25.11.11

mas eu sou!

se eu não fosse brasileira
se eu não fosse a mais velha
se eu não soubesse dançar
se não entendesse o português

se eu não tomasse café
se eu não quisesse sorrir
se eu não chorasse de amor!

nunca nunca eu veria
como elas são, as coisas.

na galeria e

na beleza está o susto.
na surpresa de
compreender o que não tem explicação - e por que as pessoas simplesmente não calam a boca? - não sabem, não querem, não têm porquê.

entre o mato e o silêncio sempre haverá o ruído da alma
que dói, que busca
qualquer semelhança de expressão com a própria essência.

com o que é feito do que se (já) tem.

Impressão

tem um vermelho que espirra da alma
respinga no coração

sai faísca de flor no lago

ressoa
no som
do bicho

tem um verde de veia
que escorre pelas avencas
salta alto nas palmeiras!

foi tudo assim
de som, de cor
sorriso só
feliz enfim


22.11.11

Desafio

aula de redação depois de uma péssima noite de sono.
como sempre, a diversidade da turma é um evento em separado.
e eis que chega um jovem atrasado:
moreno, quinze, vinte quilos acima do peso, cabelo bem anelado cortado rente. cara limpa. olhar sério.
na camiseta vermelha, lê-se
EU VENCI O DESAFIO
quase caí da cadeira para conseguir acompanhar o rapaz andar, sentar, e ajustar o tamanho do corpo na mini-cadeira. mas li!
nas costas da camiseta, devendava-se o desafio
LI A BÍBLIA EM DOIS DIAS

dei uma gargalhada alta.
o professor me olhou ao mesmo tempo que os outros 47 pares de olhos da sala.
o sono passou.

obs:. eu não sei que merde que tá rolando mas esse blog não tem guardado os comentários que vocês me deixam...
o povo do blogger da google disse que está "fixing the issue" - isso desde junho!
mesmo assim: comentem! cliquem nos links! façam tudo o possível!
e obrigada pela audiência. boa noite. (sobe créditos)

9.11.11

Não cabe adjetivos na vida real

Noite, chuva, janela, Neruda, sofá. Computador, mensagem, pergunta, resposta, pergunta, resposta, pergunta, resposta. Sim. Banho, roupa, perfume, batom. Telefone, escadas, asfalto. Sorriso, conversa, sopa, sorriso, bebida, sorriso. Telefone. Silêncio. Conversa, sorriso, cartão. Sorriso. Conversa. Beijo. Escadas, sala, música, roupas. Beijos. Beijos. Beijos. Telefone. Beijos. Sorrisos. Beijos. Sono. Abraço. Roupa, abraço, beijo. Porta, escada, rua. Cama, lençol, cheiro. Manhã, chuva, asfalto, silêncio. Tarde, chuva, silêncio. Noite, silêncio. Silêncio. Chuva, janela, Neruda, sofá. Sorriso. Chuva. Noite.

para z.

6.11.11

Uma razão maior

Foi num desses dias que acordei azeda.
Saí da cama ainda com sono, o xampu não deu pra lavagem do cabelo, a calça não fechou direito na barriga. Essas coisas que chateiam.
E o pior: a faxineira usou o restinho do pó do café!
Parei na padaria pra tomar um expresso e seguir a vida.
O dia estava azul turquesa e verde esmeralda. Aqueles típicos depois da chuva.
- Bom dia! A senhora vai querer o quê?
- Oi. Um expresso, por favor.
- Um expresso saindo.
Sorri amarelo. Ninguém tem culpa do meu azedume. Mas eu também não tenho que ficar feliz porque o atendente é atencioso. Ou tenho?
- Prontinho! Um expresso! - me entregou com uma das mãos e olhou nos meus olhos. Os dele, sorriam:
- A senhora acredita que há coisas por um motivo maior? Uma razão maior que a nossa?
Segurei o pires com o café quente e olhei de volta nos olhos do senhor atrás do balcão. Um raio caiu na minha cabeça. Sem pensar, respondi:
- Sim.
E ele:
- Eu também! - virou de costas e tocou a fazer cafés, sucos, vitaminas.
Tomei aquele expresso como quem toma uma poção mágica. Fechei os olhos. Senti o cheiro forte, o amargo quente.
Sim, eu tenho certeza de que a maioria das coisas são por um motivo maior. Ou pelo menos, por razões que não as minhas.
Lá fora, o dia ainda magnífico, por exemplo.