinal, estamos em Brasília.

um beijo pro Guto.


4.4.10

Feriado de Brasiliense: Chapada

Cheguei do feriado hoje.
Visitei o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, a 260 km de Brasília.
Praticamente o quintal de Brasília.
Dirigimos por 3 horas até São Jorge - uma vila que faz muita questão de continuar assim - e ficamos na pousada da Lana, a Palipalan (que é uma flor linda do cerrado, você conhece?)

No trajeto, tenho a sensação de que as cidades estão juntando as extremidades umas das outras. Mas, ainda assim, há muito Planalto nesse Brasil.
Os platôs altos e azulados combinam muito com o azul do céu. Que por sinal, estava cinza na maior parte do tempo. O Cerrado intercala com plantações de milho a paisagem. Gado pastando, matas ciliares, galerias.

O caminho vai acalmando a alma, serenando o coração. O belo da natureza me lembra a fluidez da vida que acontece independente de mim, da capital do país e, ao mesmo tempo, me dá a certeza de que estamos todos conectados, ligados por um fio que não esse da civilização. Um alívio traz um suspiro. Sorrio em silêncio.

Com as chuvas, o Cerrado fica mais verde e há flores por todo lado. É uma vegetação estranhíssima, com árvores tão feias que ficam lindas, folhas disfarçadas de flores; flores que parecem galhos.
No chão úmido, a areia branca e fina dá lugar a pedrinhas, pedronas, rochas escuras, mato fechado e de volta à areia fina.

O Cerrado é cíclico, ímpar, surpreendente e belamente estranho.
Demanda de mim uma delicadeza no olhar, uma mudança de perspectiva, um outro jeito de ver e sentir. O Cerrado deve ser olhado com a mente aberta. Ou nada se vê de especial.
Penso se as pessoas são também assim, carentes de um olhar especial, cada um de nós com belezas particulares, só vistas com olhos atentos.

Na chegada à cachoeira, uma cobra: fina, preta e amarelada, olhos pretos e redondos, segurando estática a metade de uma lagartixa na boca.
Estranhamente, não sinto medo, mas orgulho: uma honra enorme de estar nesse exato segundo vivendo no mesmo lugar que uma outra vida padece.
A conexão, o fio invisível, algo que foge das divisões geográfica, política, histórica.

Entro no poço raso de água fria e turva.
Começa a chover muito.
O frio inevitável me dá a real dimensão do meu tamanho nesse mundo imenso:
Um ser minúsculo, sem qualquer controle sobre o todo que me rodeia.
Mas o frio passa, a chuva passa, e seguimos para a próxima trilha, a próxima cachoeira.
Medito sobre o meu trajeto até aqui. Ouço com olhos fechados o ruído da queda d'água. Combina com a batida do meu coração.

No fim do caminho, exausta, dolorida, com frio e com fome, volto à vila.
No dia seguinte, da vila à Brasília.
Na minha casa, volto à realidade. Que no fundo, sempre teve a Chapada como um dos cenários, mas sou eu que a esqueço quando sigo a vida olhando os dias com olhos duros, domados pela rotina da cidade e tanto fios que me amarram aqui e ali.

É, a Chapada mora em mim. O Cerrado mora em mim. Porque eu moro em Brasília e, aqui, esse fio estranho da natureza com o ser humano parece ser mais visível, quase palpável, e muito real. É só olhar para o céu. Ouvir o trovão. Tocar nessa terra vermelha. E sentir o coração bater como a queda da cachoeira.