25.6.11

Nuvem

Eu era menina na escola e tinha algodão doce
Rosa, azul, branco
No céu seco tinha nuvem
fininha, cinza, branca
No recreio, deitava a cabeça na pedra do pátio
e fazia bichos e coisas da nuvem

Na boca, o gosto doce do açúcar
dos céus

Eu era pequena e vestia uniforme
o vento era brando
o sol, ardido

no canto do céu era nuvem-bicho
e aqui na língua era doce-algodão

(para r.)


20.6.11

Imperatriz

Com as mãos de um homem disfarçado de deus
reconheci no meu corpo o castelo que me prendia.

O ocre do barro moldou, tirando pedrinhas e cacos,
formou meus seios e pernas

E súbito, bateu - meu coração!

Era um súdito - eu, Imperatriz!

Construiu com leveza e força
na luz de um inspirar
Redondas, lisas, doídas formas
Castelo agridoce
vermelho-sangue-arterial
em veias viscosas mil!

Suave, silêncio, respiro, oh!
O amarelo cintila no ar!

Respirando redimida
Aceitei
As mãos de deus me moldavam
no castelo desse corpo que não fugi
me fez a princesa, a rainha
a Imperatriz dona de si!

Com os dedos que me tocavam
A força física veio dizer
Acorda, coração-rei!
Tantos destinos, um só caminho!

Daí, com um só gesto
Meu coração pulsou
Um músculo lívido, mole e cheio
Amor!

Eu sou a Imperatriz do meu corpo
Do meu peito e do meu amor!
Essas mãos, ar, templo
Tudo, meu!

Dona do que me rodeia a alma
Só aqui, tenho olhar feliz
O olho de dentro e o olho de fora

Eu mando
E agora
Sim, sou a Imperatriz!